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terça-feira, 23 de junho de 2015

ESTUDANDO O CRISTIANISMO

ÍNDICE




1- INTRODUÇÃO


O Cristianismo sempre foi uma fonte inesgotável de estudos para todos os povos crentes do mundo e por isso mesmo, objeto de pesquisa de quantos debruçam sobre a bíblia, buscando esclarecimentos sobre a passagem daquele que foi o maior de todos os Espíritos encarnados em nosso orbe. Por isso nós, um pequeno grupo da Fraternidade Espírita Cristã Francisco de Assis, imbuídos nesse mesmo propósito, resolvemos tirar partes das nossas noites de domingo para também estudarmos os sagrados textos do Evangelho de Jesus. Ao iniciarmos, percebemos o quanto eram relevantes os conhecimentos dos aspectos religiosos, políticos, sociais e geográficos da época do nascimento do Mestre, além do aspecto moral, é claro, e quanto isso tem dificultado o entendimento da Boa Nova. A partir dessa dificuldade, estruturamos nosso projeto baseando-se em pesquisas de diversos estudiosos da matéria, religiosos e leigos. Das fontes consultadas, vários pontos estão ainda em aberto, por falta de dados confiáveis e até mesmo por faltarem registros devido à escassez de documentos daquela época.
Escassez, diga-se de passagem, justificada por entendermos que um carpinteiro que vivia entre os pescadores, cobradores de impostos, gente simples do povo e os chamados de má vida, não ia ser objeto de análise dos homens que faziam a história daquele tempo, todos da Corte Romana ou judeus do Templo e Jesus não era foco de interesse deles. Daí então, a importância que a Doutrina Espírita tem para nós, pois os textos das obras auxiliares da Doutrina vêm preencher esta lacuna, trazendo informações preciosas para o nosso estudo. Com isso, acreditamos estar sistematizando informações que certamente irão facilitar a compreensão daqueles que por ventura queiram aprofundar na leitura e na pesquisa desses textos de importância vital para nossas vidas.

Destacamos aqui relatos de escritores e políticos romanos e de judeus sobre a existência de Jesus, porque pessoas há que ainda não acreditam em sua existência, falando em mitificação e figura lendária para justificar o avanço do Cristianismo.


2– PROVAS HISTÓRICAS DA EXISTÊNCIA DE JESUS


2.1 – DOCUMENTOS DE ESCRITORES ROMANOS


2.1.1 – Tácito 1, por volta do ano 116, falando do incêndio de Roma que aconteceu no ano 64, apresenta uma notícia exata sobre Jesus, embora curta: “Um boato acabrunhador atribuía a Nero a ordem de por fogo na cidade. Então, para cortar o mal pela raiz, Nero imaginou culpados e entregou às torturas mais horríveis esses homens detestados pelas suas façanhas, que o povo apelidava de Cristãos. Este nome vem-lhe de Cristo, que, sob o reinado de Tibério, foi condenado ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. Esta seita perniciosa, reprimida a princípio, expandiu-se de novo, não somente na Judéia, onde tinha a sua origem, mas na própria cidade de Roma” (Anais XV, 44)

1 – Publius Cornelius Tacitus, historiador romano, nasceu por volta do ano 55 d.C. em Termi e morreu no ano de 120 d.C. Formado como advogado, foi discípulo de Julius Segundo e Quintiliano. Seu casamento com uma das filhas de Julius Agrícola, permitiu-lhe introduzir-se na política. Em 79, tornou-se Questor, em 81 Pretor e em 97 Cônsul. Depois de ter obtido grande experiência com os negócios públicos e com a vida na Corte, deixou a política para dedicar-se à escritura. Como historiador, Tácito dá informações precisas, mas ao julgar tais fatos, cai no estoicismo moral. Suas obras mais importantes são: Diálogo sobre os Oradores; Sobre a vida e os hábitos de Julius Agrícola; Sobre a Origem e posição da Germânia. As obras Histórias e Anais são as mais ricas fontes de informações sobre a história de Roma no século I d.C.

2.1.2 – Plínio 2, o jovem: governador romano da Bitínia (Asia Menor) escreveu ao imperador Trajano, em 112: “... os cristãos estavam habituados a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, e cantar um cântico a Cristo, que tinham como Deus” (Epístolas, I.X 96).

2 – Caio Plínio Cecílio Segundo, político e escritor romano, nasceu em 62 d.C., em Comum, atual Como, Itália e morreu em 113 d.C., aproximadamente, na Bitínia, atual Turquia. Amigo pessoal do imperador Trajano, foi nomeado Cônsul por este no ano 100 d.C., quando pronunciou o seu Panegírico de Trajano, que foi considerado a obra prima da lisonja, não tendo, porém, durabilidade o gênero. Suas obras mais importantes são: Cartas, dirigidas a Trajano que foram reunidas em 10 volumes. São consideradas o mais importante documento sobre aquela que é tida como a mais bela época do Império Romano. Em 111 d.C. seguiu para Bitínia, onde atuou como governador .

2.1.3 – Suetônio 3, no ano 120, referindo-se ao reinado do imperador romano Cláudio (41-54), afirma que este “expulsou de Roma os judeus, que, sob o impulso de Chrestós (forma grega equivalente a Christós), se haviam tornado causa freqüente de tumultos” (vita Claudii, XXV). Esta informação coincide com o relato de Atos 18.2 (“Cláudio decretou que todos os judeus saíssem de Roma”); esta expulsão ocorre por volta do ano 49/50. Suetônio, mal informado, julgava que Cristo estivesse em Roma, provocando as desordens.

3 – Caius Suetonius Tranquillus nasceu provavelmente no ano de 69 d.C em Roma e ali morreu depois do ano 122. Historiador romano, amigo de Plínio, o jovem, quem o acompanhou à Bitínia, em 112. Secretário particular do imperador Adriano, quando teve acesso aos arquivos oficiais, mas 2 anos depois é destituído do cargo, por ter desrespeitado a esposa do imperador, Sabina. Dentre as inúmeras obras que escreveu a mais importante é A vida dos Césares, onde estuda com picardia e detalhes a vida dos 12 primeiros Césares, sempre sob o prisma crítico de um partidário confesso da classe senatorial. Importante, também, é sua obra Sobre Homens Ilustres, onde focaliza oradores, poetas, gramáticos e filósofos. Suas obras são importante fonte de estudo sobre períodos dos quais, inclusive, não se dispõem de outros documentos a não ser seus relatos pitorescos e acríticos. Ao tratar dos imperadores, abdica das preocupações cronológicas, concentrando-se nos aspectos mais importantes de suas vidas, abordando, também, as opiniões vigentes na época de cada um deles, mesmo quando díspares. Não poupa sequer alusões a boatos sobre a vida sexual de seus biografados

2.2 – DOCUMENTOS JUDAICOS


2.2.1 – O Talmud 4 - Coletâneas de leis e comentários históricos dos rabinos judeus posteriores a Jesus -, apresentavam passagens referentes a Jesus. Combatem Jesus histórico: “Na véspera da Páscoa suspenderam a uma haste Jesus de Nazaré. Durante quarenta dias um arauto, à frente dele, clamava: “Merece ser lapidado, porque exerceu a magia, seduziu Israel e o levou à rebelião. Quem tiver algo para justificar venha proferi-lo!” Nada, porém se encontrou que o justificasse; então suspenderam-no à haste na véspera da Páscoa.” (Tratado Sanhendrin 43 a do Talmud da Babilônia).

4 – Talmude (do hebraico Talmud, estudo, ensino) doutrina e jurisprudência da lei mosaica com explicações dos textos jurídicos do Pentateuco e a michna, isto é, a jurisprudência elaborada pelos comentários entre os séculos III e VI.

2.2.2 – Flávio Josefo 5, historiador judeu (37-95), escreveu: “Por essa época apareceu Jesus, homem sábio, se é que há lugar para chamarmos homem. Porque Ele realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles que recebem com júbilo a verdade, e arrastou muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. Por denúncia dos príncipes da nossa nação, Pilatos condenou-o ao suplício da Cruz, mas os seus fiéis não renunciaram ao amor por Ele, porque ao terceiro dia ele lhes apareceu ressuscitado, como o anunciaram os divinos profetas juntamente com mil outros prodígios a seu respeito. Ainda hoje subsiste o grupo que, por sua causa, recebeu o nome de cristãos.” (Antigüidades Judaicas, XVIII, 63 a).

5 – Flávio Josefo nasceu em Jerusalém, no 1º ano de reinado de Caio César, não se sabendo a data de sua morte. Descendente de família sacerdotal, estudou letras desde criança. Aos dezoito anos aprofundou os conhecimentos das seitas dos Fariseus, dos Saduceus e dos Essênios. Nenhuma delas o agradou. Mais tarde permaneceu três anos no deserto. Tinha dezenove anos quando retornou a Jerusalém, passando a seguir os Fariseus. Sete anos depois viajou para Roma. O navio naufragou no mar adriático e Flávio, juntamente com mais oitenta companheiros, foram salvos por um barco de Cirene. Esteve diante da Imperatriz Poppêa, conseguindo a libertação de alguns amigos. De volta à Jerusalém tentou impedir uma guerra contra os romanos, antevendo o desastre que isso apresentava. Frustrado em seu intento, recolheu-se ao santuário e os Judeus, realmente, sofreram pesadas derrotas. Flávio esteve durante quase toda sua vida acompanhando ou participando de guerras, acordos e mediações. Conviveu com as mais diversas raças, classes sociais e religiosas, estudando a vida desde a formação do mundo. Aprofundou-se no estudo dos livros sagrados, recolhendo abundante material para seus livros históricos: Antigüidades Judaicas e Guerra dos Judeus contra os Romanos. Estas obras estão reunidas em História dos Hebreus, tradução do Padre Vicente Pedroso, publicação de 1956.

Em nosso ponto de vista, esses escritores não tinham interesse, nem de ordem filosófica ou religiosa para relatar fatos da vida de Jesus, a não ser o aspecto político/social, que representava ameaça ao poder constituído da época. No entanto, para aqueles ainda teimam em duvidar da existência de Jesus, esses relatos testificam categoricamente de que Ele realmente existiu.
Comprovada historicamente a existência de Cristo, prossigamos.


3 – A PROMESSA DO CRISTO – SUA ENCARNAÇÃO NA TERRA


No intuito de nortear nossos estudos, somos impelidos a dois questionamentos sobre a vinda do Cristo. Por que Jesus encarnou na terra, se não tinha mais necessidade dessa encarnação? E por que foi escolhido o povo Hebreu para recebê-lo? Encontramos estas duas respostas no livro “A caminho da Luz”, onde o Espírito Emmanuel relata que nos mapas zodiacais da Terra foi registrada a existência de uma grande estrela na constelação do cocheiro e que foi denominada de Cabra ou Capela. A distância dessa estrela em relação a terra está na proporção de 42 anos luz, se considerarmos que a velocidade da luz é de 300.000 km por segundo. Quase todos os mundos dependentes daquele orbe já haviam se purificado física e moralmente. Não obstante, num planeta deste sistema, que guarda uma grande semelhança com o globo terrestre, “(...) existiam alguns milhões de espíritos rebeldes, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes”. (Emmanuel, 1998:34) Como a maioria dos Espíritos daquele orbe já tinha atingido uma situação de melhora moral, não era justo que aquela pequena parcela de entidades, que se tornara pertinazes no crime, prejudicasse a evolução daqueles que seguiam a trajetória da Luz, rumo ao Pai Eterno. Foi assim que reunidas, as comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, numa ação de saneamento geral, os alijaram daquela comunidade, localizando-os aqui na Terra longínqua (...) “onde aprenderiam, na dor e nos trabalhos penosos, as grandes conquistas do coração e impulsionando simultaneamente, o progresso de seus irmãos inferiores.” (Emmanuel, 1998:35).

Mas quando e como isso ocorreu? Em qual estágio evolutivo se encontrava a terra e a partir de que momento estes espíritos puderam reencarnar em nosso orbe? Na tentativa de respondermos estas perguntas, recorremos a informações contidas nos livros “A Gênese” de Allan Kardec e novamente no “A caminho da Luz” de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, vejamos o que eles dizem.

Kardec( 167) na Gênese, afirma a não existência do homem, nem no período primário, nem do de transição, nem no secundário, não só porque nenhum traço dele se descobriu, como também porque não havia para ele condições de vitalidade, uma vez que os terrenos não cobertos por água eram pouco extensos e eram pantanosos e com freqüência, ficavam submersos. Razão porque só havia animais aquáticos ou anfíbios.

Mesmo no período Terciário, a existência do homem só poderia ter acontecido no seu final e mesmo assim, sua existência não teria grandes chances de progressão, porque em seguida, se deu o período diluviano. “[...] Este período teve a assinalá-lo um dos maiores cataclismos que revolveram o globo, cuja superfície ele mudou mais uma vez de aspecto, destruindo uma imensidade de espécies vivas, das quais apenas restam despojos. As águas, violentamente arremessadas fora dos respectivos leitos, invadiram os continentes, arrastando consigo as terras e os rochedos, desnudando as montanhas, desarraigando as florestas seculares”. (Kardec:164) “(...) Foi também por essa época que os pólos começaram a cobrir-se de gelo e que se formaram as geleiras das montanhas, o que indica notável mudança na temperatura da terra, mudança que deve ter sido súbita, porquanto, se se houvesse operado gradualmente, os animais, como os elefantes, que hoje só vivem nos climas quentes e que são encontrados em tão grande número no estado fóssil nas terras polares, teriam tido tempo de retirar-se pouco a pouco para as regiões mais temperadas. Tudo denota, ao contrário, que eles provavelmente foram colhidos de surpresa por um grande frio e sitiado pelos gelos. Esse foi, pois, o verdadeiro dilúvio universal”. (Kardec: 164-165).

“(...) Estabelecido o equilíbrio na superfície do planeta, prontamente a vida vegetal e animal retomou o seu curso. Consolidado, o solo assumiu uma colocação mais estável; o ar, purificado, se tornara apropriado a órgãos mais delicados. O sol, brilhando em todo seu esplendor, através da atmosfera límpida, difundia, com a luz, um calor menos sufocante e mais vivificador do que o da fornalha interna. A terra se povoava de animais menos ferozes e mais sociáveis; mais suculentos, os vegetais proporcionavam alimentação menos grosseira; tudo, enfim, se achava preparado no planeta para o novo hóspede que o viria habitar. Apareceu, então, o homem, último ser da criação, aquele cuja inteligência concorreria, dali em diante, para o progresso geral, progredindo ele próprio” (Kardec: 166).

