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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Na construção de Grupos Sérios


Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; ” – O Espírito de Verdade –( Paris, 1860.) - Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap VI – Item 5

Junto às agremiações que assumem a tutela do Espiritismo-Cristão, devemos destacar como prioridade a construção de relacionamentos saudáveis, duradouros, e que promovam a lídima liberdade, exercendo o serviço e o aprendizado da construção de equipes que aprendam a se amar nas diferenças, obedecendo aos imperativos da diversidade.

Relacionamentos sinalizam para a tarefa lenta e progressiva do entendimento, da alteridade, do desculpar-se – atitudes de perseverante caridade de uns para com os outros na formação da convivência.

Convivência fraterna e cristã é o resultado sublime da “entrega afetiva” e do compartilhamento incondicional dos nobres ideais que preencherão de amor os corações em reeducação. Entretanto, semelhante obra das relações humanas reclama tecer, com o fio condutor da confiança, o manto acolhedor da amizade sincera – virtude das almas que creditam ao outro a hipoteca dos consórcios emocionais de profundidade, na fieira das realizações do tempo...

Esse manto protetor é o agasalho ante as intempéries da incerteza que costuma surgir nos descuidos da maledicência, do escrúpulo improdutivo e das obsessões intermitentes – resultado dos intercâmbios humanos superficiais de pessoas e grupos que não se permitem a proximidade e fixam-se nos “esconderijos emocionais”, com lamentável medo de amar.

Confiança é a concessão que espontaneamente creditamos uns aos outros em regime de fé. 

Brota na convivência e se fortalece na proporção em que, por essa partilha diária, tornamo-nos progressivamente mais credores desse elo afetivo, sob a tutela da autoridade moral.

Por outro lado, a dúvida é erva daninha, extenso e fértil campo para a sementeira da discórdia, da deserção, da inveja, do personalismo e da obsessão.

Laboremos por novos e mais auspiciosos dias em nossos encontros, teçamos a rede da confiança em nossos grupamentos de labor espiritual cultivando sinceridade com ternura, autoridade com exemplos contagiantes; que esse empreendimento seja de molde a incentivar e sustentar a psicosfera dos ambientes onde transitamos, exalando o clima que todos anseiam de dúlcida paz e alegria, de festa nos corações que aprenderam a amar Jesus.

Sem confiança não há união sustentável, e sem os pilares de união nenhuma edificação de valor consegue erguer-se por tempo necessário na obtenção dos melhores resultados.

Não basta, porém, a convivência amiga e agradável que pode derrapar no apego, na intimidade particularista, na ausência de limites educativos. Tornar-se imperiosa a formação de equipes que atendam a propósitos sérios, nutridos no desejo de instrução e melhoria. Sérios seriam os nobilitantes programas ajustados ao tratado de paz e aperfeiçoamento, glorificados pelo guia e modelo, contido nas diretrizes seguras da Boa Nova. 16

Jesus, líder incomparável, arregimentou os discípulos na construção do grupo amigo e fraterno e “deu-lhes poder” (1), ou seja, ajustou o centro indutor de seus sentimentos a vibrar em sintonia com a força Divina do Amor, ante os trâmites que a existência lhes apresentava.

Grupos amigos sim, mas, além disso, propósitos sérios que instruam, libertem e contribuam para o crescimento pessoal e grupal em direção à vida imortal.

Analisando os prismas da urgência em melhorarmos nossa vida interpessoal, compreendemos com mais precisão os motivos que têm levado muitos grupamentos de amor a permanecerem na esfera dos desejos valorosos, ou nos sonhos de ventura, tombando, quase sempre, na decepção e na descrença em razão do descompromisso de amar, primeiramente, o próximo mais próximo nos ambientes espiritistas.

Não foi sem razão a recomendação cristalina de Allan Kardec, quando orientou sobre as condições morais dos participantes dos grupos de nossa causa:

Cordialidade recíproca entre os membros;”

Um único desejo: o de se instruírem e melhorarem,(...)” (2)

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Amigo servidor de nossa lida doutrinária!

Afeiçoa-te ao clima de fraternidade, e não desista jamais de construir a harmonia e o vigor moral em tuas relações.

Se desistires, nunca encontrarás o trabalho pronto.

Se te preocupas que haja laços mais amáveis e cordialidade, é porque devem começar por ti.

Adianta e assume o denodo no qual a grande maioria tem abandonado.

