A LEI DA MORTE...
“4. - Para libertar-se do temor da morte é mister poder encará-la sob o seu verdadeiro ponto de vista, isto é, ter penetrado pelo pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma ideia tão exata quanto possível, o que denota da parte do Espírito encarnado um tal ou qual desenvolvimento e aptidão para desprender-se da matéria.” (O Céu e O Inferno, Cap. II – TEMOR DA MORTE. Grifos nossos)
Berço e Túmulo. Qual balanço de um relógio, marcando sem cessar o ritmo do nosso movimento. Alguns afirmam desesperados: - Túmulo? Noite sem alvorada. Outros bradam desanimados: Berço? Dia sem amanhã. E em paroxismos tais nos movemos inevitavelmente de uma para outra extremidade. E quantas vezes! Mas por que, se é inexorável lei natural, provoca a Morte tanto pavor? Poderia o leitor mais dado a reflexões dizer: - E por que não lembramos? Seria tão simples lembrar para não sentir medo. Sim, pode parecer “lógico”. Mas apenas segundo a lógica das associações tipicamente infantis. Pensar não é o mesmo que pensar com madureza. Gostaríamos, então, de convidar o leitor nem tão “virtual” assim, posto que pensa, a exercitar o seu pensar junto a Kardec no tocante a essa questão. O que pode nos acontecer ao pensar, pergunta-nos o leitor? Arriscamo-nos a percorrer o nosso caminho com mais certeza, com mais segurança, mais pacificado, apenas isso. Ao trabalho, então. Examinemos alguns dos aspectos levantados por Kardec (acima transcrito no item 4 do nosso livro de estudo). Qual seria o verdadeiro ponto de vista para encarar a morre? O que quer dizer penetrar no mundo espiritual pelo pensamento e de que aptidão fala-nos Kardec a possibilitar tudo isso?
Inicialmente notemos que invariavelmente observamos a morte como que nos posicionando em um lado: estamos vivos. Ou seja, parece-nos haver dois lados. Vivos ou mortos. Será isso mesmo? ou haveria aí um “vício” de origem na nossa análise, já tendente a uma determinada apreciação? há várias maneiras de se apreender um conceito. Podemos usar de uma definição. Ou nos valer de uma ideia contrária, onde, através do contraste, percebemos novas nuanças sobre a ideia original. Finalmente, com três elementos podemos até começar a estabelecer padrões. Qual seria para você leitor o contrário de morte? O que lhe ocorre prontamente? talvez, como a maioria, tenha dito vida. E não será sem razão. Vida como o bem mais precioso que identificamos, protegido pelo instinto de conservação comum a todos os seres viventes. É que prontamente identificamos como vida apenas a vida biológica. Daí o temor de morrer ser mesmo uma consequência desse instinto de conservação, aliás, necessário para que não ensaiemos sair prematuramente da vida sem realizar o trabalha terreno útil ao nosso próprio adiantamento. Mas, e quanto ao ponto de vista? qual seria ele? façamos uma dilatação de conceito. Não concordaria o leitor em tomar por contrário à morte o nascimento? E por que isso? É que assim morte, tal como nascimento, denotam transições e não estados definidos propriamente ditos. Em outras palavras, a vida a se desdobrar para Espíritos na nossa condição em duas fases com propósitos específicos e marcadas por esses sinais: nascimento e morte. Eis aí a mudança de perspectiva: vida não é apenas biológica, mas acima de tudo capacidade de amar segundo muitas dimensões diferentes e cada vez mais conscientes. Sim, pois é na certeza de reencontrar nossos amigos depois da morte, de reatar as relações que tivemos na Terra, de não perder um só fruto do nosso trabalho que encontramos a necessidade de continuar além. Uma necessidade fundamentada no amor, onde vida é amor em movimento. Dessa forma somos convidados a corrigir o nosso conceito e entender que
VIDA = NASCIMENTO + MORTE = AMOR EM MOVIMENTO NO SERVIR
Como duas faces que se complementam do mesmo processo: o de despertar o amor latente, potencial, para amor atuante, em movimento, realizador, numa verdadeira expansão segundo muitas linhas de desenvolvimento (amor na Arte, na Ciência, na Religiosidade, na Política, etc.). Eis porque o Espiritismo, de fato, relembra Jesus quando coloca a necessidade do serviço do bem (movimento da caridade) como parte integrante do evoluir:
“Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai no dia seguinte o afanoso labor da véspera; o trabalho das vossas mãos vos fornece aos corpos o pão terrestre; vossas almas, porém, não estão esquecidas; e eu, o jardineiro divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do repouso, e a trama da vida se vos escapar das mãos e vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis que surge em vós e germina a minha preciosa semente.”
“Nada fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos suores e misérias formam o tesouro que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais desnudo dentre todos vós será talvez o mais resplandecente. (...)