Emmanuel ratifica essa informação quando diz que “(...) no período terciário, sob a orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de antropóides (grupo de símios que compreende os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos. São desprovidos de caldas e o ocasionalmente bípedes), no Plioceno(relativa à época: época pliocena: aquela em que surgem os primeiros homínidas; no período Quartenário) inferior”. (Emmanuel, 1998:30) e que “(...)esses antropóides, antepassados do homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no mundo..., viviam inicialmente sobre as árvores e, posteriormente, em cavernas, graças ao domínio do fogo, ...espalharam-se, depois, aos grupos, pela superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as influências do meio e formando as bases das raças futuras em seus tipos diversificados - daí os parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e do chimpanzé da atualidade. A realidade, porém, é que as entidades espirituais auxiliaram o homem do sílex, imprimindo-lhes novas expressões biológicas. Extraordinárias experiências foram realizadas pelos mensageiros do invisível. As pesquisas recentes da ciência sobre o tipo de Neanderthal, reconhecendo nele uma espécie bestializado, e outras descobertas interessantes da Peleontologia, quando o homem fóssil, são um atestado dos experimentos biológicos a que procederam os prepostos de Jesus, até fixarem no “primata” os característicos aproximados do homem futuro.” (Emmanuel, 1998:31)

“Os séculos correram o seu velário de experiências penosas sobre a fronte dessas criaturas de braços alongados e de pêlos densos, até que um dia, as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo perispiritual pré-existente dos homens primitivos, nas regiões siderais e em certos intervalos de suas reencarnações.” (Emmanuel, 1998:31-32)

Então, “Surgem os primeiros selvagens de compleição melhorada tendendo à elegância dos tempos do provir.” (Emmanuel,1998:32).

Uma grande transformação ocorreu na estrutura física e espiritual dos antepassados das raças humanas. “Apareceu, então, o homem Sapiens, último ser da criação, aquele cuja inteligência concorreria, dali em diante, para o progresso geral, progredindo ele próprio”. Este homem, formado por Deus, passou a habitar a Terra.

Após todo esse processo, a terra estava preparada para receber colaboradores de outro orbe, como aqueles espíritos rebeldes de Capela, que “aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionar, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores” (Emmanuel,1998:35), que há milênios já habitavam a Terra. Homens esses, sem conhecimentos, em estado bruto, formados pelos mesmos elementos químicos da Terra.

“Foi assim que Jesus recebeu à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes. Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas. Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra, envolvendo-as no halo bendito de sua misericórdia e da sua caridade sem limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir.” (Emmanuel,1998:35)

Assim, ”(...) Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram, proporcionalmente, nas regiões mais importantes, onde se haviam localizado as tribos e famílias primitivas, descendentes dos “primatas” e com o transcurso dos anos, reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e lingüísticas que os associavam na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente, na esteira do Tempo, formaram desse modo o grupo dos árias, a civilização do Egito, o povo de Israel e as castas da Índia.” (Emmanuel, 1998:36-38.

“As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos de toda a organização das civilizações futuras, introduzindo os mais largos benefícios no seio da raça amarela e da raça negra, que já existiam.” (Emmanuel,1998:38).

Emmanuel nos esclarece, ainda, que Deus fez encarnar seus espíritos, primeiramente, no vale do Ganges (50 mil a. C), formando a civilização dos Vedas (Hindu). Era nessa região, onde hoje é a Índia, que se reuniram os arianos puros, descendentes dos Hindus, que mais tarde floresceram na Europa . O povo hindu cultivava as lendas do mundo perdido, e colocava nelas, as fontes de sua nobre origem.

“As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização egípcia e antecederam de muito os agrupamentos Israelitas, de onde saíram mais tarde personalidades notáveis, como Abraão e Moisés.” (Emmanuel,1998:49).

“As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido da misericórdia do Cristo, de cuja palavra de amor e de cuja filosofia luminosa guardaram as mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos Upanishads. Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados, em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos do provir, salientando-se que também as suas escolas de pensamento guardavam os mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de respeito.” (Emmanuel,1998:49-50).

”Da região sagrada do Ganges partiram todos os elementos irresignados com a situação humilhante que o degredo da terra lhes inflingia. As arriscadas aventuras forneceriam uma noção de vida nova e aqueles seres revoltados supunham encontrar o esquecimento de sua posição nas paisagens renovadas dos caminhos; lá ficaram, apenas, as almas resignadas e crentes nos poderes espirituais que as conduziriam de novo as magnificências dos seus paraísos perdidos e distantes.” (Emmanuel,1998: 51-52)

Todas essas informações encontram respaldo no capítulo 2, versículos de 05 a 09 e de 15 a 19, da Gênese Bíblica. Vejamos:

no versículo 5 está registrado o seguinte : “ Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado: porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo.” Para apreendermos melhor a afirmação, achamos por bem dividir este versículo em duas partes. Na primeira parte quando o autor diz “ Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado: porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra .”,lemos como sendo aquela em que a terra ainda não estava preparada para receber o homem primitivo, pois sendo ele primitivo, faltavam-lhe os conhecimentos básicos para sua sobrevivência e sua subsistência só poderia advir dos frutos produzidos pela terra, e se a terra não podia lhe dar estes alimentos, como, então, ele poderia existir? A parte seguinte do versículo parece corroborar com nosso pensamento – “ e também não havia homem para lavrar o solo “ se a terra ainda não estava preparada para receber nem o primitivo, que viveria do que o solo lhe desse, como receber outros seres com conhecimentos para lavrar a terra, pois, supõe-se que quem está preparado para lavrar já lavrou algum dia.

Para que existam plantas e as ervas nasçam e cresçam e gerem frutos e os frutos alimentem, eram necessárias condições básicas e essas condições foram dadas; as chuvas torrenciais acabaram, a luz do sol brotou entre as nuvens e “uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo (versículo 6).” O solo agora era fértil, a terra estava preparada , “ Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe sobrou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente(versículo 7 ).” Dividamos, também, este versículo em duas partes. A primeira parte , “ Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra”, seguindo nossa linha de raciocínio, compreendemos que este homem formado por Deus é o homem primitivo – raças negras e amarelas -, criado para habitar a terra. O homem sem conhecimento, o homem em estado bruto. Pesquisas confirmam que o homem é formado, basicamente, dos mesmos elementos da formação da terra, por isso a afirmação do criador da Gênese.

A segunda parte do versículo “e lhe sobrou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente ” A este homem primitivo, Deus deu a vida, fazendo-o despertar do sono e ele se tornou alma vivente – segundo a Doutrina Espírita, alma é o espírito encarnado.

Com relação ao versículo 8 “ E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado .” “vários estudos têm sido feitos na tentativa de compreender e localizar este jardim de delícias. Portanto, este não é o objeto de nossa pesquisa, pelo menos, neste momento. Uma coisa é certa, este jardim foi plantado, ou seja, foi criado da banda do Oriente. Um local ameno, de delícias e propício para o homem recém-criado ter como sobrevier, sem muitos esforços, já que ele não tinha conhecimento de técnicas de produção, nem como produzir nada para seu sustento, portanto, era necessário que a natureza desse a este homem primitivo os alimentos básicos para sua sobrevivência. Veja a comprovação na primeira parte do versículo 9 “ Do solo fez o Senhor Deus brotar toda a sorte de árvores agradável à vista e boa para alimento;” A outra parte do versículo diz que Deus fez brotar “também a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal,” E ntendemos ser esta árvore os exilados da Capela, pois para que houvesse progresso, mister seria colocar no meio daquelas raças primitivas a força do entendimento para que se fizesse valer o livre arbítrio e assim pudessem escolher, por conta própria, o caminho que deveriam seguir, pois se assim não fosse, porque Deus teria nos criado simples e ignorante? Veja como faz sentido esta análise ao chegarmos ao versículo 15 “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” Aqui fica claramente manifestada a idéia de o homem que Deus colocou no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo, não poderia ser o homem primitivo, mas o homem resultante da união das raças, ou seja, a reencarnação dos espíritos Capelinos nos corpos dos da raça primitiva, pois para cultivar e guardar, somente podia fazê-lo quem tinha condições para isso e não seria o primitivo a realizar esta tarefa.

Nos versículos 16 e 17 encontramos a ordenança de Deus para o homem – “ E ordenou o Eterno Deus ao homem dizendo: De toda árvore do jardim podes comer, 17 e da árvore do conhecimento, do bem e do mal, não comerás dela; porque no dia em que comeres dela, morrerás .” Nesta ordenança, identificamos, mais uma vez, o princípio do livre-arbítrio, pois enquanto somos ignorantes, enquanto não temos a noção do bem e do mal, vivemos em paz com nossa consciência e em harmonia com a natureza, comendo dos seus frutos e vivendo de conformidade com a sua lei. Quando, porém, nos é facultado o conhecimento, adquirimos a possibilidade do discernimento e aí optamos pelo bem ou pelo mal e ao escolhermos o mal, forçosamente seremos, em algum momento, impelidos a quitar este débito que contraímos com nossos semelhantes.

O versículo 18 : “E disse o Eterno Deus: não é bom que esteja o homem só; far-lhe-ei uma companheira frente a ele.” É o momento da procriação e da miscigenação das raças, simbolizado na figura da companheira, da mulher e o 19 – “E formou o Eterno Deus, da terra, todo o animal do campo e toda a ave dos céus, e trouxe ao homem para ver como os chamaria; e tudo o que chamaria o homem à alma viva, esse seria seu nome .” Acreditamos que este versículo ratifica o que até agora expomos, pois só podemos nomear algo que conhecemos.

Outro registro importante, que demonstra a presença dessa plêiade de Capelinos no seio das raças negra e amarela, e os versículos 16 a 24, capítulo 11, da carta do Apóstolo Paulo aos romanos .” ... E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade e se for santa a raiz, também os ramos o serão. Se, porém, alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles, e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; porém se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: alguns ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Bem! Pela sua incredulidade foram quebrados; tu, porém, mediante a fé estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará. Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para os que caíram, severidade; mas para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte também tu serás cortado. Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo. Pois se foste cortado da que, por natureza, era oliveira brava, e contra a natureza enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira aquele que são ramos naturais!

Justificamos com estes relatos que Jesus só encarnou em nosso orbe para cumprir a promessa feita àquela saga dos Capelinos, quando os recebeu para cumprirem uma nova experiência meio aos espíritos primitivos da terra recém-criada. “(...) Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir.” (Emmanuel,1998:35).

Com relação à segunda pergunta relativa à encarnação de Jesus no reino de Israel, Emmanuel (1998:70) fala-nos do “(...) porquê da sua preferência pela árvore de Davi, para levar a efeito as suas divinas lições à humanidade;” e afirma “que a própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os povos de então, sendo Israel o mais crente, era também o mais necessitado, dada a sua vaidade exclusivista e pretensiosa. “Muito se pedirá de quem muito haja recebido”, e os israelitas haviam conquistado muito, do alto, em matéria de fé, sendo justo que se lhes exigisse um grau correspondente de compreensão, em matéria de humildade e de amor”. Ele lembra-nos, ainda, (Emmanuel, 1998:65), “que dos espíritos degredados para a Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais forte, mantendo–se inalterados os seus caracteres através de todas as mutações.” E “....Todas as raças da Terra devem aos Judeus esse benefício sagrado, que consiste na revelação do Deus único, Pai de todas as criaturas e providência de todos os seres.” (Emmanuel, 1998:68-69).
Com isso, acreditamos ter fechado a primeira etapa dos nossos estudos .









XV – O RETORNO DO EGITO

Mapa da Palestina

Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho, a José no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe, e regressou para a terra de Israel. Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá: e, por divina advertência, prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galiléia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: “Ele será chamado Nazareno.” 45

44- Mt. 2 19 a 23 1

45- Isaías 11,1 – cerca de 700 anos a.C.

Estes versículos levam-nos a algumas reflexões. A primeira é com relação às advertências Divinas feitas a José.

José, inicialmente, recebeu a advertência do Anjo para que tomasse o menino e sua mãe e rumasse para as terras do Egito. Assim, o fez. Após a morte de Herodes, novas advertências Divinas foram feitas a José: a primeira, informando-lhe da morte de Herodes e que eles podiam retornar às terras de Israel. A segunda, em decorrência dos últimos acontecimentos em Jerusalém e a possível preocupação de José, em proteger Jesus de novos incidentes, foi que tomasse o Menino e Maria e fosse para Galiléia. O que gostaríamos de salientar é a importância destes fatos na vida de Jesus e de sua família terrena, Maria e José. Claro está para nós que aqueles fatos podem ter influenciado José em sua tomada de decisão , mas a advertência Divina teve papel fundamental na decisão dele; por obediência, conhecimento e merecimento do casal. Tudo isto demonstra a constante influência da espiritualidade superior em nossas vidas e concita-nos a termos bons propósitos, semelhantes aos de Maria e José, para mantermos uma estreita sintonia com os mentores espirituais do Mundo Maior, no intuito de melhor avaliar nossas atitudes perante as advertências que recebemos em nosso dia-a-dia e o procedimento que deveremos tomar a partir delas, pois quando Jesus nos disse que não nos deixaria órfãos, é sinal de que Ele está conosco em todos os instantes de nossas vidas da menor às maiores decisões que deveremos tomar.

A segunda reflexão é sobre a permanência de Jesus no Egito. Baseando-se na hipótese de Jesus ter nascido entre os meses de setembro e outubro (Item 12.4), podemos fazer algumas inferências sobre o período em que Ele permaneceu no Egito.

Se aceitamos a hipótese de Jesus ter nascido no ano 749 da fundação de Roma e que oss prováveis meses são setembro ou outubro e que Herodes, o grande, morreu em 750 do mês de Nisan, março/abril, porque Arquelau, seu filho e sucessor, após a sua morte e antes de ser outorgado rei por césar, ordenou a matança no Templo durante a Páscoa judaica e como nos relata o evangelista Mateus que José foi avisado no Egito que Herodes tinha morrido e que podia tomar o menino e sua mãe e retornar, indagamos: se o aviso ocorreu imediatamente após a morte de Herodes, o retorno pode ter acontecido no próprio mês de Nisan e Jesus teria entre 6 a 8 meses que é o que julgamos mais provável, pois o evangelista nos lembra que José ficou sabendo que Arquelau reinava em lugar de seu pai Herodes, e temendo o retorno à Judéia, dirigiu-se a Nazaré.

A partir dessas informações presumimos que é bem provável que no retorno de Jesus, Maria e José, eles tenham encontrado com viajantes que voltavam da festa em Jerusalém e foram informados que Arquelau tinha herdado, por testamento, o reinado de seu pai e que ele, depois que celebrou, “(...) segundo o costume do país, o luto de seu pai, deu um banquete ao povo e subiu ao templo. Clamava viva o rei, por toda parte por onde ele passava e depois que ele se sentou sobre o trono de ouro, os clamores aumentaram, com votos pela prosperidade do seu reinado. E a todos recebeu com muita bondade e testemunhou-lhes sua gratidão, por nada ter diminuído de seu afeto por ele, com a recordação da severidade com que seu pai os havia tratado; afirmou-lhes que lhes daria provas do seu reconhecimento, disse-lhes que não tomaria ainda o nome de rei, até que Augusto tivesse confirmado o testamento de seu pai e que ele tinha recusado, por essa mesma razão, receber o diadema de todo o exército lhe havia oferecido em Jericó. Mas logo que o tivesse recebido de Augusto, que somente tinha o poder de dar-lho, ele mostraria por suas ações, que tinham razão de amá-lo e esforçar-se-ia por torná-los mais felizes do que haviam sido durante o reinado de seu pai”. Mas que em seguida ordenou, contrariando tudo que havia prometido dias antes, uma grande matança de judeus durante as festividades da Páscoa. Este fato, com certeza, trouxe às cabeças de José e Maria a amarga lembrança de um outro semelhante, ocorrido meses antes - a matança dos inocentes ordenada por Herodes, seu pai - obrigando-os a irem às escondidas refugiar-se no Egito.

