ÍNDICE
1- INTRODUÇÃO
O
Cristianismo sempre foi uma fonte inesgotável de estudos para todos os povos
crentes do mundo e por isso mesmo, objeto de pesquisa de quantos debruçam sobre
a bíblia, buscando esclarecimentos sobre a passagem daquele que foi o maior de
todos os Espíritos encarnados em nosso orbe. Por isso nós, um pequeno grupo da
Fraternidade Espírita Cristã Francisco de Assis, imbuídos nesse mesmo propósito,
resolvemos tirar partes das nossas noites de domingo para também estudarmos os
sagrados textos do Evangelho de Jesus. Ao iniciarmos, percebemos o quanto eram
relevantes os conhecimentos dos aspectos religiosos, políticos, sociais e
geográficos da época do nascimento do Mestre, além do aspecto moral, é claro, e
quanto isso tem dificultado o entendimento da Boa Nova. A partir dessa
dificuldade, estruturamos nosso projeto baseando-se em pesquisas de diversos
estudiosos da matéria, religiosos e leigos. Das fontes consultadas, vários
pontos estão ainda em aberto, por falta de dados confiáveis e até mesmo por
faltarem registros devido à escassez de documentos daquela época.
Escassez,
diga-se de passagem, justificada por entendermos que um carpinteiro que vivia
entre os pescadores, cobradores de impostos, gente simples do povo e os
chamados de má vida, não ia ser objeto de análise dos homens que faziam a
história daquele tempo, todos da Corte Romana ou judeus do Templo e Jesus não
era foco de interesse deles. Daí então, a importância que a Doutrina Espírita
tem para nós, pois os textos das obras auxiliares da Doutrina vêm preencher
esta lacuna, trazendo informações preciosas para o nosso estudo. Com isso,
acreditamos estar sistematizando informações que certamente irão facilitar a
compreensão daqueles que por ventura queiram aprofundar na leitura e na
pesquisa desses textos de importância vital para nossas vidas.
Destacamos
aqui relatos de escritores e políticos romanos e de judeus sobre a existência
de Jesus, porque pessoas há que ainda não acreditam em sua existência, falando
em mitificação e figura lendária para justificar o avanço do Cristianismo.
2– PROVAS HISTÓRICAS DA EXISTÊNCIA DE JESUS
2.1 – DOCUMENTOS DE ESCRITORES ROMANOS
2.1.1 – Tácito 1, por volta do ano 116, falando do incêndio
de Roma que aconteceu no ano 64, apresenta uma notícia exata sobre Jesus,
embora curta: “Um boato acabrunhador atribuía a Nero a ordem de por fogo na
cidade. Então, para cortar o mal pela raiz, Nero imaginou culpados e entregou
às torturas mais horríveis esses homens detestados pelas suas façanhas, que o
povo apelidava de Cristãos. Este nome vem-lhe de Cristo, que, sob o reinado de
Tibério, foi condenado ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. Esta seita
perniciosa, reprimida a princípio, expandiu-se de novo, não somente na Judéia,
onde tinha a sua origem, mas na própria cidade de Roma” (Anais XV, 44)
1 –
Publius Cornelius Tacitus, historiador romano, nasceu por volta do ano 55 d.C.
em Termi e morreu no ano de 120 d.C. Formado como advogado, foi discípulo de
Julius Segundo e Quintiliano. Seu casamento com uma das filhas de Julius
Agrícola, permitiu-lhe introduzir-se na política. Em 79, tornou-se Questor, em
81 Pretor e em 97 Cônsul. Depois de ter obtido grande experiência com os
negócios públicos e com a vida na Corte, deixou a política para dedicar-se à
escritura. Como historiador, Tácito dá informações precisas, mas ao julgar tais
fatos, cai no estoicismo moral. Suas obras mais importantes são: Diálogo sobre
os Oradores; Sobre a vida e os hábitos de Julius Agrícola; Sobre a Origem e
posição da Germânia. As obras Histórias e Anais são as mais ricas fontes de
informações sobre a história de Roma no século I d.C.
2.1.2 – Plínio 2, o jovem: governador romano da Bitínia
(Asia Menor) escreveu ao imperador Trajano, em 112: “... os cristãos estavam
habituados a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, e cantar um
cântico a Cristo, que tinham como Deus” (Epístolas, I.X 96).
2 –
Caio Plínio Cecílio Segundo, político e escritor romano, nasceu em 62 d.C., em
Comum, atual Como, Itália e morreu em 113 d.C., aproximadamente, na Bitínia,
atual Turquia. Amigo pessoal do imperador Trajano, foi nomeado Cônsul por este
no ano 100 d.C., quando pronunciou o seu Panegírico de Trajano, que foi
considerado a obra prima da lisonja, não tendo, porém, durabilidade o gênero.
Suas obras mais importantes são: Cartas, dirigidas a Trajano que foram reunidas
em 10 volumes. São consideradas o mais importante documento sobre aquela que é
tida como a mais bela época do Império Romano. Em 111 d.C. seguiu para Bitínia,
onde atuou como governador .
2.1.3 – Suetônio 3, no ano 120, referindo-se ao reinado do
imperador romano Cláudio (41-54), afirma que este “expulsou de Roma os judeus,
que, sob o impulso de Chrestós (forma grega equivalente a Christós), se haviam
tornado causa freqüente de tumultos” (vita Claudii, XXV). Esta informação
coincide com o relato de Atos 18.2 (“Cláudio decretou que todos os judeus
saíssem de Roma”); esta expulsão ocorre por volta do ano 49/50. Suetônio, mal
informado, julgava que Cristo estivesse em Roma, provocando as desordens.
3 –
Caius Suetonius Tranquillus nasceu provavelmente no ano de 69 d.C em Roma e ali
morreu depois do ano 122. Historiador romano, amigo de Plínio, o jovem, quem o
acompanhou à Bitínia, em 112. Secretário particular do imperador Adriano,
quando teve acesso aos arquivos oficiais, mas 2 anos depois é destituído do
cargo, por ter desrespeitado a esposa do imperador, Sabina. Dentre as inúmeras
obras que escreveu a mais importante é A vida dos Césares, onde estuda com
picardia e detalhes a vida dos 12 primeiros Césares, sempre sob o prisma
crítico de um partidário confesso da classe senatorial. Importante, também, é
sua obra Sobre Homens Ilustres, onde focaliza oradores, poetas, gramáticos e
filósofos. Suas obras são importante fonte de estudo sobre períodos dos quais,
inclusive, não se dispõem de outros documentos a não ser seus relatos
pitorescos e acríticos. Ao tratar dos imperadores, abdica das preocupações
cronológicas, concentrando-se nos aspectos mais importantes de suas vidas,
abordando, também, as opiniões vigentes na época de cada um deles, mesmo quando
díspares. Não poupa sequer alusões a boatos sobre a vida sexual de seus
biografados
2.2 – DOCUMENTOS JUDAICOS
2.2.1 – O Talmud 4 - Coletâneas de leis e comentários
históricos dos rabinos judeus posteriores a Jesus -, apresentavam passagens
referentes a Jesus. Combatem Jesus histórico: “Na véspera da Páscoa suspenderam
a uma haste Jesus de Nazaré. Durante quarenta dias um arauto, à frente dele,
clamava: “Merece ser lapidado, porque exerceu a magia, seduziu Israel e o levou
à rebelião. Quem tiver algo para justificar venha proferi-lo!” Nada, porém se
encontrou que o justificasse; então suspenderam-no à haste na véspera da
Páscoa.” (Tratado Sanhendrin 43 a do Talmud da Babilônia).
4 –
Talmude (do hebraico Talmud, estudo, ensino) doutrina e jurisprudência da lei
mosaica com explicações dos textos jurídicos do Pentateuco e a michna, isto é,
a jurisprudência elaborada pelos comentários entre os séculos III e VI.
2.2.2 – Flávio Josefo 5, historiador judeu (37-95), escreveu: “Por
essa época apareceu Jesus, homem sábio, se é que há lugar para chamarmos homem.
Porque Ele realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles que recebem com
júbilo a verdade, e arrastou muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. Por
denúncia dos príncipes da nossa nação, Pilatos condenou-o ao suplício da Cruz,
mas os seus fiéis não renunciaram ao amor por Ele, porque ao terceiro dia ele
lhes apareceu ressuscitado, como o anunciaram os divinos profetas juntamente
com mil outros prodígios a seu respeito. Ainda hoje subsiste o grupo que, por
sua causa, recebeu o nome de cristãos.” (Antigüidades Judaicas, XVIII, 63 a).
5 –
Flávio Josefo nasceu em Jerusalém, no 1º ano de reinado de Caio César, não se
sabendo a data de sua morte. Descendente de família sacerdotal, estudou letras
desde criança. Aos dezoito anos aprofundou os conhecimentos das seitas dos
Fariseus, dos Saduceus e dos Essênios. Nenhuma delas o agradou. Mais tarde
permaneceu três anos no deserto. Tinha dezenove anos quando retornou a
Jerusalém, passando a seguir os Fariseus. Sete anos depois viajou para Roma. O
navio naufragou no mar adriático e Flávio, juntamente com mais oitenta
companheiros, foram salvos por um barco de Cirene. Esteve diante da Imperatriz
Poppêa, conseguindo a libertação de alguns amigos. De volta à Jerusalém tentou
impedir uma guerra contra os romanos, antevendo o desastre que isso
apresentava. Frustrado em seu intento, recolheu-se ao santuário e os Judeus,
realmente, sofreram pesadas derrotas. Flávio esteve durante quase toda sua vida
acompanhando ou participando de guerras, acordos e mediações. Conviveu com as
mais diversas raças, classes sociais e religiosas, estudando a vida desde a
formação do mundo. Aprofundou-se no estudo dos livros sagrados, recolhendo
abundante material para seus livros históricos: Antigüidades Judaicas e Guerra
dos Judeus contra os Romanos. Estas obras estão reunidas em História dos Hebreus,
tradução do Padre Vicente Pedroso, publicação de 1956.
Em
nosso ponto de vista, esses escritores não tinham interesse, nem de ordem
filosófica ou religiosa para relatar fatos da vida de Jesus, a não ser o
aspecto político/social, que representava ameaça ao poder constituído da época.
No entanto, para aqueles ainda teimam em duvidar da existência de Jesus, esses
relatos testificam categoricamente de que Ele realmente existiu.
Comprovada
historicamente a existência de Cristo, prossigamos.
3 – A PROMESSA DO CRISTO – SUA ENCARNAÇÃO NA TERRA
No
intuito de nortear nossos estudos, somos impelidos a dois questionamentos sobre
a vinda do Cristo. Por que Jesus encarnou na terra, se não tinha mais
necessidade dessa encarnação? E por que foi escolhido o povo Hebreu para
recebê-lo? Encontramos estas duas respostas no livro “A caminho da Luz”, onde o
Espírito Emmanuel relata que nos mapas zodiacais da Terra foi registrada a
existência de uma grande estrela na constelação do cocheiro e que foi
denominada de Cabra ou Capela. A distância dessa estrela em relação a terra
está na proporção de 42 anos luz, se considerarmos que a velocidade da luz é de
300.000 km por segundo. Quase todos os mundos dependentes daquele orbe já
haviam se purificado física e moralmente. Não obstante, num planeta deste
sistema, que guarda uma grande semelhança com o globo terrestre, “(...)
existiam alguns milhões de espíritos rebeldes, no caminho da evolução geral,
dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade
e virtudes”. (Emmanuel, 1998:34) Como a maioria dos Espíritos daquele orbe já
tinha atingido uma situação de melhora moral, não era justo que aquela pequena
parcela de entidades, que se tornara pertinazes no crime, prejudicasse a
evolução daqueles que seguiam a trajetória da Luz, rumo ao Pai Eterno. Foi
assim que reunidas, as comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, numa ação
de saneamento geral, os alijaram daquela comunidade, localizando-os aqui na
Terra longínqua (...) “onde aprenderiam, na dor e nos trabalhos penosos, as
grandes conquistas do coração e impulsionando simultaneamente, o progresso de
seus irmãos inferiores.” (Emmanuel, 1998:35).
Mas
quando e como isso ocorreu? Em qual estágio evolutivo se encontrava a terra e a
partir de que momento estes espíritos puderam reencarnar em nosso orbe? Na
tentativa de respondermos estas perguntas, recorremos a informações contidas
nos livros “A Gênese” de Allan Kardec e novamente no “A caminho da Luz” de
Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, vejamos o que eles dizem.
Kardec(
167) na Gênese, afirma a não existência do homem, nem no período primário, nem
do de transição, nem no secundário, não só porque nenhum traço dele se
descobriu, como também porque não havia para ele condições de vitalidade, uma
vez que os terrenos não cobertos por água eram pouco extensos e eram pantanosos
e com freqüência, ficavam submersos. Razão porque só havia animais aquáticos ou
anfíbios.
Mesmo
no período Terciário, a existência do homem só poderia ter acontecido no seu
final e mesmo assim, sua existência não teria grandes chances de progressão,
porque em seguida, se deu o período diluviano. “[...] Este período teve a
assinalá-lo um dos maiores cataclismos que revolveram o globo, cuja superfície
ele mudou mais uma vez de aspecto, destruindo uma imensidade de espécies vivas,
das quais apenas restam despojos. As águas, violentamente arremessadas fora dos
respectivos leitos, invadiram os continentes, arrastando consigo as terras e os
rochedos, desnudando as montanhas, desarraigando as florestas seculares”.
(Kardec:164) “(...) Foi também por essa época que os pólos começaram a
cobrir-se de gelo e que se formaram as geleiras das montanhas, o que indica
notável mudança na temperatura da terra, mudança que deve ter sido súbita,
porquanto, se se houvesse operado gradualmente, os animais, como os elefantes,
que hoje só vivem nos climas quentes e que são encontrados em tão grande número
no estado fóssil nas terras polares, teriam tido tempo de retirar-se pouco a
pouco para as regiões mais temperadas. Tudo denota, ao contrário, que eles
provavelmente foram colhidos de surpresa por um grande frio e sitiado pelos
gelos. Esse foi, pois, o verdadeiro dilúvio universal”. (Kardec: 164-165).
“(...)
Estabelecido o equilíbrio na superfície do planeta, prontamente a vida vegetal
e animal retomou o seu curso. Consolidado, o solo assumiu uma colocação mais
estável; o ar, purificado, se tornara apropriado a órgãos mais delicados. O
sol, brilhando em todo seu esplendor, através da atmosfera límpida, difundia,
com a luz, um calor menos sufocante e mais vivificador do que o da fornalha
interna. A terra se povoava de animais menos ferozes e mais sociáveis; mais
suculentos, os vegetais proporcionavam alimentação menos grosseira; tudo,
enfim, se achava preparado no planeta para o novo hóspede que o viria habitar.
Apareceu, então, o homem, último ser da criação, aquele cuja inteligência
concorreria, dali em diante, para o progresso geral, progredindo ele próprio”
(Kardec: 166).
Emmanuel
ratifica essa informação quando diz que “(...) no período terciário, sob a
orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de antropóides
(grupo de símios que compreende os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos.
São desprovidos de caldas e o ocasionalmente bípedes), no Plioceno(relativa à
época: época pliocena: aquela em que surgem os primeiros homínidas; no período
Quartenário) inferior”. (Emmanuel, 1998:30) e que “(...)esses antropóides,
antepassados do homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem
no mundo..., viviam inicialmente sobre as árvores e, posteriormente, em
cavernas, graças ao domínio do fogo, ...espalharam-se, depois, aos grupos, pela
superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as influências do
meio e formando as bases das raças futuras em seus tipos diversificados - daí
os parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e do chimpanzé da
atualidade. A realidade, porém, é que as entidades espirituais auxiliaram o
homem do sílex, imprimindo-lhes novas expressões biológicas. Extraordinárias
experiências foram realizadas pelos mensageiros do invisível. As pesquisas
recentes da ciência sobre o tipo de Neanderthal, reconhecendo nele uma espécie
bestializado, e outras descobertas interessantes da Peleontologia, quando o
homem fóssil, são um atestado dos experimentos biológicos a que procederam os
prepostos de Jesus, até fixarem no “primata” os característicos aproximados do
homem futuro.” (Emmanuel, 1998:31)
“Os
séculos correram o seu velário de experiências penosas sobre a fronte dessas
criaturas de braços alongados e de pêlos densos, até que um dia, as hostes do
invisível operaram uma definitiva transição no corpo perispiritual
pré-existente dos homens primitivos, nas regiões siderais e em certos intervalos
de suas reencarnações.” (Emmanuel, 1998:31-32)
Então,
“Surgem os primeiros selvagens de compleição melhorada tendendo à elegância dos
tempos do provir.” (Emmanuel,1998:32).
Uma
grande transformação ocorreu na estrutura física e espiritual dos antepassados
das raças humanas. “Apareceu, então, o homem Sapiens, último ser da criação,
aquele cuja inteligência concorreria, dali em diante, para o progresso geral,
progredindo ele próprio”. Este homem, formado por Deus, passou a habitar a
Terra.
Após
todo esse processo, a terra estava preparada para receber colaboradores de
outro orbe, como aqueles espíritos rebeldes de Capela, que “aprenderiam a
realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas
do coração e impulsionar, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos
inferiores” (Emmanuel,1998:35), que há milênios já habitavam a Terra. Homens
esses, sem conhecimentos, em estado bruto, formados pelos mesmos elementos
químicos da Terra.
“Foi
assim que Jesus recebeu à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba
de seres sofredores e infelizes. Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou
essas almas desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos
deveres de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas.
Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra,
envolvendo-as no halo bendito de sua misericórdia e da sua caridade sem
limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os
sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração cotidiana e a
sua vinda no porvir.” (Emmanuel,1998:35)
Assim,
”(...) Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram, proporcionalmente,
nas regiões mais importantes, onde se haviam localizado as tribos e famílias
primitivas, descendentes dos “primatas” e com o transcurso dos anos,
reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos mais
antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e lingüísticas que os associavam
na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente, na esteira do Tempo, formaram
desse modo o grupo dos árias, a civilização do Egito, o povo de Israel e as
castas da Índia.” (Emmanuel, 1998:36-38.
“As
quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos de toda a organização
das civilizações futuras, introduzindo os mais largos benefícios no seio da
raça amarela e da raça negra, que já existiam.” (Emmanuel,1998:38).
Emmanuel
nos esclarece, ainda, que Deus fez encarnar seus espíritos, primeiramente, no
vale do Ganges (50 mil a. C), formando a civilização dos Vedas (Hindu). Era
nessa região, onde hoje é a Índia, que se reuniram os arianos puros,
descendentes dos Hindus, que mais tarde floresceram na Europa . O povo hindu
cultivava as lendas do mundo perdido, e colocava nelas, as fontes de sua nobre
origem.
“As
organizações hindus são de origem anterior à própria civilização egípcia e
antecederam de muito os agrupamentos Israelitas, de onde saíram mais tarde
personalidades notáveis, como Abraão e Moisés.” (Emmanuel,1998:49).
“As
almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido da misericórdia
do Cristo, de cuja palavra de amor e de cuja filosofia luminosa guardaram as
mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos Upanishads.
Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo terrestre,
como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados, em cujas
tradições iam beber a verdade os homens e os povos do provir, salientando-se
que também as suas escolas de pensamento guardavam os mistérios iniciáticos,
com as mais sagradas tradições de respeito.” (Emmanuel,1998:49-50).
”Da
região sagrada do Ganges partiram todos os elementos irresignados com a
situação humilhante que o degredo da terra lhes inflingia. As arriscadas
aventuras forneceriam uma noção de vida nova e aqueles seres revoltados
supunham encontrar o esquecimento de sua posição nas paisagens renovadas dos
caminhos; lá ficaram, apenas, as almas resignadas e crentes nos poderes
espirituais que as conduziriam de novo as magnificências dos seus paraísos
perdidos e distantes.” (Emmanuel,1998: 51-52)
Todas
essas informações encontram respaldo no capítulo 2, versículos de 05 a 09 e de
15 a 19, da Gênese Bíblica. Vejamos:
no
versículo 5 está registrado o seguinte : “ Não havia ainda nenhuma planta do
campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado: porque o Senhor
Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o
solo.” Para apreendermos melhor a afirmação, achamos por bem dividir este
versículo em duas partes. Na primeira parte quando o autor diz “ Não havia
ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia
brotado: porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra .”,lemos como
sendo aquela em que a terra ainda não estava preparada para receber o homem
primitivo, pois sendo ele primitivo, faltavam-lhe os conhecimentos básicos para
sua sobrevivência e sua subsistência só poderia advir dos frutos produzidos
pela terra, e se a terra não podia lhe dar estes alimentos, como, então, ele
poderia existir? A parte seguinte do versículo parece corroborar com nosso
pensamento – “ e também não havia homem para lavrar o solo “ se a terra ainda
não estava preparada para receber nem o primitivo, que viveria do que o solo
lhe desse, como receber outros seres com conhecimentos para lavrar a terra,
pois, supõe-se que quem está preparado para lavrar já lavrou algum dia.
Para
que existam plantas e as ervas nasçam e cresçam e gerem frutos e os frutos
alimentem, eram necessárias condições básicas e essas condições foram dadas; as
chuvas torrenciais acabaram, a luz do sol brotou entre as nuvens e “uma neblina
subia da terra e regava toda a superfície do solo (versículo 6).” O solo agora
era fértil, a terra estava preparada , “ Então formou o Senhor Deus ao homem do
pó da terra, e lhe sobrou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser
alma vivente(versículo 7 ).” Dividamos, também, este versículo em duas partes.
A primeira parte , “ Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra”, seguindo
nossa linha de raciocínio, compreendemos que este homem formado por Deus é o
homem primitivo – raças negras e amarelas -, criado para habitar a terra. O
homem sem conhecimento, o homem em estado bruto. Pesquisas confirmam que o
homem é formado, basicamente, dos mesmos elementos da formação da terra, por
isso a afirmação do criador da Gênese.
A
segunda parte do versículo “e lhe sobrou nas narinas o fôlego de vida, e o
homem passou a ser alma vivente ” A este homem primitivo, Deus deu a vida,
fazendo-o despertar do sono e ele se tornou alma vivente – segundo a Doutrina
Espírita, alma é o espírito encarnado.
Com
relação ao versículo 8 “ E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do
Oriente, e pôs nele o homem que havia formado .” “vários estudos têm sido
feitos na tentativa de compreender e localizar este jardim de delícias.
Portanto, este não é o objeto de nossa pesquisa, pelo menos, neste momento. Uma
coisa é certa, este jardim foi plantado, ou seja, foi criado da banda do
Oriente. Um local ameno, de delícias e propício para o homem recém-criado ter
como sobrevier, sem muitos esforços, já que ele não tinha conhecimento de
técnicas de produção, nem como produzir nada para seu sustento, portanto, era
necessário que a natureza desse a este homem primitivo os alimentos básicos
para sua sobrevivência. Veja a comprovação na primeira parte do versículo 9 “
Do solo fez o Senhor Deus brotar toda a sorte de árvores agradável à vista e
boa para alimento;” A outra parte do versículo diz que Deus fez brotar “também
a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do
mal,” E ntendemos ser esta árvore os exilados da Capela, pois para que houvesse
progresso, mister seria colocar no meio daquelas raças primitivas a força do
entendimento para que se fizesse valer o livre arbítrio e assim pudessem
escolher, por conta própria, o caminho que deveriam seguir, pois se assim não
fosse, porque Deus teria nos criado simples e ignorante? Veja como faz sentido
esta análise ao chegarmos ao versículo 15 “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem
e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” Aqui fica
claramente manifestada a idéia de o homem que Deus colocou no jardim do Éden
para cultivá-lo e guardá-lo, não poderia ser o homem primitivo, mas o homem
resultante da união das raças, ou seja, a reencarnação dos espíritos Capelinos
nos corpos dos da raça primitiva, pois para cultivar e guardar, somente podia
fazê-lo quem tinha condições para isso e não seria o primitivo a realizar esta
tarefa.
