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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Capítulo VIII - UM DESPRENDIMENTO TRANQUILO

Quando pensei que já íamos embora, Enrico levou-me a outra capela. Sollano desencarnara e seus dois filhos oravam em silêncio junto ao seu corpo. Em um aparelho de som, as músicas clássicas eram um convite à meditação e quando alguém conversava dentro da capela, um dos filhos pedia silêncio. Era a hora da despedida. Muitos choraram baixinho quando a valsa do adeus foi tocada. Não ouvimos comentários sobre a forma do desencarne de Sollano, como também nada ouvimos sobre ele. Já estávamos curiosos. Oramos junto àquela família. O Evangelho Segundo o Espiritismo era lido desde o primeiro capítulo e comentado pelos espíritas presentes. Quando paravam, o volume da música era aumentado para conter o possível bate-papo. Depois, cada pessoa fazia prece de acordo com seu sentimento. Busquei Sollano e fiquei contente. Já desprendido do corpo físico, ele palestrava junto a outros espíritos. Não podia estar melhor.
— Como pode isso acontecer? perguntei a Enrico.
— Meu filho, Sollano sempre foi um tarefeiro de Jesus. Na Casa Espírita que ele fundou, o alicerce foi colocado com o cimento da renúncia e as paredes, com o suor de cada fundador da Casa.
Ele, Luiz Sérgio, fez do seu lar uma oficina de Jesus. Sempre cuidou da terra que lhe fora ofertada para arar. Jamais se "aposentou", ao contrário, cada vez mais o trabalho lhe roubava as horas de lazer. Fez da Doutrina Espírita o seu ideal de vida. Todos os familiares tornaram-se espíritas através dos seus exemplos. Era digno, jamais se julgou dono da verdade ou condenou alguém por não agir como ele. O dinheiro, às vezes pouco, multiplicava-se em prol dos pobres e da Casa Espírita. Repare nos espíritos que vieram recebê-lo!
Inebriado, vi como o espírito de Sollano brilhava; os seus centros de força possuíam luminosidade radiante. Presenciei em seu corpo de carne uma luz e, intrigado, perguntei a Enrico por que o corpo físico de Sollano também brilhava.
— Foi um convívio respeitoso entre corpo e espírito durante muitos anos e Sollano limpou tanto a sua casa física, que ela se tomou uma casa iluminada. Ele jamais descuidou de sua alma e de seu corpo. Quando os homens se conscientizarem de que o corpo físico é uma casa que também precisa de cuidados, não colocarão excessos nele.
 A casa-corpo, que por alguns anos abrigou Sollano, não era hoje uma casa corroída e maltratada, não; era uma casa que agora estava vazia, mas que o seu dono soube perfumar com o amor e o trabalho. O corpo jazia frio e inerte. Os filhos e amigos o velavam, mas o espírito, junto aos outros amigos espirituais, esperava a hora do sepultamento, para depois buscar no plano mais alto um lugar para iniciar novos trabalhos, porque um espírito com Jesus é o amor em ação.
— Posso me aproximar dele?
— Pode Luiz. Cheguei perto.
— Sollano, seja bem-vindo.
— Luiz Sérgio, irmão, que Deus o ilumine pelo consolo a tantas almas que o procuram. Fico feliz em abraçá-lo, esperando que cada vez mais o irmão busque em todos os lugares aqueles que precisam. Um dia li um dos seus livros e chorei de alegria, porque foi bom saber que a Espiritualidade Maior está sempre junto à sociedade atual, tão carente de elucidações.
Abraçou-me forte. Enrico também aproximou-se para lhe dar as boas-vindas.
Era a recepção a alguém que soube viver com dignidade.


Luiz Sérgio
NA HORA DO ADEUS
Psicografía: Irene Pacheco Machado

2a Edição • 1997

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