A partir desses acontecimentos, acreditamos que José, temendo novas matanças, tenha preferido uma cidade mais tranqüila e rumou-se para Nazaré, na Galiléia, para que Jesus pudesse crescer em paz.

Uma outra hipótese que também pode ser levantada é que o retorno de Jesus, Maria e José tenha ocorrido após a volta de Arquelau, de Roma, o que deve ter acontecido bem depois da festa de Petencostes, pois segunda anotações de Flávio Josefo em suas "Antigüidades Judaicas" as revoltas que se sucederam na Judéia, tendo como protagonistas Sabino, intendente de Augusto na Síria, ocorrendo nas proximidades da festa dos Petencostes e durando um tempo relativamente longo, quando Arquelau estava ainda em Roma, com finalidade de validar o testamento de seu pai. Sendo assim, Jesus já estaria com 2 anos, aproximadamente. Esta hipótese não nos é muito provável, pois com a decisão de César em manter o testamento de Herodes, tendo como única mudança a nomeação de Arquelau como Etnarca e não como rei e Herodes Agripa como Tetrarca da Galéia, não fazia muita diferença em ficar na Judéia ou na Galiléia, a não ser que todos soubessem de antemão que Herodes tivesse uma administração menos violenta do que o irmão Arquelau.

Com relação ao versículo 23 do capítulo 2 de Mateus quando ele relata “E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: Ele será chamado Nazareno”, pesquisas dão contas de não haver referências da existência de nenhuma cidade ou vilarejo na Palestina por nome de Nazaré registrada no Velho Testamento, Talmude, Crônicas ou em documentos históricos de Israel e que a referência de Nazaré como cidade só apareceu efetivamente no século IV, quando a religião do Cristo já se destacava dentre as demais. Diante disso, julgamos pertinente a análise feita pelo Rev. A. R. Bucklando, M. A ., Arcediago de Norfolk, no seu Dicionário Bíblico Universal quando afirma que a palavra hebraica, vertida para nazareno, é “netser”, que significa “renovo” e é idêntica à palavra usada em Is. 11.1 “do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo”.

Desta maneira, todas as vezes que chamaram a Jesus “o Nazareno”, estavam pronunciando, com conhecimento ou sem o saber, um dos nomes do anunciado Messias. Todos os habitantes da Galiléia, onde se achava situada a cidade de Nazaré, eram olhados com desprezo pelo povo da Judéia por causa da singularidade das suas maneiras e de suas falas, talvez, por isso, o termo nazareno, freqüentemente aplicado a Jesus, em certas ocasiões tenha sido pronunciado com desdém, mais que depois foi adotado e glorificado por seus discípulos. Portanto, o opróbrio de Nazaré, a que se refere um homem, que era Galileu (Jo. 1.46), pode ter-se originado na má reputação pela falta de religiosidade e pelo relaxamento de costumes e este epíteto de Nazareno tenha sido aplicado com desprezo aos seguidores de Jesus em At. 24.5. O nome nazareno ainda existe em árabe, como uma simples designação dos cristãos.

Antes de prosseguirmos, porém, julgamos importante chamar a atenção para que não se confunda nazireu com nazareno. Nazireu era aquela pessoa, de um ou outro sexo, que na lei de Moisés se obrigava por votos a abster-se de vinho e de todas as bebidas alcoólicas, a deixar crescer o cabelo, e não entrar em qualquer casa em que houvesse gente morta, e a não assistir funeral. Se, acidentalmente, alguém morresse na presença de um nazireu, recomeçava este a sua consagração de nazireado. Geralmente, o voto era por certo período de tempo, mas algumas vezes por toda a vida.

A consagração de um nazireu era uma disposição, que notavelmente se assemelhava à do sumo sacerdote (Lv 21.10 a 12). O voto nazireu era feito com o fim de cultivar a soberania da vontade e vencer as baixas inclinações da natureza humana, tendo isso a significação de um sacrifício a Deus.


4 – A PALESTINA NOS TEMPOS DE JESUS


Mapa da Palestina

Os parágrafos anteriores nos deram informações suficientes sobre a encarnação de Jesus em nosso orbe e o porquê da sua  escolha em nascer no berço do povo judeu. No entanto, acreditamos ser de grande relevância  conhecermos a situação geográfica da Palestina na época do nascimento de Jesus e  alguns aspectos da vida religiosa daquele povo escolhido. Para nossa elucidação recorremos as preciosas informações que o estudioso H. Lesêtre nos traz no seu  Guia através do Evangelho, tradução adaptada da segunda edição holandesa pelos Padres Drs. P.J. Cools e Adr.Drubbel, atentemos para esse estudo.

4.1 - A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA


NOME E LIMITES.

O nome Palestina vem da palavra hebraica Peleschet, país dos Pelischtim ou Filisteus. Os Filisteus, os temidos inimigos dos antigos Hebreus, habitavam a costa ocidental do país de Canaan. Do antigo país dos Filisteus o nome Palestina passou mais tarde à região inteira, que do tempo de Cristo estava habitada pelos Israelitas.

A Palestina confinava no sul com a Iduméia e os desertos, que se estendiam até o Egito, ao leste com os ermos da Arábia e da Ituréia; ao norte com a Síria e a Fenícia a qual desce como uma cunha ao longo da costa; ao oeste com o Mar Mediterrâneo. Assim delimitado, o país, do norte ao sul, mede cerca de 200 quilômetros. A superfície é de 25.124 km quadrados.

4.2 - CONFIGURAÇÃO DO TERRENO


A Palestina é um país montanhoso, formado por pequenas serras, que são a prolongação do Líbano e do Antilíbano[1]. Os cumes mais altos atingem 938 metros no monte Ebal, na Samaria; 790 metros em Jerusalém, e 1027 metros um pouco ao norte de Hebron. Muitas grutas estão formadas no terreno calcário e argiloso. Um vale profundo, em que flui o Jordão, divide o país pelo meio do norte ao sul. O Jordão tem sua origem aos pés do Hermon, uma alta montanha do Antilíbano, de 2760 metros de altura, atravessa primeiro o pequeno lago de Meron, depois o grande lago ou mar de Tiberíades, que mede 21quilômetros de comprimento e 10,5 de largura, e é situado a 208 metros abaixo do nível do mar, e desemboca, após um percurso muito sinuoso, no Mar Morto. Este mar tem 76 quilômetros de comprimento, com uma largura de 15,7 quilômetros e o seu nível está a 387 metros abaixo do nível do Mar Mediterrâneo. Algumas torrentes lançam-se, à direita e à esquerda, no Mar Morto e no Jordão; uma dezena de regatos insignificantes deságuam, de outra banda, no Mediterrâneo. A Palestina não tem planícies importantes senão no Vale do Jordão, e no oeste, as grandes planícies de Ésdrelon, ao norte do Monte Carmelo, e de Saron, à beira do Mar.

4.3– CLIMA


A Palestina tem dois climas bastante diferentes. Na parte montanhosa, o inverno vai de novembro até março. O gelo e a neve são bastante raros; no mês de fevereiro, o mês mais frio, a temperatura média é de 8º C; em agosto, o mês mais quente, a temperatura média é de 25º C. Nas regiões mais baixas, especialmente na planície baixa e encaixada do Jordão, o inverno é muito suave; mas de abril a outubro, o calor é enervante. Não cai chuva na Palestina senão desde fins de outubro até fins de abril; chuvas abundantes e contínuas há só em dezembro e janeiro; nos demais seis meses o céu está quase de contínuo sem nuvens. As noites são habitualmente frescas (Mc. 14.67; Jo. 18.18,25) e o orvalho é muito abundante. Com semelhante clima e uma cultura ativa, o terreno produzia abundância de cereais, frutos e vinha. A colheita de cevada fazia-se nas planícies na Segunda metade de abril; a do trigo, no princípio de maio (Mt. 12.1; Mc. 2.23; Lc. 6.1). A terra era tão fértil que, se não tomasse cuidado, os espinhos e os abrolhos logo brotavam (Mt. 13.7; Mc. 4.7, Lc. 8.7). A maior parte das árvores da Palestina, oliveiras, ciprestes, terebintos, etc, ficam verdes o ano inteiro e oferecem uma sombra constante.

4.4 - DIVISÃO TERRITORIAL


Na época de Jesus a Palestina compreendia cinco províncias distintas: ao oeste do Jordão a Judéia, a Samaria e a Galiléia; ao leste, a Peréia e a Decápole. A Judéia, a Galiléia e a Peréia só constituíam o domínio judio propriamente dito.

4.4.1 - JUDÉIA


Mapa da Palestina

Esta província ocupava a metade meridional do território que se estendia entre o rio e o mar. Seu nome deriva do antigo reino de Judá; contudo seus limites eram mais extensos. Seus habitantes eram em maior parte descendentes desses exilados que, de 536 a 445 a.C, voltaram do grande cativeiro. Eram chamados Judeanos ou Judios. Dividia-se a Judéia em onze toparquias ou distritos, que tinham por capital alguma cidade importante. As principais dessas cidades eram Jerusalém, a capital do país, Lida, Emaús, Engandi e Jericó. Esta última era situada perto da foz do Jordão no Mar Morto, no meio de uma planície fertilíssima. A oito quilômetros de Jerusalém, Belém estava na encosta de uma montanha. A vinte quilômetros mais abaixo, Hebron conserva ainda os túmulos dos grandes patriarcas, Abraão e os filhos dele. Na beira do Mediterrâneo, Jope e Jaffa possuíam portos, aliás de difícil acesso. A Judéia era quase toda montanhosa e árida. Só os vales eram bem cultivados.

4.4.2– GALILÉIA


Mapa da Palestina

O nome desta província, “gelil haggoyim” faz alusão a composição da povoação. Na época do cativeiro, colonos idólatras para lá foram levados do fundo da Assíria; mas um século antes de Jesus, o judaísmo se tornou ali preponderante, graças aos esforços dos últimos reis judios da raça dos Macabeus. A Galiléia ocupava o norte da Palestina: o Jordão e o lago de Tiberíades formavam seus limites ao leste; a Samaria a separava da Judéia no sul; e ao oeste, a Fenícia a isolava do mar. Era uma região aprazível e fértil, no qual a natureza se revestia de uma graça incomparável. O lago de Tiberíades, com suas belas águas de um azul cinzento, agitadas às vezes  por tempestades repentinas, era emoldurado por uma vegetação luxuriante, e sulcado por numerosos barcos de pesca. A Galiléia alta, ao norte, é montanhosa; ao sul a Galiléia baixa é um país de planícies. As suas cidades mais importantes eram, na beira do lago, Tariquéa, Tiberíades, Magdala e Cafarnaum. Nas montanhas, Nazaré achava-se a 100 quilômetros de Jerusalém; Caná achava-se um pouco mais ao norte e Naim mais ao sul. A povoação da Galiléia, judia em grande parte, estava contudo misturada com  Sírios, Fenícios, Árabes e Gregos. O caráter dos Galileus tinha um quê de afável, conciliador e desembaraçado, sem excluir, no entanto, a prontidão à revolta e  a energia na ação. Pelos Judeus eram considerados  compatriotas, mas tratados com certo desdém (Jo. 1.46; 7.52), por não comungarem das idéias estreitas e do rigorismo, cultivado em Jerusalém, e por ter a sua linguagem certa.

4.4.3– A SAMARIA 


Mapa da Palestina

Era uma província encerrada entre a Judéia e a Galiléia e estendendo-se do Jordão ao Mediterrâneo. O país, montanhoso e fértil confinava com o mar pela rica planície de Saron. As cidades principais eram Samaria, a antiga capital do reino e Israel, Citópolis, Siquém e o porto de Cesaréia. A povoação compunha-se de pagãos, de uma minoria de Judeus e de Samaritanos. Estes últimos provinham de uma mistura de antigos Israelitas e de colonos transportados pelos Assírios das províncias afastadas do seu império, especialmente de Cutha, de onde o nome Cutheanos dado pelos Judeus aos Samaritanos. Professavam a religião judaica, pelo menos nas suas práticas e crenças essenciais. Mas desde que os Judeus, de volta do cativeiro, recusavam reconhecê-los como fazendo parte do povo de Deus, uma violenta antipatia animava os dois povos um contra o outro. Os Judeus excluíam a Samaria da Terra Santa. Manifestavam um profundo desprezo e um ódio irreconciliável com respeito aos Samaritanos (Jo. 4.9), e o nome de samaritano constituía para eles a suprema injuria (Jo. 8.48). Os Galileus e os Judeus evitavam ordinariamente passar pela Samaria, em conseqüência dos vexames que lhes infligiam os habitantes (Lc. 9.52-57). Estes com efeito não poupavam nenhuma ocasião de enganar ou molestar seus adversários. Eles mesmos evitavam comparecer em Jerusalém, pretendendo que tinham direito de adorar a Deus no monte Garizím (Jo. 4.20).

4.4.4– PERÉIA


Era o país situado além do Jordão e do Mar Morto; daí seu nome que significa “além”. A região é montanhosa e cortada de quebradas (barrancos). Mais extensa do que a Galiléia, tinha um terreno muito menos fértil e uma povoação muito menos densa. Esta compunha-se igualmente de Judeus e de estrangeiros em número bastante alto. As cidades principais eram Péla ao norte, Gerasa ao oeste, Filadélfia e Hêsebon (Esbus) mais ao sul, e enfim no limite meridional, a fortaleza de Maqueronte.

4.4.5– DECÁPOLE


Deste nome chamava-se o território ocupado por dez cidades, nas quais a influência grega se fazia sentir mais especialmente. Entre estas cidades contavam-se Damasco, ao norte, Filadélfia de Peréia ao sul, Citópolis de Samaria ao oeste. Este território ficava quase todo inteiro na beira esquerda do Jordão; mas não formava uma unidade geológica ou política bem delimitada. Encerrava aliás diversas províncias, nas quais os Judeus eram misturados com os Sírios, e que tinham  tetrarcas ou chefes particulares. A Gaulanitide ocupava o leste do Jordão, ao norte do lago de Tiberíades; a Batanéia, mais ao sudeste, correspondia ao antigo país de Basan; a Traconítide era uma planície penhascosa ao sul de Damasco; a Auranítide estendia-se ainda mais ao sul, no antigo país de Hauran. Enfim, ao leste do alto Jordão achava-se a Ituréia, vizinha do território de Paneas.

