EXAME DE FÉ
01 - APEGO AOS BENS MATERIAIS
Certo homem que passou
a destacar-se dos outros, evidenciando largo entendimento de fraternidade e de
fé, a par de grande compreensão, atribuía a Deus a propriedade de todos os bens
da vida.
Acabara de construir o
lar, Iniciando a formação da sua família, e associava-se, com toda a alma, a
empreendimentos religiosos, tanto quanto lhe era possível.
Em semelhantes
iniciativas, começou a ensinar a fidelidade ao Senhor Supremo, compondo
discursos admiráveis em que comentava a excelência da confiança no Céu.
— “Deus — dizia ele,
convicto ,— Deus é o Criador de Todo o Universo e, por isso mesmo, é o Dono de
Tudo e de tudo somos simples usufrutuários em Seu nome. Almas, constelações e
mundos Lhes pertencem por toda à parte. Recebemos, por empréstimo santo de Sua
Infinita Bondade, o berço em que nascemos, o lar que nos acolhe, as afeições do
mundo, o conforto e a alegria...”.
A palavra dele
inflamava imenso fervor nos ouvintes, que passavam a refletir com segurança
sobre a grandeza do Amor Divino. E tão grande se fez a sua influência que o
Senhor, sensibilizado com tamanhas demonstrações de fé, enviou à Terra alguns
mensageiros para lhe examinarem a verdadeira posição.
Os referidos
instrutores começaram permitindo que a maledicência e a calúnia lhe amargassem
a vida.
O herói da lealdade
padeceu golpes terríveis que lhe enodoaram a dignidade, mas atribuiu todos os
percalços do caminho a manifestações indiretas da Celeste Bondade e acabou
exclamando, sinceramente:
— Meu nome pertence a
Deus. Que Deus seja louvado!
Os emissários que o
seguiam, observando-lhe a firmeza, deixaram que a perseguição gratuita lhe
envolvesse o roteiro; no entanto, o ódio injustificável como que lhe acendrou a
confiança. Entre nuvens de sofrimento, o devoto concluiu que o ideal da
perfeição é fruto da Magnanimidade Divina e afirmou, convencido:
— O bem é obra do
Senhor! Louvado seja o Senhor!
Os aludidos educadores
concordaram em que fosse ele experimentado pela incompreensão e o pupilo da fé
se viu envolvido de aflição e ridículo, sentindo-se dilacerado e sozinho no
seio do próprio lar. Contudo, reconhecendo que todo apreço e toda estima devem
ser erigidos essencialmente ao Criador, asseverou, conformado:
— Toda a glória deve
ser dada ao Pai que está nos Céus!... Louvado seja o Pai que está nos Céus!
Os examinadores em
lide decidiram que a enfermidade lhe visitasse o corpo, e o amigo da prece foi
relegado ao leito em extrema penúria física; todavia, em meio da própria
angústia, reparou que seu corpo era um depósito do Todo-Compassivo e disse,
imperturbável:
— Meu corpo é um
empréstimo do Todo-Poderoso. Que o Todo-Poderoso seja louvado!...
Continuaram os
enviados celestes no campo da experiência e o homem de fé resistiu valoroso,
superando amargura e desolação, tristeza e necessidade...
Porque um dia
recolhesse ele a presença da morte na pessoa de um dos filhos, acatando,
submisso, a Vontade Celestial, os mensageiros da Esfera Superior endereçaram ao
Pai Sublime, através de canais competentes, conciso relatório sobre a lealdade
inflexível do crente valoroso que se encontrava na Terra...
Logo após, receberam
ordem expressa da Casa do Senhor para que lhe entregassem grande quantidade de
ouro, como suprema prova de obediência.
O homem recebeu a
dádiva generosa, sob a aparência de um negócio feliz, e entregou-se ao conforto
da nova situação.
Parecia anestesiado,
quando orava, e ébrio de alegria em todos os movimentos.
Decorrido algum tempo,
os instrutores espirituais trouxeram-lhe um companheiro em dificuldade, que lhe
implorou, humilhado e triste:
— Meu amigo, tenho
quatro filhos doentes e venho pedir-lhe, em nome de Deus, por empréstimo, algum
dinheiro para solucionar meus problemas. Espero resgatar minha divida em dois
ou três meses...
Ante o silêncio do
interpelado, reiterou quase em pranto:
— Socorra-me por amor
ao nosso Pai de Bondade!...
Mas, com indisfarçável
espanto, os professores divinos ouviram-no dizer, impassível e entediado:
— Não posso, não
posso!... Meu dinheiro é um patrimônio que custei muito a ganhar.
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Livro: Contos Destas e
Doutra Vida – Francisco C Xavier / Irmão X
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