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terça-feira, 16 de junho de 2015

A CASCA DE BANANA

01 - APEGO AOS BENS MATERIAIS

Secundino renasceria entre os homens para socorrer crianças desamparadas, e, para isso, organizou-se-lhe grande missão no Plano Espiritual.
Deteria consigo determinada fortuna, a fortuna produziria trabalho, o trabalho renderia dinheiro e o dinheiro lhe forneceria recursos para alimentar, vestir e educar duas mil criaturinhas sem refúgio doméstico.
Atendendo à empreitada, Lizel, o instrutor desencarnado que o seguiria entre os homens, dar-lhe-ia, em tempo devido, o necessário suprimento de inspirações.
Estariam juntos, e Secundino, internado no corpo terrestre, assimilaria as ideias que o mentor lhe assoprasse.
A experiência começou, assim, promissora...
Da infância à mocidade, o tarefeiro parecia encouraçado contra a doença. Extravagante como ninguém, descia, suarento, de vigoroso cavalo do sítio paterno, mergulhando no sorvete, sem qualquer choque orgânico, e ingeria frutos deteriorados, como se possuísse estômago de resistência invencível.
Em todas as particularidades da luta, contava com a afeição de Lizel, e, muito cedo, viu-se em contacto com o amigo espiritual, que não só lhe aparecia em sonhos, como também através dos médiuns, com os quais entrasse em sintonia.
O benfeitor falava-lhe de crianças perdidas, pedia-lhe proteção para crianças sem rumo, rogava-lhe, indiretamente, a atenção para o noticiário sobre crianças ao desabrigo.
E tanto fez Lizel que Secundino planeou o grande cometimento.
Seria, sim, o protetor dos meninos desamparados... Entretanto, considerando as necessidades do serviço, pedia dinheiro em oração.
E o dinheiro chegou, abundante...
Ao influxo do amor providencial de Lizel, sentia-se banhado em ondas de boa sorte... Explorou a venda de manganês e ganhou dinheiro, negociou im6veis e atraiu dinheiro, comprou uma fazenda e fez dinheiro, plantou café e ajuntou dinheiro.
Começou, porém, a batalha moral.
Lizel falava em crianças e Secundino falava em ouro.
 Protegeria a infância desditosa  meditava, convicto ; contudo, antes, precisava escorar-se, garantir a família, assegurar a tranquilidade e arranjar cobertura.
Casado, organizou fortuna para a mulher e para o pai, acumulou fortuna para os filhos e para o sogro, amontoou riquezas para noras e genros e, avô, adquiriu bens para os netos...
Porque tardasse demais na execução dos compromissos, a Esfera Superior entregou-o à própria sorte.
Apenas Lizel o seguia, generoso. E seguia-o arrasado de sofrimento moral, assinalando-lhe a frustração.
Secundino viciara-se nos grandes lances da vantagem imediata e algemara-se francamente aldeia do lucro a qualquer preço.
Lembrava os antigos projetos como sonhos da mocidade...
Nada de assistência a menores abandonados, que isso era obra para governos...
Queria dinheiro, respirava dinheiro, mentalizava novas rendas e trazia a cabeça repleta de cifras.
Lizel, apesar disso, acompanhava-o, ainda...
Agoniava-se para que Secundino voltasse a pensar nos meninos sem ninguém...
Ansiava por rever-lhe o ideal de outra época!... Tudo seria diferente se o pobre companheiro despertasse para as bênçãos do espírito!...
Aconteceu, no entanto, o inesperado.
Ao descer de luzido automóvel para estudar o monopólio do leite, Secundino não percebe pequena casca de banana estendida no chão.
Lizel assinala o perigo, mas suplica em vão o auxílio de outros amigos espirituais.
O negociante endinheirado pisa em cheio no improvisado patim, perdendo o equilíbrio em queda redonda.
Fratura-se a cabeça do fêmur e surge a internação no hospital; contudo, o coração cansado não corresponde aos Imperativos do tratamento.
Aparece a cardiopatia, a flebite, a trombose e, por fim, a uremia...
No leito luxuoso, o missionário frustrado pensa agora nas criancinhas enjeitadas, experimentando o enternecimento do principio...
Chora. Quer viver mais tempo na Terra para realizar o grande plano. Apela para Deus e para Lizel, nas raias da morte...
Seu instrutor, ao notar-lhe o sentimento puro, chora também, tomado de alegria... No entanto, emocionado, consegue dizer-lhe apenas:
 Meu amigo!... meu amigo!...
Agradeçamos ao Senhor e à casca de banana a felicidade do reequilíbrio... Seu ideal voltou intacto, mas agora é tarde... Esperemos que o berço lhe seja de novo propício...

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Do livro Contos Desta e Doutra Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

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