4.4.6– CIDADES GREGAS

Mapa da Palestina

Um certo número de cidades da Palestina quase não fazia parte do domínio judio. Eram cidades livres nas quais dominava quase exclusivamente o elemento pagão. Enumeravam-se 33, das quais as mais importantes ao ponto de vista evangélico são: na beira do mar, Gaza, Ascalon, Azoto, Jope, Cesaréia de Palestina e Ptolemaida; na beira do lago de Tiberíades, Hipos, Betsáida e Tiberíades; em Samaria, Citópolis, Séforis e Sebaste, a antiga Samaria; Cesaréia de Felipe ou Paneas, no norte; enfim, ao leste do Jordão, Gádara, Péla, Gérasa, Hésebon e Filadélfia, a antiga capital dos Amonitas.

4.4.7– JERUSALÉM


Esta cidade, primitivamente chamada Jebus, tomou mesmo antes de Davi o nome de Yerusalaim em hebráico, e de U-ru-as-lim em assírio, o que provavelmente significa simplesmente “cidade de Salim”. Jerusalém está situada numa espécie de promontório rodeado de três lados pelos vales de Hinnom e do Cedron, cuja maior profundeza desce até 100 metros abaixo do nível da cidade. Chegar à cidade sem subir só se pode do lado norte. A antiga cidade ocupava três cumes, que se dominavam uns aos outros. Ao leste havia em primeiro lugar o monte Móriah (754 metros), no qual estava edificado o templo, e que se prolongava no sul pela colina de Ophel (730 metros). Ao oeste do Móriah, o monte Acra (763 metros) estava separado do monte Sião (789  metros) pelo vale do Tyropeon ou dos Queijeiros. Muralhas poderosas, inexpugnáveis da parte dos vales, rodeavam essas três montanhas. O bairro de Bezetha (785 metros), ao norte, não era rodeado de muralha e só foi anexado à cidade depois da morte de Jesus. As muralhas eram atravessadas de muitas portas e flanqueadas de grande número de torres; três delas, edificadas ao oeste por Herodes, dominavam todas as demais, Hippicus (36  metros), Phasael (40,5 metros) e Mariamne (27,75 metros). Atrás destas torres levantava-se o magnífico palácio de Herodes. Ao norte do monte Móriah, sobre um rochedo de 25 metros de altura, erguia-se a fortaleza Antônia, residência da guarnição romana. Estava protegida por quatro torres, três de 22,5  metros e uma de 31,5 metros a qual permitia observar de uma altura total de mais de 60 metros o que se passava no recinto do templo. As ruas da cidade eram estreitas, inclinadas e as principais calçadas por Herodes,  terminando em algumas encruzilhadas bastante estreitas. A praça principal era o Xistus, na depressão do Tyropeon. Por cima passava uma ponte que ligava o templo com as demais partes da cidade. Movimento não havia nas ruas senão de peões e às vezes de burros e de camelos; para veículos as ruas eram imprestáveis. As casas eram quadradas, baixas e com teto chato. A cidade media apenas, na sua maior largura, pouco menos de 1000 metros; o seu perímetro, incluindo os ângulos inversivos, podia ser de 4 quilômetros mais ou menos.

4.4.8– OS ARREDORES DE JERUSALÉM


Ao norte acha-se um planalto, que vai subindo até o monte Scopus (831 metros). Foi sempre deste lado, o único acessível, que se fazia o bloqueio de Jerusalém. Ao leste, o vale do Cedrão estende-se ao longo do recinto, descendo de 750 a 650 metros. Do lado oposto deste vale ergue-se o monte das Oliveiras (818 metros), ao sudeste do qual encontram-se sucessivamente Béthfage e a aldeia de Bethânia, a dois e meio quilômetros de Jerusalém. O jardim de Getsemani acha-se ao pé do monte das Oliveiras, em frente da muralha da cidade. Ao sul o vale do Cedrão encontra-se com o Hinnom. Lá se achavam as fontes de Siloé e de Rogel. As encostas dos dois vales eram ocupadas por muitas sepulturas, isso porém não impedia os judeus de plantar ali jardins sombrosos. Os jardins podiam ser encontrados também ao norte da cidade, onde José de  Arimatéia também tinha  o seu, no qual foi sepultado Jesus (Jo. 19.41). Da muralha do oeste partia a estrada que se dirigia a Belém. A 4 quilômetros desta cidade Salomão fez construir vastos reservatórios, cujas águas eram levadas à Jerusalém por um aqueduto muito sinuoso, para guardar o nível através das alturas.

4.5– A VIDA RELIGIOSA NOS TEMPOS DE JESUS


4.5.1 - SINAGOGAS 


As sinagogas eram lugares onde os judeus se reuniam para rezar e ouvir a Leitura da Lei. Serviam de centro para qualquer comunidade israelita, tanto na Palestina como em terras estrangeiras. Até as pequenas aldeias podiam ter sua sinagoga, mas o culto propriamente dito com, seus sacrifícios e cerimônias,  só podia ser  prestado a Deus  no Templo de Jerusalém.

4.5.2 - SERVIÇO RELIGIOSO NAS SINAGOGAS


Haviam reuniões nas sinagogas no dia de sábado, nas festas e nas 2as e 5as feiras. A ordem entre os diversos exercícios era a seguinte:

1º - A recitação de certas orações tiradas da Bíblia; os Judeus rezavam de pé, com o rosto voltado para Jerusalém.

2º - A leitura da Lei. Quando um sacerdote estava presente, este começava a leitura. Geralmente a leitura dividia-se entre sete pessoas. A lei de Moisés estava distribuída em 153 seções, de modo que a leitura inteira da Lei cabia nos sábados de três anos.

3º - A leitura dos livros históricos e proféticos: lia-se o texto hebraico, que depois era traduzido em aramaico.

4º - A explicação dos textos: o chefe da sinagoga confiava essa tarefa a quem julgava capaz. Jesus também tomou freqüentemente a palavra na sinagoga. ( Mt. 4.23; Mc 1.21; 6.2; Lc.  6.6; 13.10;  Jo. 6.59; 18.20).

5º - A benção dava-se por um sacerdote, ou na falta dele, por um outro membro da comunidade, o qual então benzia em forma de oração.

4.5.3 - A LEI E OS PROFETAS


A vida moral e religiosa dos Israelitas era pautada inteiramente pela Lei de Moisés e pelos ensinamentos dos Profetas. O conhecimento da Lei constituía a matéria do ensino que as crianças recebiam em casa e que ouviam na sinagoga durante toda a sua vida. Todos sabiam dos castigos e das recompensas, resultantes da transgressão ou da observância da Lei, de modo que toda a vida estava ordenada conforme as prescrições da Lei e dos Profetas. Confiados nas palavras desses arautos de Deus, esperavam o porvir glorioso que o Messias traria ao seu povo. Por isso Jesus recorreu por mais de uma vez à Lei e aos Profetas, no intuito de esclarecer os fundamentos de sua doutrina e o papel dos precursores da sua missão. ( Mt. 5.17; 7.12;11.13; 22.40; Lc. 16.16; 24.44; Jo.  1.45; 7.19). Para ter a Lei sempre diante dos olhos, os Judeus observavam certas recomendações de Moisés ao pé da letra: nos cantos dos seus mantos levavam borlas ( Mt. 9.20; 14.36; 23.5; Mc. 6.56; Lc. 8.44) e também prendiam ao pulso e à testa tiras de pergaminho, chamadas filactérios, em que estavam escritos textos da Lei. Encerravam outros textos  em tubinhos oblongos(alongados)  que suspendiam sobre as entradas das suas casas.

4.5.4 - A ORAÇÃO


De manhã e a tarde os Judeus liam por modo de oração três passagens da Lei, que eram uma exortação para ficarem fiéis a Deus. A mesma oração, aliás, rezava-se na sinagoga, por alguns  até em público nas ruas quando era o tempo da oração. ( Mt. 6.5). Rezavam em pé, de cabeça coberta. Havia ademais uma outra oração, chamada “As Dezoito”, por motivo das dezoito fórmulas de que se compunha. Essa oração, que todos deviam rezar três vezes ao dia, foi estabelecida no seu teor atual depois dos anos 70: mas é provável que alguma coisa semelhante existisse no tempo de Jesus, o qual porém recomendava rezar às ocultas e sem muito palavreado (Mt. 6.6,7). Rezavam antes e depois das refeições ( Mt. 20.26,27; Mc. 14.22,23,26; Lc. 22.17,19). Os doutores ensinavam orações particulares aos seus discípulos; o Precursor e o divino Salvador seguiram esses costumes ( Lc. 11. 1-4; Mt. 6.9 –13).

4.5.5 - JEJUNS E ESMOLAS


Além do jejum do dia da expiação prescrito pela Lei, costumavam os Judeus nos tempos evangélicos, praticar ainda outros jejuns, para comemorar diversas calamidades do passado, como a destruição do templo de Jerusalém pelos Babilônicos. Também os Sanhedrins[2] locais podiam ordenar jejuns, para obter chuva, para afastar algum desastre, etc. Enfim, havia os zelosos que jejuavam duas vezes por semana, nas 2as. e 5as. Feiras ( Lc. 18.12). Os discípulos de João seguiam fielmente essa prática. ( Mt. 9.15; Mc. 2.18; Lc. 5.33). O jejum durava de uma tarde à outra, até que se percebessem no céu três estrelas medianas. Acompanhavam-no de sinais de tristeza e de austeridade, que Jesus reprovava ( Mt. 6.16,17). Os Judeus davam esmolas regularmente, mas só ao seu “próximo”, q.d. aos Judeus (Lc. 10.29,31,32). Alguns preenchiam esse dever com muita ostentação ( Mt. 6. 2-4). Fora do que se recolhia nas sinagogas, reservava-se para os indigentes em cada campo um ângulo em que se não fazia a colheita; era-lhes outorgado também o respingar e o rabiscar. Enfim assistia a todos o direito de tomar nas searas e nas vinhas o que consumiam no lugar mesmo ( Mt. 12.1; 21.19; Mc. 11.13).

4.5.6 – PURIFICAÇÕES


A questão da pureza ou impureza legal era uma preocupação de capital importância entre os Judeus. Contraía-se a impureza pelo uso das coisas impuras de animais proibidos, pelo contato de coisas impuras como cadáveres, ossos, sepulcros, objetos contaminados por pessoas ou coisas impuras, pela entrada na casa de um pagão (Jo. 18.28-29); por algumas doenças ou certos estados fisiológicos. As prescrições das leis constituíam simultaneamente precauções higiênicas e uma lição perpétua de moral. As ocasiões de impureza legal sendo múltiplas, era mister recorrer freqüentemente a purificações: banhos completos (Jo. 13.10), lavatórios das mãos  Mc. 7.1-4, Lc. 11.38-39), dos pés (Lc. 7.44; Jo 13.4-10), lavagens de vestidos e de toda classe de utensílios  (Mt. 23.25), filtrações de líquidos em que poderia haver insetos mortos (Mt. 23.24), havia mesmo casos em que era preciso oferecer sacrifícios de purificação no templo. Essas exigências da Lei e mais ainda as prescrições arbitrárias dos doutores produziram uma separação completa entre os Judeus e os pagãos. Mesmo os Apóstolos só a custo chegaram a alargar suas idéias a esse respeito. (At. 10.11-16)

4.5.7 -  CIRCUNCISÃO


A circuncisão era o rito de incorporação ao povo de Israel. Entre os Judeus administrava-se esse rito a todo filho homem no oitavo dia do seu nascimento e nessa ocasião impunha-se-lhe o seu nome (Lc. 2.21). A circuncisão fazia-se na sinagoga ou em casa. Estava preparada uma cadeira para o profeta Elias que era reputado presenciar a Circuncisão, como aliás era crença popular estar ele perto de todos os Israelitas, que estivessem em aperto (Mt. 27.47; Mc. 15.35,36). Ligava-se tal importância a Circuncisão, que se administrava mesmo em dia de sábado. Os primeiros cristãos convertidos do judaísmo consideravam a Circuncisão como indispensável, e foi preciso uma intervenção solene para lhes fazer compreender que esse uso não obrigava mais debaixo da Nova Lei. (At. 10.28; 11.3; 15.1-29). Os Judeus gloriavam-se da Circuncisão, porque por ela tornavam-se filhos de Abraão. Consideravam essa qualidade como  um penhor de salvação (Mt. 3.9; Lc. 3.8; Jo. 8.37-42).

4.5.8. - DIREÇÃO RELIGIOSA


4.5.8.1. - ESCRIBAS OU DOUTORES DA LEI


Entre os Judeus o conhecimento mais profundo da religião com suas múltiplas prescrições, não era um apanágio dos sacerdotes. Qualquer Israelita, que tinha aptidões para isso, podia dedicar-se a esse estudo e tornar-se esperto nessa ciência. Foi assim que se formou a classe especial dos “escribas” ou peritos na ciência das Escrituras (Mt. 2.4; 8.19; Mc. 1.22; Lc. 5.21; Jo.8.3), chamados também “doutores da Lei”. (Mt. 22.35 e  23.5-7;  Lc. 5.17; 7.30; 10.25, etc.). O título que se lhes dava era “rabbi” ou “rabboni”, isto é, mestre (Mt.23.7,8;  Mc. 9.4; 10.51; Jo. 1.38;20.16). Os doutores pretendiam que se lhes prestassem as maiores honras e gostavam mesmo distinguir-se por seu modo de vestir (Mt. Mc.12.38,39; Lc. 20.46). Apesar de ser o operário digno do seu salário e por isso ter também o doutor o direito de viver da sua ciência (Mt. 10.10; Lc. 10.7), os escribas não brilhavam sempre por desinteresse (Mt. 12.40; Lc. 16.14; 20.47). Havia doutores não só na Judéia, mas também na Galiléia (Lc. 5.17) e entre os Judeus da dispersão.

4.5.8.1.1 - PAPEL DOS ESCRIBAS


O s escribas eram de fato os diretores espirituais da nação. Tomando por base a Sagrada Escritura, completavam o direito escrito dos Livros Sagrados pelo direito costumeiro, chamado Halaca, e explanavam as narrações e as doutrinas morais na Haggada[3]. O seu ofício consistia em explanar a teoria da Lei, em manter a  sua execução prática, sobretudo nos tribunais e enfim instruir os seus discípulos. É por isso que Jesus dizia que estavam sentados na cadeira de Moisés (Mt. 23.2). Davam as suas preleções numa sala ou ao léu. Em Jerusalém reuniam seus discípulos debaixo dos pórticos do Templo ou em alguma sala dos edifícios. As interpretações que davam eram freqüentemente arbitrárias, fantásticas, estreitas e até, às vezes, repugnantes. Disso Jesus deu diversos exemplos. Em vez de raciocinar conforme as regras do bom senso, outra coisa geralmente não faziam senão apelar às sentenças dos predecessores (Mt. 15.1-3; Mc. 7.3,4,7),ou fundavam as suas decisões em distinções ridículas (Mt. 23.16-18). Aliás estavam longe de concordar entre si. No tempo de Herodes havia dois doutores famosos, Schammai e Hillel, totalmente opostos entre si em muitíssimas questões; bastava que um afirmasse para que o outro quase infalivelmente negasse. O Talmude, em que foram recolhidas por ordem as doutrinas dos principais escribas, não é por assim dizer senão um conjunto de contos e de discussões pueris, no meio das quais só aqui ou acolá encontra-se alguma idéia prestável. Um ensino haurido a tais fontes, havia de por si degenerar freqüentemente em idéias violentas (Mt. 23.16); e para caracterizar o ensino jurídico e moral deles, acusava-os de onerar os outros de encargos insuportáveis, que eles mesmos nem com o dedo tocavam; de ter tomado a chave da ciência, mas de não entrarem eles mesmos e embargarem a entrada aos outros (Lc. 11.46,52).