Nos
versículos 16 e 17 encontramos a ordenança de Deus para o homem – “ E ordenou o
Eterno Deus ao homem dizendo: De toda árvore do jardim podes comer, 17 e da
árvore do conhecimento, do bem e do mal, não comerás dela; porque no dia em que
comeres dela, morrerás .” Nesta ordenança, identificamos, mais uma vez, o
princípio do livre-arbítrio, pois enquanto somos ignorantes, enquanto não temos
a noção do bem e do mal, vivemos em paz com nossa consciência e em harmonia com
a natureza, comendo dos seus frutos e vivendo de conformidade com a sua lei.
Quando, porém, nos é facultado o conhecimento, adquirimos a possibilidade do
discernimento e aí optamos pelo bem ou pelo mal e ao escolhermos o mal,
forçosamente seremos, em algum momento, impelidos a quitar este débito que contraímos
com nossos semelhantes.
O
versículo 18 : “E disse o Eterno Deus: não é bom que esteja o homem só;
far-lhe-ei uma companheira frente a ele.” É o momento da procriação e da
miscigenação das raças, simbolizado na figura da companheira, da mulher e o 19
– “E formou o Eterno Deus, da terra, todo o animal do campo e toda a ave dos
céus, e trouxe ao homem para ver como os chamaria; e tudo o que chamaria o
homem à alma viva, esse seria seu nome .” Acreditamos que este versículo
ratifica o que até agora expomos, pois só podemos nomear algo que conhecemos.
Outro
registro importante, que demonstra a presença dessa plêiade de Capelinos no
seio das raças negra e amarela, e os versículos 16 a 24, capítulo 11, da carta
do Apóstolo Paulo aos romanos .” ... E, se forem santas as primícias da massa,
igualmente o será a sua totalidade e se for santa a raiz, também os ramos o
serão. Se, porém, alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava,
foste enxertado em meio deles, e te tornaste participante da raiz e da seiva da
oliveira, não te glories contra os ramos; porém se te gloriares, sabe que não
és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: alguns ramos foram
quebrados, para que eu fosse enxertado. Bem! Pela sua incredulidade foram
quebrados; tu, porém, mediante a fé estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme.
Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará.
Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para os que caíram,
severidade; mas para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra
sorte também tu serás cortado. Eles também, se não permanecerem na
incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo.
Pois se foste cortado da que, por natureza, era oliveira brava, e contra a natureza
enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão enxertados na sua própria
oliveira aquele que são ramos naturais!
Justificamos
com estes relatos que Jesus só encarnou em nosso orbe para cumprir a promessa
feita àquela saga dos Capelinos, quando os recebeu para cumprirem uma nova
experiência meio aos espíritos primitivos da terra recém-criada. “(...)
Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os sagrados
triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda
no porvir.” (Emmanuel,1998:35).
Com
relação à segunda pergunta relativa à encarnação de Jesus no reino de Israel,
Emmanuel (1998:70) fala-nos do “(...) porquê da sua preferência pela árvore de
Davi, para levar a efeito as suas divinas lições à humanidade;” e afirma “que a
própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os povos de então, sendo Israel
o mais crente, era também o mais necessitado, dada a sua vaidade exclusivista e
pretensiosa. “Muito se pedirá de quem muito haja recebido”, e os israelitas haviam
conquistado muito, do alto, em matéria de fé, sendo justo que se lhes exigisse
um grau correspondente de compreensão, em matéria de humildade e de amor”. Ele
lembra-nos, ainda, (Emmanuel, 1998:65), “que dos espíritos degredados para a
Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais forte, mantendo–se
inalterados os seus caracteres através de todas as mutações.” E “....Todas as
raças da Terra devem aos Judeus esse benefício sagrado, que consiste na
revelação do Deus único, Pai de todas as criaturas e providência de todos os
seres.” (Emmanuel, 1998:68-69).
Com
isso, acreditamos ter fechado a primeira etapa dos nossos estudos .
XV – O
RETORNO DO EGITO
Tendo Herodes
morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho, a José no Egito, e
disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel;
porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele,
tomou o menino e sua mãe, e regressou para a terra de Israel. Tendo, porém,
ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir
para lá: e, por divina advertência, prevenido em sonho, retirou-se para as
regiões da Galiléia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se
cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: “Ele será chamado
Nazareno.” 45
44- Mt.
2 19 a 23 1
45-
Isaías 11,1 – cerca de 700 anos a.C.
Estes
versículos levam-nos a algumas reflexões. A primeira é com relação às advertências
Divinas feitas a José.
José,
inicialmente, recebeu a advertência do Anjo para que tomasse o menino e sua mãe
e rumasse para as terras do Egito. Assim, o fez. Após a morte de Herodes, novas
advertências Divinas foram feitas a José: a primeira, informando-lhe da morte
de Herodes e que eles podiam retornar às terras de Israel. A segunda, em
decorrência dos últimos acontecimentos em Jerusalém e a possível preocupação de
José, em proteger Jesus de novos incidentes, foi que tomasse o Menino e Maria e
fosse para Galiléia. O que gostaríamos de salientar é a importância destes
fatos na vida de Jesus e de sua família terrena, Maria e José. Claro está para
nós que aqueles fatos podem ter influenciado José em sua tomada de decisão ,
mas a advertência Divina teve papel fundamental na decisão dele; por
obediência, conhecimento e merecimento do casal. Tudo isto demonstra a
constante influência da espiritualidade superior em nossas vidas e concita-nos
a termos bons propósitos, semelhantes aos de Maria e José, para mantermos uma
estreita sintonia com os mentores espirituais do Mundo Maior, no intuito de
melhor avaliar nossas atitudes perante as advertências que recebemos em nosso
dia-a-dia e o procedimento que deveremos tomar a partir delas, pois quando
Jesus nos disse que não nos deixaria órfãos, é sinal de que Ele está conosco em
todos os instantes de nossas vidas da menor às maiores decisões que deveremos
tomar.
A
segunda reflexão é sobre a permanência de Jesus no Egito. Baseando-se na
hipótese de Jesus ter nascido entre os meses de setembro e outubro (Item 12.4),
podemos fazer algumas inferências sobre o período em que Ele permaneceu no
Egito.
Se
aceitamos a hipótese de Jesus ter nascido no ano 749 da fundação de Roma e que
oss prováveis meses são setembro ou outubro e que Herodes, o grande, morreu em
750 do mês de Nisan, março/abril, porque Arquelau, seu filho e sucessor, após a
sua morte e antes de ser outorgado rei por césar, ordenou a matança no Templo
durante a Páscoa judaica e como nos relata o evangelista Mateus que José foi
avisado no Egito que Herodes tinha morrido e que podia tomar o menino e sua mãe
e retornar, indagamos: se o aviso ocorreu imediatamente após a morte de
Herodes, o retorno pode ter acontecido no próprio mês de Nisan e Jesus teria
entre 6 a 8 meses que é o que julgamos mais provável, pois o evangelista nos
lembra que José ficou sabendo que Arquelau reinava em lugar de seu pai Herodes,
e temendo o retorno à Judéia, dirigiu-se a Nazaré.
A
partir dessas informações presumimos que é bem provável que no retorno de
Jesus, Maria e José, eles tenham encontrado com viajantes que voltavam da festa
em Jerusalém e foram informados que Arquelau tinha herdado, por testamento, o
reinado de seu pai e que ele, depois que celebrou, “(...) segundo o costume do país,
o luto de seu pai, deu um banquete ao povo e subiu ao templo. Clamava viva o
rei, por toda parte por onde ele passava e depois que ele se sentou sobre o
trono de ouro, os clamores aumentaram, com votos pela prosperidade do seu
reinado. E a todos recebeu com muita bondade e testemunhou-lhes sua gratidão,
por nada ter diminuído de seu afeto por ele, com a recordação da severidade com
que seu pai os havia tratado; afirmou-lhes que lhes daria provas do seu
reconhecimento, disse-lhes que não tomaria ainda o nome de rei, até que Augusto
tivesse confirmado o testamento de seu pai e que ele tinha recusado, por essa
mesma razão, receber o diadema de todo o exército lhe havia oferecido em
Jericó. Mas logo que o tivesse recebido de Augusto, que somente tinha o poder
de dar-lho, ele mostraria por suas ações, que tinham razão de amá-lo e
esforçar-se-ia por torná-los mais felizes do que haviam sido durante o reinado
de seu pai”. Mas que em seguida ordenou, contrariando tudo que havia prometido
dias antes, uma grande matança de judeus durante as festividades da Páscoa.
Este fato, com certeza, trouxe às cabeças de José e Maria a amarga lembrança de
um outro semelhante, ocorrido meses antes - a matança dos inocentes ordenada
por Herodes, seu pai - obrigando-os a irem às escondidas refugiar-se no Egito.
A
partir desses acontecimentos, acreditamos que José, temendo novas matanças,
tenha preferido uma cidade mais tranqüila e rumou-se para Nazaré, na Galiléia,
para que Jesus pudesse crescer em paz.
Uma
outra hipótese que também pode ser levantada é que o retorno de Jesus, Maria e
José tenha ocorrido após a volta de Arquelau, de Roma, o que deve ter
acontecido bem depois da festa de Petencostes, pois segunda anotações de Flávio
Josefo em suas "Antigüidades Judaicas" as revoltas que se sucederam
na Judéia, tendo como protagonistas Sabino, intendente de Augusto na Síria,
ocorrendo nas proximidades da festa dos Petencostes e durando um tempo
relativamente longo, quando Arquelau estava ainda em Roma, com finalidade de
validar o testamento de seu pai. Sendo assim, Jesus já estaria com 2 anos,
aproximadamente. Esta hipótese não nos é muito provável, pois com a decisão de
César em manter o testamento de Herodes, tendo como única mudança a nomeação de
Arquelau como Etnarca e não como rei e Herodes Agripa como Tetrarca da Galéia,
não fazia muita diferença em ficar na Judéia ou na Galiléia, a não ser que
todos soubessem de antemão que Herodes tivesse uma administração menos violenta
do que o irmão Arquelau.
Com
relação ao versículo 23 do capítulo 2 de Mateus quando ele relata “E foi
habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por
intermédio do profeta: Ele será chamado Nazareno”, pesquisas dão contas de não
haver referências da existência de nenhuma cidade ou vilarejo na Palestina por
nome de Nazaré registrada no Velho Testamento, Talmude, Crônicas ou em
documentos históricos de Israel e que a referência de Nazaré como cidade só
apareceu efetivamente no século IV, quando a religião do Cristo já se destacava
dentre as demais. Diante disso, julgamos pertinente a análise feita pelo Rev.
A. R. Bucklando, M. A ., Arcediago de Norfolk, no seu Dicionário Bíblico
Universal quando afirma que a palavra hebraica, vertida para nazareno, é
“netser”, que significa “renovo” e é idêntica à palavra usada em Is. 11.1 “do
tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo”.
Desta
maneira, todas as vezes que chamaram a Jesus “o Nazareno”, estavam
pronunciando, com conhecimento ou sem o saber, um dos nomes do anunciado Messias.
Todos os habitantes da Galiléia, onde se achava situada a cidade de Nazaré,
eram olhados com desprezo pelo povo da Judéia por causa da singularidade das
suas maneiras e de suas falas, talvez, por isso, o termo nazareno,
freqüentemente aplicado a Jesus, em certas ocasiões tenha sido pronunciado com
desdém, mais que depois foi adotado e glorificado por seus discípulos.
Portanto, o opróbrio de Nazaré, a que se refere um homem, que era Galileu (Jo.
1.46), pode ter-se originado na má reputação pela falta de religiosidade e pelo
relaxamento de costumes e este epíteto de Nazareno tenha sido aplicado com
desprezo aos seguidores de Jesus em At. 24.5. O nome nazareno ainda existe em
árabe, como uma simples designação dos cristãos.
Antes
de prosseguirmos, porém, julgamos importante chamar a atenção para que não se
confunda nazireu com nazareno. Nazireu era aquela pessoa, de um ou outro sexo,
que na lei de Moisés se obrigava por votos a abster-se de vinho e de todas as
bebidas alcoólicas, a deixar crescer o cabelo, e não entrar em qualquer casa em
que houvesse gente morta, e a não assistir funeral. Se, acidentalmente, alguém
morresse na presença de um nazireu, recomeçava este a sua consagração de
nazireado. Geralmente, o voto era por certo período de tempo, mas algumas vezes
por toda a vida.
A
consagração de um nazireu era uma disposição, que notavelmente se assemelhava à
do sumo sacerdote (Lv 21.10 a 12). O voto nazireu era feito com o fim de
cultivar a soberania da vontade e vencer as baixas inclinações da natureza
humana, tendo isso a significação de um sacrifício a Deus.
4 – A PALESTINA NOS TEMPOS DE JESUS
Os
parágrafos anteriores nos deram informações suficientes sobre a encarnação de
Jesus em nosso orbe e o porquê da sua
escolha em nascer no berço do povo judeu. No entanto, acreditamos ser de
grande relevância conhecermos a situação
geográfica da Palestina na época do nascimento de Jesus e alguns aspectos da vida religiosa daquele
povo escolhido. Para nossa elucidação recorremos as preciosas informações que o
estudioso H. Lesêtre nos traz no seu
Guia através do Evangelho, tradução adaptada da segunda edição holandesa
pelos Padres Drs. P.J. Cools e Adr.Drubbel, atentemos para esse estudo.
4.1 - A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA
NOME E
LIMITES.
O nome
Palestina vem da palavra hebraica Peleschet, país dos Pelischtim ou Filisteus.
Os Filisteus, os temidos inimigos dos antigos Hebreus, habitavam a costa
ocidental do país de Canaan. Do antigo país dos Filisteus o nome Palestina
passou mais tarde à região inteira, que do tempo de Cristo estava habitada
pelos Israelitas.
A
Palestina confinava no sul com a Iduméia e os desertos, que se estendiam até o
Egito, ao leste com os ermos da Arábia e da Ituréia; ao norte com a Síria e a
Fenícia a qual desce como uma cunha ao longo da costa; ao oeste com o Mar
Mediterrâneo. Assim delimitado, o país, do norte ao sul, mede cerca de 200
quilômetros. A superfície é de 25.124 km quadrados.
4.2 - CONFIGURAÇÃO DO TERRENO
A
Palestina é um país montanhoso, formado por pequenas serras, que são a
prolongação do Líbano e do Antilíbano[1].
Os cumes mais altos atingem 938 metros no monte Ebal, na Samaria; 790 metros em
Jerusalém, e 1027 metros um pouco ao norte de Hebron. Muitas grutas estão
formadas no terreno calcário e argiloso. Um vale profundo, em que flui o
Jordão, divide o país pelo meio do norte ao sul. O Jordão tem sua origem aos
pés do Hermon, uma alta montanha do Antilíbano, de 2760 metros de altura,
atravessa primeiro o pequeno lago de Meron, depois o grande lago ou mar de
Tiberíades, que mede 21quilômetros de comprimento e 10,5 de largura, e é
situado a 208 metros abaixo do nível do mar, e desemboca, após um percurso
muito sinuoso, no Mar Morto. Este mar tem 76 quilômetros de comprimento, com
uma largura de 15,7 quilômetros e o seu nível está a 387 metros abaixo do nível
do Mar Mediterrâneo. Algumas torrentes lançam-se, à direita e à esquerda, no
Mar Morto e no Jordão; uma dezena de regatos insignificantes deságuam, de outra
banda, no Mediterrâneo. A Palestina não tem planícies importantes senão no Vale
do Jordão, e no oeste, as grandes planícies de Ésdrelon, ao norte do Monte
Carmelo, e de Saron, à beira do Mar.
4.3– CLIMA
A
Palestina tem dois climas bastante diferentes. Na parte montanhosa, o inverno
vai de novembro até março. O gelo e a neve são bastante raros; no mês de
fevereiro, o mês mais frio, a temperatura média é de 8º C; em agosto, o mês
mais quente, a temperatura média é de 25º C. Nas regiões mais baixas,
especialmente na planície baixa e encaixada do Jordão, o inverno é muito suave;
mas de abril a outubro, o calor é enervante. Não cai chuva na Palestina senão
desde fins de outubro até fins de abril; chuvas abundantes e contínuas há só em
dezembro e janeiro; nos demais seis meses o céu está quase de contínuo sem
nuvens. As noites são habitualmente frescas (Mc. 14.67; Jo. 18.18,25) e o
orvalho é muito abundante. Com semelhante clima e uma cultura ativa, o terreno
produzia abundância de cereais, frutos e vinha. A colheita de cevada fazia-se
nas planícies na Segunda metade de abril; a do trigo, no princípio de maio (Mt.
12.1; Mc. 2.23; Lc. 6.1). A terra era tão fértil que, se não tomasse cuidado,
os espinhos e os abrolhos logo brotavam (Mt. 13.7; Mc. 4.7, Lc. 8.7). A maior
parte das árvores da Palestina, oliveiras, ciprestes, terebintos, etc, ficam
verdes o ano inteiro e oferecem uma sombra constante.
4.4 - DIVISÃO TERRITORIAL
Na
época de Jesus a Palestina compreendia cinco províncias distintas: ao oeste do
Jordão a Judéia, a Samaria e a Galiléia; ao leste, a Peréia e a Decápole. A
Judéia, a Galiléia e a Peréia só constituíam o domínio judio propriamente dito.
4.4.1 - JUDÉIA
Esta
província ocupava a metade meridional do território que se estendia entre o rio
e o mar. Seu nome deriva do antigo reino de Judá; contudo seus limites eram
mais extensos. Seus habitantes eram em maior parte descendentes desses exilados
que, de 536 a 445 a.C, voltaram do grande cativeiro. Eram chamados Judeanos ou
Judios. Dividia-se a Judéia em onze toparquias ou distritos, que tinham por
capital alguma cidade importante. As principais dessas cidades eram Jerusalém,
a capital do país, Lida, Emaús, Engandi e Jericó. Esta última era situada perto
da foz do Jordão no Mar Morto, no meio de uma planície fertilíssima. A oito
quilômetros de Jerusalém, Belém estava na encosta de uma montanha. A vinte
quilômetros mais abaixo, Hebron conserva ainda os túmulos dos grandes
patriarcas, Abraão e os filhos dele. Na beira do Mediterrâneo, Jope e Jaffa
possuíam portos, aliás de difícil acesso. A Judéia era quase toda montanhosa e
árida. Só os vales eram bem cultivados.
4.4.2– GALILÉIA
O nome
desta província, “gelil haggoyim” faz alusão a composição da povoação. Na época
do cativeiro, colonos idólatras para lá foram levados do fundo da Assíria; mas
um século antes de Jesus, o judaísmo se tornou ali preponderante, graças aos
esforços dos últimos reis judios da raça dos Macabeus. A Galiléia ocupava o
norte da Palestina: o Jordão e o lago de Tiberíades formavam seus limites ao
leste; a Samaria a separava da Judéia no sul; e ao oeste, a Fenícia a isolava
do mar. Era uma região aprazível e fértil, no qual a natureza se revestia de
uma graça incomparável. O lago de Tiberíades, com suas belas águas de um azul
cinzento, agitadas às vezes por
tempestades repentinas, era emoldurado por uma vegetação luxuriante, e sulcado
por numerosos barcos de pesca. A Galiléia alta, ao norte, é montanhosa; ao sul
a Galiléia baixa é um país de planícies. As suas cidades mais importantes eram,
na beira do lago, Tariquéa, Tiberíades, Magdala e Cafarnaum. Nas montanhas,
Nazaré achava-se a 100 quilômetros de Jerusalém; Caná achava-se um pouco mais
ao norte e Naim mais ao sul. A povoação da Galiléia, judia em grande parte,
estava contudo misturada com Sírios,
Fenícios, Árabes e Gregos. O caráter dos Galileus tinha um quê de afável,
conciliador e desembaraçado, sem excluir, no entanto, a prontidão à revolta
e a energia na ação. Pelos Judeus eram
considerados compatriotas, mas tratados
com certo desdém (Jo. 1.46; 7.52), por não comungarem das idéias estreitas e do
rigorismo, cultivado em Jerusalém, e por ter a sua linguagem certa.
4.4.3– A SAMARIA
Era uma
província encerrada entre a Judéia e a Galiléia e estendendo-se do Jordão ao
Mediterrâneo. O país, montanhoso e fértil confinava com o mar pela rica
planície de Saron. As cidades principais eram Samaria, a antiga capital do
reino e Israel, Citópolis, Siquém e o porto de Cesaréia. A povoação compunha-se
de pagãos, de uma minoria de Judeus e de Samaritanos. Estes últimos provinham
de uma mistura de antigos Israelitas e de colonos transportados pelos Assírios
das províncias afastadas do seu império, especialmente de Cutha, de onde o nome
Cutheanos dado pelos Judeus aos Samaritanos. Professavam a religião judaica,
pelo menos nas suas práticas e crenças essenciais. Mas desde que os Judeus, de
volta do cativeiro, recusavam reconhecê-los como fazendo parte do povo de Deus,
uma violenta antipatia animava os dois povos um contra o outro. Os Judeus
excluíam a Samaria da Terra Santa. Manifestavam um profundo desprezo e um ódio
irreconciliável com respeito aos Samaritanos (Jo. 4.9), e o nome de samaritano
constituía para eles a suprema injuria (Jo. 8.48). Os Galileus e os Judeus
evitavam ordinariamente passar pela Samaria, em conseqüência dos vexames que
lhes infligiam os habitantes (Lc. 9.52-57). Estes com efeito não poupavam
nenhuma ocasião de enganar ou molestar seus adversários. Eles mesmos evitavam
comparecer em Jerusalém, pretendendo que tinham direito de adorar a Deus no
monte Garizím (Jo. 4.20).
4.4.4– PERÉIA
Era o
país situado além do Jordão e do Mar Morto; daí seu nome que significa “além”.
A região é montanhosa e cortada de quebradas (barrancos). Mais extensa do que a
Galiléia, tinha um terreno muito menos fértil e uma povoação muito menos densa.
Esta compunha-se igualmente de Judeus e de estrangeiros em número bastante
alto. As cidades principais eram Péla ao norte, Gerasa ao oeste, Filadélfia e
Hêsebon (Esbus) mais ao sul, e enfim no limite meridional, a fortaleza de
Maqueronte.
4.4.5– DECÁPOLE
Deste
nome chamava-se o território ocupado por dez cidades, nas quais a influência
grega se fazia sentir mais especialmente. Entre estas cidades contavam-se
Damasco, ao norte, Filadélfia de Peréia ao sul, Citópolis de Samaria ao oeste.
