D. Villela
Fala-se, já há várias décadas, numa crise da família, entendida, neste
caso, como a família nuclear tradicional, formada por um casal vivendo em
companhia dos filhos, em uma residência. A menção à crise refere-se a uma
suposta fragilidade desse modelo, que o exporia com certa frequência ao
rompimento com a posterior integração de seus ex-membros a novos grupos
familiares, o que a prática realmente mostra, sem, no entanto, a propalada
intensidade da ocorrência, bem como sem que diminua a importância da família
constituída em bases retas, de amor e respeito recíprocos e de compartilhamento
de problemas e decisões, como espaço privilegiado para o fortalecimento de seus
membros e para a melhor formação física e moral das crianças e jovens que a
compõem.
Na tradição cristã, ao longo de muitos séculos, o casamento foi – e
ainda é – considerado um sacramento, ou seja, um ato que conta com a
intervenção divina e, portanto, não passível de revisão ou mudança, sendo,
ainda, por pressão religiosa, legalmente indissolúvel, o que somente se
modificou ao longo do século XX. Tendo¬-se em vista as condições em que, não
raro, se constituíam as famílias no passado, isto é, com base em considerações
econômicas ou sociais, não surpreende a presença de conflitos e sofrimentos no
grupo familiar, bem como o expressivo número de uniões irregulares.
O progresso da legislação permitiu que em época recente os casamentos passassem
a depender, essencialmente, da vontade do casal formalmente expressa por meio
de um contrato ou simplesmente manifestada na opção de vida em comum, com ou
sem a presença de filhos, as uniões estáveis, equiparadas a casamentos formais
para fins previdenciários e de herança
É, todavia, melhor para o casal
que se decide pela formação de um novo lar a confirmação de tal atitude perante
a lei humana, pois, como a Doutrina Espírita mostra claramente, nossas responsabilidades
decorrem, antes de mais nada, dos compromissos que livre e pessoalmente
firmamos com o próximo, com ou sem registros formais dos mesmos, e a vida em família
figura entre os mais importantes dentre eles. A dissolução do vínculo familiar
em decorrência de egoísmo, vício ou ilusão, conforme habitualmente observamos,
não provém de alguma deficiência daquele modelo, que é de inspiração superior,
mas de falhas do ser humano em evolução na Terra, que não consegue demonstrar o
comprometimento, o esforço e, não raro, a renúncia que a lealdade aos laços de
família requer como contrapartida das alegrias que ela proporciona.
As famílias terrenas, como igualmente mostram as obras espíritas, não reúnem
apenas individualidades afins, mas também comparsas ou vítimas de antigos
deslizes que cometemos e que voltam ao nosso convívio, beneficiados, tanto quanto
nós, pelo esquecimento temporário do passado, para a necessária reaproximação à
luz da fraternidade.
Na família não encontraremos, assim, uma paisagem florida de alegrias constantes,
mas um valioso campo de trabalho e experimentação, no qual, mercê de nosso
empenho e dedicação, poderemos colher excelentes frutos de renovação e paz, discernimento
e esperança.
◊
“O Evangelho segundo o Espiritismo” (capítulo 22, item 4).
SERVIÇO ESPÍRITA DE
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Maio 2013 –
no 2224
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