4.5.8.2 - OS FARISEUS


A maior parte dos escribas pertencia a uma seita, que se formara aos poucos entre os Judeus, depois da sua volta do cativeiro. Era a seita dos Fariseus, isto é, separados, assim chamados em conseqüência do seu empenho de se afastar  de todos e de tudo que, no seu conceito rigoroso, pudesse contaminar a sua pureza legal. Esmeravam-se  na observância de Lei, cujas prescrições dissecavam em minúcias incríveis. Verdade é que entre eles havia homens realmente religiosos e sinceros, mas a maioria só tinha uma piedade afetada, superficial e hipócrita. (Mt. 5.20; 23.1-39; Lc. 11. 37-54). No Evangelho encontramo-los em toda a parte ao enlace de Nosso Senhor para espiá-Lo, pôr-lhe perguntas capciosas, persegui-Lo, porque desmascarava-lhes a falsa piedade, ocupava um espaço demasiadamente grande na estima popular e não correspondia absolutamente ao conceito que se tinham formado do Messias esperado. Patriotas ardentes toleravam só forçosamente o jugo dos romanos. Viam de maus olhos qualquer relação com os estrangeiros, com os publicanos e com os pecadores. O seu ardor aparente e seu zelo granjeavam-lhes a admiração do povo. E enquanto eles desprezavam o povo como ignorante (Jo. 7.49), este os considerava como os Judeus por excelência. A sua estreiteza de espírito, a sua obstinação e a sua inveja faziam deles os piores adversários do Salvador.

4.5.8.3 - OS ESSÊNIOS


Destes não fala o Evangelho. Formavam uma seita que estava espalhada por toda a Palestina. Viviam em comunidade, abstinham-se do matrimônio, do juramento e dos sacrifícios sangrentos e excediam ainda mais que os Fariseus na observância do sábado, nas purificações e nas precauções contra qualquer impureza legal. Eram considerados como rigoristas, que levavam ao extremo a doutrina e suas usanças.( hábito antigo, tradicional). Porém tudo o que se sabe deles fica mais ou menos sujeito a dúvidas, porque documentos acerca deles, dignos de crédito absoluto, faltam

4.5.8.4 - OS SADUCEUS


Derivam o seu nome de um sacerdote, chamado “Saddoc”. Recrutavam-se sobretudo entre a aristocracia. O Sumo Sacerdote e os principais funcionários da nação eram Saduceus. Esses sectários quase não acreditavam na Providência; negavam a imortalidade da alma, a ressurreição do corpo (Mt. 22.23; Mc. 12.18; Lc. 20.27), a existência dos anjos e dos demônios. Desprezavam profundamente aos Fariseus, zombavam das suas discussões e do seu formalismo meticuloso. As duas seitas tiveram outrora rixas sangrentas. Depois porém ambos preferiram ficar à distância, salvo de se rejubilarem das humilhações infligidas aos adversários Satisfeitos com suas riquezas e com a estima que gozavam sob o governo romano, os Saduceus não desejavam mudanças sociais. Não lhes interessava um Messias que viesse derrubar a ordem estabelecida; em conseqüência estavam dispostos a sacrificá-lo antes que perder a amizade dos Romanos (Jo. 48,50). Foram eles que, durante a Paixão, manifestaram com maior cinismo o seu devotamento pelo imperador (Jo. 19.12-15)

4.5.8.5 - OS HERODIANOS


Estes eram os partidários de Herodes. Seu empenho era restabelecer em toda a Palestina o poder dessa família. Por tal motivo não simpatizavam com os Saduceus que favoreciam os Romanos, nem com os Fariseus que esperavam conquistar a independência pelo Messias vindouro. Contudo conluiam com estes últimos em se tratando de tender ciladas a Nosso Senhor (Mt. 22.16; Mc. 3.6;).

4.5.8.6 – OS PUBLICANOS


Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavaleiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como arrendatários gerais e arrematadores de taxas do antigo regíme da França e que ainda existem nalgumas regiões.  Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos exações e de lucros escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se por vezes: “’Ávido como um publicano, rico como um publicano”, com referência a riqueza de mau quilate. De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram e o que mais irritação causou entre eles. Daí nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso uma questão religiosa, por ser considerada contrária à lei. Constituiu-se, mesmo, um partido poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita, tendo por princípio o não pagamento do imposto. Os judeus, pois, abominavam a este e, como conseqüência, a todos os que eram encarregados de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas as categorias, entre as quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham relações, os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque consideravam um comprometimento ter com eles intimidade.


5 – A DIVISÃO DO TEMPO ENTRE OS HEBREUS


Com relação a este item, recorro às preciosas informações do livro O Evangelho de Jesus, 1ª edição portuguesa, com complemento didático executado pelos voluntários da Associação MIMEP, com a colaboração dos Padres Paolo Acquistapace, Ângelo Albani e Massimo Astrua, sob a direção do Monsenhor Enrico Galbiati.

5.1 – OS DIAS DA SEMANA


Mapa da Palestina

O dia começava à tarde e terminava ao pôr do sol. Assim o descanso do sábado devia começar à tarde da sexta feira que se chamava Preparação (em grego Parasceve). Os demais dias da semana chamavam-se de ordem: “primeiro” era o atual “domingo” (isto é, o dia do Senhor) em honra da ressurreição de Cristo.

5.2 – AS HORAS DO DIA


Mapa da Palestina

As horas que decorrem entre o nascer do sol e o poente eram doze horas, mas de duração variável com a estação. Geralmente se fazia alusão às quatro horas principais: primeira (6 horas), terceira (9 horas), sexta (12 horas), nona (15 horas) compreendendo também as duas horas sucessivas. A noite era dividida em quatro vigílias (esta palavra indica o turno das sentinelas) de três horas cada uma.

5.3 – OS MESES DO ANO


Mapa da Palestina

Calculava-se o mês tendo como base as fases da lua, com 29 ou 30 dias, a partir da lua nova (ou novilúnio).

Mapa da Palestina

O ano era formado de 12 meses lunares; mas cada dois ou três anos intercalava-se um 13º mês para restabelecer o ajuste com a sucessão das estações ( isto é, com o ano solar). Isto se tornava necessário porque as festas, embora estabelecidas conforme os meses lunares tinham relação com as fases da agricultura. Os nomes dos meses usados pelos judeus, depois do cativeiro de Babilônia (VI séc. a.C.), são de origem babilônico.


6 – FESTAS JUDAICAS


6.1 - PÁSCOA


 Era esta a principal das festas judáicas. Fora instituída para conservar a memória da libertação do Egito. A solenidade começa no dia 14 do mês de Nisan, cerca do fim do nosso mês de março ou no princípio de abril. A festa durava sete dias. Todos os Israelitas que não tinham impedimentos de força maior estavam obrigados, de nessa ocasião, irem em romaria à Jerusalém. As mulheres e as crianças não estavam sujeitas a essa prescrição. Saíam, portanto, os romeiros das diversas localidades, geralmente em grupos (Lc. 2.44). Falava-se de subir  à Jerusalém. O caminho de Jerusalém era uma verdadeira subida; especialmente, quem da Galiléia passava pela Peréia, havia de transpor de Jericó à capital, uma encosta de 1000 metros. (Mt. 20.17,18; Mc. 10.32,33; 15.41; Lc. 2.42; 18.31; 19.28; Jo. 2.13; 5.1; 7.8; 11.55). A multidão era então enorme na cidade. Os escritores desse tempo falam em milhões. Procuravam pousada nas casas da cidade, nas aldeias circunvizinhas ou sob tendas nos campos. Os dias da festa chamavam-se dias dos ázimos (Mt. 26.17: Mc. 14.1,12; Lc. 22.1,7), dos pães sem levadura (fermento), porque nesse tempo não se podia comer senão pães dessa classe. O grande dia da festa era o 15 de Nisan; nesse dia era proibido trabalhar, como também no último dia. No dia 16 de Nisan fazia-se a oferta das primícias da messe, e a colheita podia tomar início.

6.1.1 - O BANQUETE PASCAL


No dia 14 de Nisan, à noite, celebrava-se o banquete pascal, para qual se requeriam pelo menos dez pessoas. No decorrer do dia fazia-se imolar no Templo um cordeiro ou um cabrito de um ano. Em seguida devia ser assado, e não se lhe podia quebrar um osso. O banquete celebrava-se conforme um rito determinado, com orações e cânticos próprios à circunstância. (Mt. 26.30). Depois de beber um primeiro cálice, comiam legumes amargos, ensopados em molho fortemente condimentado. Depois dum segundo cálice servia-se o cordeiro pascal e os pães ázimos. Seguia então um terceiro cálice, chamado o “cálice da bênção”, por motivo das orações e ações  de graças que se rezavam. Podiam seguir ainda dois ou três cálices e todos bebiam do mesmo cálice. Aquele que presidia a refeição pronunciava as orações, revocava a memória do passado e distribuía aos convivas o pão que partia e ensopava no molho amargo. Toda essa solenidade ia acompanhada de múltiplas abluções. Nos tempos antigos o cordeiro pascal se tomava em pé mas do tempo de Jesus Cristo os convivas tomavam as refeições estendidos em leitos. Nas narrações evangélicas da Última Ceia é fácil conferir os diversos cálices (Lc. 22.17,18,20; Mt. 26.27; Mc. 14.23)), a bandeja com cordeiro pascal (Mt. 26.23; Mc. 14.20), o pão molhado e sua entrega aos convivas (Jo. 13.26,27,30), e as ações de graças (Mt. 26.30; Mc. 14.26).

6.2 - PENTECOSTES


Esta festa celebrava-se no 50º dia depois do 15 de Nisan; daí vem o seu nome. Era uma festa de colheitas. Ofereciam-se no templo sacrifícios especiais. No Evangelho não se faz menção dela. Por cair esta festa tão perto da Páscoa, havia menos gente que nessa ocasião ia  à Jerusalém. Nesse próprio dia desceu o Espírito Santo sobre os Apóstolos. Um grande número de Judeus e de prosélitos encontravam-se então na cidade. (At. 2.5-11).

6.3 - TABERNÁCULOS OU CABANAS


Esta festa celebrava-se no dia 15 até o dia 21 do mês de Tiscri, isto é, no princípio do nosso mês de outubro, quando todas as colheitas e a víndima[4] estavam terminadas. Durava sete dias e em memória da vida dos Hebreus no deserto viviam, durante esse tempo, sob tendas de folhagem, levantadas nos tetos das casas ou nas praças. No templo imolavam-se numerosas vítimas, faziam-se solenes libações de vinho e de água, acendiam-se à noite quatro grandes candelabros no pátio das mulheres e os devotos entregavam-se à alegria. O Salvador assistiu em Jerusalém a festa dos Tabernáculos (Jo. 7.2,10). Fez alusão às solenidades do Templo, quando se apresentou a si mesmo como a fonte da água viva (Jo. 7.37,38) e como a luz do mundo. Esta, como as duas anteriores, eram as festas principais e que em conseqüência atraiam mais gente à Jerusalém. Por isso, no mês que precedia cada uma dessas festas, restauravam-se os caminhos, arranjavam-se os poços de água potável para preservar os estrangeiros de todo o perigo, e caiavam-se os sepulcros para torná-los bem visíveis, a fim de impedir os estrangeiros de os tocar; pois isso constituía impureza legal.

6.4 - OUTRAS FESTAS


6.4.1 - A festa da Expiação


celebrava-se no dia 10 do mês de Tishri, portanto 5 dias antes da festa dos Tabernáculos. Nesse dia todos os Israelitas haviam de observar um jejum rigoroso. Depois de demoradas cerimônias, o Sumo sacerdote oferecia sacrifícios, penetrava no Santo dos Santos com o sangue dum touro imolado e fazia levar ao deserto o bode expiatório. Esse era o único dia de penitência prescrito pela lei dos Judeus.

6.4.2 - A festa de Purim  ou das Sortes  


celebrava-se nos dias 14 e 15 do mês de Adar, cerca de fim de fevereiro ou  princípio de março e lembrava a libertação dos Hebreus na Pérsia por Ester. Nesse dia lia-se na Bíblia a história dessa libertação.

6.4.3 - A festa da dedicação do templo,


que começava no dia 25 do mês de Kislew – cerca de 10 de dezembro – foi instituída em memória da purificação do templo, profanado por Antíoco Epiphanes, no ano 168 a.C. A festa durava 8 dias, e ofereciam-se muitos sacrifícios (Jo. 10.22,23).

6.4.4 – As Neomênias –


Os meses dos Judeus contavam-se conforme os novilúnios, e cada mês o povo celebrava a lua nova, oferecendo diversos sacrifícios e entregando-se a regozijos.

6.4.5 – A festa das Trombetas


Assim chamava-se a festa da sétima Neomênia do ano. Era o dia santificado por descanso sabático e por sacrifícios especiais. A festa anunciava-se ao som das trombetas e era uma espécie de preparação ao dia da Expiação e à festa dos Tabernáculos, que caíam 10 e 15 dias respectivamente mais tarde.

6.4.6 – O SÁBADO


O sétimo dia da semana ou sábado era consagrado a um descanso absoluto. Era proibido, nesse dia, fazer qualquer trabalho; até era preciso preparar na véspera tudo o que nesse dia se necessitava. No tempo de Jesus e preceito do descanso sabatino tomara um caráter arbitrário e exagerado. Entre as obras proibidas contava-se extinguir ou acender o fogo, levar um objeto dum lugar para outro, esfregar nas mãos espigas colhidas ao atravessar uma seara, conforme uso aceito entre os Judeus (Mt. 12.1 e 2) e uma porção  de outras obras. Até acusavam ao Salvador de violar o sábado, quando fazia algum milagre (Mt. 12.9-13; Mc. 3.1-5; Lc. 6.6-10; 14.1-6; Jo. 5.1-16; 9.14-16). A essa censura replicava que os sacerdotes também faziam o trabalho que era preciso para os sacrifícios do sábado (Mt. 12.5 – Números 28 9 e 10) que ninguém se fazia escrúpulo de levar o gado ao bebedouro (Lc. 13,15) nem hesitaria tirar do poço ou do fosso o animal que aí tivesse caído (Mt. 12.11; Lc. 14.5). Num sábado era proibido também andar mais de 2.000 côvados judaicos, isto é, cerca  de um quilômetro, desde o lugar onde alguém estava ao começar o sábado. Chamava-se tal distância a  “jornada de um sábado” (At. 1.12). O rigor com que os Judeus observavam o sábado era para os Romanos um motivo a mais para excluí-los do serviço militar.


