Entre as declarações dadas à imprensa nos últimos dias por sobreviventes
e parentes dos mais de 230 jovens mortos no grande incêndio em Santa Maria
(RS), uma chamou especialmente a atenção por partir de uma mãe, viúva, que
perdeu não um, mas dois filhos na catástrofe. “Coloquei a vida deles nas mãos
de Deus” – disse, emocionada, Elaine Marques Gonçalves aos jornalistas que acompanhavam
o sepultamento de seu caçula Gustavo Marques, de 21 anos, que, após três dias
internado, sucumbiu aos ferimentos causados pelo incêndio. O outro filho,
Deives Gonçalves, de 33, havia desencarnado na boate, por asfixia.
Nem sempre pais ou pessoas que perdem seus entes queridos conseguem, de
pronto, aceitar ou demonstrar resignação com o que popularmente se chama de “a
vontade de Deus”. E essa não aceitação costuma abrir portas perigosas à revolta
e a quadros difíceis de depressão, o que nos conclama, na condição de irmãos em
humanidade, a cuidados redobrados com esses companheiros, a quem devemos ajudar,
o quanto possível, no soerguimento das forças, como costumava fazer, aliás, o
cristão-espírita Chico Xavier.
Frequentemente procurado por mães, pais e demais pessoas que haviam perdido
entes próximos, Chico sempre tinha uma palavra de consolo, geralmente dita após
um abraço com que se associava à dor deles. Algumas vezes, os próprios
desencarnados vinham ajudar a atenuar o sofrimento e a saudade dos afetos queridos
da retaguarda, por meio das conhecidas mensagens que o médium mineiro
psicografava, como se aqueles Espíritos estivessem pedindo que inconformação e
revolta contra os desígnios do Alto não tomassem jamais conta dos corações da
Terra a eles ligados, certamente cientes de que, como esclarece o Espiritismo,
nada, por mais doloroso que seja, ocorre por obra do acaso, mas em cumprimento
a uma Lei Maior, à qual estão vinculadas imperiosas necessidades espirituais,
sobre as quais, envolvidos que estamos nos imediatismos e limitações da vida
terrena, não temos ainda condições de avaliar em todos os seus nuances.
No livro “Somos Seis” (ed. GEEM), há diversas mensagens assim, mas
destacamos duas delas por serem de autoria de dois jovens que, como os de Santa
Maria, deixaram a vida física num incêndio. Falamos da jovem Volquimar Carvalho
dos Santos, de 22 anos, e de Wilson William Garcia, de 25, desencarnados em 1º de
fevereiro de 1974 no incêndio do Edifício Joelma, na capital paulista, o qual
matou mais de 180 pessoas.
“Compreendi que não estávamos à beira de uma libertação para o mundo e
sim na margem da Vida Espiritual que devíamos aceitar com fé em Deus. E aceitei.
Os Amigos Espirituais, destacando-se meu avô Álvaro, comigo durante todo o
tempo, não me deixaram assinalar quaisquer violências, naturais numa ocasião
como aquela” – conta Volquimar, em mensagem psicografada por Chico em 13 de
julho de 1974. E a jovem aproveita a oportunidade para lançar um apelo aos seus
entes amados, que vale para todos nós que um dia choramos ou poderemos vir a chorar
pela “partida” de alguém: “Todos os pensamentos de paz que me enviam são
preciosos agentes em meu favor.”
E complementa o outro jovem, Wilson Garcia, em carta à sua querida mãezinha:
“Agradeço as orações e os pensamentos. Não chore com aflição que isso dói muito
em nós aqui. Confiemos em Deus.”
Que essas palavras possam servir de lenitivo aos que choram a saudade
dos seus, sobretudo a essas mães-heroínas. Que o Pai Celestial as sustente e
que, em nome do amor aos filhos amados, possam vencer a imensa dor que lhes invade
o coração e reunir no fundo da alma forças para continuar endereçando àqueles
que Deus lhes confiou na Terra como tutelados as vibrações de paz de que necessitam
nesse momento tão especial de sua trajetória, tutelados que, sem dúvida, um dia
voltarão a reencontrar. Até lá, estejamos confiantes e firmes, orando, vibrando,
trabalhando no Bem, cuidando uns dos outros, certos de que a felicidade é destino
inevitável, pois seguimos todos “nas mãos de Deus”.
SERVIÇO ESPÍRITA DE
INFORMAÇÕES
Boletim SEI: E-mail: boletimsei@gmail.com
Fevereiro
2013 – no 2221
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