DAI DE GRAÇA
D. Villela
Quando a religião se institucionaliza, ou seja, quando o movimento a
ela associado passa a dispor de instalações e pessoal voltados para a sua
prática e divulgação, surge, compreensivelmente, a necessidade de assegurar a
manutenção de suas atividades, sendo, então, seus seguidores convidados a
contribuir em favor delas. A experiência, contudo, tem mostrado que nem sempre
se trata apenas de um convite.
Na verdade, não é raro recorrer-se a pressões de natureza psicológica
(as doações são uma determinação de Deus) ou mesmo legal (sob a forma de taxas
cobradas pela administração pública), como ocorreu até época recente, dada a
estreita ligação estabelecida entre a direção religiosa e a autoridade humana,
obtendo-se, dessa forma, um volume de recursos muito maior do que o necessário,
com a formação de vultosos patrimônios completamente desvinculados da
finalidade original.
Fixando-nos em nossa tradição cristã, Jesus foi categórico quanto a
esse ponto, afirmando: “Dai de graça o que de graça recebestes” (Mateus, 10:
8), cabendo, naturalmente, a pergunta: “O que, propriamente, foi recebido de
graça, devendo portanto ser oferecido nessas condições?” Evidentemente, a
própria revelação, que nos chega pela misericórdia divina, e também tudo o mais
que a ela se associe em termos espirituais: informação, esclarecimento,
orientação, apoio fraterno etc. Jesus jamais se fez retribuir pelo que quer que
fosse, não tendo mesmo uma pedra onde reclinar a cabeça (Mateus, 8: 20). Por
outro lado, em nossas organizações, o que não nos vem graciosamente? Tudo
aquilo que se liga ao aspecto essencialmente material do trabalho: aluguéis,
serviços (água, luz, telefone), reformas ou consertos e publicações têm custos
que devem ser cobertos pelos usuários.
O movimento espírita, nesse particular, retomou uma prática dos
primeiros tempos do Cristianismo, quando as despesas eram pagas com as oblatas,
doações voluntárias feitas por aqueles antigos trabalhadores da Boa Nova. Em
nossas Casas não se cobram serviços espirituais, que são oferecidos a todos,
associados e não-associados, indistintamente, cabendo apenas aos primeiros a
escolha dos dirigentes de suas respectivas instituições, os quais atuam sempre
como voluntários.
É interessante assinalar ainda que essas características se achavam
presentes já na primeira instituição espírita, fundada na França, em Paris,
pelo próprio Codificador.
Logo surgiram outras, sobretudo em solo francês, mas também em outros
países europeus e na América, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil,
onde encontramos atualmente diversas organizações centenárias que, ao lado de
muitas outras – seu número atinge a alguns milhares – prosseguem, sob a
inspiração do lema “Trabalho, Solidariedade e Tolerância”, plenas de atividade,
a serviço da vivência e da divulgação de nossa Doutrina.
“O Evangelho segundo o Espiritismo” (capítulo 26, itens 5 e 6).
SERVIÇO ESPÍRITA DE
INFORMAÇÕES
Boletim SEI: E-mail: boletimsei@gmail.com
Sábado, 27/11/2004 - no 1913
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