FATALIDADE OU LIVRE-ARBÍTRIO:
QUAL ESTÁ NO COMANDO?
George Abreu de Sousa
Vive-se no meio de variadas atribulações e com certa frequência surge
um novo espinho trazendo o sofrimento. Nessa hora, o espírita pergunta: “Essa
situação já estaria pré-determinada?”
Para responder, precisa-se distinguir o sofrimento físico do sofrimento
moral.
O mundo físico é o corpo, a família, a pátria, as condições
socioeconômicas básicas que acompanham o ser enquanto ainda não puder tomar as
suas decisões. O mundo moral é aquele do livre-arbítrio, da decisão, do
pensamento e das ações.
Então, a resposta será, sendo o sofrimento físico, pode, sim, ter sido
pré-determinado. É o que se costuma chamar de fatalidade. Em se tratando de
sofrimento de natureza moral, não existe nenhum destino previamente formatado.
Nem pensar em dizer que uma pessoa é mal humorada ou desonesta porque o
destino assim quis. Ocorre que ela não faz o suficiente para mudar, sua vontade
é pouca. Se quisesse, ela conseguiria se modificar. Nesse mundo de provas, as
fraquezas da alma estão sempre em jogo, enfrentando muitos arrastamentos para
os vícios, mas com algum esforço, e boas escolhas, toda má inclinação pode ser
superada.
A mente toma diversas decisões, do tipo: faço ou não faço? Aceito ou
não aceito? E até mesmo do tipo: sofro ou não sofro? O espírito sempre decide,
para o seu bem ou para o seu mal.
Nas decisões, um bom espírito pode ajudar a fortalecer o desejo de
superação, inspirando coragem, enquanto um espírito atrasado pode atuar
exagerando a dificuldade, tornando o problema algo insuperável, fazendo aos
olhos da vítima, tudo parecer muito pior do que realmente é.
Quando uma pessoa tem uma deficiência física este fato não depende mais
da sua decisão, pois a causa vem do passado, o efeito é que está no presente.
As escolhas feitas pelo espírito criam um caminho, certo destino, que
chamamos de fatalidade.
A pessoa que afetou seu próprio corpo espiritual no passado, por ter
ofendido as leis naturais, gravadas na sua consciência, provoca, ao renascer na
matéria, uma modificação involuntária do seu corpo físico. É bem verdade que
ela também pode ter pedido para nascer com determinada deficiência, ou mesmo
ter solicitado que algo lhe acontecesse no transcorrer da vida física com um
fim útil qualquer. O propósito de uma deformação física mais severa é sempre o
de resgatar compromissos do passado. De um modo ou de outro, as anomalias
físicas têm origem no livre-arbítrio do próprio Espírito.
Um exemplo de fatalidade: uma criança que nasça com algum problema. A
sua deficiência é um efeito resultante de uma causa passada, e essa causa veio
das escolhas que esse espírito fez utilizando-se da sua liberdade de decisão.
Essa criança não nasce com problemas físicos porque algo “deu errado” na
gestação ou no parto. Não, esse espírito já viria a nascer com problemas
físicos, resultado de uma causa pretérita e geradora do problema atual.
Mesmo quando acontece uma negligência de um profissional ou da
organização do hospital, ainda assim não há surpresa para os mensageiros
responsáveis pelo processo da reencarnação. Só nasce com problema o espírito
que estava previsto assim nascer. Caso contrário, a falha humana ali ocorrida
será compensada pelo mundo espírita. Não nasce com problemas quem não deveria
assim nascer. Nada “sai errado” para o planejamento espiritual.
Outro exemplo: uma futura mãe, ao usar drogas, cria uma circunstância
adversa ao processo reencarnatório. Um espírito que já deveria nascer com
deficiência orgânica poderá ser conduzido àquela mãe. Entretanto, se forem
diferentes os objetivos espirituais, seu filho nascerá sadio. No comando não
está uma mãe irresponsável, mas os responsáveis pelo desenvolvimento das
criaturas na Terra.
É comum a fatalidade ser compreendida como algo ruim, mas não necessariamente
o destino é algo ruim, é apenas um destino, algo que seria fatal que viesse a
acontecer.
Por exemplo: para um futuro atleta, que tem no seu destino atuar, com
êxito, no mundo do futebol, será fatal que seu corpo venha com os requisitos necessários
que lhe possibilitarão tornar-se esse grande atleta. Próximo do objetivo a que
seu destino lhe ajudou a chegar, vem o mundo moral, totalmente indefinido, e
esse atleta se entrega aos excessos, e aí as consequências começam a traçar um
novo rumo. Observe que era fatal que o seu físico viesse apropriado ao que iria
executar, mas suas decisões são soberanas, capazes de mudar o curso de sua
vida, de alterar seu destino.
Por essa razão, os Espíritos da Codificação concluem na questão 853 de
“O Livro dos Espíritos” que fatal mesmo só o instante da morte. Ensinam que o
livre¬-arbítrio é tão poderoso que pode mudar acontecimentos pré-determinados,
até diante da morte. Quando soa a sua chamada, é necessário curvar-se a essa
força irresistível.
Sabe-se que a hora da morte pode ser antecipada por decisão da própria
criatura. É o livre-arbítrio, com seu poder, atuando sobre a mais fatal das
fatalidades. Uma pessoa pode antecipar sua partida do invólucro físico, devido
às suas decisões imprudentes, pelos seus vícios, pelo rumo que dá à vida, sem
respeito à Lei de Conservação, patrimônio do seu inconsciente. O poder da
liberdade de escolha é tão respeitado nesse Universo que mesmo a morte se curva
diante daquele que decide morrer mais cedo. Pode também, no entanto, por algum
motivo importante, receber uma moratória e estender seu período de vida na
Terra.
Concluímos, portanto, que o espírito participa ativamente do seu
destino, seja por ter acertado ou ter errado no pretérito, seja pelas decisões
que tomou na vida espírita, antes da reencarnação, seja pelas decisões que vem
tomando no decorrer da atual existência.
O livre-arbítrio proporcionará ao espírito a construção da sua
felicidade ou fatalmente lhe aprisionará nas consequências dos seus atos
equivocados.
É escolher.
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Dezembro
2012 – no 2219
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