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quarta-feira, 11 de março de 2009

QUEM É VOCÊ? QUEM EU SOU?


Leila S. Brandão

 

“Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Álvaro Campos (Fernando Pessoa)

A poesia de Pessoa nos sensibiliza porque, em poucas linhas consegue, definir o paradoxo que constitui cada ser humano em ser ao mesmo tempo infinitamente pequeno e conter o infinitamente grande.

O educador Bruno Bettlelheim afirma que “o sentido da vida” é o conteúdo mais difícil e também o mais importante a ser ensinado a uma pessoa. Concordamos inteiramente, uma vez que, sem compreendermos o porquê da nossa existência, corremos o risco de deixar que a vida nos leve a lugares que não sejam propícios à nossa felicidade.

- Quantas e quantas vezes nos surpreendemos falando ou agindo de forma diferente do que desejávamos? E o pior, levando-nos a caminhos de sofrimento?

Distraídos pelos sonhos do futuro, esquecemos da importância em definir, de forma clara e consciente, o nosso papel no mundo.

E, por isso, as perguntas que não podem se calar, são:

Quem eu sou? Quem é você? Para onde vamos? De onde viemos? O que estamos fazendo aqui?

São questões que levam a uma só direção, porque você, eu ou qualquer um situado neste mundo é uma singularidade que precisa ser conhecida e explorada. Ninguém, na verdade “é”, todos nós estamos em construção...

A partir daí, a viagem que se inicia dentro de cada um constitui o primeiro passo para uma longa e necessária caminhada, sem a qual seria impossível estar aqui ou em qualquer parte do universo, de forma consciente.

Jesus disse a Nicodemus: “... O Espírito sopra onde quer, ninguém sabe de onde ele veio e nem para onde ele vai...” ensinando ao grande doutor da lei que a singularidade de cada um não está exposta a terceiros e sim à própria individualidade.

Franz Kafka, escritor notável e conhecido pelo seu conto “Metamorfose”, examina em um outro conto a grande questão do auto-conhecimento. Nesse seu conto, “Diante da Lei”, ele nos relata que um homem comum desejava conhecer a Lei. Diante dela, ele havia encontrado um porteiro que lhe disse ser-lhe ainda impossível penetrar nos pórticos da lei.

O homem havia decidido que desvendar os segredos da lei era a coisa mais importante da sua vida e lá ficou, diante da lei, tentando convencer o porteiro a deixá-lo entrar. O porteiro, percebendo que ele não desistiria, concedeu-lhe um banco e esclareceu que, ainda que ele conseguisse transpor a primeira porta, as seguintes ele não conseguiria, porque tinham também porteiros, sendo que o terceiro nem mesmo ele conseguia olhá-lo de frente.

O homem ali permaneceu até envelhecer e adoecer. Percebendo que ia morrer, chamou o porteiro e fez-lhe suas últimas e inquietantes perguntas:

– Por que ninguém mais havia tentado entrar por aquela porta? Será que apenas ele achava necessário conhecer a lei?

E o porteiro lhe respondeu que as portas eram individuais.

Aquela porta era somente dele e, como já estava à morte e não conseguira usá-la, ele a fecharia e iria embora.

Uma metáfora interessante que contempla a tentativa do homem em conhecer-se sem nenhum esforço, sem nenhum trabalho.

Ficamos realmente “sentados” sobre as nossas velhas razões e velhos condicionamentos, imaginando ser muito fácil ter acesso às leis soberanas de Deus que estão inscritas em cada consciência.

Utilizando os velhos hábitos da desculpa: “tinha que ser assim”, “estava escrito”, “é vontade de Deus”, continuamos os mesmos...

Se não estivermos dispostos a empreender essa viagem para dentro da nossa própria história, a morte irá nos surpreender sem que tenhamos respondido às questões que trazem sentido à existência.

Bem diz o educador Rubem Alves: “Educar é ensinar a pensar”...

Leon Denis – no livro “No Invisível” – nos recomenda a leitura e a meditação. Diz ser preferível ler menos e meditar mais do que ler muito e não “pensar” sobre o conteúdo do que se leu.

Nessa tarefa urgente e intransferível, iremos compreendendo a nossa identidade de “filhos de Deus” atendendo aos apelos do Mestre: “Brilhe a vossa luz!”

 

O jornal O APRENDIZ é uma publicação bimestral do CEMA - Centro Espírita Maria Angélica

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