Este território ficava quase todo inteiro na beira esquerda do Jordão; mas não
formava uma unidade geológica ou política bem delimitada. Encerrava aliás
diversas províncias, nas quais os Judeus eram misturados com os Sírios, e que
tinham tetrarcas ou chefes particulares.
A Gaulanitide ocupava o leste do Jordão, ao norte do lago de Tiberíades; a
Batanéia, mais ao sudeste, correspondia ao antigo país de Basan; a Traconítide
era uma planície penhascosa ao sul de Damasco; a Auranítide estendia-se ainda
mais ao sul, no antigo país de Hauran. Enfim, ao leste do alto Jordão achava-se
a Ituréia, vizinha do território de Paneas.
4.4.6–
CIDADES GREGAS
Um
certo número de cidades da Palestina quase não fazia parte do domínio judio.
Eram cidades livres nas quais dominava quase exclusivamente o elemento pagão.
Enumeravam-se 33, das quais as mais importantes ao ponto de vista evangélico
são: na beira do mar, Gaza, Ascalon, Azoto, Jope, Cesaréia de Palestina e
Ptolemaida; na beira do lago de Tiberíades, Hipos, Betsáida e Tiberíades; em
Samaria, Citópolis, Séforis e Sebaste, a antiga Samaria; Cesaréia de Felipe ou
Paneas, no norte; enfim, ao leste do Jordão, Gádara, Péla, Gérasa, Hésebon e
Filadélfia, a antiga capital dos Amonitas.
4.4.7– JERUSALÉM
Esta
cidade, primitivamente chamada Jebus, tomou mesmo antes de Davi o nome de
Yerusalaim em hebráico, e de U-ru-as-lim em assírio, o que provavelmente
significa simplesmente “cidade de Salim”. Jerusalém está situada numa espécie
de promontório rodeado de três lados pelos vales de Hinnom e do Cedron, cuja
maior profundeza desce até 100 metros abaixo do nível da cidade. Chegar à
cidade sem subir só se pode do lado norte. A antiga cidade ocupava três cumes,
que se dominavam uns aos outros. Ao leste havia em primeiro lugar o monte
Móriah (754 metros), no qual estava edificado o templo, e que se prolongava no
sul pela colina de Ophel (730 metros). Ao oeste do Móriah, o monte Acra (763
metros) estava separado do monte Sião (789
metros) pelo vale do Tyropeon ou dos Queijeiros. Muralhas poderosas,
inexpugnáveis da parte dos vales, rodeavam essas três montanhas. O bairro de
Bezetha (785 metros), ao norte, não era rodeado de muralha e só foi anexado à
cidade depois da morte de Jesus. As muralhas eram atravessadas de muitas portas
e flanqueadas de grande número de torres; três delas, edificadas ao oeste por
Herodes, dominavam todas as demais, Hippicus (36 metros), Phasael (40,5 metros) e Mariamne
(27,75 metros). Atrás destas torres levantava-se o magnífico palácio de
Herodes. Ao norte do monte Móriah, sobre um rochedo de 25 metros de altura,
erguia-se a fortaleza Antônia, residência da guarnição romana. Estava protegida
por quatro torres, três de 22,5 metros e
uma de 31,5 metros a qual permitia observar de uma altura total de mais de 60
metros o que se passava no recinto do templo. As ruas da cidade eram estreitas,
inclinadas e as principais calçadas por Herodes, terminando em algumas encruzilhadas bastante
estreitas. A praça principal era o Xistus, na depressão do Tyropeon. Por cima
passava uma ponte que ligava o templo com as demais partes da cidade. Movimento
não havia nas ruas senão de peões e às vezes de burros e de camelos; para
veículos as ruas eram imprestáveis. As casas eram quadradas, baixas e com teto
chato. A cidade media apenas, na sua maior largura, pouco menos de 1000 metros;
o seu perímetro, incluindo os ângulos inversivos, podia ser de 4 quilômetros
mais ou menos.
4.4.8– OS ARREDORES DE JERUSALÉM
Ao
norte acha-se um planalto, que vai subindo até o monte Scopus (831 metros). Foi
sempre deste lado, o único acessível, que se fazia o bloqueio de Jerusalém. Ao
leste, o vale do Cedrão estende-se ao longo do recinto, descendo de 750 a 650
metros. Do lado oposto deste vale ergue-se o monte das Oliveiras (818 metros),
ao sudeste do qual encontram-se sucessivamente Béthfage e a aldeia de Bethânia,
a dois e meio quilômetros de Jerusalém. O jardim de Getsemani acha-se ao pé do
monte das Oliveiras, em frente da muralha da cidade. Ao sul o vale do Cedrão
encontra-se com o Hinnom. Lá se achavam as fontes de Siloé e de Rogel. As
encostas dos dois vales eram ocupadas por muitas sepulturas, isso porém não
impedia os judeus de plantar ali jardins sombrosos. Os jardins podiam ser
encontrados também ao norte da cidade, onde José de Arimatéia também tinha o seu, no qual foi sepultado Jesus (Jo.
19.41). Da muralha do oeste partia a estrada que se dirigia a Belém. A 4
quilômetros desta cidade Salomão fez construir vastos reservatórios, cujas
águas eram levadas à Jerusalém por um aqueduto muito sinuoso, para guardar o
nível através das alturas.
4.5– A VIDA RELIGIOSA NOS TEMPOS DE JESUS
4.5.1 - SINAGOGAS
As
sinagogas eram lugares onde os judeus se reuniam para rezar e ouvir a Leitura
da Lei. Serviam de centro para qualquer comunidade israelita, tanto na
Palestina como em terras estrangeiras. Até as pequenas aldeias podiam ter sua
sinagoga, mas o culto propriamente dito com, seus sacrifícios e
cerimônias, só podia ser prestado a Deus no Templo de Jerusalém.
4.5.2 - SERVIÇO RELIGIOSO NAS SINAGOGAS
Haviam
reuniões nas sinagogas no dia de sábado, nas festas e nas 2as e 5as feiras. A
ordem entre os diversos exercícios era a seguinte:
1º - A
recitação de certas orações tiradas da Bíblia; os Judeus rezavam de pé, com o
rosto voltado para Jerusalém.
2º - A
leitura da Lei. Quando um sacerdote estava presente, este começava a leitura.
Geralmente a leitura dividia-se entre sete pessoas. A lei de Moisés estava
distribuída em 153 seções, de modo que a leitura inteira da Lei cabia nos
sábados de três anos.
3º - A
leitura dos livros históricos e proféticos: lia-se o texto hebraico, que depois
era traduzido em aramaico.
4º - A
explicação dos textos: o chefe da sinagoga confiava essa tarefa a quem julgava
capaz. Jesus também tomou freqüentemente a palavra na sinagoga. ( Mt. 4.23; Mc
1.21; 6.2; Lc. 6.6; 13.10; Jo. 6.59; 18.20).
5º - A
benção dava-se por um sacerdote, ou na falta dele, por um outro membro da
comunidade, o qual então benzia em forma de oração.
4.5.3 - A LEI E OS PROFETAS
A vida
moral e religiosa dos Israelitas era pautada inteiramente pela Lei de Moisés e
pelos ensinamentos dos Profetas. O conhecimento da Lei constituía a matéria do
ensino que as crianças recebiam em casa e que ouviam na sinagoga durante toda a
sua vida. Todos sabiam dos castigos e das recompensas, resultantes da
transgressão ou da observância da Lei, de modo que toda a vida estava ordenada
conforme as prescrições da Lei e dos Profetas. Confiados nas palavras desses
arautos de Deus, esperavam o porvir glorioso que o Messias traria ao seu povo.
Por isso Jesus recorreu por mais de uma vez à Lei e aos Profetas, no intuito de
esclarecer os fundamentos de sua doutrina e o papel dos precursores da sua
missão. ( Mt. 5.17; 7.12;11.13; 22.40; Lc. 16.16; 24.44; Jo. 1.45; 7.19). Para ter a Lei sempre diante dos
olhos, os Judeus observavam certas recomendações de Moisés ao pé da letra: nos
cantos dos seus mantos levavam borlas ( Mt. 9.20; 14.36; 23.5; Mc. 6.56; Lc.
8.44) e também prendiam ao pulso e à testa tiras de pergaminho, chamadas
filactérios, em que estavam escritos textos da Lei. Encerravam outros textos em tubinhos oblongos(alongados) que suspendiam sobre as entradas das suas
casas.
4.5.4 - A ORAÇÃO
De
manhã e a tarde os Judeus liam por modo de oração três passagens da Lei, que
eram uma exortação para ficarem fiéis a Deus. A mesma oração, aliás, rezava-se
na sinagoga, por alguns até em público
nas ruas quando era o tempo da oração. ( Mt. 6.5). Rezavam em pé, de cabeça
coberta. Havia ademais uma outra oração, chamada “As Dezoito”, por motivo das
dezoito fórmulas de que se compunha. Essa oração, que todos deviam rezar três
vezes ao dia, foi estabelecida no seu teor atual depois dos anos 70: mas é
provável que alguma coisa semelhante existisse no tempo de Jesus, o qual porém
recomendava rezar às ocultas e sem muito palavreado (Mt. 6.6,7). Rezavam antes e
depois das refeições ( Mt. 20.26,27; Mc. 14.22,23,26; Lc. 22.17,19). Os
doutores ensinavam orações particulares aos seus discípulos; o Precursor e o
divino Salvador seguiram esses costumes ( Lc. 11. 1-4; Mt. 6.9 –13).
4.5.5 - JEJUNS E ESMOLAS
Além do
jejum do dia da expiação prescrito pela Lei, costumavam os Judeus nos tempos
evangélicos, praticar ainda outros jejuns, para comemorar diversas calamidades
do passado, como a destruição do templo de Jerusalém pelos Babilônicos. Também
os Sanhedrins[2] locais podiam
ordenar jejuns, para obter chuva, para afastar algum desastre, etc. Enfim,
havia os zelosos que jejuavam duas vezes por semana, nas 2as. e 5as. Feiras (
Lc. 18.12). Os discípulos de João seguiam fielmente essa prática. ( Mt. 9.15;
Mc. 2.18; Lc. 5.33). O jejum durava de uma tarde à outra, até que se
percebessem no céu três estrelas medianas. Acompanhavam-no de sinais de
tristeza e de austeridade, que Jesus reprovava ( Mt. 6.16,17). Os Judeus davam
esmolas regularmente, mas só ao seu “próximo”, q.d. aos Judeus (Lc.
10.29,31,32). Alguns preenchiam esse dever com muita ostentação ( Mt. 6. 2-4).
Fora do que se recolhia nas sinagogas, reservava-se para os indigentes em cada
campo um ângulo em que se não fazia a colheita; era-lhes outorgado também o
respingar e o rabiscar. Enfim assistia a todos o direito de tomar nas searas e
nas vinhas o que consumiam no lugar mesmo ( Mt. 12.1; 21.19; Mc. 11.13).
4.5.6 – PURIFICAÇÕES
A
questão da pureza ou impureza legal era uma preocupação de capital importância
entre os Judeus. Contraía-se a impureza pelo uso das coisas impuras de animais
proibidos, pelo contato de coisas impuras como cadáveres, ossos, sepulcros,
objetos contaminados por pessoas ou coisas impuras, pela entrada na casa de um
pagão (Jo. 18.28-29); por algumas doenças ou certos estados fisiológicos. As
prescrições das leis constituíam simultaneamente precauções higiênicas e uma
lição perpétua de moral. As ocasiões de impureza legal sendo múltiplas, era
mister recorrer freqüentemente a purificações: banhos completos (Jo. 13.10),
lavatórios das mãos Mc. 7.1-4, Lc.
11.38-39), dos pés (Lc. 7.44; Jo 13.4-10), lavagens de vestidos e de toda
classe de utensílios (Mt. 23.25),
filtrações de líquidos em que poderia haver insetos mortos (Mt. 23.24), havia
mesmo casos em que era preciso oferecer sacrifícios de purificação no templo.
Essas exigências da Lei e mais ainda as prescrições arbitrárias dos doutores
produziram uma separação completa entre os Judeus e os pagãos. Mesmo os
Apóstolos só a custo chegaram a alargar suas idéias a esse respeito. (At.
10.11-16)
4.5.7 - CIRCUNCISÃO
A
circuncisão era o rito de incorporação ao povo de Israel. Entre os Judeus
administrava-se esse rito a todo filho homem no oitavo dia do seu nascimento e
nessa ocasião impunha-se-lhe o seu nome (Lc. 2.21). A circuncisão fazia-se na
sinagoga ou em casa. Estava preparada uma cadeira para o profeta Elias que era
reputado presenciar a Circuncisão, como aliás era crença popular estar ele
perto de todos os Israelitas, que estivessem em aperto (Mt. 27.47; Mc.
15.35,36). Ligava-se tal importância a Circuncisão, que se administrava mesmo
em dia de sábado. Os primeiros cristãos convertidos do judaísmo consideravam a
Circuncisão como indispensável, e foi preciso uma intervenção solene para lhes
fazer compreender que esse uso não obrigava mais debaixo da Nova Lei. (At.
10.28; 11.3; 15.1-29). Os Judeus gloriavam-se da Circuncisão, porque por ela
tornavam-se filhos de Abraão. Consideravam essa qualidade como um penhor de salvação (Mt. 3.9; Lc. 3.8; Jo.
8.37-42).
4.5.8. - DIREÇÃO RELIGIOSA
4.5.8.1. - ESCRIBAS OU DOUTORES DA LEI
Entre
os Judeus o conhecimento mais profundo da religião com suas múltiplas
prescrições, não era um apanágio dos sacerdotes. Qualquer Israelita, que tinha
aptidões para isso, podia dedicar-se a esse estudo e tornar-se esperto nessa
ciência. Foi assim que se formou a classe especial dos “escribas” ou peritos na
ciência das Escrituras (Mt. 2.4; 8.19; Mc. 1.22; Lc. 5.21; Jo.8.3), chamados
também “doutores da Lei”. (Mt. 22.35 e
23.5-7; Lc. 5.17; 7.30; 10.25,
etc.). O título que se lhes dava era “rabbi” ou “rabboni”, isto é, mestre
(Mt.23.7,8; Mc. 9.4; 10.51; Jo.
1.38;20.16). Os doutores pretendiam que se lhes prestassem as maiores honras e
gostavam mesmo distinguir-se por seu modo de vestir (Mt. Mc.12.38,39; Lc.
20.46). Apesar de ser o operário digno do seu salário e por isso ter também o
doutor o direito de viver da sua ciência (Mt. 10.10; Lc. 10.7), os escribas não
brilhavam sempre por desinteresse (Mt. 12.40; Lc. 16.14; 20.47). Havia doutores
não só na Judéia, mas também na Galiléia (Lc. 5.17) e entre os Judeus da
dispersão.
4.5.8.1.1 - PAPEL DOS ESCRIBAS
O s
escribas eram de fato os diretores espirituais da nação. Tomando por base a
Sagrada Escritura, completavam o direito escrito dos Livros Sagrados pelo
direito costumeiro, chamado Halaca, e explanavam as narrações e as doutrinas
morais na Haggada[3]. O seu ofício
consistia em explanar a teoria da Lei, em manter a sua execução prática, sobretudo nos tribunais
e enfim instruir os seus discípulos. É por isso que Jesus dizia que estavam
sentados na cadeira de Moisés (Mt. 23.2). Davam as suas preleções numa sala ou
ao léu. Em Jerusalém reuniam seus discípulos debaixo dos pórticos do Templo ou
em alguma sala dos edifícios. As interpretações que davam eram freqüentemente
arbitrárias, fantásticas, estreitas e até, às vezes, repugnantes. Disso Jesus
deu diversos exemplos. Em vez de raciocinar conforme as regras do bom senso,
outra coisa geralmente não faziam senão apelar às sentenças dos predecessores
(Mt. 15.1-3; Mc. 7.3,4,7),ou fundavam as suas decisões em distinções ridículas
(Mt. 23.16-18). Aliás estavam longe de concordar entre si. No tempo de Herodes
havia dois doutores famosos, Schammai e Hillel, totalmente opostos entre si em
muitíssimas questões; bastava que um afirmasse para que o outro quase
infalivelmente negasse. O Talmude, em que foram recolhidas por ordem as
doutrinas dos principais escribas, não é por assim dizer senão um conjunto de
contos e de discussões pueris, no meio das quais só aqui ou acolá encontra-se
alguma idéia prestável. Um ensino haurido a tais fontes, havia de por si
degenerar freqüentemente em idéias violentas (Mt. 23.16); e para caracterizar o
ensino jurídico e moral deles, acusava-os de onerar os outros de encargos
insuportáveis, que eles mesmos nem com o dedo tocavam; de ter tomado a chave da
ciência, mas de não entrarem eles mesmos e embargarem a entrada aos outros (Lc.
11.46,52).
4.5.8.2 - OS FARISEUS
A maior
parte dos escribas pertencia a uma seita, que se formara aos poucos entre os
Judeus, depois da sua volta do cativeiro. Era a seita dos Fariseus, isto é,
separados, assim chamados em conseqüência do seu empenho de se afastar de todos e de tudo que, no seu conceito
rigoroso, pudesse contaminar a sua pureza legal. Esmeravam-se na observância de Lei, cujas prescrições
dissecavam em minúcias incríveis. Verdade é que entre eles havia homens
realmente religiosos e sinceros, mas a maioria só tinha uma piedade afetada, superficial
e hipócrita. (Mt. 5.20; 23.1-39; Lc. 11. 37-54). No Evangelho encontramo-los em
toda a parte ao enlace de Nosso Senhor para espiá-Lo, pôr-lhe perguntas
capciosas, persegui-Lo, porque desmascarava-lhes a falsa piedade, ocupava um
espaço demasiadamente grande na estima popular e não correspondia absolutamente
ao conceito que se tinham formado do Messias esperado. Patriotas ardentes
toleravam só forçosamente o jugo dos romanos. Viam de maus olhos qualquer
relação com os estrangeiros, com os publicanos e com os pecadores. O seu ardor
aparente e seu zelo granjeavam-lhes a admiração do povo. E enquanto eles
desprezavam o povo como ignorante (Jo. 7.49), este os considerava como os
Judeus por excelência. A sua estreiteza de espírito, a sua obstinação e a sua
inveja faziam deles os piores adversários do Salvador.
4.5.8.3 - OS ESSÊNIOS
Destes
não fala o Evangelho. Formavam uma seita que estava espalhada por toda a
Palestina. Viviam em comunidade, abstinham-se do matrimônio, do juramento e dos
sacrifícios sangrentos e excediam ainda mais que os Fariseus na observância do
sábado, nas purificações e nas precauções contra qualquer impureza legal. Eram
considerados como rigoristas, que levavam ao extremo a doutrina e suas
usanças.( hábito antigo, tradicional). Porém tudo o que se sabe deles fica mais
ou menos sujeito a dúvidas, porque documentos acerca deles, dignos de crédito
absoluto, faltam
4.5.8.4 - OS SADUCEUS
Derivam
o seu nome de um sacerdote, chamado “Saddoc”. Recrutavam-se sobretudo entre a
aristocracia. O Sumo Sacerdote e os principais funcionários da nação eram
Saduceus. Esses sectários quase não acreditavam na Providência; negavam a
imortalidade da alma, a ressurreição do corpo (Mt. 22.23; Mc. 12.18; Lc.
20.27), a existência dos anjos e dos demônios. Desprezavam profundamente aos
Fariseus, zombavam das suas discussões e do seu formalismo meticuloso. As duas
seitas tiveram outrora rixas sangrentas. Depois porém ambos preferiram ficar à
distância, salvo de se rejubilarem das humilhações infligidas aos adversários
Satisfeitos com suas riquezas e com a estima que gozavam sob o governo romano,
os Saduceus não desejavam mudanças sociais. Não lhes interessava um Messias que
viesse derrubar a ordem estabelecida; em conseqüência estavam dispostos a
sacrificá-lo antes que perder a amizade dos Romanos (Jo. 48,50). Foram eles
que, durante a Paixão, manifestaram com maior cinismo o seu devotamento pelo
imperador (Jo. 19.12-15)
4.5.8.5 - OS HERODIANOS
Estes
eram os partidários de Herodes. Seu empenho era restabelecer em toda a
Palestina o poder dessa família. Por tal motivo não simpatizavam com os
Saduceus que favoreciam os Romanos, nem com os Fariseus que esperavam
conquistar a independência pelo Messias vindouro. Contudo conluiam com estes
últimos em se tratando de tender ciladas a Nosso Senhor (Mt. 22.16; Mc. 3.6;).
4.5.8.6 – OS PUBLICANOS
Eram
assim chamados, na antiga Roma, os cavaleiros arrendatários das taxas públicas,
incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma
mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como arrendatários gerais e
arrematadores de taxas do antigo regíme da França e que ainda existem nalgumas
regiões. Os riscos a que estavam
sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam
e que, da parte de alguns, eram frutos exações e de lucros escandalosos. O nome
de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros
públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido
pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de
negócios. Diz-se por vezes: “’Ávido como um publicano, rico como um publicano”,
com referência a riqueza de mau quilate. De toda a dominação romana, o imposto
foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram e o que mais irritação causou
entre eles. Daí nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso uma questão
religiosa, por ser considerada contrária à lei. Constituiu-se, mesmo, um
partido poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita,
tendo por princípio o não pagamento do imposto. Os judeus, pois, abominavam a
este e, como conseqüência, a todos os que eram encarregados de arrecadá-lo,
donde a aversão que votavam aos publicanos de todas as categorias, entre as
quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em virtude das
suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham relações,
os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque
consideravam um comprometimento ter com eles intimidade.
5 – A DIVISÃO DO TEMPO ENTRE OS HEBREUS
Com
relação a este item, recorro às preciosas informações do livro O Evangelho de
Jesus, 1ª edição portuguesa, com complemento didático executado pelos
voluntários da Associação MIMEP, com a colaboração dos Padres Paolo
Acquistapace, Ângelo Albani e Massimo Astrua, sob a direção do Monsenhor Enrico
Galbiati.
5.1 – OS DIAS DA SEMANA
O dia
começava à tarde e terminava ao pôr do sol. Assim o descanso do sábado devia
começar à tarde da sexta feira que se chamava Preparação (em grego Parasceve).
Os demais dias da semana chamavam-se de ordem: “primeiro” era o atual “domingo”
(isto é, o dia do Senhor) em honra da ressurreição de Cristo.
5.2 – AS HORAS DO DIA
As
horas que decorrem entre o nascer do sol e o poente eram doze horas, mas de
duração variável com a estação. Geralmente se fazia alusão às quatro horas
principais: primeira (6 horas), terceira (9 horas), sexta (12 horas), nona (15
horas) compreendendo também as duas horas sucessivas. A noite era dividida em
quatro vigílias (esta palavra indica o turno das sentinelas) de três horas cada
uma.
5.3 – OS MESES DO ANO
Calculava-se
o mês tendo como base as fases da lua, com 29 ou 30 dias, a partir da lua nova
(ou novilúnio).
O ano
era formado de 12 meses lunares; mas cada dois ou três anos intercalava-se um
13º mês para restabelecer o ajuste com a sucessão das estações ( isto é, com o
ano solar). Isto se tornava necessário porque as festas, embora estabelecidas
conforme os meses lunares tinham relação com as fases da agricultura. Os nomes
dos meses usados pelos judeus, depois do cativeiro de Babilônia (VI séc. a.C.),
são de origem babilônico.