Convivência no amor é fruto de superação pessoal na obra de renovação interior.

Postergar tal compromisso é o mesmo que adiar tua própria melhoria.

Feliz a advertência do senhor em concitar o amor ao próximo na justa medida do amor a si mesmo. É que teu convívio com o outro será o reflexo fiel de como vivemos contigo nas experiências da vida

Constrói teu grupo de amor e adiciona-lhes os propósitos elevados como garantia imorredoura de vitória e felicidade, na Terra e na “Vida dos Imortais”

(1) – Mateus, 10:1

(2) – Livro dos Médiuns – Cap. XXIX – Item 341


Conselho Espírita de São Bernardo do Campo
Encontros de Atitudes de Amor”
Grupo Fraternidade Espírita João Ramalho
Reunião do dia 6 de julho de 2008
Tema Central:
Alteridade 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

As Razões de Cada Um


Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa (...)

Evangelho Segundo o Espiritismo Cap X – Item 10.

A subjetividade é um capítulo admirável da ética espírita quando enfocado sob o ângulo da formação de juízos morais.

As razões humanas para explicar as próprias atitudes são algo inerente à individualidade da cada ser. Mesmo os perversos encontram “motivos justos” para as suas ações, nas justificativas pertinentes a seus raciocínios egoístas.

Juízos éticos sempre serão subjetivos e, por isso mesmo, não constituem bons argumentos para fundamentação de defesas a medida e projetos que visem colaborar na restauração da reorganização de nossa Seara. Assinalar condutas morais de pessoas ou instituições, com base para propor mudanças, é fragilizar nossas disposição de cooperar, porque penetramos um campo essencialmente individual e inacessível. E mais a mais, julgar é concluir veredictos sobre o comportamento alheio, no qual, quase sempre, falhamos.


Juízes eminentes declaram sentenças injustas, conquanto se preparem para não fazê-las, e a maioria de nós, na rotina das relações, costumamos emitir sentenças e pareceres pelo hábito de criticar e analisar defeitos dos outros, sem qualquer sintonia com a verdade sobre tais pessoas, ou apenas analisando-as superficial e parcialmente.

O fato de cada individualidade ter suas razões é motivo com sobras para que respeitemos cada qual em seu patamar, o que não significa tenhamos que concordar e adotar passividade ante suas movimentações. Aqui penetramos em um dos mais delicados tópicos do relacionamento interpessoal, em nossos ambientes de reeducação espiritual: a convivência pacifica e construtivas frente à diversidade de opiniões, entendimentos e posturas, por parte daqueles que integram a comunidade nas lides doutrinárias.

A tendência marcante da nossa personalidade é estabelecer idéias pré-concebidas, expectativas mal dimensionadas e estereótipos sobre as ações alheias, e, mesmo quando nosso julgamento é pertinente, preferimos a referência mordaz e o destaque para a parte menos construtivas a ter que conjeturar, em clima de indulgência e misericórdia, sobre as motivações que ensejaram os comportamentos alheios.

Somos, comumente, escravos do nosso orgulho que procura defeitos nos outros para tentar fazer-nos melhor. Entretanto, o próximo é o espelho dos nossos valores e imperfeições, e, quando lhe destacamos uma deficiência, precisamos voltar-nos para a intimidade e descobrir nosso elo de atração com a questão em pauta; isso será um verdadeiro exercício de autodescobrimento. 13

A dificuldade consiste em redirecionar nosso milenar costume de ver o cisco no olho do outro e não perceber a trave no nosso (1).

Um bom princípio para a reeducação de nós mesmos será sempre o cultivo do sentimento de piedade e compreensão para com todos. Metalizarmo-nos, todos, em um só barco com a presença do Mestre conduzindo-nos pelas tempestades de nossas extensas carências espirituais, e jamais deixar de recordar que estamos em patamares variados de crescimento para Deus.

Isso exigir-nos-á o vinculo com a atitude de alteridade, ou seja, o reconhecimento da diferença, da distinção da qual o outro é portador, a fim de nutrirmos constante indução mental na formação do hábito de respeitar as diferenças no modo de ser de cada qual.

As defesas apaixonadas no campo dos julgamentos morais têm feito muito mal aos nossos ambientes de amor, nas leiras doutrinárias. Conquanto muitas vezes sejam verdadeiros, devemos aprender com Jesus, nosso guia e modelo, como externá-los para não ferir e conturbar. Saber apresentar discordâncias e falhas é uma arte da qual temos muito a aprender.

