OPINIÕES CONTRADITÓRIAS
D. Villela
Surgindo em meados do século XIX, no contexto da tradição ocidental cristã, o Espiritismo defrontou-se com o desconhecimento generalizado acerca das realidades espirituais, bem como da mediunidade, situação esta, aliás, não muito diferente da atual. Acerca das primeiras, vigoravam ainda velhas concepções de caráter mitológico (inferno de chamas, etc.), sendo a segunda associada a práticas de feitiçaria, por herança medieval, ou considerada como patologia nervosa nos meios científicos.
A Doutrina Espírita vinha justamente mudar esse quadro, estudando em detalhes a fenomenologia mediúnica e esclarecendo que encarnados e desencarnados viviam em permanente contato e mútua influenciação, alternando, periodicamente, de condição, graças ao mecanismo reencarnatório.
Era natural, portanto, que os habitantes do mundo invisível, ao se comunicarem, se mostrassem extremamente diferentes em termos de desenvolvimento moral e intelectual, sem esquecermos, igualmente, que o próprio medianeiro participa dessa comunicação, podendo, por insuficiência de adestramento ou até deficiência moral, desfigurar ou falsear as ideias que transmite.
Desconhecendo inteiramente esses fatos, críticos superficiais esmeraram-se em apontar contradições nos conceitos que chegavam da Espiritualidade, concluindo daí, triunfalmente, que tudo não passava de fraude ou ilusão. Um dos pontos de controvérsia foi justamente a reencarnação, inicialmente omitida ou mesmo rejeitada em algumas mensagens recebidas entre os anglo-saxões, mas confirmada pela imensa maioria dos comunicantes.
Desde Allan Kardec, no entanto, sabemos que a mediunidade nos oferece ditados de valor desigual, cujo grau de confiabilidade depende sempre do exame de seus conteúdos, à luz da razão, bem como do próprio intermediário, em termos de postura moral e desenvolvimento da faculdade.
Se na Terra não estranhamos que haja diversidade de opiniões sobre os mais variados assuntos, por que nos surpreenderia essa ocorrência após a morte? Oportuno lembrar, por outro lado, que a palavra de um benfeitor espiritual, detentor de vastos cabedais de sabedoria e bondade, difere completamente das expressões e conceitos formulados por um espírito ainda leviano ou ignorante.
Não bastam, assim, a procedência mediúnica de um texto nem um nome respeitável em sua assinatura. Em Espiritismo somos convidados a receber a palavra do mundo invisível com a mesma atenção e discernimento que empregamos ao examinar ideias e propostas de companheiros encarnados, acolhendo o que seja útil e bom e rejeitando o que se mostre inverídico ou prejudicial.
O Livro dos Médiuns (297 a 302).
Conselho Espírita Internacional
Boletim SEI: E-mail: boletimsei@gmail.com
Sábado, 11/9/2004 - no 1902
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