6 – FESTAS JUDAICAS
6.1 - PÁSCOA
Era esta a principal das festas judáicas. Fora
instituída para conservar a memória da libertação do Egito. A solenidade começa
no dia 14 do mês de Nisan, cerca do fim do nosso mês de março ou no princípio
de abril. A festa durava sete dias. Todos os Israelitas que não tinham
impedimentos de força maior estavam obrigados, de nessa ocasião, irem em
romaria à Jerusalém. As mulheres e as crianças não estavam sujeitas a essa
prescrição. Saíam, portanto, os romeiros das diversas localidades, geralmente
em grupos (Lc. 2.44). Falava-se de subir à Jerusalém. O caminho de Jerusalém era uma
verdadeira subida; especialmente, quem da Galiléia passava pela Peréia, havia
de transpor de Jericó à capital, uma encosta de 1000 metros. (Mt. 20.17,18; Mc.
10.32,33; 15.41; Lc. 2.42; 18.31; 19.28; Jo. 2.13; 5.1; 7.8; 11.55). A multidão
era então enorme na cidade. Os escritores desse tempo falam em milhões.
Procuravam pousada nas casas da cidade, nas aldeias circunvizinhas ou sob
tendas nos campos. Os dias da festa chamavam-se dias dos ázimos (Mt. 26.17: Mc.
14.1,12; Lc. 22.1,7), dos pães sem levadura (fermento), porque nesse tempo não
se podia comer senão pães dessa classe. O grande dia da festa era o 15 de
Nisan; nesse dia era proibido trabalhar, como também no último dia. No dia 16
de Nisan fazia-se a oferta das primícias da messe, e a colheita podia tomar
início.
6.1.1 - O BANQUETE PASCAL
No dia
14 de Nisan, à noite, celebrava-se o banquete pascal, para qual se requeriam
pelo menos dez pessoas. No decorrer do dia fazia-se imolar no Templo um
cordeiro ou um cabrito de um ano. Em seguida devia ser assado, e não se lhe
podia quebrar um osso. O banquete celebrava-se conforme um rito determinado,
com orações e cânticos próprios à circunstância. (Mt. 26.30). Depois de beber
um primeiro cálice, comiam legumes amargos, ensopados em molho fortemente
condimentado. Depois dum segundo cálice servia-se o cordeiro pascal e os pães
ázimos. Seguia então um terceiro cálice, chamado o “cálice da bênção”, por
motivo das orações e ações de graças que
se rezavam. Podiam seguir ainda dois ou três cálices e todos bebiam do mesmo
cálice. Aquele que presidia a refeição pronunciava as orações, revocava a
memória do passado e distribuía aos convivas o pão que partia e ensopava no
molho amargo. Toda essa solenidade ia acompanhada de múltiplas abluções. Nos
tempos antigos o cordeiro pascal se tomava em pé mas do tempo de Jesus Cristo
os convivas tomavam as refeições estendidos em leitos. Nas narrações
evangélicas da Última Ceia é fácil conferir os diversos cálices (Lc.
22.17,18,20; Mt. 26.27; Mc. 14.23)), a bandeja com cordeiro pascal (Mt. 26.23;
Mc. 14.20), o pão molhado e sua entrega aos convivas (Jo. 13.26,27,30), e as
ações de graças (Mt. 26.30; Mc. 14.26).
6.2 - PENTECOSTES
Esta
festa celebrava-se no 50º dia depois do 15 de Nisan; daí vem o seu nome. Era
uma festa de colheitas. Ofereciam-se no templo sacrifícios especiais. No
Evangelho não se faz menção dela. Por cair esta festa tão perto da Páscoa,
havia menos gente que nessa ocasião ia à
Jerusalém. Nesse próprio dia desceu o Espírito Santo sobre os Apóstolos. Um
grande número de Judeus e de prosélitos encontravam-se então na cidade. (At.
2.5-11).
6.3 - TABERNÁCULOS OU CABANAS
Esta
festa celebrava-se no dia 15 até o dia 21 do mês de Tiscri, isto é, no
princípio do nosso mês de outubro, quando todas as colheitas e a víndima[4]
estavam terminadas. Durava sete dias e em memória da vida dos Hebreus no
deserto viviam, durante esse tempo, sob tendas de folhagem, levantadas nos
tetos das casas ou nas praças. No templo imolavam-se numerosas vítimas,
faziam-se solenes libações de vinho e de água, acendiam-se à noite quatro
grandes candelabros no pátio das mulheres e os devotos entregavam-se à alegria.
O Salvador assistiu em Jerusalém a festa dos Tabernáculos (Jo. 7.2,10). Fez
alusão às solenidades do Templo, quando se apresentou a si mesmo como a fonte
da água viva (Jo. 7.37,38) e como a luz do mundo. Esta, como as duas
anteriores, eram as festas principais e que em conseqüência atraiam mais gente
à Jerusalém. Por isso, no mês que precedia cada uma dessas festas,
restauravam-se os caminhos, arranjavam-se os poços de água potável para
preservar os estrangeiros de todo o perigo, e caiavam-se os sepulcros para
torná-los bem visíveis, a fim de impedir os estrangeiros de os tocar; pois isso
constituía impureza legal.
6.4 - OUTRAS FESTAS
6.4.1 - A festa da Expiação
celebrava-se
no dia 10 do mês de Tishri, portanto 5 dias antes da festa dos Tabernáculos.
Nesse dia todos os Israelitas haviam de observar um jejum rigoroso. Depois de
demoradas cerimônias, o Sumo sacerdote oferecia sacrifícios, penetrava no Santo
dos Santos com o sangue dum touro imolado e fazia levar ao deserto o bode
expiatório. Esse era o único dia de penitência prescrito pela lei dos Judeus.
6.4.2 - A festa de Purim ou das Sortes
celebrava-se
nos dias 14 e 15 do mês de Adar, cerca de fim de fevereiro ou princípio de março e lembrava a libertação
dos Hebreus na Pérsia por Ester. Nesse dia lia-se na Bíblia a história dessa
libertação.
6.4.3 - A festa da dedicação do templo,
que
começava no dia 25 do mês de Kislew – cerca de 10 de dezembro – foi instituída
em memória da purificação do templo, profanado por Antíoco Epiphanes, no ano
168 a.C. A festa durava 8 dias, e ofereciam-se muitos sacrifícios (Jo.
10.22,23).
6.4.4 – As Neomênias –
Os
meses dos Judeus contavam-se conforme os novilúnios, e cada mês o povo
celebrava a lua nova, oferecendo diversos sacrifícios e entregando-se a
regozijos.
6.4.5 – A festa das Trombetas
Assim
chamava-se a festa da sétima Neomênia do ano. Era o dia santificado por
descanso sabático e por sacrifícios especiais. A festa anunciava-se ao som das
trombetas e era uma espécie de preparação ao dia da Expiação e à festa dos
Tabernáculos, que caíam 10 e 15 dias respectivamente mais tarde.
6.4.6 – O SÁBADO
O
sétimo dia da semana ou sábado era consagrado a um descanso absoluto. Era
proibido, nesse dia, fazer qualquer trabalho; até era preciso preparar na
véspera tudo o que nesse dia se necessitava. No tempo de Jesus e preceito do
descanso sabatino tomara um caráter arbitrário e exagerado. Entre as obras
proibidas contava-se extinguir ou acender o fogo, levar um objeto dum lugar
para outro, esfregar nas mãos espigas colhidas ao atravessar uma seara,
conforme uso aceito entre os Judeus (Mt. 12.1 e 2) e uma porção de outras obras. Até acusavam ao Salvador de
violar o sábado, quando fazia algum milagre (Mt. 12.9-13; Mc. 3.1-5; Lc.
6.6-10; 14.1-6; Jo. 5.1-16; 9.14-16). A essa censura replicava que os
sacerdotes também faziam o trabalho que era preciso para os sacrifícios do
sábado (Mt. 12.5 – Números 28 9 e 10) que ninguém se fazia escrúpulo de levar o
gado ao bebedouro (Lc. 13,15) nem hesitaria tirar do poço ou do fosso o animal
que aí tivesse caído (Mt. 12.11; Lc. 14.5). Num sábado era proibido também
andar mais de 2.000 côvados judaicos, isto é, cerca de um quilômetro, desde o lugar onde alguém
estava ao começar o sábado. Chamava-se tal distância a “jornada de um sábado” (At. 1.12). O rigor
com que os Judeus observavam o sábado era para os Romanos um motivo a mais para
excluí-los do serviço militar.
7 – ASPECTOS POLÍTICOS
A vinda
de Jesus ocorreu no ano 749 da era romana –“ João – disse-lhe o Mestre -
lembras-te do meu aparecimento na Terra? - Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749
da era romana, apesar da arbitrariedade de Frei Dionísio, que calculando no
século VI da era cristã, colocou erradamente o vosso natalício em 754.”
Humberto de Campos Item 15 – A Ordem do
Mestre, 20 de dezembro de 1934, página 89 do livro.
Interrompemos
por um instante a nossa narrativa, para fazermos um breve histórico político
daquela época, onde César Augusto era Imperador e Herodes “O grande” era rei da Judéia.
Pompeu,
por seus grandes êxitos no oriente, foi por algum tempo o homem mais poderoso
do mundo romano, mas logo foi forçado a se curvar diante de outro ambicioso
comandante romano, Júlio César, em Farsalo, na Grécia, em 48 a.C..
Completamente
vencido Pompeu fugiu para o Egito, onde foi assassinado por ordens do rei do
país.
Em
perseguição a Pompeu, que não sabia estar morto, Júlio César desembarcou em
Alexandria, no Egito. Um grande exército egípcio, ajudado por uma multidão de
cidadãos, caiu sobre ele, quando reforços chegaram em seu socorro. O
contingente mais eficaz foi o de três mil homens comandados por Antípatro, um
ativo Idumeu, salvando Júlio César do embaraço, senão da morte, acabando em um
grande bem para si mesmo com seu aparecimento oportuno.
Os
resultados do choque de César e Pompeu logo se fizeram sentir na Judéia.
Antípatro conseguiu induzir o agradecido César a reconhecer Hircano
oficialmente como Sumo Sacerdote hereditário e confirmá-lo como etnarca, ou
regente, da Judéia. Ao mesmo tempo Antípatro recebeu cidadania romana,
imunidade pessoal de impostos e o cargo de administrador da Judéia. Embora
Hircano continuasse nominalmente como chefe do pequeno país, quem exercia o
poder era Antípatro. Prova imediata deste fato, foi que em 47 a.C., nomeou seu
filho mais velho, Fasael, governador, ou tetrarca da Judéia, ao norte da
Palestina, enquanto o outro filho, Herodes, de vinte e cinco anos, se tornava
tetrarca da Galiléia, ao sul da Palestina, e quase imediatamente iniciava sua
marcha para a fama.
Antípatro
também induziu César a conceder aos judeus condições mais favoráveis do que as
gozadas por qualquer outra comunidade vassala. A pequena nação foi isentada de
tributo, retiraram-se as guarnições romanas e foi-lhe garantida a liberdade
religiosa. Também foi permitido aos judeus reconstruírem os muros de Jerusalém,
que foram arrasados por Pompeu, e Jope foi acrescentada à Judéia, a qual ganhou
assim um porto no Mediterrâneo.
A
Situação começava a mostrar mais promissora e Antípatro fazia o melhor que
podia para que os judeus estivessem contentes com sua posição razoavelmente
favorável como povo autônomo dentro do vasto império Romano. Mas a aristocracia
judia fazia o máximo para anular os seus esforços. Típico de sua estratégia foi
a tentativa de atacar o pai por intermédio do
filho Herodes.- O moço fizera um ótimo trabalho, livrando todo o norte
da Palestina dos bandos de salteadores, que havia muito, eram um flagelo na
região. Para isto, ele executou Ezequias, o chefe dos bandidos, e certo número
de seu bando de malfeitores. É que o poder de infligir a pena capital era
exclusivo do conselho eclesiástico e judicial judeu, o Sinédrio, o qual era
muito cioso de seus direitos e prerrogativas. E assim Herodes foi intimado a
comparecer perante essa aristocrática assembléia, que aproveitou a ocasião para
demiti-lo do cargo e bani-lo.
Herodes
ingressou no exército romano e se fez nomear governador militar da Síria
inferior. Nesse importante posto romano ele estava em condições de causar muito
mal aos seus antigos adversários e de reforçar enormemente a autoridade de seu
pai.
Em 15
de março de 44 a.C., César foi morto no Senado, por homens que temiam,
desnecessariamente, que ele quisesse acabar com a forma republicana de governo
e proclamar-se rei.
Marco
Antônio, um dos lugares-tenentes e dedicado amigo de César, estava decidido a
vingar seu antigo comandante, acabando com Cássio, um dos assassinos e novo
procônsul da Síria, e todos os outros conspiradores. Assim, ele e Otávio,
sobrinho e herdeiro do poderoso César, forçaram Cássio a dar-lhes batalha nas
planícies de Filipos, na Macedônia, onde, diante da derrota, Cássio se
suicidou. O mundo romano ficou assim à disposição destes dois impetuosos moços.
Na
Palestina, Antígono, filho mais jovem de Aristóbulo, guindou-se à posição de
Sumo Sacerdote e rei de Jerusalém, após aprisionar o seu tio Hircano, que teve
as orelhas cortadas, o que o desqualificava para o posto sacerdotal, e Fasael,
irmão de Herodes, que se suicidou quando foi preso.
Em 40
a.C., Herodes, então com trinta e dois anos, foi recebido em Roma com todos os
testemunhos de confiança e apoio, como filho do homem que havia ajudado César
no Egito. Otávio e Antônio prometeram-lhe auxílio, e por um decreto do Senado,
Herodes foi nomeado rei da Judéia.
O novo
Rei Herodes marchou sobre Jerusalém. Seus partidários eram poucos, para que ele
pudesse por cerco às sólidas fortificações da cidade. Herodes foi obrigado a
dar tempo ao tempo e esperar a ajuda dos romanos. Caio Sósio, nomeado legado da
Síria, foi incumbido da tarefa de providenciar para que Herodes, amigo de
Antônio, fosse imediatamente posto no trono. Então no Dia da Expiação, o dia
mais sagrado do ano, de 37 a.C., depois de cinco meses de resistência, cai
Jerusalém.
A
hostilidade de Cleópatra, rainha do Egito, para com Herodes concorreu para o
bem dele. Marco Antônio, que sempre defendeu Herodes, foi impedido por
Cleópatra, de aceitar seu apoio, quando do seu rompimento com Otávio, herdeiro
de César. Em resultado disto, Herodes não tomou parte ativa na batalha de
Áccio, em 2 de setembro de 31 a.C., que tornou Otávio – que alguns anos depois
se chamaria César Augusto – senhor absoluto do crescente império romano.
Depois
dos suicídios de Marco Antônio e Cleópatra, em Alexandria, em 30 a.C., Herodes
apressou-se a ir ao Egito dar os parabéns a Otávio, que havia confirmado seu
posto de rei da Judéia, quando do encontro dos dois em Rodes, e foi
generosamente recompensado por sua gentileza. Recebeu de presente a guarda
pessoal de Cleópatra, composta de oitocentos gálatas escolhidos e foi
restaurado grande parte do território que fora tirado de seus domínios.
Os filhos
de Herodes com Mariana, Alexandre e Aristóbulo, que tinham sido educados em
Roma, já eram homens, bem como o seu primogênito, Antípatro. Herodes não
parecia mostrar simpatia por ele, favorecendo Alexandre e Aristóbulo, que foram
tratados por algum tempo, como principais herdeiros. Isto fez nascer um
violento ciúme em Antípatro, que começou uma campanha junto ao pai contra os
irmãos. Com a ajuda de alguns partidários da corte, ele conseguiu de tal
maneira envenenar o espírito de seu pai, que os filhos, antes favoritos, foram
condenados à morte. Antípatro, então, foi nomeado seu sucessor, com outro
filho, chamado Herodes, em segundo lugar.
Antípatro,
foi jogado na prisão e executado, após tentar novas intrigas, agora contra
Salomé, irmã de seu pai e de dois outros meio-irmãos, Arquelau e Ântipas.
Herodes não sabia em quem confiar.
Durante algum tempo Ântipas ocupou o primeiro lugar no espírito do velho
rei, depois foi rebaixado em favor de seu irmão Arquelau.
O reino
de Herodes, em virtude do seu testamento, ratificado e modificado depois por
Augusto, foi dividido entre seus filhos, que ainda viviam. O título de rei, por
herança, devia passar para Arquelau, o filho de Maltace samaritana. A ele era
atribuído também o governo da Judéia ( com a Iduméia) e da Samaria. Augusto não
quis que Arquelau recebesse a dignidade real, mas somente a de etnarca. Herodes
Antipas, também filho de Maltace, com o título de tetrarca (soberano de uma
quarta parte do reino) recebeu o governo da Galiléia e da Peréia. Filipe, filho
de Cleópatra hierosolimitana, foi tetrarca da Batanéia, com a Auranítide, a
Traconítide e uma parte da Ituréia ( a região de Panion e do lago de Hule) e a
Gaulanítide. Um outro filho ( de uma certa Mariamne alexandrina) chamado
Herodes Filipe (que se tornaria marido legítimo de Herodíades: Mc 6,17) não
recebeu nenhum poder, mas passou a vida em Roma como cidadão privado. Por
determinação de Augusto, as cidades (com território) de Hipos, Gádara e Gaza
voltaram a ser livres. Assim as cidades de Hipo e Gádara em conjunto com as
outras cidades livres da Transjordânia: Filadelfia (Amã), Gérasa, Péla, Abila,
Dium, com Citópolis (Betsã) nas Cisjordânia, com Cânata e provavelmente Ráfana,
no território de Filipos, formaram uma região com estatuto especial chamada Decápole,
à qual se acrescentaram, pelo menos por um certo período, Adraá e Damasco. À
Salomé, irmã de Herodes, Augusto concedeu em dote pessoal os territórios de
Fasaélis, Jâmnia e Azoto, que após a morte dela, passaram para Lívia, esposa de
Augusto, e sucessivamente para Tibério, como propriedade pessoal do imperador.
Enquanto
Antipas e Filipe governaram os seus territórios durante todo o tempo da vida de
Jesus e mais além, Arquelau depois de dez anos de governo marcado por revoltas
e repressões cruéis, em 6 d.C., foi acusado de tirania junto de Augusto, que o
destituiu e o exilou em Viena nas Gálias. Seu território foi anexado à
província da Síria, mas governado de forma especial por um procurador, que
residia normalmente em Cesaréia (com título de praefectus Iudaeae). Durante a
vida pública de Jesus, o procurador era Pôncio Pilatos, que governou de 26 a 36
d.C.
8 – A PREPARAÇÃO DA VINDA DE JESUS FEITA PELO PLANO ESPIRITUAL
Segundo
Humberto de Campos[5], tudo estava preparado
para a vinda de Jesus. O século era de paz. O grande império do mundo, como que
influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de
harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas.
O hino
de uma paz duradoura começava em Roma para terminar na mais remota de suas
províncias, acompanhado de amplas manifestações de alegria por parte da plebe
anônima e sofredora.
A
cidade dos Césares se povoava de artistas, de espíritos nobres e realizadores.
Em todos os recantos, permanecia a sagrada emoção de segurança, enquanto o
organismo das leis se renovava, distribuindo os bens da educação e da justiça.
A alma
coletiva do Império nunca sentira tamanha impressão de estabilidade e de
alegria. A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de
inteligências. É nessa época que surgem Virgílio[6],
Horácio[7],
Ovídio[8],
Salústio[9],
Tito Lívio[10] e Mecenas[11],
como favoritos dos deuses.
Em
todos os lugares lavravam-se mármores soberbos, esplendiam jardins suntuosos,
erigiam-se palácios e santuários, protegia-se a inteligência, criavam-se leis
de harmonia e de justiça, num oceano de paz inigualável. Os carros de triunfo
esqueciam, por algum tempo, as palmas de sangue e o sorriso da deusa Vitória
não mais se abria para os movimentos de destruição e morticínio.
Acercavam-se
de Roma e do mundo não mais espíritos belicosos, como Alexandre[12]
ou Aníbal[13], porém outros que se
vestiriam dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos
eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam
a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais
dos seus passos divinos.
Ia
chegar a Terra o sublime Emissário. Sua lição de verdade e de luz ia
espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e confortadoras.
A Humanidade vivia, então, o século da Boa Nova. Era a “festa do noivado” a que
Jesus se referiu no seu ensinamento imorredouro.
Antes,
porém, de relatarmos o nascimento do Messias, cabe algumas observações sobre o
nascimento do Precursor, que veio abrir as veredas para o Mestre.
9 – 0 PRECURSOR
9.1 – ASPECTOS HISTÓRICO/RELIGIOSO DO POVO JUDEUS NA ÉPOCA DE JOÃO BATISTA E JESUS
Segundo
o Livro de Urantia[14],
documento 135, página 1500, para compreender a mensagem de João, dever-se-ia
ter em conta o status do povo judeu na época em que Ele surgiu no cenário da
ação. Por quase cem anos, toda Israel tinha estado diante de um impasse; e
todos se perdiam na tentativa de explicar a contínua subjugação a soberanos
gentios. E não tinha sido ensinado por Moisés que a retidão era sempre
recompensada com a prosperidade e o poder? Não era o povo escolhido de Deus?
Por que o trono de Davi estava vazio e abandonado? À luz das doutrinas mosaicas
e dos preceitos dos profetas, os judeus achavam difícil explicar a longa e
continuada desolação nacional.
Cerca
de cem anos antes de Jesus e João, uma nova escola de educadores religiosos
surgiu na Palestina, os apocalípticos. Esses novos educadores desenvolveram um
sistema de crença, segundo a qual, os sofrimentos e humilhação dos judeus
aconteciam por estarem eles arcando com as conseqüências dos pecados da nação.
Eles recaíam nas razões bem conhecidas, escolhidas para explicar o cativeiro da
Babilônia e de outras épocas ainda anteriores. Contudo, assim ensinavam os apocalípticos,
Israel deveria retomar a sua coragem; os dias de aflição estavam quase no fim;
a lição do povo escolhido de Deus estava para terminar; a paciência de Deus com
os gentios estrangeiros estava quase exaurida. O fim do domínio romano era
sinônimo de fim da idade e, em certo sentido, de fim do mundo. Esses novos
pregadores apoiavam-se fortemente nas predições de Daniel, e consistentemente
ensinavam que a criação estava para atingir o seu estágio final; os reinos
deste mundo estavam a ponto de tornarem-se o Reino de Deus. Para a mente
judaica daqueles dias, esse era o significado daquela frase – o Reino do céu –
que está nos ensinamentos tanto de Jesus quanto de João. Para os judeus da
Palestina, a frase “Reino do céu” não tinha senão um significado: um estado
absolutamente reto, no qual Deus (o Messias) governaria as nações da terra na
perfeição do poder, exatamente como Ele governava nos céus – “Seja feita a Sua
vontade, na terra como no céu”.
Nos
dias de João, os judeus perguntavam-se com muita expectativa: “quando, pois,
virá o Reino?” Havia um sentimento geral de que o fim do domínio das nações
gentias estava próximo. Havia, presente no mundo judeu, uma esperança viva e
uma intensa expectativa de que a consumação do desejo das idades ocorreria durante
o período de vida daquela geração.
