Cesar Soares dos Reis
Era um grupo de espíritas,
estudiosos do Evangelho, que dispunham de um grande mestre, o Professor
Pastorino. Ele conhecia cada palavra, seu valor e significado no tempo e no
local em que foi pronunciada. Um sábio. Dominava muitos idiomas e conhecia os
originais do Evangelho, grafados em grego koiné. Era um professor. Simples e
humilde, buscava sempre a maneira mais singela e clara para explicar as coisas.
Além de poliglota, conhecia profundamente física, matemática e era um músico, compositor
de rara sensibilidade. Era um privilégio estudar com Pastorino. Mas um dia a
Espiritualidade manifestou-se: “Vocês pensam que Evangelho é meramente para diletantismo
cultural? Evangelho vivido é caridade aplicada. Isto não diz nada ao coração de
vocês?” No final do ano de 1957 circula um documento convocando pessoas de
boa-vontade para a criação de uma instituição voltada para o amparo a famílias em
situação de miséria, principalmente crianças. A reunião de fundação aconteceu no
dia 8 de janeiro de 1958, com a presença de 54 pessoas. Dentre elas, assinaram
a ata de fundação do Lar Fabiano de Cristo, além de Pastorino, Alziro Zarur,
Chico Xavier, Jorge Andréa, Divaldo Pereira Franco, Jaime Rolemberg de Lima,
Luiz Goulart, uma plêiade de trabalhadores do bem, alguns deles encarnados até
hoje, todos deixando luminoso rastro de luz para um mundo melhor.
Os pioneiros sabiam que a obra de
amor teria que ser uma obra de educação. Os amigos espirituais ensinavam:
“Assistir é educar. Educar é orientar na direção do bem”. Educação exige
fixação de bons hábitos, substituição de antigos padrões de comportamento por
outra maneira de ser. Envolve questões materiais, sociais, morais, espirituais.
Educar exige constância de propósitos e de ações. Não basta oferecer uma cesta
de alimentos por mês, uma lição bonita aqui ou ali, uma festinha, um presente
de Natal. São, todas, iniciativas meritórias, respeitáveis, necessárias mas
insuficientes quando se pretende educar. Educar exige pessoas que eduquem,
sobretudo pelo exemplo. Que, além de amor, dominem determinadas técnicas. No
caso de pessoas em situação de miséria, educar exige estrutura, pedagogos,
médicos, dentistas, assistentes sociais, técnicos, auxiliares de múltiplas atividades
e habilitações. Exige um espaço adequado, limpo e arrumado, alimentação balanceada,
despesas continuadas com água, energia elétrica, telefones, salários, tributos.
Os pioneiros não eram endinheirados. Ao contrário. Médicos, funcionários, militares,
professores, bancários, viviam todos na modéstia natural da classe média.
Alguns tinham por certo dificuldades acima do comum. Mas tinham também o ideal,
a crença, a disposição, o amor. Por isso, dois anos e meio depois do Lar
Fabiano de Cristo, surgiu a Caixa de Pecúlio Mauá (Capema). O coronel
Rolemberg, quando serviu em Porto Alegre, conheceu o trabalho do Grupo Espírita
Amigo Germano. Os companheiros mantinham oficinas para profissionalizar os
necessitados. Os associados depositavam quotas de poupança na conta do grupo.
Eles administravam o dinheiro, fazendo investimentos e empréstimos. As
comissões eram transferidas para a manutenção das oficinas. Foi esta a ideia que
fez surgir a nossa mantenedora. Uma caixa de pecúlios em que os participantes recolhem
uma importância mensal que é investida segundo orientações e controle governamental.
Em cada plano de previdência há uma parcela para a sustentação da
obra filantrópica. Na verdade, é
a mesma ideia dos primórdios, guardadas as diferenças determinadas pela
legislação. Estatutariamente a CAPEMI (Caixa de Pecúlios, Pensões e
Montepios-Beneficente) – o nome foi mudado ainda na década de 60 – reserva uma
parcela do que arrecada com a venda dos planos para a obra de amor nascida em
1958. A CAPEMI é, talvez, a única empresa que nasceu dentro de uma obra social
que no início tinha um departamento de previdência. Hoje, a empresa de
previdência tem um departamento social. Enquanto as empresas despontam nos dias
atuais para o social, a CAPEMI, fundada para atender a esta finalidade, já o
faz há mais de 40 anos.
Em 1971 a preocupação com os
idosos levou à fundação da Casa do Velho, Assistencial e Divulgadora (Cavadi).
Especializada no atendimento aos idosos, também recebe comissões referentes a
anúncios e publicidade, publicações em jornais, revistas, rádio, televisão,
para ajudar a manter o trabalho.
Buscando a gestão integrada dos
serviços de assistência, foi criado, em 2001, o Instituto Capemi de Ação
Social, porque, à medida em que a CAPEMI firmou-se no mercado, nas décadas de
70, 80 e 90, muitas instituições procuraram adotar o modelo de assistência do
Lar, buscando também recursos através de convênios. Nosso público é formado por
famílias que vivem abaixo da linha de pobreza, crianças temporariamente afastadas
do convívio familiar, órfãos, idosos carentes e, atualmente, amparamos a um
número considerável de pessoas com necessidades especiais em 59 unidades próprias
e 179 convênios. Fazemos uma programação para cada família amparada, a partir
do estudo das causas que produzem as situações de miséria. Atuamos nas questões
materiais, socioafetivas, morais e espirituais. Nossa experiência mostra que, em
cerca de cinco anos, uma família passa a viver com dignidade.
Alguns números dizem da magnitude
do trabalho do Lar: 86 mil pessoas beneficiadas na área da saúde, além das
campanhas de pediculose, escabiose, fluoretação, desnutrição, que envolveram a
cerca de 62 mil pessoas. Doze mil crianças tiveram acesso aos subprogramas de
Educação Infantil e Desenvolvimento criativo e Apoio Escolar. Foram
distribuídas neste ano 48 mil bolsas de alimentos, cerca de 3 milhões de
refeições e 6 milhões de lanches e cafés da manhã. Foram realizadas quase 17
mil visitas domiciliares além de entrevistas com quase 30 mil pessoas. O total
de amparados pelo programa filantrópico é de cerca de 100 mil pessoas. A CAPEMI
manteve esta programação com mais de 27 milhões de reais, um dos maiores
orçamentos filantrópicos do país. Pela sua credibilidade o Lar Fabiano é Órgão
de Educação Básica da Unesco, premiado nacionalmente e tem apresentado seu modelo
em outros países do mundo.
O sonho dos pioneiros está em
execução. As diretrizes do mundo maior
estão se concretizando e já são realidade. A Obra de Fabiano, conforme nos foi
dito pela Espiritualidade, é um modelo para os tempos novos: de um lado a mão
que arrecada; de outro, a mão que distribui. Um só coração, um só sentimento
que reúne mais de 3 mil funcionários, voluntários, estagiários, parceiros que,
de fato, se integram nesta grande aliança por um mundo melhor.
SERVIÇO ESPÍRITA DE
INFORMAÇÕES
Boletim SEI: E-mail: boletimsei@gmail.com
Sábado,
1/1/2005 - no 1918
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