7 – ASPECTOS POLÍTICOS


A vinda de Jesus ocorreu no ano 749 da era romana –“ João – disse-lhe o Mestre - lembras-te do meu aparecimento na Terra? - Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de Frei Dionísio, que calculando no século VI da era cristã, colocou erradamente o vosso natalício em 754.” Humberto de Campos  Item 15 – A Ordem do Mestre, 20 de dezembro de 1934, página 89 do livro.

Interrompemos por um instante a nossa narrativa, para fazermos um breve histórico político daquela época, onde César Augusto era Imperador e Herodes   “O grande” era rei da Judéia.

Pompeu, por seus grandes êxitos no oriente, foi por algum tempo o homem mais poderoso do mundo romano, mas logo foi forçado a se curvar diante de outro ambicioso comandante romano, Júlio César, em Farsalo, na Grécia, em 48 a.C..

Completamente vencido Pompeu fugiu para o Egito, onde foi assassinado por ordens do rei do país.

Em perseguição a Pompeu, que não sabia estar morto, Júlio César desembarcou em Alexandria, no Egito. Um grande exército egípcio, ajudado por uma multidão de cidadãos, caiu sobre ele, quando reforços chegaram em seu socorro. O contingente mais eficaz foi o de três mil homens comandados por Antípatro, um ativo Idumeu, salvando Júlio César do embaraço, senão da morte, acabando em um grande bem para si mesmo com seu aparecimento oportuno.

Os resultados do choque de César e Pompeu logo se fizeram sentir na Judéia. Antípatro conseguiu induzir o agradecido César a reconhecer Hircano oficialmente como Sumo Sacerdote hereditário e confirmá-lo como etnarca, ou regente, da Judéia. Ao mesmo tempo Antípatro recebeu cidadania romana, imunidade pessoal de impostos e o cargo de administrador da Judéia. Embora Hircano continuasse nominalmente como chefe do pequeno país, quem exercia o poder era Antípatro. Prova imediata deste fato, foi que em 47 a.C., nomeou seu filho mais velho, Fasael, governador, ou tetrarca da Judéia, ao norte da Palestina, enquanto o outro filho, Herodes, de vinte e cinco anos, se tornava tetrarca da Galiléia, ao sul da Palestina, e quase imediatamente iniciava sua marcha para a fama.

Antípatro também induziu César a conceder aos judeus condições mais favoráveis do que as gozadas por qualquer outra comunidade vassala. A pequena nação foi isentada de tributo, retiraram-se as guarnições romanas e foi-lhe garantida a liberdade religiosa. Também foi permitido aos judeus reconstruírem os muros de Jerusalém, que foram arrasados por Pompeu, e Jope foi acrescentada à Judéia, a qual ganhou assim um porto no Mediterrâneo.

A Situação começava a mostrar mais promissora e Antípatro fazia o melhor que podia para que os judeus estivessem contentes com sua posição razoavelmente favorável como povo autônomo dentro do vasto império Romano. Mas a aristocracia judia fazia o máximo para anular os seus esforços. Típico de sua estratégia foi a tentativa de atacar o pai por intermédio do  filho Herodes.- O moço fizera um ótimo trabalho, livrando todo o norte da Palestina dos bandos de salteadores, que havia muito, eram um flagelo na região. Para isto, ele executou Ezequias, o chefe dos bandidos, e certo número de seu bando de malfeitores. É que o poder de infligir a pena capital era exclusivo do conselho eclesiástico e judicial judeu, o Sinédrio, o qual era muito cioso de seus direitos e prerrogativas. E assim Herodes foi intimado a comparecer perante essa aristocrática assembléia, que aproveitou a ocasião para demiti-lo do cargo e bani-lo.

Herodes ingressou no exército romano e se fez nomear governador militar da Síria inferior. Nesse importante posto romano ele estava em condições de causar muito mal aos seus antigos adversários e de reforçar enormemente a autoridade de seu pai.

Em 15 de março de 44 a.C., César foi morto no Senado, por homens que temiam, desnecessariamente, que ele quisesse acabar com a forma republicana de governo e proclamar-se rei.

Marco Antônio, um dos lugares-tenentes e dedicado amigo de César, estava decidido a vingar seu antigo comandante, acabando com Cássio, um dos assassinos e novo procônsul da Síria, e todos os outros conspiradores. Assim, ele e Otávio, sobrinho e herdeiro do poderoso César, forçaram Cássio a dar-lhes batalha nas planícies de Filipos, na Macedônia, onde, diante da derrota, Cássio se suicidou. O mundo romano ficou assim à disposição destes dois impetuosos moços.

Na Palestina, Antígono, filho mais jovem de Aristóbulo, guindou-se à posição de Sumo Sacerdote e rei de Jerusalém, após aprisionar o seu tio Hircano, que teve as orelhas cortadas, o que o desqualificava para o posto sacerdotal, e Fasael, irmão de Herodes, que se suicidou quando foi preso.

Em 40 a.C., Herodes, então com trinta e dois anos, foi recebido em Roma com todos os testemunhos de confiança e apoio, como filho do homem que havia ajudado César no Egito. Otávio e Antônio prometeram-lhe auxílio, e por um decreto do Senado, Herodes foi nomeado rei da Judéia.

O novo Rei Herodes marchou sobre Jerusalém. Seus partidários eram poucos, para que ele pudesse por cerco às sólidas fortificações da cidade. Herodes foi obrigado a dar tempo ao tempo e esperar a ajuda dos romanos. Caio Sósio, nomeado legado da Síria, foi incumbido da tarefa de providenciar para que Herodes, amigo de Antônio, fosse imediatamente posto no trono. Então no Dia da Expiação, o dia mais sagrado do ano, de 37 a.C., depois de cinco meses de resistência, cai Jerusalém.

A hostilidade de Cleópatra, rainha do Egito, para com Herodes concorreu para o bem dele. Marco Antônio, que sempre defendeu Herodes, foi impedido por Cleópatra, de aceitar seu apoio, quando do seu rompimento com Otávio, herdeiro de César. Em resultado disto, Herodes não tomou parte ativa na batalha de Áccio, em 2 de setembro de 31 a.C., que tornou Otávio – que alguns anos depois se chamaria César Augusto – senhor absoluto do crescente império romano.

Depois dos suicídios de Marco Antônio e Cleópatra, em Alexandria, em 30 a.C., Herodes apressou-se a ir ao Egito dar os parabéns a Otávio, que havia confirmado seu posto de rei da Judéia, quando do encontro dos dois em Rodes, e foi generosamente recompensado por sua gentileza. Recebeu de presente a guarda pessoal de Cleópatra, composta de oitocentos gálatas escolhidos e foi restaurado grande parte do território que fora tirado de seus domínios.

Os filhos de Herodes com Mariana, Alexandre e Aristóbulo, que tinham sido educados em Roma, já eram homens, bem como o seu primogênito, Antípatro. Herodes não parecia mostrar simpatia por ele, favorecendo Alexandre e Aristóbulo, que foram tratados por algum tempo, como principais herdeiros. Isto fez nascer um violento ciúme em Antípatro, que começou uma campanha junto ao pai contra os irmãos. Com a ajuda de alguns partidários da corte, ele conseguiu de tal maneira envenenar o espírito de seu pai, que os filhos, antes favoritos, foram condenados à morte. Antípatro, então, foi nomeado seu sucessor, com outro filho, chamado Herodes, em segundo lugar.

Antípatro, foi jogado na prisão e executado, após tentar novas intrigas, agora contra Salomé, irmã de seu pai e de dois outros meio-irmãos, Arquelau e Ântipas. Herodes não sabia em quem confiar.  Durante algum tempo Ântipas ocupou o primeiro lugar no espírito do velho rei, depois foi rebaixado em favor de seu irmão Arquelau.

O reino de Herodes, em virtude do seu testamento, ratificado e modificado depois por Augusto, foi dividido entre seus filhos, que ainda viviam. O título de rei, por herança, devia passar para Arquelau, o filho de Maltace samaritana. A ele era atribuído também o governo da Judéia ( com a Iduméia) e da Samaria. Augusto não quis que Arquelau recebesse a dignidade real, mas somente a de etnarca. Herodes Antipas, também filho de Maltace, com o título de tetrarca (soberano de uma quarta parte do reino) recebeu o governo da Galiléia e da Peréia. Filipe, filho de Cleópatra hierosolimitana, foi tetrarca da Batanéia, com a Auranítide, a Traconítide e uma parte da Ituréia ( a região de Panion e do lago de Hule) e a Gaulanítide. Um outro filho ( de uma certa Mariamne alexandrina) chamado Herodes Filipe (que se tornaria marido legítimo de Herodíades: Mc 6,17) não recebeu nenhum poder, mas passou a vida em Roma como cidadão privado. Por determinação de Augusto, as cidades (com território) de Hipos, Gádara e Gaza voltaram a ser livres. Assim as cidades de Hipo e Gádara em conjunto com as outras cidades livres da Transjordânia: Filadelfia (Amã), Gérasa, Péla, Abila, Dium, com Citópolis (Betsã) nas Cisjordânia, com Cânata e provavelmente Ráfana, no território de Filipos, formaram uma região com estatuto especial chamada Decápole, à qual se acrescentaram, pelo menos por um certo período, Adraá e Damasco. À Salomé, irmã de Herodes, Augusto concedeu em dote pessoal os territórios de Fasaélis, Jâmnia e Azoto, que após a morte dela, passaram para Lívia, esposa de Augusto, e sucessivamente para Tibério, como propriedade pessoal do imperador.

Enquanto Antipas e Filipe governaram os seus territórios durante todo o tempo da vida de Jesus e mais além, Arquelau depois de dez anos de governo marcado por revoltas e repressões cruéis, em 6 d.C., foi acusado de tirania junto de Augusto, que o destituiu e o exilou em Viena nas Gálias. Seu território foi anexado à província da Síria, mas governado de forma especial por um procurador, que residia normalmente em Cesaréia (com título de praefectus Iudaeae). Durante a vida pública de Jesus, o procurador era Pôncio Pilatos, que governou de 26 a 36 d.C.


8 – A PREPARAÇÃO DA VINDA DE JESUS FEITA PELO PLANO ESPIRITUAL


Segundo Humberto de Campos[5], tudo estava preparado para a vinda de Jesus. O século era de paz. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas.

O hino de uma paz duradoura começava em Roma para terminar na mais remota de suas províncias, acompanhado de amplas manifestações de alegria por parte da plebe anônima e sofredora.

A cidade dos Césares se povoava de artistas, de espíritos nobres e realizadores. Em todos os recantos, permanecia a sagrada emoção de segurança, enquanto o organismo das leis se renovava, distribuindo os bens da educação e da justiça.

A alma coletiva do Império nunca sentira tamanha impressão de estabilidade e de alegria. A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências. É nessa época que surgem Virgílio[6], Horácio[7], Ovídio[8], Salústio[9], Tito Lívio[10] e Mecenas[11], como favoritos dos deuses.

Em todos os lugares lavravam-se mármores soberbos, esplendiam jardins suntuosos, erigiam-se palácios e santuários, protegia-se a inteligência, criavam-se leis de harmonia e de justiça, num oceano de paz inigualável. Os carros de triunfo esqueciam, por algum tempo, as palmas de sangue e o sorriso da deusa Vitória não mais se abria para os movimentos de destruição e morticínio.

Acercavam-se de Roma e do mundo não mais espíritos belicosos, como Alexandre[12] ou Aníbal[13], porém outros que se vestiriam dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos.

Ia chegar a Terra o sublime Emissário. Sua lição de verdade e de luz ia espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e confortadoras. A Humanidade vivia, então, o século da Boa Nova. Era a “festa do noivado” a que Jesus se referiu no seu ensinamento imorredouro.

Antes, porém, de relatarmos o nascimento do Messias, cabe algumas observações sobre o nascimento do Precursor, que veio abrir as veredas para o Mestre.


9 – 0 PRECURSOR


9.1 – ASPECTOS HISTÓRICO/RELIGIOSO DO POVO JUDEUS NA ÉPOCA DE JOÃO BATISTA E JESUS


Segundo o Livro de Urantia[14], documento 135, página 1500, para compreender a mensagem de João, dever-se-ia ter em conta o status do povo judeu na época em que Ele surgiu no cenário da ação. Por quase cem anos, toda Israel tinha estado diante de um impasse; e todos se perdiam na tentativa de explicar a contínua subjugação a soberanos gentios. E não tinha sido ensinado por Moisés que a retidão era sempre recompensada com a prosperidade e o poder? Não era o povo escolhido de Deus? Por que o trono de Davi estava vazio e abandonado? À luz das doutrinas mosaicas e dos preceitos dos profetas, os judeus achavam difícil explicar a longa e continuada desolação nacional.

Cerca de cem anos antes de Jesus e João, uma nova escola de educadores religiosos surgiu na Palestina, os apocalípticos. Esses novos educadores desenvolveram um sistema de crença, segundo a qual, os sofrimentos e humilhação dos judeus aconteciam por estarem eles arcando com as conseqüências dos pecados da nação. Eles recaíam nas razões bem conhecidas, escolhidas para explicar o cativeiro da Babilônia e de outras épocas ainda anteriores. Contudo, assim ensinavam os apocalípticos, Israel deveria retomar a sua coragem; os dias de aflição estavam quase no fim; a lição do povo escolhido de Deus estava para terminar; a paciência de Deus com os gentios estrangeiros estava quase exaurida. O fim do domínio romano era sinônimo de fim da idade e, em certo sentido, de fim do mundo. Esses novos pregadores apoiavam-se fortemente nas predições de Daniel, e consistentemente ensinavam que a criação estava para atingir o seu estágio final; os reinos deste mundo estavam a ponto de tornarem-se o Reino de Deus. Para a mente judaica daqueles dias, esse era o significado daquela frase – o Reino do céu – que está nos ensinamentos tanto de Jesus quanto de João. Para os judeus da Palestina, a frase “Reino do céu” não tinha senão um significado: um estado absolutamente reto, no qual Deus (o Messias) governaria as nações da terra na perfeição do poder, exatamente como Ele governava nos céus – “Seja feita a Sua vontade, na terra como no céu”.

Nos dias de João, os judeus perguntavam-se com muita expectativa: “quando, pois, virá o Reino?” Havia um sentimento geral de que o fim do domínio das nações gentias estava próximo. Havia, presente no mundo judeu, uma esperança viva e uma intensa expectativa de que a consumação do desejo das idades ocorreria durante o período de vida daquela geração.

Ainda que os judeus divergissem muito nas suas afirmativas quanto à natureza do Reino que estava para vir, eles concordavam, na sua crença, de que o evento era iminente, palpável mesmo, já batendo à porta. Muitos que liam o Antigo Testamento literalmente aguardavam, com expectativa, por um novo rei na Palestina, por uma nação judaica regenerada, libertada de seus inimigos e presidida pelo sucessor do rei Davi, que iria logo ser reconhecido como o governante justo e reto de todo o mundo.