Ainda
que os judeus divergissem muito nas suas afirmativas quanto à natureza do Reino
que estava para vir, eles concordavam, na sua crença, de que o evento era
iminente, palpável mesmo, já batendo à porta. Muitos que liam o Antigo
Testamento literalmente aguardavam, com expectativa, por um novo rei na
Palestina, por uma nação judaica regenerada, libertada de seus inimigos e
presidida pelo sucessor do rei Davi, que iria logo ser reconhecido como o
governante justo e reto de todo o mundo.
Outro
grupo de judeus devotos, se bem que menor, sustentava uma visão muito diferente
deste Reino de Deus. Ensinavam eles que o Reino que estava para vir não era
deste mundo, que o mundo aproximava-se do seu fim certo, e que “um novo céu e
uma nova terra” viriam para anunciar o estabelecimento do Reino de Deus; que
este Reino era um domínio perene, que o pecado estava para acabar, e que os
cidadãos do novo Reino iriam tornar-se imortais no seu gozo dessa bênção sem
fim.
Todos
concordavam que alguma purgação drástica ou alguma disciplina de purificação
fosse necessária para preceder o estabelecimento do novo Reino na terra. Pelo
que os Israelitas ensinavam aconteceria uma guerra mundial, a qual iria
destruir a todos aqueles que não acreditavam, enquanto os fiéis seriam levados
a uma vitória universal e eterna. Os espiritualistas ensinavam que o Reino
seria inaugurado por aquele grande julgamento de Deus, que iria relegar os
injustos à sua bem merecida punição de destruição final, ao mesmo tempo em que
elevaria os santos crentes do povo escolhido aos assentos elevados de honra e
autoridade, com o Filho do Homem, que governaria sobre as nações redimidas em
nome de Deus. E esse grupo acreditava até mesmo que muitos gentios devotos
poderiam ser admitidos na comunidade do novo Reino.
Alguns
dos judeus apegavam-se à opinião de que Deus poderia possivelmente estabelecer
esse novo Reino por intervenção direta e divina, mas a grande maioria
acreditava que ele iria interpor algum representante intermediário, o Messias.
Esse o único significado possível o que o termo Messias poderia ter nas mentes
dos judeus da geração de João e Jesus. Messias não poderia possivelmente
referir-se a alguém que meramente ensinasse a vontade Deus ou que proclamasse a
necessidade do viver reto. A todas essas pessoas sagradas os judeus davam o
título de profeta. O Messias devia ser mais do que um profeta; o Messias devia
trazer o estabelecimento do novo reinado, o Reino de Deus. Ninguém que falhasse
em fazer isso poderia ser o Messias, no sentido judaico tradicional.
Quem
poderia ser esse Messias? E novamente os educadores judeus diferiam. Os mais
velhos aferravam-se à doutrina do filho de Davi. Os mais jovens ensinavam que,
já que o novo Reino era um Reino celeste, o novo governante poderia também ser
uma personalidade divina, alguém que estivesse há muito à mão direita de Deus
nos céus. E por estranho que possa parecer, aqueles que concebiam assim o
governante do novo Reino, viam-no, não como um Messias humano, não como um mero
homem, mas como “o Filho do Homem” – um Filho de Deus – um príncipe celeste, há
muito esperado para assim assumir o governo feito novo, da Terra. Esse era o
pano de fundo religioso, do mundo judaico, quando João entrou em cena
proclamando: “Arrependei-vos, pois o Reino do céu está ao alcance das mãos!”
9.2 - PREDIÇÕES REFERENTES AO NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA
Partindo
do pressuposto de que o povo hebreu sabia e esperava o advento do Messias e que
Elias haveria de precedê-lo, e se o próprio Jesus esclareceu que João era Elias
reencarnado, é fácil compreender que da reencarnação até a desencarnação de
João Batista, a vida deste valoroso precursor foi marcada por acontecimentos de
grande importância para nós cristãos. O primeiro a ser destacado é o anúncio do
seu nascimento, feito por um Anjo do Senhor a Zacarias, durante o ato sagrado
da queima do incenso, no santuário, quando este exercia diante de Deus, o
sacerdócio na ordem de seu turno. Este costume era acompanhado por uma multidão
de pessoas que permanecia do lado de fora, orando. Durante este procedimento, o
Anjo apareceu-lhe, em pé, à direita do altar, e revelou-lhe que, em atendimento
às suas preces, a sua esposa Isabel, daria à luz uma criança a quem chamariam
João. Ele seria grande diante do Senhor; não beberia vinho nem bebida forte e
seria cheio do Espírito Santo, desde o ventre materno. Este espírito seria para
o casal motivo de prazer e alegria e de regozijo para muitos filhos de Israel,
que se converteriam ao Senhor Deus.Adiante dele irá no espírito e poder de
Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à
prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado. Diante da
divina revelação, Zacarias pondera sobre o advento, uma vez que ele já estava
avançado em idade e sua esposa estéril. O Anjo, então, mediante a incerteza de
Zacarias, quanto às suas palavras, ordenou a sua mudez até o dia em que todas
essas coisas se cumprissem.
Antes
de prosseguirmos com outros acontecimentos, julgamos oportuno salientar alguns
aspectos dessa passagem.
Inicialmente,
o aspecto a ser contemplado é o acontecido no santuário. O evangelista Lucas
relata em sua narrativa a presença do Anjo, em pé, à direita do altar. Nesta
assertiva, chamou-nos à atenção, o porquê do “em pé” e “à direita do altar”. A
referência ao “em pé”, o que não aconteceu quando do aviso do mesmo anjo à
Maria, mãe de Jesus, acreditamos ser a representação da regidez de caráter, da
solidez das atitudes frente aos desafios que iria enfrentar. Um Espírito que,
embora ainda estando preso a terra, iria falar das coisas do céu – dos nascidos
de mulher nenhum é maior do que João Batista, porém é o menor no Reino dos Céus
- aquele que vem preparar o caminho, tanto material , como espiritual para a
chegada do Messias.
O outro
detalhe à “direita do altar”. O altar, na concepção de muitos, é tido como um
lugar sagrado, onde, normalmente, encontram-se objetos que lembrem purificação
e pode ser lido que quem está dando a Boa Nova é um espírito que assiste à
direita do Pai, com todo conhecimento, sabedoria e autoridade para dar a
notícia, pois tem todos os atributos de um espírito puro.
“Não
beberia vinho nem bebida forte”. Para esta assertiva, podemos levantar duas
hipóteses: a primeira é que o Anjo não teria nenhum motivo para a proibição do
uso do vinho, uma vez que o próprio Jesus transformou água em vinho, nas Bodas
de Canã e em nenhuma passagem dos Evangelhos encontramos uma proibição
explícita do Mestre para o uso, sem excesso, dessa bebida, mesmo porque na
última ceia todos os discípulos tomaram vinho e comeram o pão repartido pelo
próprio Salvador.
Portanto,
para essa afirmativa, cabe uma outra leitura. Nós preferimos ler essa assertiva
como sendo um processo de depuração da alma, de desapego às coisas terrenas e
demonstrar a diferença evolutiva desse Espírito. Expliquemos: na época de Jesus
o vinho, principalmente, era complemento da alimentação do povo, pois o cultivo
da uva era comum naquela região – basta analisarmos as referências às videiras
feitas por Jesus em suas parábolas. Outro aspecto é que a água era o símbolo da
pureza para os judeus, tanto é que João batizava com água e Jesus também faz
referência a essa mesma água no diálogo com Nicodemos, na limpeza das mãos para
o alimento e para a Mulher samaritana. A água é alimento natural, já vem
pronto, enquanto que o vinho é fruto de transformação pelo trabalho. Da uva,
natural, faz-se o vinho. Sendo, porém, o vinho algo transformado pelo trabalho,
cabe, assim, lermos a assertiva de que somente os que não estão pronto são os
que precisam do trabalho de transformação, sendo que João Batista já estava
pronto, portanto, não haveria necessidade do processo de transformação, não
precisava beber vinho, como foi solicitado aos apóstolos durante a santa ceia,
bebendo o vinho da aliança, ou seja, daquele momento em diante, eles deveriam
transforma-se de pescadores de peixes para pescadores de alma, estariam isento
das coisas do mundo, estariam se preparando para as coisas do céu. A outra
hipótese, a mais comum entre os estudiosos do Precursor, é colocá-lo como
Nazireu, uma vez que seu pai Zacarias, sendo um sacerdote do templo tinha pleno
conhecimento de que o povo judeu encarava um nazarita vitalício como uma
personalidade santificada e sagrada e tinha por eles quase o mesmo respeito e a
veneração que a dedicada ao sumo sacerdote, pois eram os únicos, além dos altos
sacerdotes, a quem eram permitidos entrar no local santo de um templo. E para
que João ganhasse a fama de profeta como ganhou, era necessário que tivesse essa
identificação para o povo.
Para a
expressão “seria cheio do espírito santo, desde o ventre materno”, devemos
compreender que por espírito santo são designados os Espíritos superiores a
quem o Livro dos Espíritos os caracterizam como aqueles que “reúnem em si a
ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam se exala sempre a
benevolência; é uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes,
sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem
noções exatas sobre as coisas do mundo corpóreo, dentro dos limites do que é
permitido ao homem saber. Comunicam-se complacentemente com os que procuram de
boa fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas
para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosidade impele,
ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.”
Portanto
são aqueles que trazem as faculdades mediúnicas desenvolvidas e tem contato
quase que contínuo com as esferas superiores, a fim de receber orientações e
esclarecimentos na execução das atividades que deveriam desenvolver. Por isso,
para um espírito que tinha como missão a difícil tarefa de abrir as veredas
daqueles caminhos secos e tortuosos da Palestina e dos corações endurecidos
pelo egoísmo e vaidade daquele povo, deveria estar sempre sintonizado com os
espíritos puros, no intuito de manter-se equilibrado moral e intelectualmente
para a tarefa, como é o caso de João Batista.
A
profecia de que João seria “regozijo para muitos filhos de Israel que se
converteriam ao Senhor Deus. Adiante dele irá no espírito e poder de Elias,
para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência
dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado”, remete-nos
ordinariamente à profecia de Malaquias 3.22-24 “Lembrem-se da lei do meu servo
Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o
Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso
e terrível dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os
filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não
condenarei o país à destruição total.”
Obs.:
em algumas traduções bíblicas essa passagem é citada como Ml 4.4-6;
Esta
profecia ratifica o antes exposto de que o povo judeu tinha pleno conhecimento
do advento do Messias e de que Elias o antecederia. Se compararmos as duas
profecias, fatalmente concluiremos que as informações são as mesmas, o que
muda, portanto, é a variante lingüística com que as duas foram elaboradas.
Ambas falam do advento do precursor para abrir as veredas para o Messias.
Malaquias, em sua profecia, explicita claramente que esse precursor, que
abriria os caminhos para o Mestre, seria Elias. Na profecia do anjo Gabriel,
ele diz que adiante dele irá no espírito e poder de Elias. Para esta variante
cabem algumas considerações: a primeira é que João Batista não era Elias,
embora o espírito fosse o mesmo, pois o espírito encarnado como Elias estava em
um patamar evolutivo, já o espírito que anima João Batista, a centenas de anos
depois, já havia evoluindo, pois um espírito dessa envergadura nunca ficaria
estacionado. Isto é prova inequívoca da reencarnação “A alma passa, então, por
muitas existências corporais? – Sim, todos contamos muitas existências. Os que
dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se
encontram. Esse é o desejo deles. Parece resultar desse princípio que a alma,
depois de haver deixado o corpo, toma outro, ou então, que reencarna em um novo
corpo. É assim que se deve entender? – Evidentemente.” Estes desdobramentos da
pergunta 166 de “O Livro dos Espíritos” ratificam nosso ponto de vista.
9.3 – O NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA E O CÂNTICO DE ZACARIAS
Outro
aspecto que gostaríamos de salientar é o que se relaciona ao nascimento de João
Batista. Como já dito anteriormente, por ocasião da concepção do Precursor,
Zacarias ficara mudo. Todos os ligados àquele casal, com certeza tomaram
conhecimento do fato, estranhando o acontecido. Sucedeu que, no oitavo dia,
foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias.
Isabel, respondendo, disse que o nome do menino seria João. Todos admiraram e
questionaram o porquê dá-lo o nome de João, se não havia ninguém da família com
este nome. Resolveram, então, perguntar, por acenos, a Zacarias, que,
escrevendo em uma tabuinha confirmou o nome de João, cumprindo à profecia do
Anjo. Após este acontecimento, a boca de Zacarias se abriu e ele, cheio do
Espírito Santo, profetizou:
“Bendito
seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo; e nos
suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, como prometera,
desde antigüidade, por boca dos seus santos e profetas, para nos libertar dos
nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia
com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança, e do juramento que fez ao
nosso pai Abraão, de conceder-nos que, livres da mão de inimigos, o adorássemos
sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias. Tu,
menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor,
preparando-lhe os caminhos para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no
redimi-lo dos seus pecados; graças à entranhável misericórdia de nosso Deus,
pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem
nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.”
Aqui,
faremos, novamente, uma breve pausa para alguns apontamentos. Zacarias não era
profeta, embora tivesse conhecimento das profecias, portanto não podia ter
tanta certeza de que aquele menino seria o Precursor, mesmo porque, se assim o
fizesse, poderia colocar a perder a credibilidade a qual João deveria estar
investido para a sua pregação e se percebermos a profundidade da fala de
Zacarias, o alcance que elas deveriam atingir e a autoridade com elas foram
proferidas, denotam, claramente, que elas não podiam ter saída da boca de um
homem simples, embora sacerdote, mas que meses antes havia ficado em dúvida com
o aviso do Anjo. Por isso, o Evangelista chama-nos a atenção ao dizer que
Zacarias estava cheio do Espírito Santo, ou seja, possuído pelo Espírito Santo,
quando fez a profecia que acabamos de ler. Este fato só ratifica o entendimento
que temos sobre o Espírito Santo, que para nós, espírita, nada mais é do que a
faculdade denominada de Mediunidade – L.E. faculdade mediúnica, que a todos é
dada, por ocasião do nosso nascimento. Temos o canal de ligação entre os dois
planos da vida, o Espiritual e o material, ou seja, a faculdade que possibilita
o intercâmbio entre o encarnado e o desencarnado. O fato de Zacarias estar
cheio do Espírito Santo, acreditamos que ele entrou em sintonia com os
espíritos superiores, que normalmente estavam no local, por ocasião do advento,
e foi por isso que Zacarias teve sua boca aberta e fez soar por ela informações
a que ele não tinha conhecimento. Portanto, certamente Zacarias foi intuído
pelos Espíritos Superiores, ali presentes, com a finalidade de informar que
naquele momento várias profecias estariam sendo cumpridas, como a de Malaquias,
registradas em Ml 3.1: “Vou mandar o meu Mensageiro para preparar o meu
caminho. E, imediatamente, virá ao seu templo o Senhor o que vós buscais, o
anjo da aliança que desejais.” E que todos deveriam ver em João aquele que
viria abrir as veredas para a chegada do Messias, tão esperado pelos Judeus.
9.4 – JOÃO BATISTA E ELIAS
Outro
ponto que merece as nossas considerações é os relatados em II Reis 3 1 a 15:
Quando
estava o Senhor para tomar Elias ao céu por um redemoinho, Elias partiu de
Gilgal em companhia de Eliseu. Disse Elias a Eliseu: fica-te aqui, porque o
Senhor me enviou a Betel. Respondeu Eliseu: tão certo como vive o Senhor e vive
a tua alma, não te deixarei. E assim desceram a Betel. Então os discípulos dos
profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu, e lhe disseram:
Sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor, elevando-o por sobre a tua cabeça?
Respondeu ele: também eu o sei; calai-vos. Disse Elias a Eliseu: fica-te aqui,
porque o Senhor me enviou a Jericó. Porém ele disse: tão certo como vive o
Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim foram a Jericó. Então os
discípulos dos profetas que estavam em Jericó se chegaram a Eliseu, e lhe
disseram: sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor elevando-o por sobre tua
cabeça? Respondeu ele: também eu o sei; calai-vos. Disse-lhe, pois, Elias:
fica-te aqui, porque o Senhor me enviou ao Jordão. Mas ele disse: tão certo
como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim, ambos foram
juntos. Foram cinqüenta homens dos discípulos dos profetas, e pararam a certa
distância deles; eles ambos pararam junto ao Jordão. Então Elias tomou o seu
manto, enrolou-o, e feriu as águas, as quais se dividiram para as duas bandas:
e passaram ambos a seco. Havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: pede-me o
queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. Disse Eliseu: peço-te que
me toque por herança porção dobrada do te espírito. Tornou-lhe Elias: dura
coisa pediste. Todavia se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará,
porém se não me vires, não se fará. Indo eles andando e falando, eis que um
carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao
céu num redemoinho. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de
Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e tomando as suas vestes,
rasgou-as em duas partes. Então levantou o manto que Elias lhe deixara cair e,
voltando-se, pôs-se à borda do Jordão. Tomou o manto que Elias lhe deixara cair,
feriu as águas, e disse: onde está o Senhor Deus de Elias? Quando feriu as
águas elas se dividiram para uma e outra banda, e Eliseu passou.Vendo-o, pois,
os discípulos dos profetas que estavam, defronte, em Jericó, disseram: o
espírito de Elias repousa sobre Eliseu. Vieram-lhe ao encontro, e se prostraram
diante dele em terra.
Os
críticos contumazes do Espiritismo vêem nessa passagem uma poderosa aliada para
descaracterizar o processo reencarnacionista, pois, a partir dela, e através de
recursos falaciosos, tentam colocar em dúvida a reencarnação – um dos
princípios fundamentais da Doutrina Espírita – alegando que para que haja
reencarnação, antes, porém, faz-se necessário que haja o desencarne. Como
justificar, então, o fato de que João seria a reencarnação de Elias, já que
Elias não desencarnou e sim foi arrebatado vivo ao céu, em uma carruagem de
fogo?
Com
relação ao maravilhoso registrado nessas passagens do Antigo Testamento, nos
dando conta de que Elias subiu vivo ao céu, a razão concita-nos ao raciocínio e
a ciência chama-nos à razão, para a impossibilidade de um corpo humano
elevar-se às alturas, sem que para isso seja alçado por algum instrumento. Isto
tudo obriga-nos a deitar nossos olhos sobre estes versículos, procurando
extrair, sem paixões, as informações que subjazem a essas letras mortas,
revelando os tesouros que há muito tempo ficaram escondidos nas entrelinhas
dessas escrituras sagradas, comprovando que não há milagres, segundo as leis
divinas e naturais, e que a Doutrina Espírita, ha seu tempo, veio desvendar
para todos aqueles que debruçam seus olhares, sem preconceitos, sobre os seus
livros confortadores e esclarecedores de nossas almas sedentas de amor e
compreensão.
Se
detivermos em algumas informações contidas no diálogo de Elizeu e Elias,
depararemos com informações esclarecedoras para nós, que acreditamos na
imortalidade da alma e nos dons mediúnicos.
Observando
os relatos registrados em II Reis 2: 1 a 15, podemos detectar pontos
importantes a serem analisados: como introdução à análise, busquemos o narrador
dos fatos. Sabemos que o narrador da passagem não foi Eliseu, porque
informações nos dão conta de que os livros de Reis, - antes era apenas um
livro, quando escrito em hebraico, dividido em dois quando passou para versão grega,
teria sido escrito por um profeta da época de Jeremias e outras, ainda, que foi
o próprio profeta Jeremias quem o escreveu.
Esta
constatação leva-nos a um distanciamento necessário para uma análise mais
detida dessas informações. Inicialmente, acreditamos que algumas perguntas se
fazem necessárias. Como o narrador nos dá tantos detalhes de conversas tão
particulares? As informações contidas na narrativa são oriundas de
conhecimentos compartilhados e passadas de pessoas para pessoas, através da
oralidade ou são oriundas de entidades do plano espiritual, transmitidas pelo
contato mediúnico, já que o autor do relato era um profeta?
Julgamos
ser a segunda opção a mais adequada, por acreditarmos na imortalidade da alma e
no contato do mundo físico e mundo espiritual, através da mediunidade.
Vejamos
alguns pontos.
A
narrativa fala da jornada efetuada por Elias e Elizeu, partindo de Gilgal até o
Jordão. Vejamos alguns pontos dessa narrativa. Estando em Gilgal, Elias diz a
Elizeu “Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia a Betel.” Ao pedido Elizeu
responde: “Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei.” Já em Betel, sem
nenhum outro fato narrado do trajeto, os profetas abordam Elizeu perguntando “
Não sabes que Senhor arrebatará hoje o teu mestre, por sobre tua cabeça?”
Respondeu Elizeu, “Sim, eu sei, calai-vos! Novamente, Elias pede a Elizeu:
“Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia a Jericó.” Ao que novamente
Elizeu responde: “Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei.” Novamente
em Jericó, o fato se sucede. “Os filhos dos profetas que estavam em Jericó
aproximaram-se de Elizeu e perguntaram: não sabes que o Senhor arrebatará hoje
o teu mestre por sobre tua cabeça?” Eliseu responde a mesma coisa: “Sim, eu
sei, calai-vos!” Elias, pela terceira vez. suplica a Elizeu: “Fica aqui, te
peço, porque o Senhor me envia ao Jordãol.” Ao pedido Elizeu responde: “Pela
vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei.” Os dois se foram. Chegando ao
Jordão, escoltados a distância por cinqüenta filhos dos profetas, Elias,
enrolando seu manto, bateu-o nas águas que se abriram e os dois passaram a pé
enxuto.
O que
podemos deduzir, tendo a Doutrina Espírita como base, é a de que a presença de
Elias era em espírito, como aconteceu com Jesus no caminho de Emaús, conforme
narrativa de Marcos “E depois, manifestou-se noutra forma a dois deles, que iam
de caminho para o campo.” Por isso a advertência de Elizeu aos filhos dos
profetas, quando indagado se ele sabia que Elias seria arrebatado sobre sua
cabeça: “Sim, eu sei, calai-vos!” Dessa possibilidade de leitura compreendemos
quando Elias afirma a Elizeu que lhe pede “seja-me concedida uma porção dobrada
de teu espírito.” E Elias responde: “Pedes uma coisa difícil, replicou Elias.
Entretanto, se me vires quando eu for arrebatado de ti, isto te será dado.”