Lembremos o episódio inesquecível da mulher adúltera para termos uma noção lúcida sobre como se portar frente à verdade dos que nos cercam. Naquela oportunidade, Jesus não faltou com o corretivo e nem julgou-a; utilizando-se de um extraordinário recurso pedagógico, devolveu a subjetividade dos juízos à consciência de cada um através do pronunciamento atirem a primeira pedra os que se encontrem isentos do pecado, (2) e todos sabemos qual foi o efeito desse recurso na vida pessoal dos que ali se encontravam.

Nossa necessidade de guardar idéias, em forma de juízos definitivos e inflexíveis sobre as criaturas, é o fruto do nosso orgulho. Nossos julgamentos manetas pecam pela ausência de bons sentimentos, pela parcialidade e, acima de tudo, pelas projeções que fazemos de nós mesmos.

A dificuldade de aceitação das pessoas com elas são, enquadrando-as em concepções e padrões definidos pela nossa ótica de vida, precisa ser corrigida para ensejar um melhor nível de entendimento em nossa seara bendita. A inaceitação chega a ser tão ostensiva que nos magoamos com facilidade com as ações que não correspondem as nossas expectativas, ainda que tais ações não nos prejudiquem. Devido a essas expectativas que depositamos em pessoas e instituições, ocorrem muitas cobranças injustas e ofensas dilacerantes que só inspiram o revanchismo e a invigilância.

Esse não deveria ser o nosso clima. E como ficam os princípios imortais que deveriam esculpir o nosso caráter?

A maior decepção é aqui na “imortalidade”, quando somos todos convocados a novas concepções sobre fatos, pessoas, instituições e conceitos esposados ao longo de toda a nossa reencarnação. A imortalidade quase sempre traz-nos muitas surpresas nesse sentido. 14

A maioria delas de incômodos íntimos desagradáveis para quantos optaram por juízos éticos rigorosos, excludentes e intolerantes.

Não existe a presença da perversidade na seara, e, ainda que houvesse, deveria ser tratada como imaturidade emocional e moral. Em verdade, o que temos entre nós são necessidades extensas nos terrenos da melhoria espiritual, sendo necessário aos seguidores de Jesus e Kardec compreender que ninguém faz o que faz para magoar ou no intuito de denegrir. São hábitos arraigados contra os quais estamos em permanente batalha.

Virá o instante do entendimento, da complacência e da tolerância como veredas de esperança para um tempo melhor. A isso chamamos união e fraternidade. Nessa hora, quando assentamos à mesa dispostos a contemplar a diversidade do outro e dialogamos como irmãos de ideal, descobriremos, estupefatos, quão distantes da realidade se encontram nossos julgamentos, porque compreenderemos melhor quais eram as razões de cada um. 15



Conselho Espírita de São Bernardo do Campo
Encontros de Atitudes de Amor”
Grupo Fraternidade Espírita João Ramalho
Reunião do dia 6 de julho de 2008
Tema Central:
Alteridade 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tolerância ou Exclusão?


Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daquele que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão! Espírito de Verdade. (Paris, 1862)

O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap XX – Item 5.

Atendendo a generosa solicitação do jovem Pedro Helvécio, trabalhador de nosso plano nos serviços socorristas, endereçamos uma página de sua lavra inspirada para meditação:

Dentre os ensinos de que mais carece o Espírito, a necessidade de respeito às diferenças do outro é das lições mais urgentes a se conquistar”.

Nos serviços da causa espírita a que te empenhas, vezes sem conta serás chamado a conviver com os afins e contrários nas relações interpessoais. Nessa hora, se te afeiçoas à vivência da ética espírita-cristã, és convocado naturalmente a selecionares o teor de tuas emoções com os que te partilham a tarefa”.

Como te posicionar frente aos que assumem declarada oposição contra ti e tuas idéias? Como conviver harmoniosamente com os que pensam diferentemente de ti? Sentes que se definires pela tolerância, serás muita vez obrigado a abrir mão de tuas aspirações e permear por uma postura conivente. Se definires pela exclusão, colocando emocionalmente os menos afins na pauta das aversões e das incompatibilidades, tua consciência expedirá uma queixa sistemática ao teu sensível coração, clamando pela adoção da fraternidade”.

