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quarta-feira, 25 de maio de 2016

A PERFEITA ALEGRIA

 Frederico Guilherme Kremer


O Apóstolo Paulo, em sua segunda viagem missionária, pretendia visitar as comunidades fundadas na Ásia Menor durante a primeira viagem.

 Entretanto, chegando ao extremo asiático na cidade de Trôade recebeu, em sonho, a visita de um Espírito pedindo ajuda para a Macedônia. Assim, decidiu seguir viagem por mar, dando início à evangelização da Europa. Hoje uma grande ponte em Istambul faz a ligação entre os dois continentes.

Na cidade de Tessalônica, onde havia uma grande comunidade judaica, fundou uma igreja, que, apesar das dificuldades, frutificou tornando-se um grupo modelo. Paulo escreveu duas cartas para os Tessalonicenses e destacamos, nas recomendações finais da primeira carta, nos versículos 16 a 18, as seguintes orientações: Estai sempre alegres, orai incessantemente, daí graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus.

Uma trilogia luminosa! Um roteiro de felicidade, harmonia e saúde que precisamos seguir.

Render graças por tudo é agradecer a Deus por todas as ocorrências e possibilidades que nos chegam, pois tudo no Universo nos leva ao Pai. Somos muito seletivos e, normalmente, agradecemos somente as coisas boas, na visão do mundo. É bem característico do grande Apóstolo o agradecimento por tudo, até mesmo pelas experiências mais dolorosas, que, aliás, foram constantes no seu apostolado. Complementaríamos com o entendimento espírita, que devemos também agradecer pelo mal evitado, que muitas vezes desconhecemos.

A oração incessante é fundamental nas nossas vidas, pois funciona qual uma tomada elétrica para que as nossas energias espirituais e físicas sejam recarregadas e possamos enfrentar, sem temor, nossas provas e expiações.

Por fim, a primeira recomendação: Estai sempre alegres. Paulo fala de uma alegria contínua que não depende de ocorrências exteriores boas ou que não é consequência de uma causa feliz. Paulo falava da alegria que nasce no íntimo da criatura por reconhecer-se possuidora da herança Divina. Evidentemente é justo e natural nos alegrarmos com as coisas boas da vida, mas, como elas não ocorrem frequentemente, precisamos desenvolver a perfeita alegria, como ensinou o Pobrezinho do Cristo, Francisco de Assis, ao seu dileto companheiro Frei Leão. A lição foi narrada no livro I Fioretti de São Francisco de Assis (pequenos contos), escrito em 1390, 164 anos após sua desencarnação e que resumimos a seguir:

São Francisco viajava de Perugia para Santa Maria dos Anjos com Frei Leão. Era tempo do inverno e o frio intenso dificultava a marcha. Foi quando Francisco chamou Frei Leão, que ia à frente, e disse assim: Frei Leão, se acontecer, por graça de Deus, que os frades menores deem em todas as terras grande exemplo de santidade e de boa edificação, apesar disso, escreve e anota diligentemente que não está aí a perfeita alegria.

E andando mais adiante, São Francisco chamou-o uma segunda vez: Ó Frei Leão, ainda que o frade menor ilumine os cegos, expulse os demônios, faça os surdos ouvirem e coxos andarem, e os mudos falarem e, o que é coisa maior, ressuscite os mortos de quatro dias, escreve que não está aí a perfeita alegria.

E, andando um pouco, São Francisco gritou forte: Ó Frei Leão, se o frade menor soubesse todas as línguas, todas as ciências e todas as escrituras, de modo que soubesse profetizar e revelar não somente as coisas futuras, mas até os segredos das consciências e das pessoas, escreve que não está nisso a perfeita alegria.

E andando ainda mais um pedaço, São Francisco chamou com força: Ó Frei Leão, ainda que o frade menor soubesse pregar tão bem que convertesse todos os infiéis para a fé de Cristo, escreve que aí não há perfeita alegria.

Após caminharem duas milhas, Frei Leão, com grande admiração, lhe perguntou: Pai, eu te peço, da parte de Deus, que tu me digas onde há perfeita alegria. E Francisco lhe respondeu: Quando nós estivermos em Santa Maria dos Anjos, tão molhados pela chuva, enregelados pelo frio, enlameados de barro, aflitos de fome, e batermos à porta do lugar, e o porteiro vier irado e disser: Quem sois vós? E nós dissermos: Nós somos dois dos vossos frades. E ele disser: Vós não dizeis a verdade, aliás, sois dois marotos que andais enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres, ide embora; e não nos abrir, e fizer¬-nos ficar fora na neve e na água, com o frio e com a fome até de noite; então, se nós suportarmos tanta injúria e tanta crueldade, pacientemente, sem nos perturbarmos, e sem reclamarmos, pensando humildemente que aquele porteiro nos conhece de verdade e que Deus o faz falar contra nós, ó Frei Leão, escreve que aqui há perfeita alegria.

E, por isso, ouve a conclusão, Frei Leão. Acima de todas as graças e dons, que o Cristo concede aos seus amigos, está a de vencer a si mesmo e, de boa-vontade, por amor de Cristo, suportar penas, injúrias, opróbrios e mal-estares; porque de todos os outros dons de Deus nós não podemos nos gloriar, pois não são nossos, mas de Deus, como diz o Apóstolo Paulo: Que é que tu tens que não recebeste de Deus? E se recebeste dele, por que te glorias, como se o tivesses por ti? Mas, na cruz da tribulação e da aflição, nós podemos nos gloriar, pois, diz o Apóstolo, não quero me gloriar a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.

A alegria é a marca do verdadeiro cristão, embora o mundo sempre tenha visto no Evangelho um conjunto de notícias tristes. Jesus nasceu pobre, ajudou e curou a todos e acabou morrendo pela crucificação entre dois ladrões. A perfeita alegria, explicada por Francisco, foi ensinada por Jesus durante a Ceia Pascal, na quinta-feira à noite, horas antes da crucificação, quando o Divino Amigo afirmou: Assim como o Pai me amou, eu também vos amei. Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como, observando os mandamentos do meu Pai, eu permaneço no seu amor. Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita (João, 15: 9-13).

Assim, cultivemos a perfeita alegria para que as nossas vidas se transformem em manancial de bênçãos para todos que convivem conosco.

SERVIÇO ESPÍRITA DE INFORMAÇÕES
Boletim SEI: E-mail: boletimsei@gmail.com
Maio 2013  no 2224

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