CONVIVÊNCIA SOCIAL
D.Villela
O homem é um ser social ou é um ser político, são expressões conhecidas que se referem à nossa propensão natural para a vida em sociedade.
Os animais, governados pelo instinto, acham-se prontos para uma existência autônoma tão logo atinjam a idade adulta, o que, em geral, ocorre não muito tempo depois de seu nascimento, devendo notar-se que as espécies que formam comunidades, com especialização de tarefas (como as abelhas, por exemplo), assim agem também por puro automatismo.
Com o ser humano é diferente. Ele depende do grupo ao longo de toda a sua vida, a começar pela infância, na família, onde, além de condições de subsistência, recebe também recursos de natureza moral (afetividade, educação) indispensáveis ao seu equilíbrio e felicidade.
Não é difícil constatarmos essa dependência do indivíduo em relação à comunidade, bastando, para tanto, observar que os alimentos, roupas e utensílios de que se serve são produzidos em locais os mais diversos e chegam até ele com o auxílio de diferentes intermediários. O mesmo se dá com os serviços (comunicações, transportes) a que recorremos cotidianamente: um simples telefonema envolve os esforços conjugados de centenas de pessoas, técnicos que projetaram, fabricaram e instalaram os equipamentos necessários e que cuidam de sua operação e manutenção, pessoal de administração etc., sem esquecermos a energia elétrica também necessária produzida e comercializada por outras equipes.
Conforme esclarece a Doutrina Espírita, a vida em sociedade é uma disposição divina pela qual oferecemos à coletividade a nossa contribuição pessoal e dela recebemos o que nos é necessário, aprimorando-nos, ao mesmo tempo, na efetivação desse processo, em termos de inteligência e sentimento. Observadores superficiais, desconhecendo o mecanismo da reencarnação e as leis de causalidade e progresso, não puderam perceber este último aspecto, identificando nesse relacionamento apenas ação da força e do interesse pessoal e concluindo daí ser ele um jogo de impulsos cegos, destituído de finalidade, onde a vantagem pertence sempre ao mais violento ou mais astuto.
Essa conclusão, no entanto, é falsa.
Embora devido à nossa liberdade ainda mal conduzida a convivência social se ressinta de muitas dificuldades a culminarem nos tristes espetáculos da guerra, do terrorismo e das condições sub-humanas de vida impostas a muitos pelos detentores transitórios do poder político ou econômico, apesar de tudo isso, a verdade é que estamos progredindo também sob o aspecto moral conforme se verifica nas leis que continuamente se aperfeiçoam e na existência de inúmeras organizações, estatais ou particulares, voltadas para a proteção dos direitos humanos, das minorias e dos refugiados, sem esquecermos a moderna preocupação com o meio ambiente e com a responsabilidade social das empresas.
Embora em áreas cada vez maiores se disponha, hoje, de condições melhores de educação, saúde e segurança do que há cem ou 200 anos, é crescente a consciência de que a ordem vigente ainda é profundamente injusta e precisa ser corrigida, não tanto em decorrência de considerações religiosas atualmente não muito prestigiadas mas sobretudo em função dos valores que fundamentam a civilização.
A vida social é, no fundo, um grande curso de progresso espiritual em que, vivenciando situações e papéis diversos, caminhamos, lenta, porém, seguramente, para a aquisição da consciência de que somos irmãos uns dos outros, membros da grande família humana.
O Livro dos Espíritos (766 a 768).
Conselho Espírita Internacional
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Sábado, 16/10/2004 - no 1907
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