Federação
Espírita do Estado do Ceará
Coordenação de Atividades Mediúnica
Nossas Deficiências
Doutrinação (Roque Jacintho), cap.
3 (pág 16-18)
Muitos companheiros
distanciam-se dos trabalhos de doutrinação sob alegação de incapacidade
ou de não possuir condição moral suficiente, distantes da perfeição,
desautorizados a manejar o verbo em nome do Mestre Divino no socorro através da
mediunidade.
Justo, porém, repetirmos que
a Terra não é albergue de anjos e que os Espíritos Puros nem sempre conseguem
fazer-se ouvidos pelos infelizes que vagueiam pelas trevas umbralinas e que
lhes não suportariam a perfeição.
É da lei que o próximo
socorra o próximo. E somos as criaturas que, pelas nossas vibrações e
pelas nossas deficiências, temos a melhor posição para servir de ponte aos que
precisam de transpor os abismos da inferioridade espiritual.
Lembremo-nos, igualmente,
que todo atendimento espiritual legítimo é produto de uma cadeia que se forma,
elo por elo, e que para funcionar efetivamente há de ser completa. Atenhamo-nos
à escala espírita que Allan Kardec insere no capítulo 1, da 2ª parte de "O
Livro dos Espíritos" e teremos uma visão ampla da gradação que existe em
cada benefício. As providências maiores nascem com os Espíritos Puros, que as
transmitem aos de categoria imediatamente inferior e assim sucessivamente até
que nos penetram no íntimo, pelas vias intuitivas. Somos parte da cadeia,
embora parcela modesta, e não podemos esquivar-nos às tarefas a não ser
interrompendo a caridade tão bem organizada pelos nossos Mentores.
Com todas as nossas
deficiências, com todas as nossas dúvidas, com todas as nossas hesitações, com
todas as nossas repetidas alternâncias, não poderemos fugir ao nosso trabalho
na Seara do Amor, apenas porque não reluzimos como as almas imaculadas que já
venceram todos os degraus da elevação, após terem passado por planos iguais ao
nosso.
O próprio serviço
burilar-nos-á.
Nossa fé firmar-se-á,
pouco e pouco.
Nossas dúvidas
desaparecerão, ante o serviço.
Perderemos maus hábitos,
ao calor do trabalho.
Tão logo tomemos intimidade com "O Evangelho Segundo o
Espiritismo" e estendamos o primeiro copo d'água a quem tem sede ou o
primeiro sorriso de simpatia aos escravos da dor, já estaremos autorizados a
falar do Bem e do Amor, em nome de Jesus, visando redimir nossos irmãos
infelizes.
Negar o nosso concurso é
afastar-nos da caridade que não pede tesouros terrenos e nem construção de
alvenaria para realizar-se.
Nosso esforço em
refrear nossos impulsos intempestivos, nossa luta em redimir-nos, nossa
disposição de levantar-nos após as quedas experimentadas servem para os
Espíritos sofredores como um grito de alerta e de estímulos imensuráveis mostrando-lhes
que a virtude celeste começa nos primeiros degraus e que a pureza espiritual é
a última estância que se atinge, quando se resolve a palmilhar as escarpas da
evolução.
Nos Domínios
da Sombra
Contos e Apólogos (Irmão X), item 40 (pág
173-177)
Em
compacta assembléia do reino das sombras, um poderoso soberano das trevas,
diante de milhares de falangistas da miséria e da ignorância, explicava o
motivo da grande reunião.
O Espiritismo com Jesus,
aclarando a mente humana, prejudicava os planos infernais.
Em toda parte da Terra, as
criaturas começavam a raciocinar menos superficialmente! Indagavam, com
segurança, quanto aos enigmas do sofrimento e da morte e aprendiam, sem maior
dificuldade, as lições da Justiça Divina. Compreendiam, sem cadeias dogmáticas,
os ensinamentos do Evangelho. Oravam com fervor. Meditavam na reencarnação e
passavam a interpretar com mais inteligência os deveres que lhes cabiam no
Planeta. Muita gente entregava-se aos livros nobres, à caridade e à compaixão,
iluminando a paisagem social do mundo e, por isso, todas as atividades da
sombra surgiam ameaçadas...
Que
fazer para conjurar o perigo?
E
pediu para que os seus assessores apresentassem sugestões.
Depois
de alguns momentos de expectativa, ergueu-se o comandante das legiões da incredulidade
e falou:
-
Procuremos veicular a crença de que Deus não existe e de que as criaturas
viventes estão entregues a forças cruéis e fatais da Natureza...
O
maioral das trevas, porém, objetou, desencantado:
- O
argumento não serve. Quanto mais avança nos trilhos da inteligência mais reconhece
o homem a Paternidade de Deus, sendo atraído inelutavelmente para a fé ardente
e pura.
Levantou-se,
no entanto, o orientador das legiões da vaidade e opinou:
-
Espalharemos a noticia de que Jesus nada tem que ver com o Espiritismo, que as
manifestações dos desencarnados se resumem num caso fisiológico para as
conclusões da Ciência, e, desnorteando os profitentes da Renovadora Doutrina,
faremos com que gozem a vida no mundo, como melhor lhes pareça, sem qualquer
obrigação para com o Evangelho e, assim, serão colhidos no túmulo, com as
mesmas lacunas morais que trouxeram do berço ...
