A IMPORTÂNCIA DA OBRA DE ALLAN KARDEC
Cesar Soares dos Reis
Se avaliarmos o nível científico e tecnológico do tempo de Kardec, verificaremos que hoje dispomos de conhecimentos, aparelhagens e equipamentos incomparavelmente superiores. Informática, Astrofísica, Física Quântica, Relatividade, microscópios eletrônicos, provavelmente eram palavras que nem existiam em meados do século XIX. Para não falar na produção da energia elétrica, na anestesia, que na medicina ainda dava os seus primeiros passos; na pavimentação de estradas, nos tratamentos de águas e esgotos, nos conceitos da psicologia, da sociologia, nos direitos humanos.
Parece que estamos há milênios de distância daquele mundo feio e escuro, cheio de febres e doenças ou do pensamento grego que dominava as filosofias vigentes na Europa antes da idade da razão. No entanto, o século de Kardec foi de grandes conquistas da ciência, de grandes ideias, posteriormente desenvolvidas. Na verdade vemos surgir a física, a química, a botânica, a biologia, como ciências, sobretudo no século XIX. Ao lado desse desabrochar de um tempo novo, os grandes questionamentos religiosos, com as teorias da evolução, os fenômenos transcendentes e as buscas sociais materializadas, sobretudo, na Revolução Francesa e em manifestos que sacudiram o mundo.
Bastou que o conhecimento humano começasse a se desvencilhar do obscurantismo medieval para que a Espiritualidade desse início ao seu plano de integrar ciência, filosofia e religião num todo harmônico, à procura da síntese que reunisse o melhor do pensamento, do sentimento e das ações humanas. É aí que avulta a personalidade de Kardec, ele mesmo uma síntese de conhecimentos, bom-senso, disciplina, racionalidade e sentimentos bons. Somente um educador avançado poderia consolidar na linguagem dos homens tal integração.
Para cumprir o seu papel, a Doutrina Espírita teria que ser apresentada ao mundo como obra de educação pessoal e social. Não seria uma filosofia como tantas outras, nem uma ciência sem olhar para além do fenômeno, nem uma religião da mística, do mágico, do sobrenatural, do mistério.
Mais uma vez sobreleva a personalidade de Kardec, como se depreende do que está em A Gênese, capítulo primeiro, item 13: Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.
Galileu, Newton, Einstein, dentre outros, foram gênios que abriram caminhos novos para a humanidade. Mas é Kardec o pedagogo que leva os homens pelas mãos a fim de que possam, com segurança, percorrer os caminhos do bem, da luz e da paz, na direção do Mestre, em busca da felicidade para a qual todos fomos criados.
Por causa de Kardec o Espiritismo é uma revelação diferente. Não é a palavra perfeita e definitiva da Lei como está em os Dez Mandamentos de Moisés. Não é a irretocável mensagem que Jesus nos trouxe, sobretudo no Sermão da Montanha. A revelação espírita reconhece em si mesma a sua imperfeição quando se diz evolutiva e adaptável aos novos conhecimentos do homem. Uma revelação que progride com o progresso do homem mas que é, ao mesmo tempo, âncora de segurança, leme de orientação, vento brando para deslocamento do barco humano em seu grande mergulho no mar de amor que é Deus, nossa origem e nossa destinação. É ainda em A Gênese, capítulo primeiro, item 55, que encontramos: Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação.
Uma nova ciência surge com naturalidade dos esforços de observação e pesquisa dos homens. Novas filosofias decorrem de uma percepção mais nítida da vida com o progresso da ciência. De certa maneira, houve uma inversão. Antigamente as filosofias determinavam os caminhos das ciências. Hoje, as ciências orientam os passos das filosofias. Já a questão religiosa sempre recebeu um tratamento diferente por enveredar pelo mito, pelo incompreensível e, ainda, porque representa uma busca, um anseio, algo que está na essência do ser humano e que o atrai inevitavelmente. Para complicar ainda mais, as religiões historicamente foram associadas ao poder político, ao domínio, ao mando, aos interesses de toda ordem, e são olhadas com desconfiança pelos cientistas e pelos filósofos.
A tarefa gigantesca de Kardec era apresentar à humanidade uma nova ciência, uma nova filosofia, uma nova religião, integradas num corpo único. O Espiritismo não é uma filosofia, uma ciência e uma religião.
Ele é um todo científico, religioso, filosófico.
Na verdade não apresenta nenhuma novidade absolutamente original. Não foi o Espiritismo que inventou o conceito de Deus, mas o conceito espírita de Deus, presença e lei, justiça e misericórdia, é uma novidade.
Não foi o Espiritismo que inventou a reencarnação. Mas o conceito espírita de reencarnação, acoplado aos processos evolutivos, é uma novidade. Não foi o Espiritismo que inventou a mediunidade. Mas o conceito espírita de mediunidade ligado à comunicação e à transcendência humana é, de fato, uma novidade.
Kardec conseguiu reunir, a partir de fenômenos aparentemente sem muita importância, uma série de não-novidades que se constituíram numa grande novidade e se transformaram numa revelação para os tempos novos.
Um dia a humanidade reverenciará o grande apóstolo de Jesus, Allan Kardec. Como diz Emmanuel em A Caminho da Luz, capítulo 23: Sua tarefa era reorganizar o edifício desmoronado da crença reconduzindo a civilização às suas profundas bases religiosas.... Tarefa de gigante do pensamento e da sensibilidade. A obra de Allan Kardec é um monumento da cultura humana, dos sentimentos humanos, dos mais nobres ideais humanos. É avançada, na medida em que o ser humano ainda não se vê em plenitude. Talvez esta palavra defina a importância da obra de Kardec: plenitude, ajudar o homem a se reconhecer integral, como ser divino, absolutamente respeitável, criado para a luz, capaz de criar caminhos de luz. A obra de Kardec veio para educar o homem para a sua plenitude. Ela ecoará através dos séculos oferecendo a todos dignidade e esperança. Um dia, na era da regeneração, por certo a entenderemos melhor.
Em toda parte é necessário sejamos o exemplo do ensino que pregamos, porque, se o Evangelho é a revelação pela qual o Cristo nos entregou mais amplo conhecimento de Deus, a Doutrina Espírita é a revelação pela qual o mundo espera mais amplo conhecimento do Cristo, em nós e por nós. Seara dos Médiuns Emmanuel
Conselho Espírita Internacional
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Sábado, 2/10/2004 - no 1905
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