VIVENCIANDO A MORTE
D. Villela
Para a maioria das pessoas a morte é um tema constrangedor, sobre o qual se evita falar e até pensar, pois a ela se associam não apenas a insegurança ante o desconhecido (os que morrem não voltam para descrevê-la) mas, também, impressões negativas elaboradas pela tradição cristã.
A Doutrina Espírita, dentro do panorama coerente que oferece quanto à vida, onde nossa liberdade se exerce num contexto de responsabilidade, segundo a conhecida comparação semeadura-colheita, estuda também esse tema esclarecendo tratar-se de experiência singular (não há mortes iguais) mas sujeita a um princípio básico e simples: a situação moral do espírito, sua menor ou maior identificação com a vida material são determinantes para as condições daquele momento de transição que será suave no primeiro caso e cheio de angústia no segundo. Estas considerações constam da Codificação, particularmente no livro O Céu e o Inferno publicado em 1865.
Passaram-se quase 60 anos até que nova obra surgisse, em 1924, dedicada ao assunto, com o título A crise da morte, de Ernesto Bozzano, na qual aquele conhecido pesquisador analisou comparativamente dezessete comunicados mediúnicos, obtidos por diferentes médiuns, apenas um dos quais comparece com duas mensagens, em épocas e locais distintos, focalizando, todos eles, o momento da desencarnação. A seriedade e o cuidado evidenciados nas publicações de onde foram retiradas aquelas comunicações, bem como sua própria coerência e racionalidade, nos autorizam a admitir como confiáveis as informações nelas contidas, as quais, além de mostrarem vários aspectos interessantes do processo da desencarnação, evidenciam também a importância decisiva do fator moral no estabelecimento das condições vivenciadas pelos que deixam a vida material.
A partir de então, a literatura doutrinária enriqueceu-se extraordinariamente com a colaboração de médiuns notáveis, cujas obras ampliaram nosso conhecimento acerca das condições de vida na espiritualidade e do momento de nosso retorno a ela após deixarmos o corpo de carne. Deve-se acrescentar que tais informações não cobrem somente os aspectos fisiológicos e perispirituais dessa hora, que todos experimentarão um dia. Elas contêm igualmente as providências dos benfeitores espirituais relativamente aos que retornam da luta material, ainda mesmo quando assinalados por débitos e desajustes.
O progresso da medicina, nas últimas décadas do século passado, permitiu que pessoas que sofreram morte clínica, com parada cardiorrespiratória e inconsciência, tivessem revertida essa situação, abrindo, assim, novo campo de pesquisa nesse terreno, pois muitas delas que, na verdade, iniciaram o processo da morte, interrompido com seu retorno à vida puderam descrever suas experiências nesse estado, quando se viram fora do corpo, acompanharam o trabalho dos médicos que tentavam salvá-las e encontraram amigos e parentes já desencarnados que as envolveram em vibrações de amor e paz. Ainda aí, contudo, nas chamadas experiências de quase morte, confirmou-se a influência do aspecto moral no bem-estar ou não daqueles indivíduos.
A Doutrina Espírita desfaz completamente a imagem negativa acerca da morte, que só é dolorosa para a consciência culpada mas que se reveste de paz e assinala o início de uma nova etapa de progresso para quantos se esforcem por viver de forma digna e útil, na construção do bem.
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“O Céu e o Inferno” (segunda parte, capítulo 1, itens 13 e 14).
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Março 2013 – no 2222
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