O
rei das sombras anuiu, complacente:
-
Sim, essa ilusão já foi muito importante, contudo, há milhares de pessoas
despertando para a verdade, na certeza de que as portas do sepulcro não se
abririam para os vivos da Terra, sem a intervenção de Jesus.
Nesse
ponto, o diretor das falanges da discórdia pôs-se de pé e
conclamou:
-
Sabemos que a força dos espíritas nasce das reuniões em que se congregam para a
oração e para o aprendizado da Vida Espiritual, e nas quais tomam contacto com
os Mensageiros da Luz... Assim sendo, assopraremos a cizânia entre os
seguidores dessa bandeira transformadora, exagerando-lhes a noção da dignidade
própria. Separá-los-emos uns dos outros com o invisível bastão da maledicência.
Chamaremos em nosso auxilio os polemistas, os discutidores, os carregadores de
lixo social, os fiscais do próximo e os examinadores de consciências alheias
para que os seus templos se povoem de feridas e mágoas incuráveis e, assim, os
irmãos em Cristo saberão detestar-se uns aos outros, com sorrisos nos lábios,
inutilizando-se para as obras do bem.
O
chefe satânico, todavia, considerou:
-
Isso é medida louvável, contudo necessitamos de providência de efeito mais
profundo, porque sempre aparece um dia em que as brigas e os desacordos
terminam com os remédios da humildade e com o socorro da oração.
A
essa altura, ergueu-se o condutor das falanges da desordem e
ponderou:
-
Se o problema é de reuniões, conseguiremos liquidá-lo em três tempos.
Buscaremos sugerir aos membros dessas instituições que o lugar dos conclaves é
muito longe e que não lhes convém afrontar as surpresas desagradáveis da via
pública. Faremos que o horário das reuniões coincida com o lançamento de filmes
especiais ou com festividades domésticas de data fixa. Improvisaremos tentações
determinadas para os companheiros que possuam maiores deveres e
responsabilidades junto às assembléias, a fim de que os iniciantes não venham a
perseverar no trabalho da própria elevação. Organizaremos dificuldades para as
conduções e atrairemos visitas afetuosas que cheguem no momento exato da saída
para os cultos espíritas-cristãos. Tumultuaremos o ambiente nos lares,
escondendo chapéus e bolsas, carteiras e chaves para que os crentes se tomem de
mau humor, desistindo do serviço espiritual e desacreditando a própria fé.
O soberano das trevas mostrou
larga satisfação no semblante e ajuntou:
- Sim, isso é precioso trabalho de rotina que não podemos menosprezar.
Entretanto, carecemos de recurso diferente...
O responsável pelas falanges
da dúvida ergueu-se e disse:
- As reuniões referidas são sempre mais valiosas com o auxílio de
médiuns competentes. Buscaremos desalentá-los e dispersá-los, penetrando a onda
mental em que se comunicam com os Benfeitores Celestes, fazendo-lhes crer que a
palavra do Além resulta de um engano deles próprios, obrigando-os a se sentirem
mentirosos, palhaços, embusteiros e mistificadores, sem qualquer confiança em
si mesmos, para que as assembléias se vejam incapazes e desmoralizadas...
O mentor do recinto aprovou a
alegação, mas considerou:
- Indiscutivelmente, o combate aos médiuns não pode esmorecer,
entretanto, precisamos de providência mais viva, mais penetrante...
Foi
então que o orientador das falanges da preguiça se levantou,
tomou a palavra, e falou respeitoso:
- Ilustre chefe, creio que a melhor medida será recordar ao pensamento
de todos os membros das agremiações espíritas que Deus existe, que Jesus é o
Guia da Humanidade, que a alma é imortal, que a Justiça Divina é indefectível,
que a reencarnação é uma verdade inconteste e que a oração é uma escada solar,
reunindo a Terra ao Céu...
O soberano das sombras,
porém, entre o espanto e a ira, cortou-lhe a palavra, exclamando:
- Onde pretende chegar com semelhantes afirmações?
O comandante dos exércitos
preguiçosos acrescentou, sem perturbar-se:
- Sim, diremos que o Espiritismo com Jesus, pedindo às almas
encarnadas para que se regenerem, buscando o conhecimento superior e servindo à
caridade, é, de fato, o roteiro da luz, mas que há tempo bastante para a
redenção, que ninguém precisa incomodar-se, que as realizações edificantes não
efetuadas numa existência podem ser atendidas em outras, que tudo deve
permanecer agora como está no íntimo de cada criatura na carne para vermos como
ficarão depois da morte, que a liberalidade do Senhor é incomensurável e
que todos os serviços e reformas da consciência, marcados para hoje, podem ser
transferidos para amanhã... Desse modo, tanto vale viverem no
Espiritismo como fora dele, com fé ou sem fé, porque o salário de inutilidade
será sempre o mesmo...
O rei das sombras sorriu,
feliz, e concordou:
- Oh! até que enfim descobrimos a solução! ...
De
todos os lados ouviam-se risonhas exclamações:
- Bravos! Muito bem! Muito bem!
O argumento do astucioso condutor das falanges da
inércia havia vencido.
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