Porque, em primeiro lugar, virtude não se transfere, por isso, em seguida,
Elias acena para a possibilidade da faculdade da vidência, afirmando que se ele
conseguisse enxergar a elevação do seu espírito ao céu, poderia certamente
entrar em contato sempre com o mundo espiritual, de onde são emanados todas as
informações necessárias e ele estaria apto a transmiti-la aos seus discípulos
que o seguiria como um sucessor de Elias. E foi exatamente isso que aconteceu
quando, após a elevação de Elias, Elizeu de posse de sua capa bateu-a sobre as
águas do Jordão para que elas se abrissem, o que não aconteceu, mas quando
elevou seu pensamento a Deus e repetiu o gesto as águas se abriram e os filhos
dos profetas exclamaram que o espírito de Elias estava sobre Elizeu. Para
ilustrar nossa dedução recorramos, novamente, a Marcos quando Jesus, já
ressuscitado, disse aos seus apóstolos: “ide por todo o mundo, pregai o
evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não
crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome
expulsarão os demônios: falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se
beberem alguma mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os
enfermos, e os curarão. Ora o Senhor, depois de lhes ter falado, foi levado ao
céu, e assentou-se à direita de Deus.” Aqui também não foram transferidas as
virtudes de Jesus para os seus apóstolos, mas a eles foram dadas condições para
fazer todas aquelas coisas e muitas mais, mas tudo em nome de Jesus, que é o
Senhor e Mestre. Também aqui temos o arrebatamento de Jesus aos céus e com
certeza todos os apóstolos e discípulos viram, pois estavam cheios do Espírito
Santo, mas nos evangelhos não constam que outras pessoas viram o arrebatamento
de Jesus e nem o arrebatamento de Elias, o que corrobora com nossa visão de que
Elias estava em espírito, pois, se assim não fora, como explicar o porquê que
os filhos dos profetas não tenham visto este acontecimento tão esperado e tão
magnificamente espantoso, estando ali, tão próximo, na outra margem do Jordão,
bastando apenas levantar os olhos para o Céu.
10 - PREDITO O NASCIMENTO DE JESUS[15]
No
sexto mês[16] foi o anjo Gabriel[17]
enviado da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma
virgem[18]
desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem
chamava-se Maria. E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Alegra-te, muito
favorecida! O Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se
muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Mas o anjo lhe
disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que
conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será
grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de
Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado
não terá fim. Então disse Maria ao anjo: como será isto, pois não tenho relação
com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo e o
poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo
que há de nascer, será chamado Filho de Deus. E Isabel, tua parenta, igualmente
concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o Sexto mês para aquela que diziam
ser estéril. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas
promessas. Então disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim
conforme a Tua palavra. E o anjo se ausentou dela.
10.1 - A VIAGEM DE MARIA E JOSÉ- Lc. 2. 4-6
José
também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, a cidade de Davi,
chamada Belém, por ser ele da casa e Família de Davi, 5 a fim de alistar-se com
Maria, sua esposa, grávida. 6 Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os
dias.
Para
cumprir a lei, embora estivesse já no nono mês de gravidez, Maria teve de
refazer o percurso, desta vez um pouco mais longo, porque Belém está situada 9
km a sul de Jerusalém. Em sua companhia viajava José e provavelmente outras
pessoas que iam para Judéia pelo mesmo motivo.
10.2– A NEGAÇÃO DE HOSPEDAGEM A MARIA E JOSÉ
Os Animais Ante o Natal[19]
Entretecíamos
animada conversação, em torno dos abusos da mesa nas comemorações natalinas,
com o parecer do grave Jonathan ben Asser, que asseverava a conveniência de
ater-se o homem ao sacrifício dos animais apenas quanto ao estritamente
necessário, quando o velho Ebenezer ben Aquim, orientador de grupos hebraicos
do Mundo Espiritual, tomou a palavra e se exprimiu conciso:
-
Talvez não saibam vocês quanto devemos aos bichos na manifestação do
Evangelho...
E, ante
a nossa curiosidade, narrou, comovido:
- Há
muitos anos, ouvi do rabi Eliúde, que se encontra agora nas esferas superiores,
interessantes minudências em torno do nascimento de Jesus. Contou-nos esse
antigo mentor de israelitas desencarnados que a localização de José da Galiléia
e da companheira nos arredores de Belém de Judá não foi assim tão fácil.
O casal, que compunha da jovem Maria, tocada
de singular formosura, e do patriarca que a recebera por esposa, em madureza
provecta, entrou na cidade quando as ruas e hospedarias se mostravam repletas.
Os descendentes do ramo de David reuniam-se
aos magotes para atender ao recenseamento determinado pelo governo de Augusto.
Bronzeados cameleiros do deserto
confraternizavam com vinhateiros de Gaza, negociantes domiciliados em Jericó
entendiam-se com mercadores residentes no Egito.
Acompanhados por benemérita legião de
Espíritos sábios e magnânimos, a cuja frente se destacava o abnegado Gabriel,
que anunciara a Maria a vinda do Senhor, José e a consorte bateram
primeiramente às portas da estalagem de Abias, filho de Sadoc, que para logo os
rechaçou com a negativa: entretanto, pousando os olhos malevolentes na jovem
desposada, ensaiou graçola irreverente, o que fez que José, apreensivo,
estugasse o passo para diante.
Recorreram aos préstimos de Jorão, usurário
que alugava cômodos a forasteiros. O ricaço considerou, de imediato, a
impossibilidade de acolhê-los, mas ao examinar a beleza da moça nazarena,
chamou à parte o enrugado carpinteiro e indagou se a menina era filha de
escravos que se pudesse obter a preço amoedado... José, mais aflito, demandou a
frente para esbarrar na pensão de Jacob, filho de Josias, antigo estalajadeiro,
que declarou impraticável o alojamento dos viajantes; no entanto, ao fixar-se
na recém-chegada, perguntou
desabridamente como é que um varão, assim velho, tinha coragem de exibir
uma jovem daquela raridade na praça pública. Deprimido, o ancião diligenciou
alcançar pousada próxima; contudo, as invectivas de Jacob atraíram curiosos e
vadios que cercaram o par, crivando-o de injúrias.
Os recém-vindos de Nazaré, vendo-se alvo de
chufas e zombarias, tropeçavam humilhados...
Gabriel, no entanto, recorreu à prece,
rogando o Amparo Divino, e diversos emissários do Céu se manifestaram, em nome
de Deus, deliberando que a única segurança para o nascimento de Jesus se achava
no estábulo, pelo que conduziram José e Maria para a casa rústica dos carneiros
e dos bois...
Ebenezer, a seguir, comentou, bem humorado:
- Não
fossem os anfitriões da estrebaria e talvez a Boa Nova tivesse seu aparecimento
retardado...
E
terminou, inquirindo:
- Não
será isso o motivo para que os animais na Terra sejam poupados ao extermínio,
pelo menos no dia do Natal.
11 – O NASCIMENTO DE JESUS
Naqueles
dias foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do
império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando
Quirino era governador da Síria. Todos iam alistar-se, cada um à sua cidade.
23 - Lc
2. 1-3
11.1– A GRUTA E O NASCIMENTO[20]
“E ela
deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura porque
não havia lugar para eles na hospedaria.”
Pelas
circunstâncias apontadas por Lc 2,7, o nascimento de Jesus aconteceu num local
que servia de estábulo (grego phatne, lat. Praesepium, uma manjedoura). Uma
antiquíssima tradição aponta uma gruta, o que é de todo possível, haja vista
que as grutas serviam não só de estábulo, mas às vezes, também, de moradia.
12 – O ANO E O MÊS DO NASCIMENTO DE JESUS
Com
relação ao ano de nascimento de Jesus, Humberto de Campos traz a seguinte
afirmativa, registrada no Item 15 – A Ordem do Mestre “– João – disse-lhe o
Mestre - lembras-te do meu aparecimento na Terra? - Recordo-me, Senhor. Foi no
ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de Frei Dionísio, que
calculando no século VI da era cristã, colocou erradamente o vosso natalício em
754.”
Sanada
esta primeira dúvida, partamos para o mês do seu nascimento. Acreditamos que
não poderia ser em dezembro como nós cristãos comemoramos, porque, como diz
Lesetre, em seu “Guia através do Evangelho”, os únicos meses de chuvas abundantes
naquela região são os de dezembro e janeiro, e os evangelhos nos falam de uma
noite cheia de estrelas. Portanto, os meses de dezembro e janeiro, em nosso
ponto de vista, estão descartados. Com relação ao mês de fevereiro, achamos
pouco provável que o governador da Síria, conhecendo tão bem o clima da região,
estabeleceria um recenseamento logo a seguir a um período chuvoso.Com relação
aos meses de março e abril (Nisan), meses sagrados para o povo judeu, pois é
neste período que eles comemoram sua festa mais importante, a Páscoa, que
lembra a libertação do povo Hebreu do Egito, por Moisés, e a data em que todo
judeu, tem por obrigação dirigir-se a Jerusalém para festejar com seus irmãos,
excetuando, claro, aqueles impedidos por motivos de força maior. A festa
comemora também o início das colheitas. Diante desses fatos, acreditamos ser
muito difícil para os Judeus fazerem duas viagens num período curto de tempo,
pois acreditamos que se o recenseamento fosse feito no período da Páscoa,
certamente algum evangelista o faria constar em suas narrativas, como constaram
em outras passagens de Jesus. Se o recenseamento ocorreu um pouco antes ou um
pouco depois, antes de iniciar as colheitas, julgamos pouco provável que o
governador os obrigasse a sair de suas terras duas vezes em período muito
curto, um por compromisso religioso e outro por obrigação política. Nos meses
subseqüentes maio, junho, julho e agosto eram os meses em que todo povo estava
em trabalho contínuo da colheita e se eles tivessem de se ausentarem por um
tempo relativamente longo, pois mesmo levando em consideração a pouca extensão
territorial da Palestina, as viagens eram demoradas, além do tempo gasto para
se recensearem, devido ao acúmulo de pessoa. Essa parada na colheita causaria,
certamente, um prejuízo para todos. O fim da colheita era comemorado com a
festa dos tabernáculos ou das cabanas. Sendo assim, julgamos que o nascimento
de Jesus tenha ocorrido ou no mês de setembro ou outubro, sendo que novembro
seria um mês que antecede as chuvas abundantes .
12.1 – O AVISO DO NASCIMENTO AOS PASTORES[21]
Havia
naquela mesma região pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho
durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu onde eles estavam e a
glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O
anjo, porém, lhes disse: Não temais: eis aqui vos trago boa nova de grande
alegria, e que será para todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi,
o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis
uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E subitamente apareceu
com o anjo uma multidão da milícia celestial louvando a Deus e dizendo: Glória
a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer
bem. E ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos
outros: vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a
conhecer.
12.2 – A VISITA DOS PASTORES A JESUS[22]
Foram
apressadamente e acharam Maria e José, e a criança deitada na manjedoura. E,
vendo, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os
que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos pastores. Maria, porém,
guardava todas estas palavras, meditando-as no coração. Voltaram então os
pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto,
como lhes fora anunciado.
12.3– A ESTRELA DE DAVI[23]
Seja
qual for a hipótese respeitável sobre a estrela de Belém, a união dos Espíritos
de Luz que mantinham o intercâmbio entre as duas Esferas formou um facho
poderoso que indicava o lugar da tradição, em que Ele deveria começar o
ministério entre os homens. Pastores e reis magos, todos videntes, convidados
pelas Entidades Celestes, seguiram-na, cada um a seu turno, enquanto os
cantores sublimes, proclamavam: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre
os homens de boa vontade!”
12.4 - A ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS – Mt 2.1-12
1 Tendo
Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns
magos do Oriente a Jerusalém. 2 E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei
dos Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para adorá-lo. 3
Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes e, como ele, toda Jerusalém. 4
Então convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava
deles onde o Cristo deveria nascer. 5 Em Belém da Judéia, respondiam eles,
porque assim está escrito por intermédio do profeta: 6 “E tu Belém, terra de Judá, não és de modo
algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de
apascentar a meu povo, Israel.” 7 Com isto, Herodes, tendo chamado secretamente
os magos, inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela
aparecera. 8 E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide informar-vos
cuidadosamente a respeito do menino; e, quando tiverdes encontrado, avisai-me,
para eu também ir adorá-lo”. 9 Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a
estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde
estava o menino. 10 E vendo eles a estrela, alegraram-se com intenso júbilo. 11
Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram;
e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e
mirra. 12 Sendo por divina advertência prevenidos em sonho para que não
voltassem a presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra.
"O
Messias havia de nascer em Belém" - (Profeta Miquéias[24]
5.2): "E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de
milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens
são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Esta profecia se
cumpriu em Mateus 2.1-6; " E tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em
dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E
Perguntavam: onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos a sua
estrela no Oriente, e viemos para adorá-lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei
Herodes e, com ele, toda Jerusalém; então convocando todos os principais
sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer.
"Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por
intermédio do Profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor
entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a
meu povo, Israel" –
O fato
que induz Mateus a chamar estes personagens estrangeiros de Magos (isto é,
simples adivinhos) sem insinuar de modo algum que fossem reis, é um argumento
para acreditar que o evangelista tencionava referir um fato histórico e não
simplesmente uma espécie de parábola. Na verdade, percebe-se claramente como
nas entrelinhas há uma contínua alusão aos fatos do Antigo Testamento, onde
reis estrangeiros levavam seus presentes ao rei messiânico ( 1Rs 10: a rainha
de Sabá; Sl 72[71], 10,15: os reis da Arábia e de Sabá; cf. Também Is 60,6). O
paralelo teria sido mais completo se Mt. pudesse dizer que os magos eram reis.
Mas não podia afirmar isso, precisamente porque não estava querendo criar uma
parábola, mas referir um fato. O lugar de proveniência dos Magos ficou
indeterminado: do Oriente. O nome magos
faz logo pensar na casta sacerdotal persa, que professava a doutrina de
Zoroastro[25]. Todavia, na época
helenista, esse nome tomou um sentido mais genérico para indicar os astrólogos
e os adivinhos, numerosos na Babilônia e em outras regiões do Oriente. A
natureza dos presentes leva a pensar na Arábia, mas a região dos Magos teria
sido apontada como situada no sul ( Mt. 12.42: a rainha do Sul); nem podemos
pensar nos nabateus, pois seu país estava muito próximo para justificar as
expressões usadas pela narração evangélica e o detalhe dos “dois anos”
calculados por Herodes, mesmo admitindo que quisesse ter uma ampla margem de
certeza, a fim de estabelecer a idade do recém-nascido. Se tivessem vindo da
Pérsia ou mesmo da Babilônia, seu itinerário devia passar pela Mesopotâmia do
norte, haja vista a imensa extensão do deserto siro-arábico, alcançando a
Judéia pelo norte.
12.5– A CIRCUNCISÃO DE JESUS Lc 2. 21- ver item 3.7
21
Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram-lhe o nome de
Jesus, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido.
12.6 - A APRESENTAÇÃO DE JESUS AO TEMPLO–Lc 2. 22-24
22
Passados os dias da purificação deles segundo a lei de Moisés, levaram-no à
Jerusalém para o apresentarem ao Senhor. 23 Conforme o que está escrito na lei
do Senhor: todo primogênito ao Senhor será consagrado; 24 e para oferecer um
sacrifício, segundo o que está escrito na referida lei: um par de rolas ou dois
pombinhos.
Passados
40 dias desde o nascimento de Jesus, a Sagrada Família foi para Jerusalém, a
fim de cumprirem dois deveres distintos no Templo: o resgate do primogênito (
com 5 ciclos de prata Ex 13,2) Nm 18, 15-16) e a purificação da mãe mediante os
sacrifícios ( de holocausto e expiação) de dois pombinhos ou um par de rolas (
Lv 12,2-8). Nesta circunstância aconteceram os fatos narrados por Lc. 2,22-38).
Depois disso a Sagrada Família retornou a Belém, onde pensava permanecer pelo
menos até quando o menino tivesse crescido um pouco mais.
12.6.1 - SIMEÃO E O MENINO Lc 2. 25-35[26]
25
Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que
esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. 26
Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo
do Senhor. 27 Movido pelo Espírito foi ao templo; e, quando os pais trouxeram o
menino Jesus para fazerem com ele o que a lei ordenava, 28 Simeão o tomou nos
braços e louvou a Deus, dizendo: 29 agora, Senhor, despedes em paz o teu servo,
segundo a tua palavra; 30 porque os meus olhos já viram a tua salvação, 31 a
qual preparaste diante de todos os povos: 32 luz para revelação aos gentios, e
para a glória do teu povo de Israel. 33 E estavam o pai e a mãe do menino
admirados do que dele se dizia. 34 Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do
menino: Eis que este menino está destinado tanto para a ruína como para
levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição 35 (também uma
espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos
de muitos corações,
Dizem
que Simeão, homem justo e temente a Deus, mencionado no Evangelho de Lucas, após saudar Jesus criança, no
templo de Jerusalém, conservou o nos braços acolhedores de velho, a distância
de José e Maria, dirigiu-lhe a palavra, com discreta emoção:
Celeste
menino- perguntou o patriarca -, por que preferiste a palha humilde da
Manjedoura? Já que vens representar os interesses do Eterno Senhor da terra,
como não vestiste a púrpura imperial? Como não nasceste ao lado de Augusto, o
divino, para defender o flagelado povo de Israel? Longe dos senhores romanos,
como advogarás a causa dos humildes e dos justos? Por que não vieste ao pé
daqueles que vestem a toga dos magistrados? Então, poderias ombrear com os
patrícios ilustres, movimentar-te-ias entre legionários e tribunos, gladiadores
e pretorianos, atendendo-nos à libertação... Por que não chegaste, como Moisés,
valendo-se do prestígio da casa do faraó? Quem te preparará, Embaixador Eterno,
para o ministério santo? Que será de ti, sem lugar no Sinédrio? Samuel
mobilizou a força contra os filisteus, preservando-nos a superioridade; Saul
guerreou até à morte, por manter-nos a dominação; David estimava o fausto do
poder; Salomão, prestigiado por casamento de significação política, viveu para
administrar os bens enormes que lhe cabiam no mundo... Mas tu? Não te ligaste
aos príncipes, nem aos juízes, nem aos sacerdotes... Não encontrarias outro
lugar além do estábulo singelo?!...
Jesus
menino escutou-o, mostrou-lhe sublime sorriso, mas o ancião, tomado de angústia,
contemplou-o, mais detidamente, e continuou:
- Onde
representarás os interesses do Supremo Senhor? Sentar-te-ás entre os poderosos?
Escreverás
novos livros de sabedoria? Improvisarás discursos que obscureçam os grandes
oradores de Atenas e Roma? Amontoarás dinheiro suficiente para redimir os que
sofrem? Erguerás novo templo de pedra, onde o rico e o pobre aprendam a ser
filhos de Deus? Ordenarás a execução da lei, decretando medidas que obriguem a
transformação imediata de Israel?
Depois
de longo intervalo, indagou em lágrimas:
- Dize-
me, ó Divina criança, onde representarás os interesses do nosso Supremo pai?
O
menino tenro ergueu, então, a pequenina destra e bateu, muitas vezes, naquele
peito envelhecido que se inclinava já para o sepulcro...
Nesse
instante, aproximou-se Maria e o recolheu nos braços maternos. Somente após a
morte do corpo, Simeão veio a saber que o Menino Celeste não o deixara sem
resposta.
O
infante Sublime, no gesto silencioso, quisera dizer que não vinha representar
os interesses do Céu nas organizações respeitáveis, mas efêmeras da terra.
Vinha da casa do pai justamente para representá-lo no coração dos homens 28.
12.6.2– A PROFETISA ANA - Lc 2. 36-38
36
Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada
em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara, 37 e que era
viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e
dia em jejuns e orações. 38 E, chegando naquela hora, dava graças a Deus, e
falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
12.6.2.1 - CÂNTICO DE ANA - 1 Samuel 2. 1-10.
Meu
coração se exultou no Senhor, a minha força foi exaltada no meu Deus; a minha
boca dilatou-se para responder aos meus inimigos, porque me alegrei na salvação
que recebi de ti. Não há quem seja santo como o Senhor, nosso Deus. Não
queirais multiplicar palavras altivas, vangloriando-vos; afaste-se da vossa
boca a antiga linguagem, porque o Senhor é o Deus das ciências e os seus
desígnios são retos. O arco dos fortes quebrou-se, e os fracos foram revestidos
de força. Os que antes estavam cheios de bens assalariaram-se para terem pão; e
os famintos foram saciados; até a estéril teve muitos filhos; e a que tinha
muitos perdeu a força. O Senhor é que
tira a vida e a dá, leva à habitação dos mortos e a tira dela. O Senhor é quem
empobrece e enriquece, quem humilha e exalta. Levanta o pobre do pó e do
esterco eleva o indigente, para que se sente com os príncipes, e ocupa um trono
de glória. Porque do senhor são os pólos da terra e sobre eles pôs o mundo. Ele
guardará os pés dos seus santos e os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o
homem não será forte na sua robustez. Tremerão diante do Senhor os seus
inimigos, e ele trovejará sobre eles dos céus; o Senhor julgará as extremidades
da terra, dará o império ao seu rei e exaltará a glória do seu ungido.
13– A FUGA PARA O EGITO[27]
Tendo
eles partido, eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho, e diz:
Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e permanece lá até que
eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. Dispondo-se
ele, tomou de noite[28]
o menino e sua mãe, e partiu para o Egito; e lá ficou[29]
até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por
intermédio do profeta: “Do Egito chamei o meu filho.”[30]
14 – A MATANÇA DOS INOCENTES[31]
Vendo-se
iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente, e mandou matar todos os
meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo,
conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos. Então, se cumpriu
o que fora dito, por intermédio do profeta Jeremias: “Ouviu-se um clamor em
Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e
inconsolável porque não mais existem.” [32]
15 – O RETORNO DO EGITO[33]
Tendo
Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho, a José no Egito,
e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel;
porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele,
tomou o menino e sua mãe, e regressou para a terra de Israel. Tendo, porém,
ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir
para lá: e, por divina advertência, prevenido em sonho, retirou-se para as
regiões da Galiléia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se
cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: “Ele será chamado
Nazareno.”[34]
Estes
versículos levam-nos a algumas reflexões. A primeira é com relação às
advertências Divinas feitas a José.
José,
inicialmente, recebeu a advertência do Anjo para que tomasse o menino e sua mãe
e rumasse para as terras do Egito. Assim, o fez. Após a morte de Herodes, novas
advertências Divinas foram feitas a José: a primeira, informando-lhe da morte
de Herodes e que eles podiam retornar às terras de Israel. A segunda, em
decorrência dos últimos acontecimentos em Jerusalém e a possível preocupação de
José, em proteger Jesus de novos incidentes, foi que tomasse o Menino e Maria e
fosse para Galiléia.
O que
gostaríamos de salientar é a importância destes fatos na vida de Jesus e de sua
família terrena, Maria e José.
Claro
está para nós que aqueles fatos podem ter influenciado José em sua tomada de decisão,
mas a advertência Divina teve papel fundamental na decisão dele; por
obediência, conhecimento e merecimento do casal. Tudo isto demonstra a
constante influência da espiritualidade superior em nossas vidas e concita-nos
a termos bons propósitos, semelhantes aos de Maria e José, para mantermos uma
estreita sintonia com os mentores espirituais do Mundo Maior, no intuito de
melhor avaliar nossas atitudes perante as advertências que recebemos em nosso
dia-a-dia e o procedimento que deveremos tomar a partir delas, pois quando
Jesus nos disse que não nos deixaria órfãos, é sinal de que Ele está conosco em
todos os instantes de nossas vidas da menor às maiores decisões que deveremos
tomar.
A
segunda reflexão é sobre a permanência de Jesus no Egito. Baseando-se na
hipótese de Jesus ter nascido entre os meses de setembro e outubro (Item 12.4),
podemos fazer algumas inferências sobre o período em que Ele permaneceu no
Egito.