Outro grupo de judeus devotos, se bem que menor, sustentava uma visão muito diferente deste Reino de Deus. Ensinavam eles que o Reino que estava para vir não era deste mundo, que o mundo aproximava-se do seu fim certo, e que “um novo céu e uma nova terra” viriam para anunciar o estabelecimento do Reino de Deus; que este Reino era um domínio perene, que o pecado estava para acabar, e que os cidadãos do novo Reino iriam tornar-se imortais no seu gozo dessa bênção sem fim.

Todos concordavam que alguma purgação drástica ou alguma disciplina de purificação fosse necessária para preceder o estabelecimento do novo Reino na terra. Pelo que os Israelitas ensinavam aconteceria uma guerra mundial, a qual iria destruir a todos aqueles que não acreditavam, enquanto os fiéis seriam levados a uma vitória universal e eterna. Os espiritualistas ensinavam que o Reino seria inaugurado por aquele grande julgamento de Deus, que iria relegar os injustos à sua bem merecida punição de destruição final, ao mesmo tempo em que elevaria os santos crentes do povo escolhido aos assentos elevados de honra e autoridade, com o Filho do Homem, que governaria sobre as nações redimidas em nome de Deus. E esse grupo acreditava até mesmo que muitos gentios devotos poderiam ser admitidos na comunidade do novo Reino.

Alguns dos judeus apegavam-se à opinião de que Deus poderia possivelmente estabelecer esse novo Reino por intervenção direta e divina, mas a grande maioria acreditava que ele iria interpor algum representante intermediário, o Messias. Esse o único significado possível o que o termo Messias poderia ter nas mentes dos judeus da geração de João e Jesus. Messias não poderia possivelmente referir-se a alguém que meramente ensinasse a vontade Deus ou que proclamasse a necessidade do viver reto. A todas essas pessoas sagradas os judeus davam o título de profeta. O Messias devia ser mais do que um profeta; o Messias devia trazer o estabelecimento do novo reinado, o Reino de Deus. Ninguém que falhasse em fazer isso poderia ser o Messias, no sentido judaico tradicional.

Quem poderia ser esse Messias? E novamente os educadores judeus diferiam. Os mais velhos aferravam-se à doutrina do filho de Davi. Os mais jovens ensinavam que, já que o novo Reino era um Reino celeste, o novo governante poderia também ser uma personalidade divina, alguém que estivesse há muito à mão direita de Deus nos céus. E por estranho que possa parecer, aqueles que concebiam assim o governante do novo Reino, viam-no, não como um Messias humano, não como um mero homem, mas como “o Filho do Homem” – um Filho de Deus – um príncipe celeste, há muito esperado para assim assumir o governo feito novo, da Terra. Esse era o pano de fundo religioso, do mundo judaico, quando João entrou em cena proclamando: “Arrependei-vos, pois o Reino do céu está ao alcance das mãos!”

9.2 - PREDIÇÕES REFERENTES AO NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA


Partindo do pressuposto de que o povo hebreu sabia e esperava o advento do Messias e que Elias haveria de precedê-lo, e se o próprio Jesus esclareceu que João era Elias reencarnado, é fácil compreender que da reencarnação até a desencarnação de João Batista, a vida deste valoroso precursor foi marcada por acontecimentos de grande importância para nós cristãos. O primeiro a ser destacado é o anúncio do seu nascimento, feito por um Anjo do Senhor a Zacarias, durante o ato sagrado da queima do incenso, no santuário, quando este exercia diante de Deus, o sacerdócio na ordem de seu turno. Este costume era acompanhado por uma multidão de pessoas que permanecia do lado de fora, orando. Durante este procedimento, o Anjo apareceu-lhe, em pé, à direita do altar, e revelou-lhe que, em atendimento às suas preces, a sua esposa Isabel, daria à luz uma criança a quem chamariam João. Ele seria grande diante do Senhor; não beberia vinho nem bebida forte e seria cheio do Espírito Santo, desde o ventre materno. Este espírito seria para o casal motivo de prazer e alegria e de regozijo para muitos filhos de Israel, que se converteriam ao Senhor Deus.Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado. Diante da divina revelação, Zacarias pondera sobre o advento, uma vez que ele já estava avançado em idade e sua esposa estéril. O Anjo, então, mediante a incerteza de Zacarias, quanto às suas palavras, ordenou a sua mudez até o dia em que todas essas coisas se cumprissem.

Antes de prosseguirmos com outros acontecimentos, julgamos oportuno salientar alguns aspectos dessa passagem.

Inicialmente, o aspecto a ser contemplado é o acontecido no santuário. O evangelista Lucas relata em sua narrativa a presença do Anjo, em pé, à direita do altar. Nesta assertiva, chamou-nos à atenção, o porquê do “em pé” e “à direita do altar”. A referência ao “em pé”, o que não aconteceu quando do aviso do mesmo anjo à Maria, mãe de Jesus, acreditamos ser a representação da regidez de caráter, da solidez das atitudes frente aos desafios que iria enfrentar. Um Espírito que, embora ainda estando preso a terra, iria falar das coisas do céu – dos nascidos de mulher nenhum é maior do que João Batista, porém é o menor no Reino dos Céus - aquele que vem preparar o caminho, tanto material , como espiritual para a chegada do Messias.

O outro detalhe à “direita do altar”. O altar, na concepção de muitos, é tido como um lugar sagrado, onde, normalmente, encontram-se objetos que lembrem purificação e pode ser lido que quem está dando a Boa Nova é um espírito que assiste à direita do Pai, com todo conhecimento, sabedoria e autoridade para dar a notícia, pois tem todos os atributos de um espírito puro.

“Não beberia vinho nem bebida forte”. Para esta assertiva, podemos levantar duas hipóteses: a primeira é que o Anjo não teria nenhum motivo para a proibição do uso do vinho, uma vez que o próprio Jesus transformou água em vinho, nas Bodas de Canã e em nenhuma passagem dos Evangelhos encontramos uma proibição explícita do Mestre para o uso, sem excesso, dessa bebida, mesmo porque na última ceia todos os discípulos tomaram vinho e comeram o pão repartido pelo próprio Salvador.

Portanto, para essa afirmativa, cabe uma outra leitura. Nós preferimos ler essa assertiva como sendo um processo de depuração da alma, de desapego às coisas terrenas e demonstrar a diferença evolutiva desse Espírito. Expliquemos: na época de Jesus o vinho, principalmente, era complemento da alimentação do povo, pois o cultivo da uva era comum naquela região – basta analisarmos as referências às videiras feitas por Jesus em suas parábolas. Outro aspecto é que a água era o símbolo da pureza para os judeus, tanto é que João batizava com água e Jesus também faz referência a essa mesma água no diálogo com Nicodemos, na limpeza das mãos para o alimento e para a Mulher samaritana. A água é alimento natural, já vem pronto, enquanto que o vinho é fruto de transformação pelo trabalho. Da uva, natural, faz-se o vinho. Sendo, porém, o vinho algo transformado pelo trabalho, cabe, assim, lermos a assertiva de que somente os que não estão pronto são os que precisam do trabalho de transformação, sendo que João Batista já estava pronto, portanto, não haveria necessidade do processo de transformação, não precisava beber vinho, como foi solicitado aos apóstolos durante a santa ceia, bebendo o vinho da aliança, ou seja, daquele momento em diante, eles deveriam transforma-se de pescadores de peixes para pescadores de alma, estariam isento das coisas do mundo, estariam se preparando para as coisas do céu. A outra hipótese, a mais comum entre os estudiosos do Precursor, é colocá-lo como Nazireu, uma vez que seu pai Zacarias, sendo um sacerdote do templo tinha pleno conhecimento de que o povo judeu encarava um nazarita vitalício como uma personalidade santificada e sagrada e tinha por eles quase o mesmo respeito e a veneração que a dedicada ao sumo sacerdote, pois eram os únicos, além dos altos sacerdotes, a quem eram permitidos entrar no local santo de um templo. E para que João ganhasse a fama de profeta como ganhou, era necessário que tivesse essa identificação para o povo.

Para a expressão “seria cheio do espírito santo, desde o ventre materno”, devemos compreender que por espírito santo são designados os Espíritos superiores a quem o Livro dos Espíritos os caracterizam como aqueles que “reúnem em si a ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam se exala sempre a benevolência; é uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem noções exatas sobre as coisas do mundo corpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se complacentemente com os que procuram de boa fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosidade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.”

Portanto são aqueles que trazem as faculdades mediúnicas desenvolvidas e tem contato quase que contínuo com as esferas superiores, a fim de receber orientações e esclarecimentos na execução das atividades que deveriam desenvolver. Por isso, para um espírito que tinha como missão a difícil tarefa de abrir as veredas daqueles caminhos secos e tortuosos da Palestina e dos corações endurecidos pelo egoísmo e vaidade daquele povo, deveria estar sempre sintonizado com os espíritos puros, no intuito de manter-se equilibrado moral e intelectualmente para a tarefa, como é o caso de João Batista.

A profecia de que João seria “regozijo para muitos filhos de Israel que se converteriam ao Senhor Deus. Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado”, remete-nos ordinariamente à profecia de Malaquias 3.22-24 “Lembrem-se da lei do meu servo Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total.”

Obs.: em algumas traduções bíblicas essa passagem é citada como Ml 4.4-6;

Esta profecia ratifica o antes exposto de que o povo judeu tinha pleno conhecimento do advento do Messias e de que Elias o antecederia. Se compararmos as duas profecias, fatalmente concluiremos que as informações são as mesmas, o que muda, portanto, é a variante lingüística com que as duas foram elaboradas. Ambas falam do advento do precursor para abrir as veredas para o Messias. Malaquias, em sua profecia, explicita claramente que esse precursor, que abriria os caminhos para o Mestre, seria Elias. Na profecia do anjo Gabriel, ele diz que adiante dele irá no espírito e poder de Elias. Para esta variante cabem algumas considerações: a primeira é que João Batista não era Elias, embora o espírito fosse o mesmo, pois o espírito encarnado como Elias estava em um patamar evolutivo, já o espírito que anima João Batista, a centenas de anos depois, já havia evoluindo, pois um espírito dessa envergadura nunca ficaria estacionado. Isto é prova inequívoca da reencarnação “A alma passa, então, por muitas existências corporais? – Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse é o desejo deles. Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado o corpo, toma outro, ou então, que reencarna em um novo corpo. É assim que se deve entender? – Evidentemente.” Estes desdobramentos da pergunta 166 de “O Livro dos Espíritos” ratificam nosso ponto de vista.

9.3 – O NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA E O CÂNTICO DE ZACARIAS


Outro aspecto que gostaríamos de salientar é o que se relaciona ao nascimento de João Batista. Como já dito anteriormente, por ocasião da concepção do Precursor, Zacarias ficara mudo. Todos os ligados àquele casal, com certeza tomaram conhecimento do fato, estranhando o acontecido. Sucedeu que, no oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. Isabel, respondendo, disse que o nome do menino seria João. Todos admiraram e questionaram o porquê dá-lo o nome de João, se não havia ninguém da família com este nome. Resolveram, então, perguntar, por acenos, a Zacarias, que, escrevendo em uma tabuinha confirmou o nome de João, cumprindo à profecia do Anjo. Após este acontecimento, a boca de Zacarias se abriu e ele, cheio do Espírito Santo, profetizou:

“Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo; e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, como prometera, desde antigüidade, por boca dos seus santos e profetas, para nos libertar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança, e do juramento que fez ao nosso pai Abraão, de conceder-nos que, livres da mão de inimigos, o adorássemos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias. Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pecados; graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.”
Aqui, faremos, novamente, uma breve pausa para alguns apontamentos. Zacarias não era profeta, embora tivesse conhecimento das profecias, portanto não podia ter tanta certeza de que aquele menino seria o Precursor, mesmo porque, se assim o fizesse, poderia colocar a perder a credibilidade a qual João deveria estar investido para a sua pregação e se percebermos a profundidade da fala de Zacarias, o alcance que elas deveriam atingir e a autoridade com elas foram proferidas, denotam, claramente, que elas não podiam ter saída da boca de um homem simples, embora sacerdote, mas que meses antes havia ficado em dúvida com o aviso do Anjo. Por isso, o Evangelista chama-nos a atenção ao dizer que Zacarias estava cheio do Espírito Santo, ou seja, possuído pelo Espírito Santo, quando fez a profecia que acabamos de ler. Este fato só ratifica o entendimento que temos sobre o Espírito Santo, que para nós, espírita, nada mais é do que a faculdade denominada de Mediunidade – L.E. faculdade mediúnica, que a todos é dada, por ocasião do nosso nascimento. Temos o canal de ligação entre os dois planos da vida, o Espiritual e o material, ou seja, a faculdade que possibilita o intercâmbio entre o encarnado e o desencarnado. O fato de Zacarias estar cheio do Espírito Santo, acreditamos que ele entrou em sintonia com os espíritos superiores, que normalmente estavam no local, por ocasião do advento, e foi por isso que Zacarias teve sua boca aberta e fez soar por ela informações a que ele não tinha conhecimento. Portanto, certamente Zacarias foi intuído pelos Espíritos Superiores, ali presentes, com a finalidade de informar que naquele momento várias profecias estariam sendo cumpridas, como a de Malaquias, registradas em Ml 3.1: “Vou mandar o meu Mensageiro para preparar o meu caminho. E, imediatamente, virá ao seu templo o Senhor o que vós buscais, o anjo da aliança que desejais.” E que todos deveriam ver em João aquele que viria abrir as veredas para a chegada do Messias, tão esperado pelos Judeus.

9.4 – JOÃO BATISTA E ELIAS


Outro ponto que merece as nossas considerações é os relatados em II Reis 3 1 a 15:

Quando estava o Senhor para tomar Elias ao céu por um redemoinho, Elias partiu de Gilgal em companhia de Eliseu. Disse Elias a Eliseu: fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Betel. Respondeu Eliseu: tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim desceram a Betel. Então os discípulos dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor, elevando-o por sobre a tua cabeça? Respondeu ele: também eu o sei; calai-vos. Disse Elias a Eliseu: fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Jericó. Porém ele disse: tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim foram a Jericó. Então os discípulos dos profetas que estavam em Jericó se chegaram a Eliseu, e lhe disseram: sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor elevando-o por sobre tua cabeça? Respondeu ele: também eu o sei; calai-vos. Disse-lhe, pois, Elias: fica-te aqui, porque o Senhor me enviou ao Jordão. Mas ele disse: tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim, ambos foram juntos. Foram cinqüenta homens dos discípulos dos profetas, e pararam a certa distância deles; eles ambos pararam junto ao Jordão. Então Elias tomou o seu manto, enrolou-o, e feriu as águas, as quais se dividiram para as duas bandas: e passaram ambos a seco. Havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: pede-me o queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. Disse Eliseu: peço-te que me toque por herança porção dobrada do te espírito. Tornou-lhe Elias: dura coisa pediste. Todavia se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém se não me vires, não se fará. Indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e tomando as suas vestes, rasgou-as em duas partes. Então levantou o manto que Elias lhe deixara cair e, voltando-se, pôs-se à borda do Jordão. Tomou o manto que Elias lhe deixara cair, feriu as águas, e disse: onde está o Senhor Deus de Elias? Quando feriu as águas elas se dividiram para uma e outra banda, e Eliseu passou.Vendo-o, pois, os discípulos dos profetas que estavam, defronte, em Jericó, disseram: o espírito de Elias repousa sobre Eliseu. Vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra.