Anseias por uma postura ideal, mas o raciocínio confunde-te frente ao desafio. Se toleras, és conivente. Se excluis, és sectário”.

Na regra áurea do amor encontrarás o caminho ideal. Quando Jesus profere o fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem (1), Ele não estabelece uma conduta de compensações e troca. Sobretudo, o ensino do Mestre é um chamamento ao mergulho interior, no qual, através da empatia, avaliarás qual a carga emocional que gostarias de receber no lugar de teu próximo. Fazendo assim, perceberás de pronto que podes tolerar teus desafetos e amá-los ardentemente, sem subtrair-te aos teus anelos de serviço e projetos de ação, porque o que verdadeiramente importa é como te encontras intimamente em relações aos outros”.

A tolerância não implica aceitação incondicional. Pelo contrário, a tolerância é atitude construtiva das condições para as boas relações que, por sua vez, dissolvem as espessas nuvens do malquerer. Podes ter divergências sem que essas, necessariamente, excitem a dissidência...”.

A tolerância construtiva é aquela que gera as condições propícias, no íntimo e nos exterior, para que haja o respeito, a convivência pacífica e, até mesmo, a possibilidade da iniciativa conjunta”. 11

Tolera sempre, sendo indulgente”.

Tolera incondicionalmente, usando o perdão”.

Tolera abnegadamente, guardando a paciência”.

Tolera com fé, entregando ao tempo a solução de muitas adversidades”.

Tolera compreendendo, pois cada pessoa tem seu patamar evolutivo”.

Tolera orando, evitando os círculos mentais de baixo teor moral”.

Tolera trabalhando. Ocupando a mente em idéias nobres não terás tempo a disputas inferiores”,

Tolera aprendendo, buscando as lições sublimes do Cristianismo redivivo e medita nas tuas necessidades”.

Tolera na discrição, abstendo-se de nomear pejorativamente pessoas e grupos”.

Tolera na meditação, controlando o bulir dos sentimentos impetuosos que elaboram os raciocínio de desforra”.

Faze tua parte na manutenção da tolerância construtiva e entrega-te a Deus fervorosamente, dele esperando as respostas justa que expressem Sua Vontade frente à tuas adversidades, no relacionamento com os companheiros de jornada, no aprendizado espiritual”.

Tolerando, armas-te intimamente de recursos para o amor e, amando, serás sempre um instrumento de Deus na mão das circunstâncias que, no momento justo, chamar-te-ão à conciliação, ao entendimento a ao serviço de união”.

A atitude de exclusão é das mais engenhosas manobras do orgulho. Basta que alguém discorde dos teus pontos comuns de entendimento para que inicie, nas profundezas do campo afetivo de teu ser, um processo de indisposição afetiva que, se não for coibido na origem, caminha para a aversão e, dessa, para os desaires da palavra e da atitude”.

Defenda tuas idéias, crie teus projetos, mas jamais exclua do campo de teus melhores sentimentos quanto vos não partilham as idéias ou se indispõem contigo”.

Cada ser dá o que pode e possui nas construções espirituais, e ninguém guarda consigo valores e conquistas suficientes para decretar sentenças condenatórias. Cada qual, conquanto tuas imperfeições, faz o melhor que pode em favor da causa. Compete a ti respeitar a todos, orar pelos que vos maltratam e seguir teu caminho, porque todos já têm uma sentença consciencial com a qual se defrontarão na vida dos “mortos vivos”. Não esqueças que assim como eles, também tu enfrentarás na “vida da verdade” o tribunal de tua consciência, a te perguntar: fizeste ao próximo o que gostaria que ele te fizesse?

Respeite a todos, conquanto não tenhas que pensar por igual; todavia, exclusão, jamais.