“O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação.” (“O Evangelho Segundo O Espiritismo”, Cap. VI O Cristo Consolador, itens 6 e 8)
Assim, se para o corpo a atividade é uma necessidade, para o Espírito ela é da sua própria natureza. E o “salário” da atividade chama-se paz de espírito. Podemos entender, apelando de novo para os contrastes, que o contrário de paz não seria guerra. Mas sim inação, ou na sua versão deestagnação. E como tudo o que estando vivo, pára a sua atividade nesse mundo de transitoriedades, logo apodrece – nova forma de atividade a atender à necessidade de reciclagem natural. Por isso o “prêmio” da inação sempre é alguma forma de tormento, de dor, de inquietação, de neurose… Eis como vemos surgir uma espécie muito particular de temor da morte – aquele para os que já possuem recursos além dos instinto de conservação e que já lograram algum nível de compreensão manifestada na capacidade de pensar. Por isso também, pensar pode doer – quando isso não leva a alguma espécie útil de fazer, agir.
Nisso tudo a própria vida oferece as mais adequadas lições quando nos mantemos as nossas atividades no caminho da simplicidade. E, na lógica espírita, é noaproveitamento dessas horas com os olhos já melhor postos no futuro, um tanto mais desanuviados pelo entendimento, vamos antevendo a estrada que nos aguarda, com seus passeios enfeitados de flores, na musicalidade crescente do retorno das “vozes que amamos”, a nos acenar com sorrisos de ventura, aguardando-nos a chegada que se vai anunciando, dia após dia, cada vez mais próxima. Não se impressione o leitor amigo. Não se tratam de divagações, elucubrações ou fantasias de sonhos românticos. Trata-se simplesmente da clarividência mediúnica que vamos naturalmente desenvolvendo à medida que aceitamos aproveitar a vida – que é a nossa prova pedida. Aqui façamos uma pausa. É por demais importante, leitor amigo. Medite um pouco nessa última frase e procuremos perceber o alcance dela em nosso íntimo... O que sentimos? Paz ou inquietação? Esperança ou desânimo? quais os véus que estão nos encobrindo a visão espiritual?
Clarividência que é o “olho do Espírito”, levando-nos a ver “vida espiritual” ao nosso redor, a penetrar pelo pensamento na vida espiritual, como afirma Kardec. Desenvolvendo em nós a aptidão para nos desprendermos da matéria. E para desenvolvê-la urge caminhar pelas veredas do serviço do bem... Mas não de qualquer jeito. Tal caminho nos pede atenção, pois caminhamos há muito tempo... Isso mesmo. Lembrar que “existem trechos quebrados ou danificados à espera de restauração ou acabamento. São as obrigações retardadas ou as obras menos fáceis que a pessoa ainda não se dispôs a enfrentar, os trabalhos não terminados ou negligenciados pela consciência. As realizações em suspenso e débitos não pagos trazem inquietação e insegurança, representando para nós desafios que não foram aceitos, chamamentos a que não demos ouvidos.” 1
Nas poéticas palavras do mestre ao responder à queixa de Chin An Ling,
“- Caminhamos um longo percurso e sinto-me cansado. Vê aquele pouso! Paremos um pouco. (...) Guardo ansiedade e quero chegar.
- E valerá chegar sem ter o que oferecer? (...) No teu cesto existe pão, mas a tua face não reflete contentamento. Para, Chin An Ling, mas acima de tudo, para iluminar a alma. O Poder Eterno pede-nos caminhar conduzindo amor!”2
Usar o pão do recurso que temos à mão, mas refletindo contentamento na face. Caminhar sim, mas conduzindo amor, pois “o ato de amor possui a incorruptibilidade do sol”. Parar, mas acima de tudo, para iluminar a alma.
Assim, pois, lembremos que a lei da morte é a VIDA, onde a desencarnação é apenas o processo utilizado pela vida para eliminar o que parece, deixando o que é, mas que
“ Há muitos vivos que morrem antes da morte, à vista de se colarem sistematicamente ao passado, cortando todos os laços com o presente.”3
E, também,
“Tereis tanto mais mortes quanto mais viverdes nessa ilusão de que aquilo sois vós.”4
1VIEIRA, Waldo, [psicografia de]. “Seareiros de Volta”, A Lei da Renovação. FEB. 4ª ed. Rio, RJ. 1987.
2TERRA, Oneida, [psicografia de]/Chei Ai Min (Espírito) .“Transparência”, Alegria. 2ª ed. Barra do Piraí, RJ. 1989.
3 VIEIRA, Waldo, [psicografia de]. “Seareiros de Volta”, A Lei da Renovação. FEB. 4ª ed. Rio, RJ. 1987.
4TAMASSIA, M. B., “O Profeta da Montanha Azul”, 13ª Sura – O Sol Polivalente. 4. A longa senda da libertação. LAKE. 3ª ed. São Paulo.1992
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