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domingo, 15 de maio de 2016

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 20 # Uma Profissão de Fé Materialista

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 20

Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa

Uma Profissão de Fé Materialista
(Allan Kardec, in “Revista Espírita” – out/1868)

O Fígaro, de 3 de abril de 1868, continha a carta seguinte a propósito dos debates que ocorreram por esta época no Senado, a proposta de certas lições professadas na Escola de medicina.
"Paris, 2 de abril de 1868.

"Senhor redator,

"Um erro que me concerne escapou na última conversa do doutor Flavius. Eu não assisti à lição de abertura do Sr. Sée, no ano último, e não tinha por consequência nenhum direito a um papel nesse assunto. De resto, é um erro na forma e não no fundo; mas a cada um os seus atos. É preciso substituir o meu nome pelo do meu amigo Jaclard, o que não crê mais do que eu na alma imortal. E, verdadeiramente dizendo, não vejo mais em todo o Senado senão o Sr. Sainte-Beuve que ousou, se for possível, nos confiar o cuidado de seus molares ou da direção de seu tubo digestivo.

"E, uma vez que tenho a palavra, permite-me ainda uma palavra. É preciso acabar com uma brincadeira que começa a se tornar irritante, além do que ela tem um ar de recuo. A Escola de medicina, disse o doutor Flavius, mais forte em parto do que em filosofia, não é nem ateia nem materialista; ela é positivista.

"Mas, em verdade, o que é o positivismo senão um ramo dessa grande escola materialista que vai de Aristóteles e de Epicuro até Bacon, até Dederot, até Virechow, Moleschoff e Büchner, sem contar os contemporâneos e compatriotas que não nomeio - e por causa disto.

"A filosofia de A. Comte teve a sua utilidade e a sua glória num tempo em que o Cousinismo reinava dominante.

Hoje que a bandeira do materialismo foi levantada na Alemanha por nomes ilustres, na França por pessoas jovens no número das quais tenho o orgulho e a pretensão de me contar, é bom que o positivismo reentre no papel modesto que lhe convém. Sobretudo, é bom que não afete por maior tempo, a respeito do materialismo, seu mestre e seu ancestral, um desdém ou reticências que são pelo menos inoportunas.
"Recebei, senhor redator, a certeza de minha distinta consideração. "A. REGNARD, "Antigo interno dos hospitais."

O materialismo, como se vê, tem também seu fanatismo; há alguns anos somente não teria ousado se ostentar tão audaciosamente; hoje ele sustenta abertamente o desafio ao espiritualismo, e o positivismo não é mais bastante radical a seus olhos; ele tem suas manifestações públicas e publicamente ensinou à juventude; além do mais tem o que censura nos outros, a intolerância que vai até à intimidação. Que se imagine o estado social de um povo imbuído de semelhantes doutrinas!

Esses excessos, no entanto, têm a sua utilidade, a sua razão de ser; eles assustam a sociedade, e o bem sai sempre do mal; é preciso o excesso do mal para fazer sentir a necessidade do melhor, sem isto o homem não sairia de sua inércia; ele permaneceria impassível diante de um mal que se perpetuaria em favor de sua pouca importância, ao passo que um grande mal desperta a sua atenção e o faz procurar os meios de remediá-lo. Sem os grandes desastres chegados no começo das estradas de ferro, e que assustaram, os pequenos acidentes isolados, passando quase despercebidos, ter-se- iam negligenciado as medidas de segurança. Assim ocorre no moral como no físico: quanto mais os abusos são excessivos mais o fim deles se aproxima.

A causa primeira do desenvolvimento da incredulidade está, como dissemos muitas vezes, na insuficiência das crenças religiosas, em geral, para satisfazer a razão, e em seu princípio de imobilidade que lhe proíbe toda concessão sobre seus dogmas, mesmo diante da evidência; se, em lugar de permanecerem atrasadas, elas tivessem seguido o movimento progressivo do espírito humano, em se mantendo sempre ao nível da ciência, é verdade que elas diferenciariam um pouco do que eram do princípio, como um adulto difere da criança no berço, mas a fé, em lugar de se extinguir, teria aumentado com a razão, porque ela é uma necessidade para a Humanidade, e elas não teriam aberto a porta à incredulidade que vem solapar o que dela resta; elas colhem o que semearam.


O materialismo é uma consequência da época de transição em que estamos; não é um progresso, muito longe disto, mas um instrumento de progresso. Ele desaparecerá em provando a sua insuficiência para a manutenção da ordem social, e para a satisfação dos espíritos sérios que procuram o porquê de cada coisa; para isto seria preciso que se o visse em obra. A Humanidade, que tem necessidade de crer no futuro, jamais se contentará com o vazio que lhe deixa depois dele, e procurará alguma coisa melhor para enchê-lo.

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