XXII COMEERJ
Pólo IV Cafarnaum
8º CRE Nova Friburgo
23/38
O LIVRO DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO IX
DA LEI DE IGUALDADE
1. Igualdade natural. 2. Desigualdade das aptidões. 3. Desigualdades sociais. 4. Desigualdade das riquezas. 5. As provas de riqueza e de miséria. 6. Igualdade dos direitos do homem e da mulher. 7. Igualdade perante o túmulo.
Igualdade natural
803. Perante Deus, são iguais todos os homens?
Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Dizeis freqüentemente O Sol luz para todos e enunciais assim uma verdade maior e mais geral do que pensais. Todos os homens estão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte: todos, aos seus olhos, são iguais.
Desigualdade das aptidões
804. Por que não outorgou Deus as mesmas aptidões a todos os homens?
Deus criou iguais todos os Espíritos, mas cada um destes vive há mais ou menos tempo, e, conseguintemente, tem feito maior ou menor soma de aquisições. A diferença entre eles está na diversidade dos graus da experiência alcançada e da vontade com que obram, vontade que é o livre-arbítrio. Daí o se aperfeiçoarem uns mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas. Necessária é a variedade das aptidões, a fim de que cada um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência, no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais. O que um não faz, fá-lo outro. Assim é que cada qual tem seu papel útil a desempenhar. Demais, sendo solidários entre si todos os mundos, necessário se torna que os habitantes dos mundos superiores, que, na sua maioria, foram criados antes do vosso, venham habitá-lo, para vos dar o exemplo. (361)
805. Passando de um mundo superior a outro inferior, conserva o Espírito, integralmente, às faculdades adquiridas?
Sim, já temos dito que o Espírito que progrediu não retrocede. Poderá escolher, no estado de Espírito livre, um invólucro mais grosseiro, ou posição mais precária do que as que já teve, porém tudo isso para lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir. (180) Assim, a diversidade das aptidões entre os homens não deriva da natureza intima da sua criação, mas do grau de aperfeiçoamento a que tenham chegado os Espíritos encarnados neles. Deus, portanto, não criou faculdades desiguais; permitiu, porém, que os Espíritos em graus diversos de desenvolvimento estivessem em contacto, para que os mais adiantados pudessem auxiliar o progresso dos mais atrasados e também para que os homens, necessitando uns dos outros, compreendessem a lei de caridade que os deve unir.
Desigualdades sociais
806. É lei da natureza a desigualdade das condições sociais?
Não; é obra do homem e não de Deus. a) Algum dia essa desigualdade desaparecerá?
Eternas somente as leis de Deus o são. Não vês que dia a dia ela gradualmente se apaga?
Desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Restará apenas a desigualdade do merecimento. Dia virá em que os membros da grande família dos filhos de Deus deixarão de considerar-se como de sangue mais ou menos puro. Só o Espírito é mais ou menos puro e isso não depende da posição social.
807. Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos?
Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos: renascerão numa existência em que terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos outros. (684) Desigualdade das riquezas
808. A desigualdade das riquezas não se originará da das faculdades, em virtude da qual uns dispõem de mais meios de adquirir bens do que outros?
Sim e não. Da velhacaria e do roubo, que dizes?
a) Mas, a riqueza herdada, essa não é fruto de paixões más.
Que sabes a esse respeito?
Busca a fonte de tal riqueza e verás que nem sempre é pura. Sabes, porventura, se não se originou de uma espoliação ou de uma injustiça?
Mesmo, porém, sem falar da origem, que pode ser má, acreditas que a cobiça da riqueza, ainda quando bem adquirida, os desejos secretos de possuí-la o mais depressa possível, sejam sentimentos louváveis?
Isso o que Deus julga e eu te asseguro que o seu juízo é mais severo que o dos homens.
809. Aos que, mais tarde, herdam uma riqueza inicialmente mal adquirida, alguma responsabilidade cabe par esse fato?
É fora de dúvida que não são responsáveis pelo mal que outros hajam feito, sobretudo se o ignoram, como é possível que aconteça. Mas, fica sabendo que, muitas vezes, a riqueza só vem ter às mãos de um homem, para lhe proporcionar ensejo de reparar uma injustiça. Feliz dele, se assim o compreende! Se a fizer em nome daquele que cometeu a injustiça, a ambos será a reparação levada em conta, porquanto, não raro, é este último quem a provoca.
810. Sem quebra da legalidade, quem quer que seja pode dispor de seus bens de modo mais ou menos eqüitativo.
Aquele que assim proceder será responsável, depois da morte, pelas disposições que haja tomado?
Toda ação produz seus frutos; doces são os das boas ações, amargos sempre os das outras. Sempre, entendei-o bem.
811. Será possível e já terá existido a igualdade absoluta das riquezas?
Não; nem é possível. A isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres. a) Há, no entanto, homens que julgam ser esse o remédio aos males da sociedade. Que pensais a respeito?
São sistemáticos esses tais, ou ambiciosos cheios de inveja. Não compreendem que a igualdade com que sonham seria a curto prazo desfeita pela força das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa chaga social, e não corrais atrás de quimeras.
812. Por não ser possível a igualdade das riquezas, o mesmo se dará com o bem-estar?
Não, mas o bem-estar é relativo e todos poderiam dele gozar, se se entendessem convenientemente, porque o verdadeiro bem-estar consiste em cada um empregar o seu tempo como lhe apraza e não na execução de trabalhos pelos quais nenhum gosto sente. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio; o homem é quem o perturba.
a) Será possível que todos se entendam?
Os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça.
813. Há pessoas que, por culpa sua, caem na miséria.
Nenhuma responsabilidade caberá disso à sociedade?
Mas, certamente. Já dissemos que a sociedade é muitas vezes a principal culpada de semelhante coisa. Demais, não tem ela que velar pela educação moral dos seus membros?
Quase sempre, é a má educação que lhes falseia o critério, ao invés de sufocar-lhes as tendências perniciosas. (685) As provas de riqueza e de miséria
814. Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria?
Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com freqüência.
815. Qual das duas provas é mais terrível para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?
São-no tanto uma quanto outra. A miséria provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos os excessos.
816. Estando o rico sujeito a maiores tentações, também não dispõe, por outro lado, de mais meios de fazer o bem?
Mas, é justamente o que nem sempre faz. Torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente. A alta posição do homem neste mundo e o ter autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a desgraça, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder.
A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus. (266)
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