Se
aceitamos a hipótese de Jesus ter nascido no ano 749 da fundação de Roma e que
oss prováveis meses são setembro ou outubro e que Herodes, o grande, morreu em
750 do mês de Nisan, março/abril, porque Arquelau, seu filho e sucessor, após a
sua morte e antes de ser outorgado rei por césar, ordenou a matança no Templo
durante a Páscoa judaica e como nos relata o evangelista Mateus que José foi
avisado no Egito que Herodes tinha morrido e que podia tomar o menino e sua mãe
e retornar, indagamos: se o aviso ocorreu imediatamente após a morte de
Herodes, o retorno pode ter acontecido no próprio mês de Nisan e Jesus teria
entre 6 a 8 meses que é o que julgamos mais provável, pois o evangelista nos
lembra que José ficou sabendo que Arquelau reinava em lugar de seu pai Herodes,
e temendo o retorno à Judéia, dirigiu-se a Nazaré.
A
partir dessas informações presumimos que é bem provável que no retorno de
Jesus, Maria e José, eles tenham encontrado com viajantes que voltavam da festa
em Jerusalém e foram informados que Arquelau tinha herdado, por testamento, o
reinado de seu pai e que ele, depois que celebrou, “(...) segundo o costume do
país, o luto de seu pai, deu um banquete ao povo e subiu ao templo. Clamava
viva o rei, por toda parte por onde ele passava e depois que ele se sentou
sobre o trono de ouro, os clamores aumentaram, com votos pela prosperidade do
seu reinado. E a todos recebeu com muita bondade e testemunhou-lhes sua
gratidão, por nada ter diminuído de seu afeto por ele, com a recordação da
severidade com que seu pai os havia tratado; afirmou-lhes que lhes daria provas
do seu reconhecimento, disse-lhes que não tomaria ainda o nome de rei, até que
Augusto tivesse confirmado o testamento de seu pai e que ele tinha recusado, por
essa mesma razão, receber o diadema de todo o exército lhe havia oferecido em
Jericó. Mas logo que o tivesse recebido de Augusto, que somente tinha o poder
de dar-lho, ele mostraria por suas ações, que tinham razão de amá-lo e
esforçar-se-ia por torná-los mais felizes do que haviam sido durante o reinado
de seu pai”. Mas que em seguida ordenou, contrariando tudo que havia prometido
dias antes, uma grande matança de judeus durante as festividades da Páscoa.
Este fato, com certeza, trouxe às cabeças de José e Maria a amarga lembrança de
um outro semelhante, ocorrido meses antes - a matança dos inocentes ordenada
por Herodes, seu pai - obrigando-os a irem às escondidas refugiar-se no Egito.
A
partir desses acontecimentos, acreditamos que José, temendo novas matanças,
tenha preferido uma cidade mais tranqüila e rumou-se para Nazaré, na Galiléia,
para que Jesus pudesse crescer em paz.
Uma
outra hipótese que também pode ser levantada é que o retorno de Jesus, Maria e
José tenha ocorrido após a volta de Arquelau, de Roma, o que deve ter
acontecido bem depois da festa de Petencostes, pois segunda anotações de Flávio
Josefo em suas "Antigüidades Judaicas" as revoltas que se sucederam
na Judéia, tendo como protagonistas Sabino, intendente de Augusto na Síria,
ocorrendo nas proximidades da festa dos Petencostes e durando um tempo
relativamente longo, quando Arquelau estava ainda em Roma, com finalidade de
validar o testamento de seu pai. Sendo assim, Jesus já estaria com 2 anos,
aproximadamente. Esta hipótese não nos é muito provável, pois com a decisão de
César em manter o testamento de Herodes, tendo como única mudança a nomeação de
Arquelau como Etnarca e não como rei e Herodes Agripa como Tetrarca da Galéia,
não fazia muita diferença em ficar na Judéia ou na Galiléia, a não ser que
todos soubessem de antemão que Herodes tivesse uma administração menos violenta
do que o irmão Arquelau.
Com
relação ao versículo 23 do capítulo 2 de Mateus quando ele relata “E foi
habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por
intermédio do profeta: Ele será chamado Nazareno”, pesquisas dão contas de não
haver referências da existência de nenhuma cidade ou vilarejo na Palestina por
nome de Nazaré registrada no Velho Testamento, Talmude, Crônicas ou em documentos
históricos de Israel e que a referência de Nazaré como cidade só apareceu
efetivamente no século IV, quando a religião do Cristo já se destacava dentre
as demais. Diante disso, julgamos pertinente a análise feita pelo Rev. A. R.
Bucklando, M. A ., Arcediago de Norfolk, no seu Dicionário Bíblico Universal
quando afirma que a palavra hebraica, vertida para nazareno, é “netser”, que
significa “renovo” e é idêntica à palavra usada em Is. 11.1 “do tronco de Jessé
sairá um rebento, e das suas raízes um renovo”.
Desta
maneira, todas as vezes que chamaram a Jesus “o Nazareno”, estavam
pronunciando, com conhecimento ou sem o saber, um dos nomes do anunciado
Messias. Todos os habitantes da Galiléia, onde se achava situada a cidade de
Nazaré, eram olhados com desprezo pelo povo da Judéia por causa da
singularidade das suas maneiras e de suas falas, talvez, por isso, o termo
nazareno, freqüentemente aplicado a Jesus, em certas ocasiões tenha sido
pronunciado com desdém, mais que depois foi adotado e glorificado por seus
discípulos. Portanto, o opróbrio de Nazaré, a que se refere um homem, que era
Galileu (Jo. 1.46), pode ter-se originado na má reputação pela falta de
religiosidade e pelo relaxamento de costumes e este epíteto de Nazareno tenha
sido aplicado com desprezo aos seguidores de Jesus em At. 24.5. O nome nazareno
ainda existe em árabe, como uma simples designação dos cristãos.
Antes
de prosseguirmos, porém, julgamos importante chamar a atenção para que não se
confunda nazireu com nazareno. Nazireu era aquela pessoa, de um ou outro sexo,
que na lei de Moisés se obrigava por votos a abster-se de vinho e de todas as
bebidas alcoólicas, a deixar crescer o cabelo, e não entrar em qualquer casa em
que houvesse gente morta, e a não assistir funeral. Se, acidentalmente, alguém
morresse na presença de um nazireu, recomeçava este a sua consagração de
nazireado. Geralmente, o voto era por certo período de tempo, mas algumas vezes
por toda a vida.
A
consagração de um nazireu era uma disposição, que notavelmente se assemelhava à
do sumo sacerdote (Lv 21.10 a 12). O voto nazireu era feito com o fim de
cultivar a soberania da vontade e vencer as baixas inclinações da natureza
humana, tendo isso a significação de um sacrifício a Deus.
16 - A TORA: A BASE DA INSTRUÇÃO JUDAICA
São
também relevantes para nosso estudo, relatos sobre a instrução dos judeus na
época de Jesus. Acreditamos que estas informações muito nos ajudarão na
pesquisa que ora empreenderemos, na tentativa de conhecermos ou até inferirmos
sobre este período que ficou desconhecido da vida de Jesus, de 1 a 30 anos, a
não ser a sua apresentação ao Templo de Jerusalém (Lc. 2 41 a 52) quando Ele
reaparece em cena, junto aos doutores da Lei. Para isso, tomamos com base o
estudo do Professor de exegese antigotestamentária na Faculdade Teológica dos
Carmelitas de Roma e Professor de língua hebraica no Pontifício Instituto
bíblico de Roma Fabrizio Foresti. Vejamos o que ele diz.
A Tora,
ou lei Divina escrita (correspondente aos primeiros cinco livros da Bíblia,
chamados Pentateuco, e que são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio), constitui o valor central do judaísmo, como este se reorganizou
após o trauma do exílio na Babilônia (587-538 a.C.).
Segundo
o relato bíblico e a tradição sucessiva, os cinco livros da Tora foram
entregues por Deus a Moisés, no monte Sinai, ainda antes de o povo entrar na
terra prometida. Mas logo Israel esqueceu-se ou descuidou-se das “instruções
Divinas” (esta é a melhor tradução para a palavra hebraica Torah) e por fim,
Deus acabou abandonando-o na mão dos inimigos. Depois do exílio, o escriba
Esdras conseguiu reorganizar o povo, já de volta à antiga terra dos pais, sobre
o fundamento teocrático da Lei dada a Moisés. A Tora tornou-se, assim, o eixo
central da vida religiosa, civil e cultural do povo.
A
instrução sistemática e gradual teve importantíssima tarefa de imprimir esse
valor absoluto na alma de cada judeu. Todo o ciclo instrutivo, quando se
organizou segundo um plano fixado, estava centrado nesse único tema: a Tora em
sua literalidade antes de tudo, depois as tradições orais que interpretavam ou
completavam a Tora escrita, e por fim alguns livros bíblicos, considerados mais
como moldura decorativa da Tora do que como escritos de valor autônomo.
16.1 - A DIMENSÃO ESSENCIAL DO HOMEM JUDAICO
É
principalmente no estudo da Lei que o homem judaico se realiza como pessoa. Tal
estudo é, em primeiro lugar, a execução de uma ordem (conforme o trecho do
Shemá, correspondente ao Deuteronômio 6,6-7). Enquanto prescrito por Deus, o estudo
da Tora constitui um fim em si mesmo, e é já em si um ato de culto, que coloca
o crente em comunicação com Deus. Além de culto, o estudo da Tora é cultura e
trabalho. Enquanto culto, é a forma basilar da experiência judaica de Deus;
enquanto cultura, fornece o objeto amplo – e, ao mesmo tempo, único – dos
conhecimentos da pessoa; enquanto trabalho, é a principal atividade em que o
israelita deve empregar seu esforço e consumir sua energia.
O judeu
praticamente realizava de vários modos essa forma essencial de sua existência:
como criança, mediante um amplo ciclo de formação escolástica; como adulto,
mediante o culto na sinagoga ou em encontros de grupo.
16.2 - A INSTITUIÇÃO DE ESCOLAS ELEMENTARES
O dever
de instruir os meninos na Tora cabia, antes de mais nada, ao pai de família.
Contudo, as comunidades judaicas logo perceberam a necessidade de dar aos
garotos uma educação sistemática e em tempo integral, e não largada ao acaso
das diversas situações familiares.
Segundo
uma passagem do Talmud-Yerushalmi (Ketubot 32c), foi Simeão bem Seta, chefe do
sinédrio nos anos 103-76 a. C., quem ordenou: “Que os meninos freqüentem a
escola” (bêt hassefer, literalmente “casa do livro”, ou seja, da Bíblia). Já o
Talmud Babli (Baba batra 21 a) conservou uma tradição mais particularizada e um
pouco diferente: num primeiro momento, a escola para meninos foi instituída em
Jerusalém; depois, estendeu-se aos centros das prefeituras, sendo reservada,
porém, somente aos rapazes de dezesseis ou dezessete anos; por fim, Josué ben
Gamla ordenou que em cada distrito e em todo o vilarejo houvesse professores
para meninos e que estes últimos começassem a freqüentar a escola a partir dos
seis anos de idade.
Que
relação existe entre essas duas tradições? É difícil decidir, principalmente
porque não é certa a identificação de Josué ben Gamla. Não obstante, tendo
todas as informações em nosso poder, parece certo que a instituição das escolas
elementares na área judaica remonta ao século 1 a. C.
16.3 - O CURRÍCULO DA INSTRUÇÃO DE BASE
A
formação escolar básica articulava-se em dois ciclos: um qüinqüênio de estudo
da Tora e dos outros livros bíblicos, e, depois, por um biênio, em que o menino
passava ao estudo das tradições orais complementares da Lei Michna. O primeiro
período escolar iniciava-se depois que o menino havia completado cinco ou seis
anos, prolonga-se por cinco anos e era sucedido pelo biênio do segundo ciclo.
Quando o garoto fazia doze ou treze anos, voltava definitivamente para o
convívio da família, e seu pai era obrigado a iniciá-lo numa profissão.
Em
geral, a escola era ligada à sinagoga. Ali os meninos reuniam-se bem cedo e
ocupavam-se de suas lições até a ‘hora sexta’, isto é, até o meio dia, e depois
voltavam para suas casas. Somente os alunos do biênio “médio-superior”
retornavam à escola mais à tarde. Os estudantes, naturalmente, eram todos
meninos, “porque” dizia-se “não há sabedoria para uma mulher a não ser o fuso”
(Talmud Yerushalmi, sota 19 a).
O
calendário não previa férias; apenas no período mais quente, em julho e agosto,
as aulas encerravam-se às dez horas, ao invés de ao meio-dia; os sábados eram
dedicados à repetição da matéria aprendida, e não a lições novas. Assim que era
recebido na “casa do Livro”, o menino aprendia as letras do alfabeto hebraico no
próprio rolo da Tora e começava sua primeira leitura nos oito capítulos
iniciais do Levítico. Depois desta etapa, em que aprendia a ler, passava a
classe dos garotos mais velhos e prosseguia com eles no estudo de livro
bíblico.
O
método didático empregado pelo professor era muito simples: consistia,
inicialmente, em mostrar aos alunos um verso do rolo, que mantinha aberto
diante deles. Como a escrita hebraica reproduz somente as consoantes, e não as
vogais, era indispensável que o professor lesse primeiro o verso, escandindo
claramente cada sílaba, de modo que os estudantes, após tê-lo ouvido, pudessem
repeti-lo corretamente.
E
assim, de verso em verso, lido primeiramente pelo professor e muitas vezes
repetido a altas vozes pelos meninos, ao fim de cinco anos a Bíblia hebraica
estava praticamente decorada.
O
segundo ciclo de estudos era dedicado à “Lei oral”, a Michna; sempre
trabalhando com a memória, ajudada pela repetição ritmada, o aluno aprendia
aquele complexo de tradições explicadas pelos doutores da Lei, tendo por
objetivo interpretar e integrar a Tora escrita. O método empregado era o mesmo
do primeiro ciclo, e esse método de repetição – em hebraico mishna – deu nome a
todas essas tradições orais que posteriormente seriam recolhidas (por volta de 200
d.C.) no livro da Michna.
16.4 - A FORMAÇÃO SUPERIOR
Ao
terminar o período escolar, o menino não abandonava sua formação. Freqüentando
a sinagoga todos os sábados, podia relembrar e ampliar seus conhecimentos
religiosos.
Os
jovens aspirantes a escribas – isto é, profissionais da interpretação da Tora,
juízes e mestres e chefes de sinagoga – deviam prosseguir sistematicamente, em
nível superior, seus estudos da Lei oral. Freqüentavam escolas especiais,
chamadas bet midrash, ou “casa do estudo”, que geralmente eram chefiadas por um
mestre renomado.
Escolas
desse tipo estavam disseminadas pelos mais importantes centros do país.
Particularmente célebre era a escola fundada pelos famosos mestres Hillel e
Shammai no próprio recinto do templo de Jerusalém e em estreita legação com o
Sinédrio. (verifique a revolta do povo, por ocasião da prisão do mestre por
Herodes – o grande, objeto da matança procedida por Arquelau, durante a Páscoa,
logo após a morte do Pai.)
Essas
escolas tinham uma estrutura bastante rudimentar, uma vez que nasciam
espontaneamente da decisão que uma pessoa tomava de participar do séqüito de um
professor, conviver com ele para, sob sua orientação, dedicar-se ao estudo da
Lei. Em geral, esses discípulos passavam vários anos em comunhão com o mestre,
enquanto suas esposas, mais ou menos resignadas, permaneciam com os filhos nos
vilarejos distantes. Em tais escolas não encontramos apenas jovens desejosos de
fazerem carreira: estes eram, provavelmente, uma minoria; o grupo mais vivo era
formado pelos discípulos que se dedicavam ao estudo da Tora sem nenhuma outra
finalidade. Estes se pareciam mais com os discípulos de Jesus: como eles,
haviam deixado tudo, porque estavam fascinados e atraídos pela palavra de Deus.
17 – A INFÂNCIA DE JESUS EM NAZARÉ
Antes
de entrarmos no assunto, propriamente dito, falemos um pouco da cidade de
Nazaré. Rodrigo Cavalcante, em artigo na edição 183, de dezembro de 2002, da
revista Super Interessante, descreve Nazaré, segundo os arqueólogos, como um
vilarejo de trabalhadores rurais, situada em uma encosta de serra, contando, na
época de Jesus, com 400 habitantes, aproximadamente. Por ser tão pequena, esta
vila quase não é citada nos documentos da época. O historiador John Dominic
Crossan diz que “As escavações arqueológicas na cidade não encontraram nenhuma
sinagoga, fortificação, basílica, banho público, ruas pavimentadas, enfim,
nenhuma construção importante que datasse do tempo de Jesus”. Embora Lucas, no
capítulo 4, versículo 14, do seu Evangelho descreve Jesus em uma sinagoga em
Nazaré (ver item 4.2.1).
Continuando,
o historiador relata que “em compensação foram encontradas pequenas prensas de
azeitonas para a fabricação de azeite, cisternas de água, porões para armazenar
grãos e outros indícios de uma vida agrária de subsistência.”
A casa
em que Jesus cresceu, segundo as informações, devia ser como a de todo camponês
pobre da época: chão de terra batida, teto de estrados de madeiras cobertos com
palhas e muros de pedras empilhadas com barro, lama ou até uma mistura de
esterco e palha para fazer o isolamento.
Os
produtos da alimentação básica dos moradores de Nazaré, na época de Jesus,
eram: pão, azeitona, azeite e vinho e um pouco de lentilhas refogadas com
alguns outros vegetais sazonais, servido no pão (pão árabe) e às vezes nozes,
frutas, queijos e iogurte, além de peixe salgado. Segundo os arqueólogos, a
carne era rara, reservada apenas para celebrações especiais. A maioria dos
esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas e sinais
de artrite grave. “A mortalidade infantil era alta e a expectativa de vida
girava em torno de 30 anos. Só raros privilegiados alcançavam 50 ou 60 anos de
idade”. Diz Crossan.
Depois
dessa Nazaré histórica, falemos da Nazaré que acolheu nosso Senhor e Mestre
desde sua infância até os 30 anos.
A nossa
certeza de que Jesus tenha vivido o período compreendido pelo retorno do Egito
até o início de sua grande missão, 30 anos, junto de sua família, em Nazaré,
aprendendo com o Pai, José, o ofício de carpinteiro[35],
se consolida em de duas fontes que para nós, espíritas, é inquestionável: a
primeira vem da página recebida pelas mãos abençoadas do médium Francisco
Cândido Xavier, ditada pelo Espírito Irmão X, livro Boa Nova, quando Maria em
suas lembranças revê as cenas do nosso Mestre Jesus em sua infância: “Que
fizera Jesus por merecer tão amargas penas? Não o vira crescer de sentimentos
imaculados, sob o calor de seu coração? Desde os mais tenros anos, quando o
conduzia à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que
dispensava a todas as criaturas. Freqüentemente, ia buscá-lo nas ruas
empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados
e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho
idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do céu. Com que enlevo recebia os
hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de
José!... Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois
malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale Mizhep. E era de
ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos
desconhecidos, como se fossem seus irmãos. Muitas vezes, comentara a excelência
daquela virtude santificada, receando pelo futuro de seu adorável filhinho. Ou
(...)”A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago
majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e
amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da
Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança.
Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia
de suas recordações” e a segunda vem do Evangelho de Lucas 4: 16 “Foi a Nazaré,
onde tinha crescido”. Mc 6: 3 “Saindo dali, Jesus foi para sua terra. Seus
discípulos o acompanhavam. .Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão
de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E suas irmãs não vivem entre nós?”
Continuemos
com as páginas de Boa Nova, de Irmão X.
“Após a
famosa apresentação de Jesus aos doutores do Templo de Jerusalém, Maria recebeu
a visita de Isabel e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazaré.
Depois
das saudações habituais, do desdobramento dos assuntos familiares, as duas
primas entraram a falar de ambas as crianças, cujo nascimento fora antecipado
por acontecimentos singulares e cercado de estranhas circunstâncias. Enquanto o
patriarca José atendia às últimas necessidades diárias de sua oficina humilde,
entretinham-se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente as mais
ternas confidências maternas.
- O que
me espanta – dizia Isabel com carinhoso sorriso – é o temperamento de João,
dado às mais fundas meditações, apesar da sua pouca idade. Não raro, procuro-o
inutilmente em casa, para encontrá-lo quase sempre, entre as figueiras bravas,
ou caminhando ao longo das estradas adustas, como se a pequena fronte estivesse
dominada por graves pensamentos.
- Essas
crianças, a meu ver – respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de
seus olhos -, trazem para a humanidade a luz de um caminho novo. Meu filho
também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados.
Por vezes, vou encontrá-lo a sós, junto das águas, e, de outras em conversação
profunda com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes,
nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa que
dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores... Fala de sua
comunhão com Deus com uma eloqüência que nunca encontrei nas observações dos
nossos doutores e, constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.
-
Apesar de todos os valores da crença – murmurou Isabel, convicta -, nós, as
mães, temos sempre o espírito abalado por injustificáveis receios.
Como se
se deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:
- Ainda
há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras, e a
facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram
apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e
perplexos. Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se
manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar
chamou a José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido
para a perdição de muitos poderosos em Israel.
Com a
prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos úmidos,
após ligeira pausa:
-
Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de
suas valiosas relações com as autoridades do templo. Pensei na sua infância
desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua
sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos
meus temores. Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno,
preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!... Entretanto, no dia que
se seguiu às nossas íntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim, pela
manhã, e me interpelou: - Mãe, que queres tu de mim? Acaso não tenho
testemunhando a minha comunhão com o Pai que está no Céu?! Altamente
surpreendida com a sua pequena pergunta, respondi-lhe, hesitante: - Tenho
cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a
vida... Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meu
íntimo, ponderou ele: - Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é
preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda
a exemplificação que seja boa, e eu, escolherei, desse modo, a escola melhor.
No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo
fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu,
com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse
ensinar que a melhor escola para Deus é a do lar, e a do esforço próprio –
concluiu a palavra materna com singeleza -, ele aperfeiçoa as madeiras da
oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com sua doce
alegria.”
“(...)
Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galiléia, é talvez o mais
formoso recanto da Palestina. Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas
pequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima das
montanhas, ao norte do Esdrelon. Seus horizontes são estreitos e sem
interesses; contudo, os que subam um pouco além, até onde se localizam as
casinholas mais elevadas, encontrarão para o olhar assombrado as mais formosas
perspectivas. O céu parece alongar-se, cobrindo o conjunto maravilhoso, numa
dilatação infinita.”
Maria e
Isabel avistaram seus filhos, lado a lado, sobre uma eminência banhada pelos
derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de
Jesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicador
mostrava a João as paisagens que se multiplicavam a distância, como um grande
general que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado de
confiança. Ante seus olhos surgiram as montanhas de Samaria, o cume de Megedo,
as eminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria
inesquecível o instante da Transfigiuração, o vale do rio sagrado do
Cristianismo, os cumes de Safed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu,
num soberbo conjunto de montes e vales, ao lado das águas cristalinas.
Quem
poderia saber qual a conversação solitária que se travava entre ambos?
Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeira
combinação entre o amor e a verdade, para conquista do mundo. Sabemos, porém,
que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua
mãe, perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse: - Não queres vir
conosco? – ao que o pequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente,
com inflexão de profunda bondade: - “João partirá primeiro.”