(1) Lucas 6:31 12


Conselho Espírita de São Bernardo do Campo
Encontros de Atitudes de Amor”
Grupo Fraternidade Espírita João Ramalho
Reunião do dia 6 de julho de 2008
Tema Central:
Alteridade 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Amor e Alteridade


As reuniões Espíritas oferecem grandíssimas vantagens, por permitirem que os que nelas tomam parte se esclareçam, mediante a permuta das idéias, pelas questões e observações que se façam, das quais todos aproveitam. Mas, para que produzam todos os frutos desejáveis, requerem condições especiais, que vamos examinar, porquanto erraria quem as comparasse às reuniões ordinárias.”
O Livro dos Médiuns – cap. XXIX – item 324
O episódio cristão da traição de Judas encerra infindáveis leituras e lições às nossas considerações.
Jesus sabia que o fato ocorreria, mas nem por isso tomou uma atitude excludente. Mesmo sabendo da diferente postura do apóstolo, manteve-se firme nos ideais de amá-lo incondicionalmente na sua peculiar diferença.
Isso é alteridade: o estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes, a capacidade de conviver bem com a diferença da qual o “outro” é portador.
A ética da alteridade consiste basicamente em saber lidar com o “outro”, entendido aqui não apenas como o próximo ou outra pessoa, mas, além disso, como o diferente, o oposto, o distinto, o incomum ao mundo dos nossos sentidos pessoais, o desigual, que na sua realidade deve ser respeitado como é e como está, sem indiferença ou descaso, repulsa ou exclusão, em razão de suas particularidades.
Alteridade, portanto, torna-se aprendizado urgente para o futuro de nosso Movimento Social Espírita, considerando o lamentável processo de exclusão que vem ocorrendo na surdina das fileiras de serviço cristão e espírita, em função de uma homogeneidade utópica.
Conviver com os contrários e aprender a amá-los na sua diversidade constitui desafio ético aos grupamentos espiritistas no campo da alteridade, mesmo porque o mastro da nova revelação cristã preconiza a fraternidade como postura de base para relações pacíficas e mantenedoras do idealismo superior, em direção às clareiras de necessidades do homem do terceiro milênio.
A inclusão, em nome do Amor, é ação moral para nossa convivência, sem o que não faremos a dolorosa e imprescindível cirurgia de extirpação da egolatria, tão comum a todos nós – almas com pequenas aquisições nos valores essenciais da espiritualização.
Diferenças não são defeitos ou álibis para que decretemos o sectarismo e a indiferença, somente porque não compreendemos o papel dos diferentes na engrenagem da vida, executando uma “missão específica” que, quase sempre, só conseguiremos entender quando, decididamente, vencermos as etapas do processo de construção da alteridade.
Sem deixar de considerar as inúmeras variações que resultam das peculiaridades individuais, apresentemos algumas dessas etapas na caracterização do processo alteritário, tais como:
CONHECER A DIFERENÇA – é a fase de acolhimento do “outro”, despindo-se de preconceitos e “estereótipos éticos” pré-formulados, guardando abertura de afeto ao diferente e à sua diferença. 8
COMPREENDER A DIFERENÇA – criação de avaliações parciais, não definitivas, que favoreçam a análise desse “outro”, buscando entender-lhe as razões, estudar-lhe os motivos até penetrarmos na essência de seu “ser”, compreendendo-o pela apreensão do “sentido” que ele tem para Deus, seu papel cooperativo no universo.
APRENDER COM A DIFERENÇA – é uma fase que une e permite acessibilidade mútua, receptividade aos sentidos do “outro”; propicia uma relação de aprendizado e o elastecimento de noções sobre como a diversidade do outro pode nos ensinar algo, buscando, se possível, aprender a amá-lo na sua particularidade.
Fácil concluir, portanto, que alteridade pode estar presente nos atos de solidariedade, empatia e respeito nas relações em sociedade, sem que, necessariamente, o Amor legítimo esteja na base de tais atitudes. Por outro lado o Amor é sempre rico de alteridade e não existe sem ela.
A faina doutrinária conduz-nos a contínuos relacionamentos com companheiros de entendimentos diversos e, inclusive, oponentes como ocorre na vida social, embora não devam as reuniões espíritas tornarem-se assembléias ordinárias, aderindo a relações de insana competição ou de cruel indiferença.
O processo de alteridade será valioso nas interações entre companheiros de ideal e ocasionará, parafraseando o Codificador, “grandíssimas vantagens”.
