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domingo, 19 de abril de 2015

TEMAS

Janeiro


Atitudes Renovadas


1 - Convidados


Todo o Evangelho de Jesus é um hino de louvor à vida, uma canção de alegria, uma apoteose ao amor;
Suas palavras de sabor atemporal[1], apropriadas a todas as épocas são música sinfônica narrando a epopeia[2] de Espíritos ora famintos de luz que se fartam, noutros momentos aflitos na escuridão da ignorância e das autopunições em processo de libertação, que se reencontram e se tornam felizes.
A sua dúlcida[3] voz, enunciando os paradigmas da felicidade, penetra o âmago do ser humano, como um raio de luz que vara a treva e a vence de um golpe...
Todas as lições que oferece encontram-se ricas de atualidade como instrumento de edificação moral irrepreensível ou qual diretriz segura para o encontro com o bem estar com a atitude real.
Em a narração complexa em torno de um rei, que, desejando celebrar as bodas do filho, mandou preparar um banquete e, de imediato, convidar as pessoas gradas que constituíam a sociedade distinta do palácio.
Desinteressados do que ocorria no palácio, esses eleitos maltrataram os emissários e não deram importância à invitação[4]. Foram cuidar dos próprios interesses subalternos. Surpreso com esta reação do seu povo, o monarca enviou novos mensageiros a outro grupo de cidadãos que igualmente desconsideraram a gentileza honorável. Cada qual se foi, como de hábito, atender aos objetivos que lhe diziam respeito, não considerando a oferenda que lhe era apresentada.
Além dessa indiferença ficaram revoltados com a insistência e maltrataram os emissários, ultrajaram-nos e os mataram.
Irritou-se o rei e mandou suas tropas exterminarem os rebeldes e ingratos...
Apesar dos insucessos, insistiu o monarca junto a seus servos, esclarecendo: - As bodas estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e chamai para as bodas a quantos encontrardes.
Os servidores foram e arrebanharam maus e bons, ociosos e trabalhadores, ficando a sala nupcial cheia de convivas.
Jubiloso o rei passeou pelo recinto e foi tomado de surpresa quando identificou um convidado que não vestia a roupagem nupcial, a quem indagou: - Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial?
Ele, porém. Emudeceu, empalidecendo constrangido.
Então o rei disse aos seus servos:

- Atai-o de pés e de mãos e lançai-o às trevas exteriores. Ali haverá o choro e o ranger de dentes. Pois muitos são chamados, mas poucos escolhidos [5]

A um leitor pouco atento, pode parecer paradoxal a atitude real, punindo um convidado que viera ao banquete de surpresa, conforme se encontrava no momento da invitação.
Sem dúvida, na extraordinária narrativa simbólica, decodificamos a mensagem partindo da proposta divina, na qual o Pai Celestial prepara a boda do Seu Filho Jesus com a humanidade e toma todas as providências.
Através dos séculos o rei organizou o banquete das bodas com o povo que se acreditava eleito, dizendo-se-lhe fiel, informando respeitá-Lo e homenageá-Lo como Único e Soberano.
No entanto, em face da soberba, assim como mesquinhas aspirações, ao ter notícia da ocorrência, indiferente às lições recebidas, desprezou os profetas que vieram anunciar o momento grandioso e os matou, rebelde, insensato, permanecendo no amanho da terra das suas paixões.
O Grande Rei enviou então o próprio Filo, o noivo de Luz, que não recebeu qualquer consideração, nem mesmo daqueles que Lhe foram comensais constantes, beneficiários do Seu amor e desdenharam-nO, crucificando-O entre sarcasmo e desprezo...
O Rei misericordioso, então compadecido da suprema ignorância dos seus súditos de melhor condição, optou por enviar o convite a todos aqueles que eram destituídos de privilégios, de comodidades, os que eram considerados excluídos, bons e maus, que perambulavam pelas ruas e encruzilhadas do destino incerto, a fim de que Participassem da festa especial.
Viviam em lugares de torpeza moral, em situações sórdidas e deploráveis, com a vestes rasgada e os pés descalços.
O sapato era, então, símbolo de posição social de destaque, objeto de muito valor, que expressava situação econômica do usuário...
Foram esses os convidados que aceitaram estarem presentes no banquete de bodas.
Pode-se considerar que eles representam a moderna sociedade aflita, que deambula de um para outro lugar, buscando solução para os problemas, sem orientação nem sentido existencial.
Para esses veio o Consolador, que os introduz na sala dos festejos, oferecendo-lhes todos os acepipes valiosos para nutri-los e libertá-los do caos interior...
No entanto, o traje nupcial que não se constitui de indumentária exterior, mas de valores internos, é desprezado por diversos daqueles que se utilizam dos bens preciosos sem qualquer consideração para com o ato nupcial que deve ser consumado entre eles e o Filho dileto do Rei.
É natural que padeçam o efeito do desrespeito a que se permitem, deslizando para as regiões sombrias e profundas de sofrimentos, atados pés e mãos às fortes algemas da rebeldia e da desfaçatez.
A culpa neles se encontra em forma de tormento, como remorsos, insegurança de dignidade e complexos outros afligentes.
Sem qualquer relutância, a mensagem alcança hoje multidões, trombeteada pelas vozes do Céu, incontáveis a ouvem, aceitam-lhe o convite, no entanto, somente aqueles que se investirem das insígnias das núpcias, ostentando as condecorações dos sofrimentos, as comendas da abnegação, distinguir-se-ão, e estão escolhidos.
Na atualidade do pensamento científico tecnológico, sociológico e cultural, o convite para o banquete incomparável da plenitude alcança as mentes e os corações que estão despertos para a alegria de viver e de servir.
Repetem-se as invitações sonoras e gráficas, em músicas sublimes e em pergaminhos de luz, inundando o pensamento de sabedoria e o sentimento de paz, no entanto, a ufania o utopismo, a arrogância e as vãs concepções desdenham, zombam, e não lhes dão importância.
Nesse concerto que poderia ser de beleza e harmonia a patética do sofrimento espalha inquietação e incerteza, angustia e sombras, chamando à renovação, conclamando ao atendimento, tentando o despertar das consciências adormecidas.
A pouco e pouco, o entendimento em torno da responsabilidade imortal favorece-lhes a aceitação do convite e eles optam por se fazer presentes no banquete de bênçãos da imortalidade em triunfo;
Convidados!...
Auto eleger-se para ser escolhido em face da autodoação e da entrega ao amor incondicional, é a fatalidade apresentada pela lei do progresso.

Em que classe de convidado te encontras?

Reflexiona e decide, porque o banquete de núpcias já começou...

Cuida de renovar tuas atitudes.... Agora!!!



Então Jesus, tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo:

O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho;

E enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir.

Depois, enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas.

Eles, porém, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu tráfico;

E os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.

E o rei, tendo notícia disto, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade.

Então diz aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos.

Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes.

E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados.

E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste de núpcias.

E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E ele emudeceu.

Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.

Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
Mateus 22:1-14


Fevereiro


Celeiro De Benções


35 - Serão consolados


Nem todos aflitos, porém... Muitos que sofrem engendraram as aflições de que se tornaram vítimas inermes. Carregam o sofrimento aspirando e exalando o gás da ira mal dissimulada com que mais se intoxicam e mais envenenam em derredor. Pessoas afluem esmagam-se nas paredes estreitas da usura, de que se não libertam; estertoram nas garras do ciúme que as enceguecem; desagregam-se sob os camartelos da insatisfação face aos prazeres dissolventes; transitam em sofreguidão contínua ao estridor da revolta que as agoniam; turbam-se nas densas nuvens da desesperança; tombam, desfalecidas, nas urdiduras do desânimo. Toda aflição se fixa em raízes que devem ser extirpadas. Algumas possuem causas atuais, enquanto outras se prendem ao passado espiritual, constituindo tais fatores a justiça impertérrita que alcança os infratores dos códigos divinos do amor e do equilíbrio.

Aflições de vário porte conduzem ao crime de muitas denominações. Somente a aflição resignada e confiante, de pronto receberá consolo. A chuva que reverdece a terra crestada, em tempestade, aniquila colheitas, despedaça jardins, carcome o solo...
O repouso sensato refaz as forças; prolongado, anestesia os estímulos, entorpecendo a vontade e a ação.
Aflitos que, não obstante, em lágrimas, atendem alheio pranto; apesar de perseguidos, não se fazem perseguidores; embora sob injustiça, confiam na probidade; sem embargo, enfermos, estimam a saúde do próximo; todavia, incompreendidos, desculpam e sustentam a coragem do bem; no entanto, esfaimados, alevantam o ânimo onde se encontram; mesmo em quase alucinação, tal a monta de problemas e dificuldades, recorrem à oração refazente e à meditação renovadora - serão consolados!
Nem todos os aflitos, porém, lograrão consolação.

Há os que impõem tais ou quais medidas a fim de saciar-se; que esperam este ou aquele resultado com que pensam comprazer-se; que situam esse ou outro fator como único pelo qual se apaziguariam; uma ou duas únicas opções para fruírem felicidade, e, entretanto, são recursos da ilicitude, quando não dos caprichos que estão sendo disciplinados pela própria aflição...

Trasladarão oportunidades, adiarão benesses, sofrerão...Não podem ser consolados, porquanto, não aspiram a conforto e sim desforço, triunfo, vanglória. Nicodemos possuía dúvidas honestas - foi esclarecido. Marta inquietava-se no afã do zelo exagerado - recebeu diretriz; Zaqueu dispunha de moedas azinhavradas - trocou-as pêlos tesouros imperecíveis.Madalena fossilava na perversão obsidente - conseguiu curar-se.Antes, aflitos, abriram-se ao consolo vertido das mãos de Jesus Cristo.Indispensável valorizar a aflição, sopesando-a com discernimento, de modo a conduzi-la às fontes inexauríveis do Evangelho em clima de serenidade, respeito e amor. Ali, todas as dores se acalmam, todas as lágrimas se enxugam, todos os aflitos são consolados.


Março


O Homem Integral


23 - Acusações E Acusadores


Quando o estudante da Boa Nova se adentrou pela senda luminosa do esclarecimento renovador, sentiu-se dominado por ignota emoção, permitindo-se arrastar por aspirações superiores, planejando programas abençoados a favor da própria paz e em volta dos passos que pretendia imprimir pela rota.
Tudo sorriam flores, ofertando largas dádivas de alegrias: amigos gentis, esclarecedores, de segura aparência interior, como se se encontrassem realmente forjados nos altos fornos do sofrimento e da abnegação; tarefas múltiplas favoráveis, em clima de fraternidade convidativa; oportunidades felizes de exercitar as lições vivas do Mestre no convívio comunitário...
Entusiasmo singular dominou-o com as mais agradáveis impressões que se convertiam em convites à doação total.
Legitimamente concitado à construção dos postulados formosos no dia-a-dia das lutas, envidou esforços e entregou-se ao labor.
A princípio, incipiente, era dirigido pelos companheiros mais experimentados, desconhecendo a escolha de serviços e a todos se entregando com alto espírito de abnegação.
Passou a despertar interêsse e granjeou simpatias, inspirando respeito A ociosidade que estava à espreita, vigilante, bradou por uma boca malsã:

“Tudo no comêço é fácil. Vejamos daqui a alguns anos”.

Não obstante a decepção sofrida, o candidato ao bem afervorou-se mais e insistiu na realização dos serviços nobres.
A maledicência que lhe seguia os passos, almejando ensejo, não aguardou mais tempo e blasonou:
“Parece o dono da Casa, e apenas chegou ontem. Presunçoso e fingido, dará o golpe, quando menos se espere”.
O estudante da lição evangélica anotou o apontamento soez e, embora sofrendo, superou os próprios melindres, laborando Infatigável.
A inveja que lhe não perdoava a ação elevada, surpreendeu-o através dos companheiros de trabalho e destilou veneno: “Interesseiro e falso que é. Será que pretende tomar todo o trabalho nas suas mãos? Não pergunta nada a ninguém e crê-se auto-suficiente. Merece desprêzo e expulsão antes que seja tarde demais”.
O servidor da gleba, coração ralado, asfixiou as lágrimas e, orando pelos ofensores, prosseguiu confiante.
A viciação segura das vitórias incessantes a que se acostumara nas continuas investidas à fraqueza humana, fêz cerrado sitio e requisitou a seu serviço a sensualidade, que após os primeiros cometimentos foi rechaçada.
Ferida no brio, convocou a vaidade que envolveu o lidador no incenso da palavra vã, esparzindo os fluídos do egoísmo em forma de ardilosas insinuações que redundaram Inoperantes. O suborno pelo dinheiro foi, então, estimulado, e como não conseguisse desligar da órbita dos deveres o discípulo afervorado, êste, com os recursos de que dispunha, passou a engendrar dificuldades, multiplicando óbices e malquerenças onde medrava o despeito e campeava a disputa das cogitações inferiores.
Embrulhado, todavia, nas vibrações da prece, o seareiro da luz insistiu no serviço edificante, apesar da dor que o trespassava interiormente.
Nesse ínterim, porém, a calúnia resolveu comparecer ao campo das ações variadas, e, afrontosa, se impôs o compromisso de cravar as garras nas carnes da alma do operário incansável, O ácido da acusação indébita, produzindo a impiedade, desvelou os inimigos que jaziam ocultos e o fel do descrédito cobriu-lhe as pegadas; o enfado antecipou-lhe o avanço e malquerença, abraçada à ignorância, armou áspera e alta muralha; todavia, cansado e humilhado, o servo do Cristo se negou saltá-la, deixando-se abater, então, pelos ardis da calúnia hàbilmente manejada pelas mãos da mentira que, confundindo os frívolos e os vãos, estabeleceu primado, transformando o antes verde campo de esperança em caos de dor e reduto de animalidade...

* * * .

Entrega-te a Deus, Nosso Pai, e deixa-te conduzir por Ele docilmente, confiantemente, até o momento da tua libertação...
Eles, também, os teus acusadores experimentarão em breve o trânsito para a própria libertação. Perdoa-os, e insiste no bem, haja o que haja, certo de que Jesus, a Quem amas, continuará com êles, mas contigo também.

*

“Não te envolvas na questão dêste Justo”.
Mateus:           capítulo 27º, versículo 19.

4

“O Senhor apôs o seu sêlo em todos os que nêle crêem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquêle que sofre, e tem a fé por amparo, ficará sob a sua égide e não mais sofrerá.
Capítulo 5º — Item 19 parágrafo 4.


Abril


Amor, Imbativel Amor


14 - Dualidade Do Bem E Do Mal


Um velho koan Zen-Budista narra que um homem muito avarento recebeu, oportunamente, a visita de um mestre.
O sábio, depois de saudá-lo, perguntou-lhe: — Se eu fechar a minha mão para sempre, não a abrindo nunca, como te parecerá?
o avaro respondeu-lhe sem titubear: — Deformada.
Muito bem, prosseguiu o interlocutor: — E se eu a abrir para sempre, como a verás?
— Igualmente deformada — redargüiu, o anfitrião.
O homem nobre concluiu, informando-o: — Se entenderes isso, serás um rico feliz.
Depois que se foi, o anfitrião começou a meditar e, a partir daí, passou a repartir com os necessitados, aquilo que lhe parecia excedente, tornando-se generoso.
Todos os opostos, afirma o antigo koan, bem e mal, ter e não ter, ganhar e perder, eu e os outros, dividem a mente. Quando são aceitos, afastam as pessoas da mente original, sucumbindo ao dualismo.
A sabedoria, concluiu a narração sintética, está no meio, no Zen, que é o caminho.
A dualidade sempre esteve presente no ser humano, desde o momento em que ele começou a pensar, desenvolvendo a capacidade de discernir. Os opostos têm-lhe constituído desafios para a consciência, que deve eleger o que lhe é melhor, em detrimento daquilo que lhe é pernicioso, perturbador, gerador de conflitos.
Não poucas vezes, por imaturidade, toma decisões compulsivas e derrapa em estados de perturbação, demarcando fronteiras e evitando atravessá-las, assim  
perdendo contato com as possibilidades existentes em ambos os lados, que podem auxiliar na definição de rumos. Essa definição, no entanto, não pode ser cerceadora das vivências educativas, produtoras. Devem caracterizar-se pela eleição natural do roteiro a seguir, de maneira que nenhuma forma de tormento pelo não experimentado passe a gerar frustração.
A experiência ensina a conquistar os valores legítimos, aqueles que propiciam a evolução, facultando, na análise dos contrários, a opção pelo que constitui estímulo ao crescimento, sem que gere danos para o próprio indivíduo, para o meio onde se encontra, para outrem. Somente assim, é possível a aquisição do comportamento ideal, propiciador de paz, porque não traz, no seu bojo, qualquer proposta conflitiva.
Do ponto de vista ético, definem os dicionaristas, o bem é a qualidade atribuida a ações e a obras humanas que lhes confere um caráter moral. (Esta qualidade se anuncia através de fatores subjetivos — o sentimento de aprovação, o sentimento de dever — que levam à busca e à definição de um fundamento que os possa explicar.)
O mal é tudo aquilo que se apresenta negativo e de feição perniciosa, que deixa marcas perturbadoras e afugentes.
Na sua origem, o ser não possui a consciência do bem nem do mal. Vivendo sob a injunção do instinto, é levado a preservar a sobrevivência, a reprodução, atuando por automatismos, que irão abrindo-lhe espaços para os diferenciados patamares do conhecimento, do pensamento, da faculdade de discernir.
A seleção do que deve em relação ao que não deve realizar dá-se mediante a sensação da dor física, depois emocional, mais tarde de caráter moral, ascendendo na escala dos valores éticos. Percebe que nem tudo quanto lhe é lícito executar, pode fazê-lo, assim realizando o que lhe é de melhor, no sentido de descobrir os resultados, porqüanto aquilo que lhe é facultado, não poucas vezes fere os direitos do próximo, da vida em si mesma, quanto da sua realidade espiritual.
Essa percepção torna-se a presença da capacidade de eleger o bem em detrimento do mal. Faz-se a realidade livre da sombra; o avanço psicológico sem trauma, a ausência de retentivas na retaguarda.
Embora haja o bem social, o de natureza legal, aquele que muda de conceito conforme os valores éticos estabelecidos geográfica ou genericamente, paira, soberano, o Bem transcendental, que o tempo não altera, as situações políticas não modificam, as circunstâncias não confundem. É aquele que está inscrito na consciência de todos os seres pensantes que, não obstante, muitas vezes, anestesiem-no, permanece e se impõe oportunamente, convidando o infrator à recomposição do equilíbrio, ao refazimento da ação.
O mal, remanescente dos instintos agressivos, predomina enquanto a razão deles não se liberta, sob a dominação arbitrária do ego, que elabora interesses hedonistas, pessoais, impondo-se em detrimento de todas as demais pessoas e circunstâncias.
O seu ferrete é tão especial que, à medida que fere quantos se lhe acercam, termina por dilacerar aquele que se lhe entrega ao domínio, tombando, exaurido, pelo caminho do seu falso triunfo.
O ser humano foi criado à imagem de Deus, isto é, fadado à perfeição, superando os impositivos do trânsito evolutivo, nessa marcha inexorável a que se encontra compelido.
Possuindo os atributos da beleza, da harmonia, da felicidade, do amor, deve romper, a pouco e pouco, a casca que o envolve — herança do período primário por onde tem que passar — a fim de desenvolver as aptidões adormecidas, que lhe servem temporariamente de obstáculo a esses tesouros imarcescíveis.
O Bem pode ser personificado no amor, enquanto o mal pode ser apresentado como sendo-lhe a ausência.
Tudo aquilo que promove e eleva o ser, aumentando-lhe a capacidade de viver em harmonia com a vida, prolongá-la, torná-la edificante, é expressão do Bem. Entretanto, tudo quanto conspira contra a sua elevação, o seu crescimento e os valores éticos já logrados pela Humanidade, é o mal.
O mal, todavia, é de duração efêmera, porque resultado de uma etapa do processo evolutivo, enquanto o Bem é a fatalidade última reservada a todos os indivíduos, que se não poderão furtar desse destino, mesmo quando o posterguem por algum tempo, jamais o conseguindo definitivamente.
Eis porque o ser tem a tendência inevitável de buscar o amor, de entregar-se-lhe, de fruí-lo.
Encarcerado no egoísmo e acostumado às buscas externas, recorre aos expedientes do prazer pessoal, em vãs tentativas de desfrutar as benesses que dele decorrem, tombando na exaustão dos sentidos ou na frustração dos engodos que se permite.
Oportunamente um aprendiz indagou ao seu mestre: — Dize-nos o que é o amor.
— E o sábio, após ligeira reflexão, redargüiu com um sorriso:
— Nós somos o amor.
Esse sentimento que temos todos os seres viventes expressa o Supremo Bem, que nos cumpre buscar, embora estejamos na faixa da libertação da ignorância, errando, ainda praticando o mal temporário por falta da experiência evolutiva, que nos junge às sensações, em detrimento das emoções superiores que alcançaremos.
Há uma tendência para a experiência do Bem, face à paz e à beleza interior que se experimenta, constituindo-se um grande desafio ao pensamento psicológico estabelecer realmente o que é de melhor para o ser humano, graças aos impositivos dos instintos que prometem gozo, enquanto que a sua libertação, às vezes, dolorosa, em catarse de lágrimas, proporciona em plenitude.
A terapia do Bem — essa eleição dos valores éticos que propiciam paz de consciência — constitui proposta excelente para a área da saúde emocional e psíquica, conseqüentemente, também física dos seres humanos, que não deve ser desconsiderada.
A medida que se amplia o desenvolvimento psicológico, seu amadurecimento, são eliminadas as distâncias entre o eu e os outros, superando o mal pelo bem natural, suas ações de fraternidade e de compreensão dos diferentes níveis de transição moral, compreendendo-se que o mal que a muitos aflige, por eles mesmos buscado, transforma-se na sua lição de vida.
Eis porque é necessária a terapia da realização edificante, produzindo sempre em favor de si mesmo, do próximo e do meio ambiente, evitando qualquer tenta
tiva de destruição, de perturbação, de desequilíbrio.
Por isso, não realizar o bem é fazer-se a si mesmo um grande mal. Dificultar-se a ascensão, é forma de comprazer-se na vulgaridade, na desdita, assumindo um comportamento masoquista, no qual se sente valorizado.
Certamente, nem todos os indivíduos conseguem de imediato uma mudança de conduta mental, portanto, emocional, da patologia em que se encarcera, para viver a liberdade de ser feliz. Isso exige um esforço hercúleo que, normalmente, o paciente não envida. Acredita que a simples assistência psicológica irá resolver-lhe os estados interiores que o agradam, quase que a passo de mágica, transferindo para o psicoterapeuta a tarefa que lhe compete desenvolver.
Para esse cometimento, o do reequilíbrio, a assistência especializada é indispensável, somada à contribuição de um grupo de apoio e ao interesse dele próprio para conseguir a meta a que se propõe.
A religião bem orientada, pelo conteúdo psicológico de que se reveste, desempenha um papel de alta relevância em favor do equilíbrio de cada pessoa e, por extensão, do conjunto social, no qual se encontra localizada.
A religião que se fundamenta, no entanto, na conduta científica de comprovação dos seus ensinamentos, que documenta a realidade do Espírito imortal e a sua transitoriedade nos acontecimentos do corpo, como é o caso do Espiritismo, melhores condições possui para auxiliá-la na escolha do caminho a trilhar com os próprios pés, propondo-lhe renovação interior e adesão natural aos princípios que promovem a vida, que a dignificam, portanto, que representam o Bem.
Por outro lado, proporciona-lhe uma conduta responsável, esclarecendo-a que cada qual é responsável pelos atos que executa, sendo semeadora e colhedora de resultados, cabendo-lhe sempre enfrentar os desafios de superar-se, porque toda conquista valiosa é resultado do esforço daquele que a consegue. Nada existe que não haja sido resultado de laborioso esforço.
Ainda mais, faculta-lhe o entendimento de como funcionam as Leis da Vida, em cuja vigência todos os seres somos participantes, sem exceção, cada qual respondendo de acordo com o seu nível de consciência, o seu grau de pensamento, as suas intenções intelecto-morais.
Abre, ademais, um elenco de novas informações que a capacitam para a luta em prol da saúde, explicando-lhe que existe um intercâmbio mental e espiritual entre as criaturas que habitam os dois planos do mundo: o espiritual ou da energia pensante e o físico ou da condensação material.
A morte do corpo, não extinguindo o ser, apenas altera-lhe a compleição molecular, mantendo-lhe, não obstante, os valores intrínsecos à sua individualidade, o que faculta, muitas vezes, o intercâmbio psíquico.
Quando se trata de alguém cuja existência foi pautada em ações elevadas, a influência é agradável, rica de saúde e de harmonia. Quando, porém, foi negativa, inquieta ou doentia, perturbada ou insatisfeita, transmite desarmonia, enfermidades, depressões e alucinações cruéis, que passam a constituir psicopatologias de classificação muito complexa, na área das obsessões espirituais e de libertação demorada, que exigem muito esforço e tenacidade nos propósitos em favor da recuperação da saúde.
O Bem, portanto, é o grande antídoto a esse mal, como o é também para quaisquer outros estados perturbadores e traumáticos da personalidade humana.
Outrossim, a experiência do Bem se dará plena após o trânsito pelas ocorrências do Mal, os insucessos, as perturbações, as reações emocionais conflitivas, que facultam o natural selecionar dos comportamentos agradáveis, tranqüilos, que validam o esforço de haver-se optado pelo que é saudável. Caso contrário, a aquisição positiva não se faz total, porque será mais o resultado de repressão aos instintos do que superação deles, graças ao que se pode adquirir virtudes — sentimentos bons, conquistas do Bem —, no entanto, perder-se a integridade, a naturalidade do processo de elevação. A pessoa torna-se frustrada por não haver enfrentado as lutas convencionais, evitando-as, ocasionando um sentimento de culpa, que é, por sua vez, uma oposição à proposta encetada para a vida correta.
A experiência do Bem e do Mal começa na infância diante das atitudes dos pais e dos demais familiares. Por temor a criança obedece, porém, não compreende o que é certo e aquilo que é errado, que lhe querem incutir os genitores, muitas vezes por imposição sem o esclarecimento correspondente para a análise lenta e àassimilação da razão.
Se a criança não consegue entender aquilo que lhe é ministrado e exigido, passa a aceitar a informação por medo de punição, até o momento em que se liberta da imposição, transformando o sentimento em culpa, e temendo reagir pelo ódio ou pelo ressentimento, ou, noutras situações, reprimindo-se, tomba na depressão. O inconsciente, utilizando-se do mecanismo de preservação do ego, resolve aceitar o que foi ministrado, pas
sando a insuflar a conduta reta, no entanto, em forma de máscara que oculta a realidade reprimida.
A conquista paulatina do Bem produz equilíbrio e segurança, eliminando as armadilhas do ego, que mais tem interesse em promover-se do que em ser substituído pelo valor novo, inabitual no seu comportamento.
Por isso mesmo, o Bem não pode ser repressor, o que é mal, porém, libertador de tudo quanto submete, se impõe, aflige. A sua dominação é suave, não constritora, porque passa a ser uma diferente expressão de conduta moral e emocional, dando prosseguimento àassimilação dos valores que foram propostos no período infantil, e que constituem reminiscências agradáveis que ajudam nos procedimentos dos diferentes períodos existenciais, na juventude, na idade adulta, na velhice.
Em razão disso, torna-se mais difícil a assimilação e incorporação dos valores do Bem em um adulto aclimatado à agressão, às lutas, nas quais predominou o Mal, houve a sua vitória, os resultados prazerosos do ego, a vitalização dos comportamentos esmagadores, que geraram heróis e poderosos, mas que não escaparam das áreas dos conflitos por onde continuam transitando.
Somente através da renovação de valores desde cedo é que o Bem triunfará nas criaturas.
Quando adultas, o labor é mais demorado, porque terá que substituir as constrições do ego e, através da reflexão, dos exercícios de meditação e avaliação da conduta, substituir os hábitos enraizados por novos comportamentos compensadores para o eu superior.
Eis porque se pode afirmar que o Bem faz muito bem, enquanto que o Mal faz muito mal. A simples mudança, portanto, de atitude mental do indivíduo enseja-lhe o encontro com o Bem que irá desenvolver-lhe os sentimentos profundos da sua semelhança com Deus.


Maio


Constelação Familiar


24 - Drogadição Na Família


Compreensivelmente, no conjunto doméstico encontram-se espíritos de variada conduta, procedentes de experiências diversas, nas quais houve a santificação pelo amor, assim como foram assumidos compromissos negativos que necessitam de reparação.
O renascimento em um ninho acolhedor capaz de oferecer segurança aos mais fracos e dependentes, constitui uma bênção que necessita ser considerada com seriedade.
Nada obstante, porque remanescem no inconsciente profundo de cada um as marcas dos delitos que aprisionam os infratores, quase sempre esses espíritos comprometidos retornam aos mesmos campos de ação negativa, apesar do socorro que recebem e da orientação que lhes é fornecida.
Mesmo nos lares equilibrados, onde o amor enriquece os sentimentos, encontram-se espíritos atormentados interiormente, incapazes de lutar contra as más inclinações, que se fazem trânsfugas aos deveres que lhes dizem respeito, tombando nas armadilhas do erro, de que se deveriam libertar por completo.
Em virtude da larga e fácil propagação das drogas perversas, esses espíritos quase sempre reincidem nos vícios a que se acostumaram, sem forças para superar as situações afligentes que lhes desencadeiam as falsas necessidades para as fugas doentias...
Muitas vezes, a iniciação tem lugar através do uso do tabaco, nas rodas de amigos jovens, ansiosos e frustrados, ou das libações alcoólicas de fins de semana, que se alargam em outros dias, gerando dependências infelizes.
Quase sempre, porém, as experiências nas drogas têm lugar nas escolas e nos clubes, na convivência com outros viciados que os iniciam, seja através da maconha, da cocaína, dos anabolizantes e de tantas outras substâncias adictivas.
Nas classes menos favorecidas economicamente, são a cola de sapateiro, o Cram e outras drogas alucinógenas, que prometem fazê-los esquecer os sofrimentos da miséria, da solidão, da frustração, ou que lhes propiciam coragem alucinada, entusiasmo delirante, responsáveis pelas terríveis paisagens sombrias da loucura...
A vigilância dos pais, em relação aos filhos, especialmente na adolescência, quando surgem as mudanças impostas pelos hormônios sexuais, que dão lugar à agressividade, aos silêncios prolongados, à alienação familiar, à desconfiança, pode evitar os comprometimentos com as drogas, que se apresentam como falso recurso de equilíbrio para os enfrentamentos diários.
No começo, a experiência é resultado da curiosidade, ou da orientação de outrem mais astuto e dependente, ou de traficantes hábeis que se insinuam nos grupos jovens, através de outros viciados, convidando ao baseado ou a uma aspiração do pó... Não poucas vezes, o resultado é surpreendentemente desagradável, mas logo é superado pela sensação de euforia que surge na repetição, pela ação delirante da substância utilizada.
No que diz respeito às drogas injetáveis, a gravidade é muito maior, em razão das aplicações em grupos, que se utiliza de agulhas infectadas por várias doenças, especialmente pelo HIV, o temerário vírus da AIDS...
Nas denominadas rodas de uso desse tipo de drogadição, a disseminação do flagelo cruel é fácil e irremediável, consumindo vidas que se estiolam nas suas garras temíveis.
A observação dos pais às naturais mudanças de comportamento dos filhos no lar, constatará o perigo do mergulho nos dédalos sombrios dos vícios de qualquer natureza, particulamente no das drogas químicas.
Tornou-se tão banal a drogadição, que ante a impossibilidade de controlá-la, como seria ideal, muitos administradores e cidadãos propõem como solução para o desaparecimento do tráfico danoso, a sua descriminação, que diminuiria a incidência dos homicídios hediondos praticados pelos grupos de exploradores.
Lamentavelmente, essa proposta, caso venha a ser aceita em qualquer lugar do mundo, transformar-se-á em calamidade pública, qual ocorre com as bebidas alcoólicas, os denominados jogos de azar, as corridas de cavalos e de outros animais, todos eles responsáveis igualmente por elevadas estatísticas de vítimas inermes e desesperadas.
A educação moral no lar é o recurso mais próprio para evitar-se a contaminação dessa pandemia - a drogadição - , ensejando segurança emocional e afetiva ao ser inquieto e inseguro no processo da sua reencarnação, trabalhando-lhe os tesouros morais que serão estimulados para a luta e para o equilíbrio.
As conversações sinceras, sem rodeios e com clareza, referindo-se às ocorrências do cotidiano, sempre apresentando as lições positivas de que se podem retirar, ensejam a manutenção da confiança dos filhos nos pais, que serão sempre consultados antes das atitudes infelizes, aconselhando-se, ou que serão informados dos insucessos que os afligem desde o começo, no claro-escuro das decisões...
Enquanto viger esse espírito de equilíbrio e de consideração recíproca entre genitores e descendentes, muito mais fácil se tornará o entendimento diante dos problemas desafiadores, como dos enfrentamentos que se fazem indispensáveis para o amadurecimento psicológico dos educandos.
Não será uma fiscalização defluente da desconfiança, da suspeita sem justificativa, mas um cuidadoso acompanhamento emocional e espiritual dos acontecimentos que afetam o grupo familiar, buscando-se sempre a solução da dificuldade, jamais a censura, a punição, a atitude puritana e superior de que muitos pais se utilizam para mais aprofundar as distâncias emocionais que se fazem durante esse período delicado.
Quando, no entanto, seja constatada a presença da insidiosa drogadição em algum dos membros da família, a postura dos pais deverá ser a de equilíbrio e não de espanto, de lucidez e não de autopunição ou de autocompaixão, mais afeiçoando-se ao combalido e sustentando-o com a sua compreensão, trabalhando pela sua recuperação.
Concomitantemente, vale a aplicação da bioenergia, durante os estudos do Evangelho no Lar, noutros momentos, e, de acordo com a gravidade do problema, o atendimento psicológico, a fim de ser removido o fator propiciador da fuga emocional.
Há espíritos muito comprometidos nessa área, alguns dos quais, em existência transata optaram pelo suicídio como recurso de libertação, ora retomando com altas cargas de desequilíbrio e tendências depressivas funestas, recorrendo aos mesmos instrumentos que os infelicitaram antes.
Necessitados de compreensão e de bondade, com o tempo transformam-se em lições vivas de coragem e de fé, tornando-se modelos para outros companheiros igualmente atraídos para esses hábitos inditosos.
O paciente, portanto, vítima de qualquer droga no lar, deve merecer a mesma consideração, evitando-se discriminá-lo, mediante acusações frontais ou disfarçadas, que mais o empurram para o abismo, por faltar-lhe o concurso da afetividade familiar.
Todos aqueles que formam o conjunto doméstico, de alguma forma encontram-se comprometidos uns com os outros, ou, pelo menos, com as Leis da Vida, que os reúnem para o processo de crescimento moral e espiritual, auxiliando-os na conquista dos inapreciáveis recursos da sabedoria no rumo da Imortalidade.


Junho


Garimpo de Amor


16 - Amor E Plenificação


O trabalho do amor em benefício da plenificação humana é lento, mas inevitável.
Quando alguém ama, plenifica-se de amor, não porque o receba de volta, mas pelo simples ato de o doar.
O amor, que alguém exterioriza, igualmente envolve aquele que o gera no íntimo.
Mesmo que não aguarde o seu retorno, ele volve de mil maneiras. Talvez não seja encaminhado por aquele a quem se o oferece, mas por outros meios não convencionais, até mesmo em natural forma de alegria que a vida proporciona a quem se encontra amando.
O amor se torna mais significativo no momento em que a morte se acerca do leito de um moribundo. Não são poucos aqueles que, ainda lúcidos, lamentam não haver amado o suficiente, tudo quanto agora gostariam de haver feito, ou não o terem expressado de forma que tornassem as outras existências mais ricas e, por consequência, a sua menos penosa.
Essa fonte de juventude e de vigor é a mensageira da paz, inspiradora da harmonia, trabalhadora fiel da fraternidade. Graças aos seus nobres jorros de vitalidade, altera comportamentos, propicia esperanças, ilumina outros seres.
Ninguém, na Terra, vive em plenitude, de tal forma que não necessite de companhia, de amizade, de entendimento, de benevolência. Por atavismo infeliz, quase todos esperam receber antes de dar, acumular as demonstrações de afetividade alheia, a fim de se sentirem satisfeitos. Nisso reside um grande equívoco, porque, mesmo sob os camartelos dos sofrimentos e das dificuldades, pode-se amar, estabelecendo-se vínculos de emoção com desconhecidos, solidarizando-se com as dores alheias, compreendendo os dissabores que assoberbam outros indivíduos.
Com essa compreensão das aflições de outrem, o sentimento de compaixão aumenta e a ternura se desenvolve, diminuindo as próprias amarguras e contribuindo em benefício
de indivíduos mais necessitados e sem rumo.
Não havendo esse entendimento do que ocorre nos outros, na sua historiografia de vida, nas ocorrências que o tornaram com essa ou aquela característica de rudeza,
de agressividade, de ignorância, faz-se muito difícil viver em sociedade e partilhar dos sentimentos humanos, que constituem um dos objetivos essenciais da vida em grupo, de que ninguém se pode distanciar sob o perigo de alienar-se.
Mediante a óptica do sadio interesse pelo próximo, pelas ocorrências que lhe alteraram o comportamento, que lhe trabalharam a existência, moldando-o com essa maneira de ser, pode-se promover uma avaliação das próprias aflições e perceber que fazem parte do processo da evolução que a todos envolve, diminuindo, pela razão, os efeitos da sua presença.
De imediato, passa a participar da solidariedade em relação aos aflitos que existem no mundo, mesmo que apenas sentindo o desejo de ser-lhes útil e de ajudá-los, embora não dispondo de outros elementos mais significativos para fazê-lo.
O pensamento afetuoso age nas ondas que envolvem o planeta terrestre de maneira saudável, produzindo harmonia vibratória e contrabalançando as tempestades produzidas pelas energias desgovernadas do ódio, da vingança, da insensatez, do crime.
O amor, portanto, é psicoterapêutico também, irradiando sempre saúde e paz.
Não poucas vezes, arregimentam-se membros de movimentos pacifistas, que vão para as ruas brigar, entrar em choque, gritar pelos seus direitos, defender os fracos, utilizando-se dos recursos da força, da beligerância.
Nada mais paradoxal! Havendo conflito interno, que produz agressividade no indivíduo, ele não tem condições de propor equilíbrio aos outros, harmonia, respeito pelos direitos das minorias, dos fracos, dos excluídos... Somente quando se está enriquecido de amor, podendo compreender os opositores, aqueles que ainda se comprazem em combater com violência, em perseguir insanamente, em infelicitar, prejudicando a sociedade, com o que se prejudicam também sem dar-se conta, é que se torna válida a ação em favor da paz. Talvez não seja necessário ganhar as ruas do mundo, produzindo impacto, chamando a atenção, mas sim não revidando com os mesmos instrumentos de covardia e maldade as agressões que lhe são desfechadas, retribuindo sempre com o sorriso de compaixão e de compreensão, de paz e de perdão, que termina por modificar o comportamento do agressor. Noutras ocasiões, possivelmente um movimento externo, gerador de simpatia, comandado pela benevolência, possa caminhar pelas avenidas do mundo, convocando outros que, tímidos, postergam o seu momento de contribuir em favor de uma nova ordem de valores e de realizações humanas.
Existem pessoas, dotadas de excelentes sentimentos, que gostariam de contribuir em favor da paz, trabalhando pelo equilíbrio entre as diversas classes sociais, financeiras, morais, mas não se encorajam a fazê-lo, temendo ser levadas ao ridículo ou serem perseguidas pelos prepotentes e dominadores que a ninguém nem a nada respeitam.
Os exemplos nobres e de desprendimento de alguns podem estimulá-las a vir para o campo de ação, aumentando o número dos que laboram pelo bem e se interessam pela mudança do meio social, a fim de que o mundo se torne mais benévolo, o ar mais puro, as águas, florestas e animais sejam preservados no seu habitat, direito que lhes é outorgado pelo Supremo Criador.
O amor também expressa os objetivos essenciais da Criação, que é resultado de um ato dele derivado.
Quem perturba a ordem e se compraz no enriquecimento enquanto atenta contra a Natureza, não se ama, nem a ninguém ama.
Os onzenários, os déspotas, os devastadores da flora e destruidores da fauna perderam a direção da vida e emaranharam-se no aranzel da desmedida ambição, autodestruindo-se, sempre que investem contra as manifestações sencientes que existem.
O amor é solução. Todavia muitas criaturas dele se utilizam para esgrimir suas paixões, exibir seus conflitos, competir nas suas ambições.
Separam-se parceiros por nonadas; amigos se afastam por mínimas incompreensões; companheiros se antagonizam por mal-entendimentos injustificáveis, todos vítimas de pertinaz orgulho e vil egoísmo que os impedem de compreender, de tolerar, de buscar esclarecimentos, de tentar fraternidade. Sempre que insatisfeitos, com ou sem razão plausível, investem contra, quando poderiam avançar na direção, sempre a favor.
O trabalho do amor em benefício da plenificação humana é lento, mas inevitável.
Jesus amou sem distinção e foi assassinado. No entanto, o Seu exemplo vem edificando vidas aos milhões, que tentam segui-lo, embora as limitações de que se encontram possuídas.
Gandhi, amando, igualmente ofereceu a vida, porque não poderia morrer senão pela agressividade dos violentos que, dessa forma, demonstrariam a sua própria fraqueza.
Assim, os heróis máximos do amor, como os santos, os mártires e muitos outros, são o espelho que aguarda novos investidores para refletirem nele a sua imagem.


Julho


O Homem Integral


Problemas sexuais


Herança animal predominante em a natureza humana, o instinto de reprodução da espécie exerce um papel de fundamental importância no comportamento dos seres. Funcionando por impulsos orgânicos nos irracionais, expressa-se como manifestação propiciatória à fecundação nos ciclos orgânicos, periódicos, em ritmos equilibrados de vida.

No homem, face ao uso, que nem sempre obedece à finalidade precípua da perpetuação das formas, experimenta agressões e desvios que o desnaturam, tornando-se, o sexo, fator de desditas e problemas da mais variada expressão. Face à sensação de prazer que lhe é inata, a fim de atrair os parceiros para a comunhão reprodutora, torna-se fonte de tormentos que delineiam o futuro da criatura.
Considerando-se a força do impulso sexual, no comportamento psicológico do homem, as disjunções orgânicas, a configuração anatômica e o temperamento emocional tornam-se de valor preponderante na vida, no inter-relacionamento pessoal, na atitude existencial de cada qual.

A sua carga compressiva, no entanto, transfere-se de uma para outra existência corporal, facultando um uso disciplinado, corretor, em injunções específicas, que por falta de esclarecimento leva o indivíduo a uma ampla gama de psicopatologias destrutivas na área da personalidade.

Com muita razão, Alice Bailey afirmava, diante dos fenômenos de alienação mental, que eles podem ser “... de natureza psicológica, hereditários por contatos coletivos e cármicos”. Introduzia, então, o conceito cármico, na condição de fator desencadeante das enfermidades a expressar-se nas manifestações da libido, de relevante importância nos estudos freudianos.

O conceito, em torno do qual o homem é um animal sexual, peca, porém, pelo exagero.

Naturalmente, as heranças atávicas impõem-lhe a força do instinto sobre a razão, levando-o a estados ansiosos como depressivos. Todavia, a necessidade do amor é-lhe superior. Por falta de uma equilibrada compreensão da afetividade, deriva para as falazes sensações do desejo, em detrimento das compensações da emoção.

Mais difícil se apresenta um saudável relacionamento afetivo do que o intercurso apressado da explosão sexual, no qual o instinto se expressa, deixando, não poucas vezes, frustração emocional.

Passados os rápidos momentos da comunhão física, e já se manifestam a insatisfação, o arrependimento, os conflitos perturbadores...

A falta de esclarecimento, no passado, em torno das funções do sexo, os mistérios e a ignorância com que o vestiram, desnaturaram-no.

A denominada revolução sexual dos últimos tempos, igualmente, ao demitizá-lo, abriu espaços de promiscuidade para os excessivos mitos do prazer, com a conseqüente desvalorização da pessoa, que se tornou objeto, instrumento de troca, indivíduo descartável, fora de qualquer consideração, respeito ou dignidade.

A sociedade contemporânea sofre, agora. os efeitos da liberação sem disciplina, através da qual a criatura vive a serviço do sexo, e não este para o ser inteligente, que o deve conduzir com finalidades definidas e tranqüilizadoras.

As aberrações se apresentam, neste momento, com cidadania funcional, levando os seus pacientes a patologias graves que alucinam, matam e os levam a matar-se.
A consciência deve dirigir a conduta sexual de cada indivíduo, que lhe assumirá as conseqüências naturais.

Da mesma forma que uma educação castradora é responsável por inúmeros conflitos, a liberativa em excesso abre comportas para abusos injustificáveis e de lamentáveis efeitos no psiquismo profundo.

A vida se mantém sob padrões de ordem, onde quer que se manifeste. Não há, aí, exceção para o comportamento do homem. Por esta razão, o uso indevido de qualquer função produz distúrbios, desajustes, carências, que somente a educação do hábito consegue harmonizar.

Afinal, o homem não é apenas um feixe de sensações, mas, também, de emoções, que pode e deve canalizar para objetivos que o promovam, nos quais centralize os seus interesses, motivando-o a esforços que serão compensados pelos resultados benéficos.

Exclusão feita aos portadores de enfermidades mentais a se refletirem na conduta sexual, o pensamento é portador de insuspeitável influência, no que tange a uma salutar ou desequilibrada ação genésica.
o mesmo fenômeno ocorre nas mais diferentes manifestações da vida humana. Mediante o seu cultivo, eles se exteriorizam no comportamento de forma equivalente.

A vida, portanto, saudável, na área do sexo, decorre da educação mental, da canalização correta das energias, da ação física pelo trabalho, pelos desportos, pelas conversações edificantes que proporcionam resistência contra os derivativos, auxiliando o indivíduo na eleição de atitudes que proporcionam bem-estar onde quer que se encontre.

As ambições malconduzidas, toda frustração decorrente do querer e não poder realizar, dão nascimento ao conflito. O conflito, por sua vez, quando não eqüacionado pela tranqüila aceitação do fato, sobrepondo a identidade real ao ego dominador e insaciável, termina por gerar neuroses. Estas, sustentadas pela insatisfação, transmudam-se em paranóia de catastróficos resultados na personalidade.

Considerado na sua função real e normal, o sexo é santuário da vida, e não paul de intoxicação e morte.

Estimulado pelo amor, que lhe tem ascendência emocional, propicia as mais altas expressões da beleza, da harmonia, da realização pessoal; acalma, encoraja para a vida, tornando-se um dínamo gerador de alegrias.

Os problemas sexuais se enraízam no espírito, que se aturde com o desregramento que impõe ao corpo, exaurindo as glândulas genésicas e exteriorizando-se em funções incorretas, que se fazem psicopatologias graves, a empurrar a sua vítima para os abismos da sombra, da perversidade e do crime.

A liberação das distonias sexuais, mais perturbam o ser, que se transfere de uma para outra sensação com sede crescente, mergulhando na promiscuidade, por desrespeito e desprezo a si mesmo e, por extensão, aos outros. A sua é uma óptica desfocada, pela qual passa a ver o mundo e as demais pessoas na condição de portadoras dos seus mesmos problemas, só que mascaradas ou susceptíveis de viverem aquela conduta, quando não deseja impor a sua postura especial como regra geral para a sociedade.

Sob conflito psicológico, o portador de problema sexual, ou de outra natureza, não se aceita, fugindo para outros comportamentos dissimuladores; ou quando se conscientiza e resolve-se por vivê-lo, assume feição chocante, agressiva, como uma forma de enfrentar os demais, de maneira antinatural, demonstrando que não o digeriu nem o assimilou.

Toda exibição oculta um conflito de timidez ou inconformação, de carência ou incapacidade.

Uma terapia psicológica bem cuidada atenua o problema sexual, cabendo ao paciente fazer uma tranqüila auto-análise, que lhe faculte viver em harmonia com a sua realidade interna, nem sempre compatível com a sua manifestação externa.

Não basta satisfazer o sexo — toda fome e sede, de momento, saciadas, retornam, em ocasião própria — mas, harmonizar-se, emocionalmente, vivendo em paz de consciência, embora com alguma fome perfeitamente suportável, ao invés do constante conflito da insatisfação decorrente da imaginação fértil, que programa prazeres contínuos e elege companhias impossíveis de conseguidas em qualquer faixa sexual que se estagie.

Ninguém se sente pleno, no mundo, acreditando-se haver logrado tudo quanto desejava.

A aspiração natural e calma para atingir um próximo patamar, faz-se estímulo para o progresso do indivíduo e da sociedade.

Os problemas sexuais, por isto mesmo, devem ser enfrentados sem hipocrisia, nem cinismo, fora de padrões estereotipados por falsa moralidade, tampouco levados à conta de pequeno significado. São dificuldades e, como tais, merecem consideração, tempo e ação especializada.


Agosto


Receitas de Paz


11   Depressão


A depressão tem a sua gênese no Espírito, que reencarna com alta dose de culpa, quando renteando no processo da evolução sob fatores negativos que lhe assinalam a marcha e de que não se resolveu por liberar-se em definitivo.
Com a consciência culpada, sofrendo os gravames que lhe dilaceram a alegria íntima, imprime nas células os elementos que as desconectam, propiciando, em largo prazo, o desencadeamento dessa psicose que domina uma centena de milhões de criaturas na atualidade.

*

Se desejarmos examinar as causas psicológicas, genéticas e orgânicas, bem estudadas pelas ciências que se encarregam de penetrar o problema, temos que levar em conta o Espírito imortal, gerador dos quadros emocionais e físicos de que necessita, para crescer na direção de Deus.
A depressão instala-se, a pouco e pouco, porque as correntes psíquicas desconexas que a desencadeiam, desarticulam, vagarosamente, o equilíbrio mental.
Quando irrompe, exteriorizando-se, dominadora, suas raízes estão fixadas nos painés da alma rebelde ou receosa de prosseguir nos compromissos redentores abraçados.
Face às suas cáusticas manifestações, a terapia de emergência faz-se imprescindível, embora, os métodos acadêmicos vigentes, pura e simplesmente, não sejam suficientes para erradicá-la.

*

Permanecendo as ocorrências psicossociais, sócio-econômicas, psico-afetivas, que produzem a ansiedade, certamente se repetirão os distúrbios no comportamento do indivíduo conduzindo a novos estados depressivos.
Abre-te ao amor e combaterás as ocorrências depressivas, movimentando-te em paz na área da afetividade com o pensamento em Deus.
Evita a hora vazia e resguarda-te da sofreguidão pelo excesso de trabalho.
Adestra-te, mentalmente, na resignação diante do que te ocorra de desagradável e não possas mudar.
Quando sitiado pela idéia depressiva alarga o campo de raciocínio e combate o pensamento pessimista.
Açodado pelas reminiscências perniciosas, de contornos imprecisos, sobrepõe as aspirações da luta e age, vencendo o cansaço.

*

Quem se habilita na ação bem conduzida e dirige o raciocínio com equilíbrio, não tomba nas redes bem urdidas da depressão.
Toda vez que uma idéia prejudicial intentar espraiar-se nas telas do pensamento obnubilando-te a razão, recorre à prece e à polivalência de conceitos, impedindo-lhe a fixação.

*

Agradecendo a Deus a bênção do renascimento na carne, conscientiza-te da sua utilidade e significação superior, combatendo os receios do passado espiritual, os mecanismos inconscientes de culpa, e produze com alegria.
Recebendo ou não tratamento especializado sob a orientação de algum facultativo, aprofunda a terapia espiritual e reage, compreendendo que todos os males que infelicitam o homem procedem do Espírito que ele é, no qual se encontram estruturadas as conquistas e as quedas, no largo mecanismo da evolução inevitável.


Setembro


S.O.S. Familia


9 - Dentro do Lar


          Famílias-problemas!...
          Irmãos que se antagonizam...
          Cônjuges em lamentáveis litígios...
          Animosidades entre filho e pai, farpas
filha e mãe...
          Afetos conjugais que se desmantelam
torvas acrimônias...
          Sorrisos filiais que se transfiguram
idiossincrasias e vinditas...
          Tempestades verbais em discussões extemporâneas...
          Agressões infelizes de conseqüências fatais...
          Tragédias nas paredes estreitas das famílias...
          Enfermidades rigorosas sob látegos de impiedosa maldade...
          Mãos encanecidas sob tormentos de filhos dominados por ódios inomináveis.
          Pais enfermos açoitados por filhas obsidiadas, em conúbios satânicos de reações violentas em cadeia de ira...
          Irmãos dependentes sofrendo agressões e recebendo amargos pães, fabricados com vinagre e fel de queixa e recriminações...
          Famílias em guerras tiranizantes, famílias-problemas!

*

          É da Lei Divina que o infrator renasça ligado à infração que o caracteriza.
          A justiça celeste estabeleceu que a sementeira tem caráter espontâneo, mas a colheita tem impositivo de obrigatoriedade.
          O esposo negligente de ontem, hoje recebe no lar a antiga companheira nas vestes de filha ingrata e maldizente.
          A nubente atormentada, que no passado desrespeitou o lar, acolhe nos braços, no presente, o esposo traído vestindo as roupas de filho insidioso e cruel.
          O companheiro do pretérito culposo se reivincula pela consangüinidade à vítima, desesperada, reencontrando-a em casa como irmão impenitente e odioso.
          O braço açoitador se imobiliza sob vergastadas da loucura encarcerada nos trajos da família.
          Desconsideração doutrora, desrespeito da atualidade.
          Insânia gerando sandice e criminalidade alimentando aversões.
          Chacais produzindo chacais.
          Lobos tombando em armadilhas para lobos.
          Cobradores reencarnados junto às dívidas, na província do instituto da família, dentro do lar.

*

          Acende a claridade do Evangelho no lar e ama a tua família-problema, exercitando humildade e resignação.
          Preserva a paciência, elaborando o curso de amor nos exercícios diários do silêncio entre os panos da piedade para os que te compartem o ninho doméstico, revivendo os dias idos com execrandas carantonhas, sorvendo aze­dume e miasmas.
          Não renasceste ali por circunstância anacrônica ou casual.
          Não resides com uma família-problema por fator fortuito nem por engano dos Espíritos Egrégios.
          Escolheste, antes do retorno ao veículo físico, aqueles que dividiriam contigo as aflições superlativas e os próprios desenganos.
          Solicitaste a bênção da presença dos que te cercam em casa, para librares com segurança nos cimos para onde rumas.
          Sem eles faltariam bases para os teus pés jornadeiros.
          Sem a exigência deles, não serias digno de compartilhar a vilegiatura espiritual com os Amorosos Guias que te esperam.
          São eles, os parentes severos nos trajos de verdugos inclementes, a lição de paciência que necessitas viver, aprendendo a amar os difíceis de amor para te candidatares ao Amor que a todos ama.
          A mensagem espírita, que agora rutila no teu espírito transformado em farol de vivo amor e sabedoria, é o remédio-consolo para tuas dores no lar, o antídoto e o tratado de armistício para o campo de batalha onde esgrimas com as armas da fé e da bondade, apaziguando, compreendendo, desculpando, confiando em horas e dias melhores para o futuro...
          Apóia-te ao bastão da certeza reencarnacionista, apro­veita o padecimento ultriz, ajuda os verdugos da tua harmonia, mas dá-lhes a luz do conhecimento espírita para que, também eles, os problemas em si mesmos, elucidem os próprios enigmas e dramas, rumando para experiências novas com o coração afervorado e o espírito tranqüilo.

                                                                           Joanna de Ângelis


Outubro


Espirito e Vida


13 - Com Dignidade


“O verdadeiro espírita jamais deixará de fazer o bem. Lenir corações aflitos, consolar, acalmar desesperos, operar reformas morais, essa a sua missão. É nisso tambem que encontrará satisfação real.”
O LIVRO DOS MÉDIUNS 1ª parte, Capítulo 3º — Item 30.

          Queixosos expelem, intermináveis, o amargor das aflições, cultivando-as, no entanto, prazerosamente. Conhecem os meios de libertação do sofrimento e se afervoram à insânia.
Pessimistas espalham fartamente a indigência moral a que se apegam, embora saibam que a esperança agasalhada no imo lhes concederia tranqüilidade.
Enfermos insistem na descrição dos males a que se vinculam, apesar de identificarem nominalmente os antídotos para as mazelas que descrevem.
Viciados lamentam a própria “sina”, enquanto se firmam nos propósitos da auto-piedade sem o menor esforço pela recuperação deles mesmos.
Sabem dos métodos curadores mas prosseguem inveterados.
Inquietos comentam a instabilidade emocional de que são vítimas, solicitando excusas, todavia perseveram na sementeira da irresponsabilidade como se ignorassem os males que praticam.
Mendigos da piedade exibem chagas imaginárias e enredam-se em problemas que estão longe de possuir. Entretanto, podendo seguir a rota da ação enobrecedora, insistem no círculo estreito da infelicidade que engendram.
Outros mais, acalentando viciações mentais diversas formam a caravana dos cômodos da realização superior, aguardando comiseração e socorro que, no entanto, se negam a aceitar.
Solicitam auxílio dos outros e possuem em si mesmos os recursos necessários para o equilíbrio.
Desejam cooperação sem a idéia de oferecer pelo menos receptividade.
Pedem e não doam sequer a quota mínima de esperança.
São os que aprenderam felicidade pelas vias tormentosas da fraude.
Preferem o parasitismo.
Agradam-se em viver assim, vítimas hipotéticas da vida e da Lei Divina, herdeiros, porém, da preguiça que elegem como nubente ideal.
Estão sempre contra, do outro lado, revoltados, quando a migalha da compaixão real de alguém ou da falsa piedade geral não lhes chega à arca da insatisfação.
Acautela-te!
Junto a ele ajuda em silêncio, sem perda de tempo.
Convivendo ao lado deles, ora em silêncio para não te identificares com a sua vibração.
Fazendo o exame de consciência habitual, corrige as disposições mentais quando amolentadas para te não incorporares à malta deles.
Confunde-se amor, a todo instante, com sentimentalismo injustificável e pretende-se que o Evangelho, apresentando o amor como o excelente filão da vida, seja um valhacouto de caracteres irresponsáveis e espíritos fáceis.
Se assim fosse, seria o mesmo que transformar a ordem do Universo, em nome do amor ao capricho dos tíbios e dos parvos.
Em passagem alguma da Boa Nova, encontramos o Rabi na usança da falsa piedade ou na acomodação com a indolência.
Construtor do Orbe, não pode ser considerado um incipiente.
Administrador da Terra, não poderia ser confundido com um acolhedor de néscios.
Foi, por excelência, a ação dinâmica.
De atitudes firmes e caráter diamantino em hora alguma se manifestou como um fraco ou fez a apologia da cobardia.
Se proferiu a morte, fê-lo pelo heroísmo de não chafurdar as coisas elevadas do espírito indômito com as dissipações do corpo frágil.
Se se deixou conduzir a um julgamento arbitrário, fê-lo para não postergar os direitos de exemplificar o valor da verdade, passando-os a mãos acumpliciadas com a criminalidade.
Se permitiu docilmente a traição de um amigo, teve em mente lecionar vigilância, oração e dignidade, prescrevendo, em silêncio, que sublimação é tarefa pessoal, intransferível.
Se conviveu com a gente dita de “má vida” ensinou, através disso, que as aparências físicas não refletem as realidades básicas da existência.
       E em todo instante foi forte: na multidão, em soledade; no aparente triunfo, no abandono aparente; pregando a esperança, sorvendo o vinagre e o fel; no instante supremo, na ressurreição insuperável.
       A mensagem que nos legou, ofertou-no-la vibrante, estóica.
       O Evangelho é repositório de força, vitalidade, vida. Vazado em termos de meiguice mudou a rota dos tempos.
       Desvelado, agora, pelos Espíritos Imortais, modificará a face do Orbe.
       “Reconhece-se o verdadeiro espírita — disse Allan Kardec — pela sua transformação moral, pelos esforços que emprega para domar suas inclinações mas
       Imanado ao espírito do Espiritismo que te liberta da ignorância e das sombras, elevando o padrão moral da tua vida, preserva-o dos que o utilizam com chocarrice e deles se servem como arrimo para esconderem as misérias espirituais em que se comprazem.
       De referência ao amor, não dês lugar à zombaria e não zombes, não agasalhes supertições nem permitas paralelísmos deprimentes, não te concedas leviandades nem perfilhes dissipações alheias, subestimando esse Consolador que enxuga suores e lágrimas mas que, acima de tudo prescreve dignidade na luta, inspirada no Herói da Ação Incessante, como normativa segura para a construção de um Mundo Melhor e de uma humanidade ditosa.


Novembro


Adolescencia e vida

 

10 - A Violência No Corpo E Na Mente Do Adolescente


A adolescência sempre foi considerada um período difícil no desenvolvimento do ser humano, com mais desafios do que na infância, criando embaraços para o próprio jovem como para os seus pais e todos aqueles que com ele convivem.
Trezentos anos antes de Cristo, Aristóteles escrevera que os adolescentes são impetuosos, irascíveis e tendem a se deixar levar por seus impulsos, demonstrando uma certa irritabilidade em relação ao comportamento juvenil. Por sua vez, Platão desaconselhava o uso de bebidas alcoólicas pelos jovens antes dos dezoito anos, em razão da rápida excita­bilidade dos mesmos, e propunha: Não se despejar fogo sobre fogo.
Os conceitos sobre a adolescência sempre ganharam aceitação, particularmente quando de natureza censória, intolerante.
No século 17, em sermão fúnebre, um clérigo afirmava que a juventude era como um navio novo lançado ao oceano sem um leme, sem lastro, ou piloto para dirigi-lo, como resultado de uma observação externa, sem aprofundamento, de modo que se pudesse compreender as significativas transformações que se operam no ser em formação, compelindo-o para as atitudes anticonvencionais, período assinalado por mudanças estruturais.
Essas mudanças, que se operam na forma física, repercutem significativamente na conduta psicológica, propondo diferentes relacionamentos com os companheiros, experimentando novos modelos educacionais, vivenciais, enquanto todo ele se encontra em maturação biológica apressada, sem precedentes na sua história orgânica.
Nesse período, compreensivelmente, surgem os conflitos de identidade, em tentativas internas de descobrir quem é e o que veio fazer aqui na Terra. Logo depois surgem-lhe as indagações de como conduzir-se e qual a melhor maneira de aproveitar o período promissor, sem o comprometimento do futuro.
Esse estado de mudanças pode ser breve, nas sociedades mais simples, mais primitivas, ou prolongado, nas tecnologicamente mais desenvolvidas, podendo dar-se de maneira abrupta, ou através de uma gradual transição das experiências antes vivenciadas para as atuais desafiadoras. Em todas as culturas, porém, apresenta-se com um caráter geral de identidade: alterações físicas e funcionais da puberdade, assinalando-lhe o início inevitável.
Os hormônios, que desempenham um fundamental papel na transformação orgânica e na constituição dos elementos secundários do sexo, igualmente interferem na conduta psicológica, fazendo ressuscitar problemas que se encontravam adormecidos no inconsciente profundo, na memória do Espírito reencarnado. Isto porque, a reencarnação é oportunidade de refazimento e de adestramento para desafios sempre maiores em relação ao si, na conquista da imortalidade. Na adolescên­cia, em razão das transformações variadas, antigos vícios e virtudes ressumam como tendências e manifestam-se, exigindo orientação e comando, a fim de serem evitados novos e mais graves cometimentos morais perturbadores.
Localizada na base do cérebro, a hipófise tem importância especial na proposta do desenvolvimento da puberdade. Os seus hormônios permanecem inibidos até o momento que sucede um amadurecimento das células do hipotálamo, que lhe enviam sinais específicos, a fim de que os libere. Tal fenômeno ocorre em diferentes idades, nunca sendo no mesmo período em todos os organismos.
Esses hormônios são portadores de uma carga muito forte de estímulos sobre as demais glândulas endócrinas, particularmente a tireóide, a adrenal, os testículos e os ovários, que passam a produzir e ativar os seus próprios, responsáveis pelo crescimento e pelo sexo.
Surgem, então, os andyogênios, os estrogênios e as progestinas, estas últimas responsáveis pela gravidez. No metabolismo geral, todos eles interagem de forma que propiciem o desenvolvimento físico e fisiológico simultâneos.
Nesse período de transformações orgânicas acentuadas, o adolescente, não poucas vezes, sente-se estranho a si mesmo. As alterações experimentadas são tão marcantes que ele perde o contacto com a sua própria realidade, partindo então para o descobrimento de sua identidade de forma estranha, inquieta, gerando distúrbios que se podem acentuar mais, caso não encontre orientação adequada e imediata.
Em razão da dificuldade de identificação do si, o jovem tem necessidade de ajustar-se à imagem do seu corpo, detendo-se nos aspectos físicos, sem uma percepção correta da realidade, o que o conduz a conclusões equivocadas, a respeito de ser amado ou não, atraente ou repulsivo, por falta de uma capacidade real para a avaliação.
Nas meninas, o ciclo menstrual surge de uma forma desafiadora e quase sempre causa surpresa, reação prejudicial, quando não estão preparadas, por ignorarem que se trata de um ajustamento fisiológico, ao mesmo tempo símbolo de maturidade sexual.
A desorientação pode deixar sinais negativos no seu comportamento, particularmente sensações físicas dolorosas, rejeição e irritabilidade, na área psicológica, após a menarca.
Outras seqüelas podem ocorrer na pré ou na pós-menstruação, exigindo terapia própria.
Os rapazes, por sua vez, se não esclarecidos, podem ser surpreendidos com os fenômenos sexuais espontâneos, como a ereção incontrolada e as ejaculações desconhecidas.
Nessa fase eles vivem um espaço no qual tudo pode tomar características de manifestação sexual: odor, som, linguagem, lembrança... Não sabendo ainda como administrar essas manifestações espontâneas do organismo, embaraçam-se e descontrolam-se com relativa facilidade.
Certamente, os jovens da atualidade se encontram muito mais informados do que os outros das gerações passadas, não obstante esses conhecimentos estejam muito distorcidos na mente juvenil, o que perturba aqueles de formação tímida ou portadores de qualquer distúrbio ainda não definido.
A questão da maturação sexual nos jovens não tem período demarcado, podendo ser precoce ou tardia, que resulta em estados de apreensão ou desequilíbrio, insegurança ou audácia, a depender da personalidade, no caso, do Espírito reencarnado com o patrimônio dos méritos e dívidas.
O amadurecimento psicológico faz-se, nessa ocasião, com maior rapidez do que na infância. Há mudanças cognitivas muito fortes, que desempenham um papel crítico para o jovem cuidar das demandas educacionais, sociais, vocacionais, políticas, econômicas, sempre cada dia mais complexas.
As alterações nos relacionamentos, entre pais e filhos, propõem necessidade de maior intercâmbio no lar, a fim de proporcionar um desenvolvimento psicológico saudável, quanto intelectual, equilibrado.
Uma outra questão muito significativa do momento da adolescência é o conflito entre o real e o possível, vivenciado pelo jovem em transição. Ao constatar que o real deixa-lhe muito a desejar, porque se encontra num período de enriquecimento psíquico, torna-se rebelde e transtorna-se, o que não deixa de ser uma característica transitória do seu comportamento.
A harmonia que se deve estabelecer entre o físico e o psíquico, libertando o adolescente da violência existente no seu mundo interior, será conseguida a esforço de trabalho, de orientação, de vivências morais e espirituais, o que demanda tempo e amadurecimento, compreensão e ajuda dos adultos, sem imposições absurdas, geradoras de outras agressões.


Dezembro


Jesus e Atualidade


12 - Jesus E Responsabilidade


       Há, no homem, latente, um forte mecanismo que o leva a fugir da responsabilidade, transferindo o seu insucesso para outrem, na condição de indivíduo social, ou para os fatores circunstanciais da sorte, do nascimento e até de Deus.
       Quando tal não se dá, na área das suas projeções comportamentais, apega-se ao complexo de culpa, mergulhando nas depressões em que oculta a infantilidade, pouco importando a idade orgânica em que transita.
       A responsabilidade resulta da consciência que discerne e compreende a razão da existência humana, sua finalidade e suas metas, trabalhando por assumir o papel que lhe está destinado pela vida.
       Graças a isso, não se omite, não se precipita, estabelecendo um programa de ação tranqüila, dentro do quadro de deveres que caracterizam o progresso individual e coletivo, visando à conquista da plenitude.
O homem responsável sabe o que fazer, quando e como realizá-lo.
Não se torna parasita social, nem se hospeda no triunfo alheio, tampouco oculta-se no desculpismo ridículo.
A sua lucidez torna-o elemento precioso no grupo social onde se movimenta. Talvez não lhe notem a presença, face à segurança natural que proporciona; todavia, a sua falta sempre se faz percebida por motivos óbvios.
A responsabilidade do homem leva-o aos extremos do sacrifício, da abnegação, da renúncia, inclusive do bem-estar, e até mesmo da sua vida.

*

Como pastor de almas, Jesus fez-se-nos responsável, elucidando-nos a respeito dos deveres, das necessidades reais, dos legítimos objetivos da nossa vida.
Em contrapartida, doou-se-nos até o holocausto, não fosse a Sua vida ao nosso lado, em si mesma, um grande e estóico sacrifício de amor.
Não obstante, conclamava a todos que O buscavam para o dever da responsabilidade, que os capacita para as realizações relevantes.
Por conhecer a alma humana em sua realidade plena, identificava nela as nascentes de todos os males, como também a fonte generosa de todas as bênçãos.
Porque o homem ainda prefere a manutenção das próprias mazelas, nelas se comprazendo, anestesia-se no infortúnio em que permanece com certo agrado, embora demonstre desconforto e infelicidade.
Desse modo, sempre que acolhia àqueles que O buscavam, conhecendo-lhes as causas dos pesares, após atendê-los, propunha-lhes com veemência que não retornassem aos erros, a fim de que lhes não acontecesse nada pior.

*

A responsabilidade liberta o indivíduo de si mesmo, alçando-o aos planos superiores da vida.
Enquanto ele se movimenta cultivando o morbo das paixões selvagens, desajusta os implementos emocionais, tornando-se vítima de si mesmo, facultando que se lhe instalem as doenças degenerativas e causticantes.
A renovação moral propicia a canalização das energias saudáveis de forma favorável, preservando o ser para os cometimentos elevados a que se destina.

*

A humanidade sobrevive graças aos seus homens responsáveis, que trabalham continuamente em prol do bom, do belo, do ideal.
Eles se destacam pela grandeza das suas realizações cimentadas no sacrifício pessoal.

*

À mulher surpreendida em adultério, aos portadores do mal de Hansen e aos obsediados, após a recuperação de cada um, a advertência de Jesus era sempre firmada na responsabilidade, para que, em entesourando os valores éticos e os deveres espirituais, não se permitissem voltar aos erros.

*

       Neste momento, quando necessitas dEle, reformula os teus conceitos sobre a vida e passa a atuar corretamente, dominado pela responsabilidade. A ninguém transfiras a causa dos teus desaires, dos teus insucessos. Dá-te conta deles e recomeça a ação transformadora.
Mesmo que não o queiras, serás sempre responsável pelos efeitos dos teus atos.
Colherás conforme semeares.
Assume, portanto, o teu compromisso com o Mestre e permanecerás saudável interiormente, prosseguindo íntegro nos teus deveres com responsabilidade.




[1] Que independe do tempo ou não é afetado por ele; intemporal.

[2] Poema amplo, de grande extensão, cuja narração descreve e relata os acontecimentos, ações e feitos de um herói histórico ou de um sujeito célebre; representando, assim, uma sociedade ou um agrupamento social específico. O mesmo que poema épico ou poema histórico. Por extensão. Sequência de acontecimentos incomuns, fenomenais: ou de ações honrosas que provocam grande admiração - a magnificência da epopeia. Figurado. Ousadia fabular, algo fenomenal ou extraordinário.(Etm. do grego: epoiia ou epopoiós)

[3] Doce

[4] Do latim invitare – Convidar, Invocar.
[5] Mateus 22: 1-14

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