18 – A ORIGEM DOS CONHECIMENTOS DE JESUS
Se
concordamos que Jesus tenha passado sua adolescência junto dos pais em Nazaré e
se Nazaré era um pequeno povoado de pessoas humildes, conforme relatado no
artigo de Rodrigo Cavalcante, e se não foi encontrado pelos arqueólogos nenhuma
fortificação e nem fundações de templos, como em Jerusalém, julgamos pertinente
concluirmos que naquele pequeno lugarejo não podia existir nenhum mestre no
ensino da lei, conquanto, Jesus não podia ter aprendido tudo quanto disse aos
doutores, no templo de Jerusalém, quando de sua apresentação, pois até aqueles
a quem o povo julgava conhecedores se espantaram com tamanha sabedoria. Como,
então, explicar isso? Alguns justificam estes conhecimentos, alegando que Jesus
tenha vivido entre os Essênios durante este período, motivo pelo qual não há
registro sobre esta etapa de sua vida.
Para
nós, Espíritas, este argumento não tem sustentação por alguns motivos que
tentaremos explicar em seguida: primeiro - não podemos concordar que Jesus, que
sempre procurou igualar os homens, exemplificado seus ensinamentos de
humildade, amor e caridade pudesse participar de uma Doutrina de exclusão, isto
é, somente para iniciados, uma vez que sempre pregou e ensinou em praça
pública, onde todos, sem exceção, podiam ouvi-lo e aprender com ele, que nunca
negou esclarecimentos a quem quer que se interessasse, de coração, pela sua
Doutrina de amar o próximo com a si mesmo. Antes, porém, que alguém diga que
Jesus também utilizou este método de exclusão, ou de iniciação, quando escolheu
um pequeno grupo, os apóstolos, para com eles dividir conhecimentos,
privilegiando informações que a outros não eram dado conhecer, sinceramente não
enxergamos dessa maneira.
Se
Jesus tivesse agido assim teria contrariado todos os seus ensinamentos de
comunhão com o próximo, além do mais Ele, Jesus, nunca pediu que seus
discípulos não divulgassem o que haviam aprendido com Ele em reuniões
particulares, como acontecia com os Essênios, segundo Flávio Josefo, ”(...)
nada ocultarão aos seus confrades dos mistérios mais secretos de sua religião e
nada revelarão aos outros, quando mesmo fossem ameaçados de morte, para
obrigá-los a isso”. Muito pelo contrário, sempre os concitou a pregar e a
exercitar tudo que com Ele haviam aprendido, tanto era assim que ficaram os
evangelhos, enquanto que das outras doutrinas iniciáticas nada ficou de
concreto, a não ser, especulações.
Outro
ponto que podemos citar é que todas as doutrinas de iniciação exigem vários rituais,
regras rígidas de comportamento, voto de silêncio, cerimônias em locais não
acedidos a não membros da comunidade, hierarquia estabelecida, enquanto o
Cristianismo só pede um comportamento definido na máxima de “Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei”. Jesus nunca proibiu alguém de participar de seus
ensinamentos e por várias vezes repreendeu seus apóstolos sobre este assunto.
Ainda
outro ponto que gostaríamos de abordar é com relação ao processo de iniciação,
também relatado por Flávio Josefo, ”(...) na seita dos Essênios, os candidatos
procuravam alguém iniciado e a partir desse contato havia a apresentação dos
neófitos que não eram recebidos ... imediatamente em sua comunidade, mas
fazem-nos esperar por um ano onde eles têm cada qual uma ração, um cântaro de
água, uma veste e um hábito branco” (...) não os deixam comer no refeitório até
que tenham, durante dois anos, experimentado os seus costumes”.
O que
nos consta, porém, é que com Jesus este ingresso tenha sido feito de modo
contrário, pois excetuando Judas Iscariotes, todos os outros apóstolos foram
escolhidos e chamados diretamente por Ele, mesmo quando João Batista pede a
Thiago e André para seguir Jesus. Não conhecemos nenhuma obra, aceita ou
apócrifa que conste que havia rituais de iniciação para seguir Jesus e que
havia promessas. Jesus procurou todos os seus apóstolos no meio simples e
humilde, pessoas de pouca instrução, mas com o coração e mente abertos para
assimilar os conhecimentos complexos do retorno à Casa Paterna.
Por
isso, não podemos concordar quando querem justificar a permanência de Jesus
junto aos Essênios, simplesmente por falta de informação de sua vida até os 30
anos, ou por achar semelhança da sua Doutrina e a professada pelos Essênios,
principalmente no que diz respeito à escolha de um pequeno grupo para receberem
informações privilegiadas.
Acreditamos
que a escolha dos 11 apóstolos por Jesus, foi a urgência que ele tinha em
deixar seu Evangelho para o mundo e a razão nos diz impossível fazermos de
todos os membros de uma nação senhores com os mesmos níveis de informações,
vivências e poder de assimilação e divulgação de algo novo. Portanto, julgamos
mais do que natural que Jesus tenha escolhido estes 11 apóstolos para continuar
o seu trabalho e com eles travasse preleções e explicações minuciosa, visando
sempre à boa divulgação de sua doutrina.
O que
mais nos causa estranheza é que, se Jesus tivesse efetivamente participado da
seita Essênica, como alguns teimam em dizer, certamente ele teria concordado
que aqueles que cometessem falta grave aos preceitos da iniciação, seriam
afastados do seita, e a maior parte deles morreria miseravelmente, porque, não
lhe sendo permitido comer com estrangeiros, seriam obrigados a comer ervas como
os animais e chegariam, fatalmente, a morrer de fome. E outro ponto ainda mais
grave, e que Jesus estaria de pleno acordo, que quando algum iniciado falasse
com desprezo de algum legislador seria castigado com a pena de morte, pois era
considerado grande dever obedecer aos antepassados e aos que por eles ordenam.
Imaginemos se Jesus condenasse a pena de morte a todos quantos contrariassem a
sua máxima de “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Além de contrariar o
seu próprio ensinamento, como certeza poucos ou nenhum escapariam do sacrifício.
Ao
concluirmos que os ensinamentos de Jesus não tenham advindo, nem da formação
judaica, pois se assim tivesse sido, não faria o menor sentido a afirmativa do
Apóstolo João, registrada no capítulo 7, versículos 15 e 16 do seu Evangelho:
“Os judeus exclamavam admirados: como é que ele sabe de letras sem ter
estudado”? Jesus respondeu: “Minha doutrina não vem de mim, mas de quem me
enviou” E nem Essênica, por motivos contraditórios aos ensinamentos do Cristo,
conforme tratando anteriormente e as explanações de Emmanuel, registradas no
livro “A caminho da luz”, capítulo XII – O Cristo e os Essênios” – psicografia
de Francisco Cândido Xavier
“Muitos
séculos depois da sua exemplificação incompreendida, há quem o veja entre os
essênios, aprendendo as suas doutrinas, antes do seu messianismo de amor e
redenção. As próprias esferas mais próximas da terra, que pela força das
circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero
aprendizado dos espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as
opiniões contraditórias da humanidade, a respeito do Salvador de todas as
criaturas.”
“O
Mestre, porém, não obstante a elevada cultura das escolas essênias, não
necessitou da sua contribuição. Desde os seus primeiros dias na Terra,
mostrou-se tal qual era, com a superioridade que o planeta lhe conheceu desde
os tempos longínquos do princípio.”
E Allan
Kardec - “O Evangelho segundo o Espiritismo” – Introdução – III – notícias
Históricas:
“Pelo
gênero de vida que os Essênios levavam, assemelhavam-se muito aos primeiros
cristãos, e os princípios da moral que professavam induziram muitas pessoas a
supor que Jesus, antes de dar começo à sua missão, lhes pertencera à
comunidade. É certo que Ele há de tê-la conhecido, mas nada prova que se lhe
houvesse filiado, sendo, pois, hipotético tudo quanto a esse respeito se
escreveu.” –
Todos
esses apontamentos levam-nos a seguinte pergunta: de onde veio, então, todo
conhecimento de Jesus?
A
Doutrina Espírita nos esclarece sobre a imortalidade da alma, a evolução do
espírito e o esquecimento do passado. Ensina-nos a Doutrina que o Espírito não
retrograda, o que vale dizer que todos os conhecimentos adquiridos em várias
reencarnações estão arquivados em nossa memória e que são esquecidos,
temporariamente, durante nossas reencarnações, porque (...) “freqüentemente o
Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações
com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito.” ( KARDEC,
L.E.) Se lembrássemos que essas pessoas poderiam ter sido nossos desafetos do
pretérito, possivelmente teríamos dificuldades na convivência, podendo, muitas
vezes, complicarmos novamente. Por isso foi-nos dado, por misericórdia,
esquecermos, temporariamente, do passado, para que pudéssemos caminhar e evoluir;
objetivo precípuo da reencarnação.
Às
vezes, por necessidade nossa, nos é permitido, durante o sono físico, ter
acesso à parte desses conhecimentos, conhecimentos que são recobrados, após
nosso desencarne, com maior ou menor rapidez, dependendo da evolução de cada
Espírito.
Portanto,
se a nós, Espíritos imperfeitos, reencarnados na terra, com a finalidade de
reparação de débitos, são nos facultadas determinadas lembranças, imaginemos
Jesus, o Espírito mais puro, já encarnado em nosso orbe e como a Questão 113 –
Livro dos Espíritos nos esclarece que Espíritos puros são aqueles que (...)
percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da
matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura,
não tendo que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeito à
reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.
“Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às
necessidades, nem às vicissitudes da vida material.” E como a resposta da
pergunta 244 nos esclarece que só os espíritos superiores (puros) vêem e
compreendem a Deus e por isso “(...) são os mensageiros e os ministros de Deus,
cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam a todos
os espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu
aperfeiçoamento e lhe designam as suas missões. Assistir aos homens nas suas
aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam
distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gravíssima”.
Sendo assim, como é possível que Jesus tenha algo para aprender com os homens
da terra, espíritos inferiores reencarnados com o objetivo de provar e expiar?
Como ser aprendiz e mestre ao mesmo tempo? Isso soa aos nossos ouvidos como
algo inaceitável e porque não dizer absurdo aos olhos da razão. Pois se foi sob
sua orientação misericordiosa que Ele nos recebeu, seres sofredores e infelizes
à luz do seu reino de amor e justiça, oportunizando-nos condições propícias
para nosso crescimento intelectual e moral. E como esquecer quando Emmanuel diz
que “o Filho de Deus em todas as circunstâncias seria o Verbo de Luz e de Amor
do Princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis que rolam no
infinito”.
No
encontro com o Senador romano Públio Lentulus, narrado no livro “Há dois mil
anos”, ditado pelo Espírito Emannuel a Francisco Cândido Xavier, páginas 84 e
85, 27ª edição, temos mostra desse conhecimento:
“...
Dando curso às idéias que lhe fluíam da mente incendiada e abatida, Públio
Lentulus considerou dificílima a hipótese do seu encontro com o mestre de
Nazaré”.
- Como
se entenderiam?
“Não
lhe interessara o conhecimento minucioso dos dialetos do povo e, certamente,
Jesus lhe falaria no aramaico comumente usado na bacia do Tiberíades.” “(...)
Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno
caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas
crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem
encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma
patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito
para espírito, de coração para coração...”.
Em
resumo, podemos afirmar que Jesus, quando encarnado na terra - usamos a palavra
encarnado e não reencarnado para justificar que Jesus em nenhuma ocasião
habitou, em corpo físico, nosso orbe, não passou pelo esquecimento do passado,
portanto todos os conhecimentos adquiridos em sua trajetória evolutiva estavam presentes
em sua mente e deles fez uso para esclarecer-nos sobre o Reino de Deus. Podemos
comprovar a presença desses conhecimentos em várias passagens do Seu Evangelho
e não vimos nisso nada de espetacular, em se tratando de um espírito da
envergadura de Jesus. Estas comprovações encontramos quando da conversa com os
doutores da Lei no templo de Jerusalém, quando tinha apenas 12 anos( Lc. 2: 41
a 52), na explicitação de João sobre o verbo divino(Jo 1.1-16), a comparação
feita à Abrão (Jo 8.56 a 59), e a confirmação dos apóstolos sobre sua natureza
divina (Jo 16.30).
[1] Atualmente Colinas de
Golan – Síria
[2] Este
nome significa assembléia. Era um Senado aristocrático, com sessões em
Jerusalém, composto por 71 membros representantes de três classes de pessoas: o
sumo sacerdote, os escribas, e os anciões. O sumo sacerdote era sempre o
presidente. A sua competência se estendia a tudo o que se relacionava com a
lei religiosa e a lei civil e sua
jurisdição era exercida sobre todo o povo judaico.
[3] Haggada
– do hebraico Haga’da – aquilo que se diz ou se recita, narrativa. Narrativa da
libertação e saída dos judeus do antigo Egito, entremeada de ensinamentos
rabínicos, salmos de louvor, canções e trechos bíblicos, conforme compilada da
tradição oral, e que é recitada na primeira noite da Páscoa judaica
[4] O tempo da colheita das
uvas
[5] capítulo 1, do livro Boa
Nova - Francisco Cândido Xavier – FEB.
[6] Públio
Virgílio nasceu a 15 de outubro de 70 a.C, em mântua, Gália Cisalpina, Itália,
e morreu a 21 de setembro em Brundisium, atual Brindisi, Itália. É considerado
o maior de todos os poetas latinos. Sua obra mais famosa é Eneida, onde conta a
luta de Augusto para revificar os velhos costumes, as tradições e a religião.
[7] Quintus
Horatius Flaccus nasceu em Venusia, na Apúlia, em dezembro de 65 ou 64 a.C. e
morreu a 27 de novembro de 8 a.C. em Roma, Itália. Poeta lírico romano, foi
amigo de Virgílio. Sua escola ganhou maior evidência no período inicial do
Renascimento ( Séc. XIV), prolongando-se até os primórdios do Séc. XVIII.
Dedicou-se integralmente a literatura. Explorou variados gêneros, destacando o
satírico e o crítico, marcados sobretudo pelo lirismo. Obra: Sátira ou Sermones
– composto de 2 livros, ridicularizando, através deles, os costumes e excessos
de sua época. Epodos, constituído por 17 poemas. Odes – 4 livros. Carmina ou
Carmen Saeculare formados por dois livros de Epístolas homenageando Apolo e
Diana. No fim de sua vida produziu Arte Poética ou Epístola aos Pisões, obra
que exerceu enorme influência na arte dramática ao longo de muitos séculos.
[8] Ovídio
nasceu em 43 a.C. em Sulmona e morreu em 17 d.C. em Tomi, atual Constanta,
Romênia. Poeta latino preferido pela sociedade mundana de Roma. Sua obra:
Amores e as Heróides, uma espécie de correspondência imaginária entre heróis
mitológicos. A Arte de Amar e Os Remédios do Amor, obras onde procurou
aprofundar os temas ligados ao amor. E sua obra de maior fôlego Metamorphoses,
narrando as lendas da mitologia greco-latina composta de 15 volumes. No ano 8
d.C. foi exilado de Roma por motivos políticos, seguindo para Tomi onde
escreveu Tristia, Epistolae Ex Ponto e Ibis.
[9] Salustio
– Caio Salústio Crispo nasceu cerca de 86 a.C. em Amitorne, Sabínia, Itália e
moreu em 35 a.C. em Roma. Historiador Romano. Questor e Tribuno da plebe.
Governador na África, Protegido de César, foi um de seus maiores aliados.
[10] Tito
Lívio nasceu em 59 (ou 64) a.C. em Pádua e morreu em 17 a.C. em Roma.
Historiador romano, íntimo da corte de Augusto, teve uma vida de erudição e
trabalho.
[11] Caio
Mecenas ( 69 a. C. a 8 d.C. ) Ministro romano, amigo e homem de confiança do
Imperador Augusto. Auxiliou o Imperador a conquistar o poder e lhe inspirou os
tratados de Brindis e Tarento. Homem rico e de apurado bom gosto. Seu nome é
muito lembrado como grande fautor de letras, por Ter dado proteção a Horácio,
Virgílio e outros.
[12] Alexandre,
o Grande, nasceu na Macedônia, 22 de julho de 356 a.C. e morreu na Babilônia –
Iraque, no ano de 323 a.C.. O maior conquistador do mundo antigo, estendeu o
império grego do mar Egeu ao Índico, do Cáspio às Cataratas do Nilo. Discípulo
de Aristóteles nos anos da mocidade. Tornou-se rei aos 20 anos de idade.
[13]
Aníbal nasceu no ano de 247 a.C. em lugar ignorado e morreu em Librissa,
Bitínia, hoje Turquia, no ano 182 a.C. É considerado o maior líder militar de
toda antigüidade. Antes, porém, de relatarmos o nascimento do Messias, cabe
algumas observações sobre o nascimento do Precursor, que veio abrir as veredas
para o Mestre.
[14] O
Livro de Urântia é uma obra literária, composta por 197 documentos escritos em
Inglês arcaico, traduzido recentemente para mais idiomas e que serve como base
ideológica de alguns movimentos religiosos e filosóficos. Alguns leitores
acreditam que ele contém uma síntese do trabalho de mais de 1000 autores que
escreveram nos campos da ciência, religião, história, sociologia e teologia
desde o final do século XIX até a metade do século XX. O livro diz-se compilado
por um corpo de seres supra-humanos como assistentes editoriais, o texto
fornece uma surpreendente perspectiva das origens, história e destino humanos,
constituindo um grupo de revelações para a humanidade. A identidade dos
narradores do livro é desconhecida e nunca foi reclamada, existindo por este
motivo muitas teorias a respeito da sua edição e autenticidade. Embora seja uma
fonte de inspiração e conhecimento para muitos líderes religiosos e
instituições estabelecidas, religiosas ou não, não surgiu até hoje religião
formal de seus ensinamentos. Grupos de estudo, fundações, sociedades, continuam
surgindo, pois o livro é uma inspiração a debates para todos aqueles que tomam
conhecimento de seu conteúdo.
[15] Lc.1 26 a 38 (VN)
[16] O
Sexto mês a que se refere o Evangelista no versículo 1 é o sexto mês de
gravidez de Isabel, prima de Maria.
[17] Ver no “O Livro dos
Espíritos”, pergunta nº 113 relato sobre os anjos.
[18] O
Profeta Isaías no capítulo 7, versículo 14 do livro, faz a seguinte profecia:
"O Messias havia de nascer de uma Virgem, Portanto o Senhor mesmo vos dará
sinal: "Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará
Emanuel estes ensinamentos tão elevados?
[19] Antologia
Mediúnica do Natal – Espíritos diversos – Francisco Cândido Xavier – FEB 3ª
edição Copyriht - 1967
[20] Lc 2. 7
[21] Lc 2. 8-15
[22] Lc 2. 16-20
[23] Luz Do Mundo – Pág. 19 -
Divaldo Pereira Franco
[24] Miquéias
de Moreset. Um dos doze profetas menores. Profetizou no último quartel do
século VIII, sob Joatam, Acaz e Ezequías. Jeremias (26,16-19) cita textualmente
o oráculo de Miquéias 3,12. Talvez tenha este mesmo profeta vaticinado sob
Manassés, pois parece ter visto o assédio de Jerusalém em 701 por Senaquerib. É
natural de Moreschet-Gath, perto do território dos Filisteus. É uma
personalidade vigorosa que lembra Amós.
[25]
Zaratustra nasceu por volta de 628 aC, provavelmente em Rages, atual Rayy, Irã
e morreu por volta de 551 aC, em local ignorado. Pregador religioso. Em sua
vida há boa parte que pode ser considerada lendária. Em suas aparições pregava
uma doutrina que se opunha à do clero do seu tempo. Com apoio de Vishtápa, príncipe
Bactriano, pôde pregar por toda a Persa. Seus ensinamentos foram conservados
pelos chamados Gâthâs do Avesta, que retomam o velho dualismo iraniano do bem e
do mal, encorajando o homem a se desviar das potências do mal, para manter a
pureza e ser digno da eterna luz. A nomenclatura de sua doutrina chama de
Ahrinram o príncipe das trevas no inferno e de Ahura-Mazdâ e Mithra as
potências da luz. Sua pregação fez com que sua doutrina penetrasse fundamente a
religião da Persa Arquemênia. Seu dualismo também influenciou, segundos muitos
estudiosos, a religião judaica à época da diáspora, produzindo posteriormente
as inúmeras formas maniqueístas. As
traduções de Anquetil ou Perron tornaram Zaratustra célebre também no ocidente.
A filosofia de Nietzsche coloca Zaratustra como personagem em sua famosa obra:
“Assim falou Zaratustra”. Dicionário biográfico universal três – Edição Três
Livros e fascículos – 1ª edição – 1983 – SP
[26] Irmão
X, cap. 53- Pg. 148 à 150 - Antologia Mediúnica do Natal- Francisco Cândido Xavier.
[27] Mt. 2-13 a 15
[28] A
circunstância da fuga“ de noite” (Mt. 2,13), devido a urgência de colocar em
segurança o menino Jesus, insinua que a Sagrada Família tenha tomado, pelo
menos no começo, estradas secundárias, chegando a Bersabéia quase sorrateiramente.
Em seguida, provavelmente pegou o caminho que beira o deserto, ou em direção de
Gaza, onde passava a estrada que rumava mais diretamente para o Egito, seguindo
a costa mediterrânea .
[29] Uma
vez lá, é possível que José encontrasse trabalho entre concidadãos da colônia
hebraica em Leontópolis ( hoje Tell el Yehudiye), 32 km ao norte de Cairo. Uma
antiga tradição assinala a estadia da Sagrada Família mais ao sul, no lugar
onde surge a igreja copta de Abu Sarga, no Cairo Velho. O lugar está muito
próximo a uma antiga sinagoga. Uma outra tradição não atestada antes do séc.
XIII, assinala em Matariye, 8 km ao norte do Cairo, pouco longe do obelisco de
Heliópolis, uma amoreira decrépita que teria oferecido alívio à Sagrada
Família. A permanência no Egito pode ter durado alguns meses ( Herodes ainda
não estava doente em Jericó quando chegaram os Magos) ou mesmo mais de uma ano,
até a primavera de 4 a.C.
[30] Oséias 11,1 – cerca de
750 a.C. – Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho.
[31] Mt. 2 16 a 18
[32] Jeremias 31,15 – cerca de
600 anos a.C.
[33] Mt. 2 19 a 23 1
[34] Isaías 11,1 – cerca de
700 anos a.C.
[35] Ofício – Era uma norma
invariável entre os judeus que todos, sem excetuar os futuros doutores,
aprendessem algum ofício, não necessariamente o ofício do pai. Jesus, portanto,
não fez senão conformar-se a essa regra, exercendo o ofício de carpinteiro como
seu pai, José.
A profissão de carpinteiro
na época de Jesus, não tinha as mesmas características que tem hoje, quando a
vemos como construtor de casa de outras estruturas. Na época de Jesus, por ser
Palestina uma terra de agricultura e pastoreio, muitos dos instrumentos e
utensílios para realizar tais atividades eram de madeira, feitos pelo
carpinteiro da aldeia. Não havendo os depósitos de madeiras, o trabalho do
carpinteiro começa na floresta derrubando árvores, ou pelo menos aparando seus
troncos, seus galhos para transformá-los em pranchas e tábuas destinadas à
feitura de muitos instrumentos necessários.
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