Investir no entendimento de semelhante questão auxiliar-nos-á a estabelecer uma autosondagem frente aos testemunhos da vida relacional, investigando em nós mesmos, a partir dos atritos e desencontros com o “outro”, as causas reais dos sentimentos que se assomaram no caleidoscópio do mundo emocional, efetuando uma viagem segura a um “outro diferente”, ainda não dominado e também desconhecido que reside em nossa intimidade.
Esse “outro diferente” é o “eu Divino” que resgataremos no aprendizado do auto-Amor, possibilitando-nos, a partir dessa conquista, excursionarmos ao mundo alheio, sem tisnar com as sombras do primarismo moral os elos de Amor que devemos entreter com todos e com tudo, em favor do soerguimento de um mundo melhor e com mais paz, uns perante os outros.
Não olvidemos, portanto, laborar por mais sólida preparação ética em nossos conjuntos doutrinários, tratando das temáticas que versem sobre a edificação de relacionamentos consistentes, com alteridade, estudando o significado de compreender e aceitar, reflexionando com demora no que seja saber criticar e discordar sem inimizade, sem oposição sistemática e dissidência declarada, sabendo discordar sem amar menos, apesar de pensar diversamente.
Mesmo que nos agastemos inicialmente pela ausência do hábito de conviver harmoniosamente com conflitos e tribulações da vida interpessoal, anelemos por novos comportamentos repletos de Amor e alteridade, aprendendo a maleabilidade, o altruísmo, a assertividade, o domínio emocional e os imperativos de vigilância sobre os impulsos menos bons, que serão promissoras sendas na conquista da ética da alteridade.
Evidentemente, não fazemos apologia ao convívio no círculo estreito de desafetos, em climas adversos; privilegiemos os afins como quesito fundamental ao bom andamento dos compromissos assumidos, aprendendo que afinidades são “lembretes” de Deus, a fim de não esquecermos o desejo de amar, e estímulos para a alegria da amizade.
Contudo, não desconsideremos que o aprendizado do Amor autêntico, a sedimentação da conduta amorosa é arregimentada na “fusão” relacional com os menos afins, os que não nos atraem, com os quais superaremos, paulatinamente, pesada fortaleza de entraves emocionais, libertando-nos para vôos mais amplos pelos céus universais pulsantes de Amor Divino, na vitória sobre o egoísmo que ainda nos aprisiona.
*****
Amigo dirigente,
A responsabilidade que te cabe junto aos ofícios doutrinários é de inestimável valor.
Difundir esperança, promoção humana, delegação de responsabilidades e estímulo para viver são alguns dos inúmeros deveres a ti confiados, quando assumes os postos da direção espírita.
Pensa e medita em teus desafios.
Estás no cargo que te “onerará” com graves ocorrências na medida das tuas necessidades de aprendizado.
Não fujas da ocasião e faze o melhor que puderes.
Nos terrenos do afeto com aqueles que te rodeiam, vigia tuas manifestações de carinho e atenção avaliando os efeitos de tuas ações, continuadamente.
Alteridade para ti será o desafio de aceitares cada pessoa em tua experiência evolutiva, auxiliando-a a crescer e se libertar.
Se guardares contigo os preconceitos e estereótipos, ainda que manifestes afeto e reconhecimento aos que te rodeiam, certamente obliterarás o ciclo espontâneo das relações que devem vigorar em teus ambientes de esforço. As pessoas à tua volta nem sempre saberão traduzir a linguagem universal dos sentimentos que as envolvem, perceberão, porém, o “hiato”, a reserva com que são tratadas...
Afeto para ser Divino precisa ser espontâneo, autêntico, natural.
Se guardas dificuldades em entender esse ou aquele companheiro, se não admites determinadas expressões comportamentais que diferenciam de tua formação doutrinária, se não compreendes determinadas idéias que a ti parecem desconexas da proposta espírita, tenha muito discernimento para que não te aprisiones aos grilhões do personalismo que subtrai-te a alteridade, a capacidade de entendimento com o outro.
Os dirigentes espíritas conscientes na atualidade precisarão de muita alteridade para cumprir sua missão a contento.
Razão pela qual, mais que nunca, aprendas o que seja promover e delegar, a fim de permitires aos que te cruzam as vivências encontrarem o quanto antes, com o preparo elementar, os caminhos adequados de crescimento que nem sempre serão ao teu lado.
Liberta-te da idéia de uniformidade e ajuda cada qual a descobrir o seu caminho para Deus, sem jamais esquecer que cada criatura tem o seu Roteiro Divino. 10

Conselho Espírita de São Bernardo do Campo
Encontros de Atitudes de Amor”
Grupo Fraternidade Espírita João Ramalho
Reunião do dia 6 de julho de 2008
Tema Central:
Alteridade
A convivência adequada com a diferença, com os diferentes
Textos que servirão de base para as reflexões a respeito do tema central: