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segunda-feira, 27 de abril de 2015

EU E OS DOIS PASSARINHOS 01 - APEGO AOS BENS MATERIAIS.

Estava sentado na sala, admirando o pé de julidéia na varanda do meu apartamento.
O verde da exuberante folhagem combinando com o amarelo-ouro de suas flores grandes, fez-me mergulhar no passado distante, quando, criança e feliz, era aluno do Grupo Escolar Pedro II.
Ali, fazia-se despertar o sentimento cívico de amor à Pátria; no início e no final da aula, cantava-se o hino nacional e o hino a bandeira.
Lá, aprendi que o verde da nossa bandeira representa as matas, a mais rica das floras do planeta, o amarelo significa o ouro e o magnífico potencial do nosso subsolo e o azul nos fala do céu onde “o azul é mais azul e uma cruz de estrelas mostra o sul”.
Apesar de tudo, estava azedo, triste, amargurado. A perda da copa mundial, o sonho desfeito do penta campeonato, feriram o meu orgulho patriótico, ainda doíam como um ultraje à honra nacional.
Remoia a indignação quando a minha atenção foi despertada por um passarinho que, saltitando entre os ramos da trepadeira, chilreava alegremente.
Havia invadido minha privacidade, debochava do meu sofrimento, pensei contrariado! Não fosse a preguiça a reter-me sentado, iria enxotar o intruso que ousava tripudiar de minha desdita.
Pude, então, observar que o passarinho não se dirigia a mim, e sim a outro de sua espécie, alojado na samambaia pendurada no teto, do lado oposto da varanda.
Assombrado, distingui com clareza o diálogo dos pequenos seres alados.
Comentava o primeiro:
- Causam-me dó os humanos. Veja só quanta amargura por coisa tão fútil, quando existem problemas tão sérios para serem pensados e resolvidos, como a seca, o desemprego. a fome, as doenças, o analfabetismo.
- Tem razão, meu irmão — replicou o segundo os homens são uns inconseqüentes.
- Inconseqüentes, sim, em vista da vaidade contrariada, do orgulho ofendido, do egoísmo desmedido.
- E que contradição! Ouço, muitas vezes, dizerem-se cristãos.
Como podem sê-lo se, em seus corações endurecidos, guardam tantas mágoas, alimentam tantos rancores, acalentam tantas paixões mesquinhas?
- Venha, amigo, pouse junto a mim aqui na julidéia e cantemos juntos para desanuviar essa alma entediada, restituir-lhe a paz interior e fazer-lhe voltar o gosto pela vida.
Agora, encantado, ouvi o mavioso trinar dos passarinhos, mas, atires que pudesse agradecer, os dois voaram ganhando a imensidão do céu e levando para sempre os meus dissabores. Fiquei curado.
Em sua infinita sabedoria, os Senhores tios das imorredouras lições de vida por intermédio de criaturinhas tão singelas ou de coisas aparentemente insignificantes.
Aprendendo um pouco em cada experiência reencarnatória, alcançaremos a felicidade plena.
Afinal de contas, por que tanta ambição?
Por que não deixar à França o gostinho de ser campeã uma vezinha, nós que já somos tetra?

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Autor Desconhecido

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