Os críticos contumazes do Espiritismo vêem nessa passagem uma poderosa aliada para descaracterizar o processo reencarnacionista, pois, a partir dela, e através de recursos falaciosos, tentam colocar em dúvida a reencarnação – um dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita – alegando que para que haja reencarnação, antes, porém, faz-se necessário que haja o desencarne. Como justificar, então, o fato de que João seria a reencarnação de Elias, já que Elias não desencarnou e sim foi arrebatado vivo ao céu, em uma carruagem de fogo?

Com relação ao maravilhoso registrado nessas passagens do Antigo Testamento, nos dando conta de que Elias subiu vivo ao céu, a razão concita-nos ao raciocínio e a ciência chama-nos à razão, para a impossibilidade de um corpo humano elevar-se às alturas, sem que para isso seja alçado por algum instrumento. Isto tudo obriga-nos a deitar nossos olhos sobre estes versículos, procurando extrair, sem paixões, as informações que subjazem a essas letras mortas, revelando os tesouros que há muito tempo ficaram escondidos nas entrelinhas dessas escrituras sagradas, comprovando que não há milagres, segundo as leis divinas e naturais, e que a Doutrina Espírita, ha seu tempo, veio desvendar para todos aqueles que debruçam seus olhares, sem preconceitos, sobre os seus livros confortadores e esclarecedores de nossas almas sedentas de amor e compreensão.

Se detivermos em algumas informações contidas no diálogo de Elizeu e Elias, depararemos com informações esclarecedoras para nós, que acreditamos na imortalidade da alma e nos dons mediúnicos.

Observando os relatos registrados em II Reis 2: 1 a 15, podemos detectar pontos importantes a serem analisados: como introdução à análise, busquemos o narrador dos fatos. Sabemos que o narrador da passagem não foi Eliseu, porque informações nos dão conta de que os livros de Reis, - antes era apenas um livro, quando escrito em hebraico, dividido em dois quando passou para versão grega, teria sido escrito por um profeta da época de Jeremias e outras, ainda, que foi o próprio profeta Jeremias quem o escreveu.

Esta constatação leva-nos a um distanciamento necessário para uma análise mais detida dessas informações. Inicialmente, acreditamos que algumas perguntas se fazem necessárias. Como o narrador nos dá tantos detalhes de conversas tão particulares? As informações contidas na narrativa são oriundas de conhecimentos compartilhados e passadas de pessoas para pessoas, através da oralidade ou são oriundas de entidades do plano espiritual, transmitidas pelo contato mediúnico, já que o autor do relato era um profeta?

Julgamos ser a segunda opção a mais adequada, por acreditarmos na imortalidade da alma e no contato do mundo físico e mundo espiritual, através da mediunidade.

Vejamos alguns pontos.

A narrativa fala da jornada efetuada por Elias e Elizeu, partindo de Gilgal até o Jordão. Vejamos alguns pontos dessa narrativa. Estando em Gilgal, Elias diz a Elizeu “Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia a Betel.” Ao pedido Elizeu responde: “Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei.” Já em Betel, sem nenhum outro fato narrado do trajeto, os profetas abordam Elizeu perguntando “ Não sabes que Senhor arrebatará hoje o teu mestre, por sobre tua cabeça?” Respondeu Elizeu, “Sim, eu sei, calai-vos! Novamente, Elias pede a Elizeu: “Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia a Jericó.” Ao que novamente Elizeu responde: “Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei.” Novamente em Jericó, o fato se sucede. “Os filhos dos profetas que estavam em Jericó aproximaram-se de Elizeu e perguntaram: não sabes que o Senhor arrebatará hoje o teu mestre por sobre tua cabeça?” Eliseu responde a mesma coisa: “Sim, eu sei, calai-vos!” Elias, pela terceira vez. suplica a Elizeu: “Fica aqui, te peço, porque o Senhor me envia ao Jordãol.” Ao pedido Elizeu responde: “Pela vida do Senhor, e pela tua, não te deixarei.” Os dois se foram. Chegando ao Jordão, escoltados a distância por cinqüenta filhos dos profetas, Elias, enrolando seu manto, bateu-o nas águas que se abriram e os dois passaram a pé enxuto.
O que podemos deduzir, tendo a Doutrina Espírita como base, é a de que a presença de Elias era em espírito, como aconteceu com Jesus no caminho de Emaús, conforme narrativa de Marcos “E depois, manifestou-se noutra forma a dois deles, que iam de caminho para o campo.” Por isso a advertência de Elizeu aos filhos dos profetas, quando indagado se ele sabia que Elias seria arrebatado sobre sua cabeça: “Sim, eu sei, calai-vos!” Dessa possibilidade de leitura compreendemos quando Elias afirma a Elizeu que lhe pede “seja-me concedida uma porção dobrada de teu espírito.” E Elias responde: “Pedes uma coisa difícil, replicou Elias. Entretanto, se me vires quando eu for arrebatado de ti, isto te será dado.” Porque, em primeiro lugar, virtude não se transfere, por isso, em seguida, Elias acena para a possibilidade da faculdade da vidência, afirmando que se ele conseguisse enxergar a elevação do seu espírito ao céu, poderia certamente entrar em contato sempre com o mundo espiritual, de onde são emanados todas as informações necessárias e ele estaria apto a transmiti-la aos seus discípulos que o seguiria como um sucessor de Elias. E foi exatamente isso que aconteceu quando, após a elevação de Elias, Elizeu de posse de sua capa bateu-a sobre as águas do Jordão para que elas se abrissem, o que não aconteceu, mas quando elevou seu pensamento a Deus e repetiu o gesto as águas se abriram e os filhos dos profetas exclamaram que o espírito de Elias estava sobre Elizeu. Para ilustrar nossa dedução recorramos, novamente, a Marcos quando Jesus, já ressuscitado, disse aos seus apóstolos: “ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome expulsarão os demônios: falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora o Senhor, depois de lhes ter falado, foi levado ao céu, e assentou-se à direita de Deus.” Aqui também não foram transferidas as virtudes de Jesus para os seus apóstolos, mas a eles foram dadas condições para fazer todas aquelas coisas e muitas mais, mas tudo em nome de Jesus, que é o Senhor e Mestre. Também aqui temos o arrebatamento de Jesus aos céus e com certeza todos os apóstolos e discípulos viram, pois estavam cheios do Espírito Santo, mas nos evangelhos não constam que outras pessoas viram o arrebatamento de Jesus e nem o arrebatamento de Elias, o que corrobora com nossa visão de que Elias estava em espírito, pois, se assim não fora, como explicar o porquê que os filhos dos profetas não tenham visto este acontecimento tão esperado e tão magnificamente espantoso, estando ali, tão próximo, na outra margem do Jordão, bastando apenas levantar os olhos para o Céu.


10 - PREDITO O NASCIMENTO DE JESUS[15]


No sexto mês[16]  foi o anjo Gabriel[17] enviado da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem[18] desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Então disse Maria ao anjo: como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus. E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o Sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas. Então disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a Tua palavra. E o anjo se ausentou dela.

10.1 - A VIAGEM DE MARIA E JOSÉ-   Lc. 2. 4-6


Mapa da Palestina

José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, a cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e Família de Davi, 5 a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, grávida. 6 Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias.

Para cumprir a lei, embora estivesse já no nono mês de gravidez, Maria teve de refazer o percurso, desta vez um pouco mais longo, porque Belém está situada 9 km a sul de Jerusalém. Em sua companhia viajava José e provavelmente outras pessoas que iam para Judéia pelo mesmo motivo.

10.2– A NEGAÇÃO DE HOSPEDAGEM A MARIA E JOSÉ


Os Animais Ante o Natal[19]


Entretecíamos animada conversação, em torno dos abusos da mesa nas comemorações natalinas, com o parecer do grave Jonathan ben Asser, que asseverava a conveniência de ater-se o homem ao sacrifício dos animais apenas quanto ao estritamente necessário, quando o velho Ebenezer ben Aquim, orientador de grupos hebraicos do Mundo Espiritual, tomou a palavra e se exprimiu conciso:

- Talvez não saibam vocês quanto devemos aos bichos na manifestação do Evangelho...

E, ante a nossa curiosidade, narrou, comovido:

- Há muitos anos, ouvi do rabi Eliúde, que se encontra agora nas esferas superiores, interessantes minudências em torno do nascimento de Jesus. Contou-nos esse antigo mentor de israelitas desencarnados que a localização de José da Galiléia e da companheira nos arredores de Belém de Judá não foi assim tão fácil.

  O casal, que compunha da jovem Maria, tocada de singular formosura, e do patriarca que a recebera por esposa, em madureza provecta, entrou na cidade quando as ruas e hospedarias se mostravam repletas.

  Os descendentes do ramo de David reuniam-se aos magotes para atender ao recenseamento determinado pelo governo de Augusto.

   Bronzeados cameleiros do deserto confraternizavam com vinhateiros de Gaza, negociantes domiciliados em Jericó entendiam-se com mercadores residentes no Egito.

  Acompanhados por benemérita legião de Espíritos sábios e magnânimos, a cuja frente se destacava o abnegado Gabriel, que anunciara a Maria a vinda do Senhor, José e a consorte bateram primeiramente às portas da estalagem de Abias, filho de Sadoc, que para logo os rechaçou com a negativa: entretanto, pousando os olhos malevolentes na jovem desposada, ensaiou graçola irreverente, o que fez que José, apreensivo, estugasse o passo para diante.

  Recorreram aos préstimos de Jorão, usurário que alugava cômodos a forasteiros. O ricaço considerou, de imediato, a impossibilidade de acolhê-los, mas ao examinar a beleza da moça nazarena, chamou à parte o enrugado carpinteiro e indagou se a menina era filha de escravos que se pudesse obter a preço amoedado... José, mais aflito, demandou a frente para esbarrar na pensão de Jacob, filho de Josias, antigo estalajadeiro, que declarou impraticável o alojamento dos viajantes; no entanto, ao fixar-se na recém-chegada, perguntou  desabridamente como é que um varão, assim velho, tinha coragem de exibir uma jovem daquela raridade na praça pública. Deprimido, o ancião diligenciou alcançar pousada próxima; contudo, as invectivas de Jacob atraíram curiosos e vadios que cercaram o par, crivando-o de injúrias.

  Os recém-vindos de Nazaré, vendo-se alvo de chufas e zombarias, tropeçavam humilhados...

   Gabriel, no entanto, recorreu à prece, rogando o Amparo Divino, e diversos emissários do Céu se manifestaram, em nome de Deus, deliberando que a única segurança para o nascimento de Jesus se achava no estábulo, pelo que conduziram José e Maria para a casa rústica dos carneiros e dos bois...

   Ebenezer, a seguir, comentou, bem humorado:

- Não fossem os anfitriões da estrebaria e talvez a Boa Nova tivesse seu aparecimento retardado...

E terminou, inquirindo:

- Não será isso o motivo para que os animais na Terra sejam poupados ao extermínio, pelo menos no dia do Natal.


11 – O NASCIMENTO DE JESUS


Naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam alistar-se, cada um à sua cidade.
23 - Lc 2. 1-3

11.1– A GRUTA E O NASCIMENTO[20]


“E ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria.”
Pelas circunstâncias apontadas por Lc 2,7, o nascimento de Jesus aconteceu num local que servia de estábulo (grego phatne, lat. Praesepium, uma manjedoura). Uma antiquíssima tradição aponta uma gruta, o que é de todo possível, haja vista que as grutas serviam não só de estábulo, mas às vezes, também, de moradia.


12 – O ANO E O MÊS DO NASCIMENTO DE JESUS


Com relação ao ano de nascimento de Jesus, Humberto de Campos traz a seguinte afirmativa, registrada no Item 15 – A Ordem do Mestre “– João – disse-lhe o Mestre - lembras-te do meu aparecimento na Terra? - Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de Frei Dionísio, que calculando no século VI da era cristã, colocou erradamente o vosso natalício em 754.”

Sanada esta primeira dúvida, partamos para o mês do seu nascimento. Acreditamos que não poderia ser em dezembro como nós cristãos comemoramos, porque, como diz Lesetre, em seu “Guia através do Evangelho”, os únicos meses de chuvas abundantes naquela região são os de dezembro e janeiro, e os evangelhos nos falam de uma noite cheia de estrelas. Portanto, os meses de dezembro e janeiro, em nosso ponto de vista, estão descartados. Com relação ao mês de fevereiro, achamos pouco provável que o governador da Síria, conhecendo tão bem o clima da região, estabeleceria um recenseamento logo a seguir a um período chuvoso.Com relação aos meses de março e abril (Nisan), meses sagrados para o povo judeu, pois é neste período que eles comemoram sua festa mais importante, a Páscoa, que lembra a libertação do povo Hebreu do Egito, por Moisés, e a data em que todo judeu, tem por obrigação dirigir-se a Jerusalém para festejar com seus irmãos, excetuando, claro, aqueles impedidos por motivos de força maior. A festa comemora também o início das colheitas. Diante desses fatos, acreditamos ser muito difícil para os Judeus fazerem duas viagens num período curto de tempo, pois acreditamos que se o recenseamento fosse feito no período da Páscoa, certamente algum evangelista o faria constar em suas narrativas, como constaram em outras passagens de Jesus. Se o recenseamento ocorreu um pouco antes ou um pouco depois, antes de iniciar as colheitas, julgamos pouco provável que o governador os obrigasse a sair de suas terras duas vezes em período muito curto, um por compromisso religioso e outro por obrigação política. Nos meses subseqüentes maio, junho, julho e agosto eram os meses em que todo povo estava em trabalho contínuo da colheita e se eles tivessem de se ausentarem por um tempo relativamente longo, pois mesmo levando em consideração a pouca extensão territorial da Palestina, as viagens eram demoradas, além do tempo gasto para se recensearem, devido ao acúmulo de pessoa. Essa parada na colheita causaria, certamente, um prejuízo para todos. O fim da colheita era comemorado com a festa dos tabernáculos ou das cabanas. Sendo assim, julgamos que o nascimento de Jesus tenha ocorrido ou no mês de setembro ou outubro, sendo que novembro seria um mês que antecede as chuvas abundantes .

12.1 – O AVISO DO NASCIMENTO AOS PASTORES[21]


Havia naquela mesma região pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu onde eles estavam e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais: eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, e que será para todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. E ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.

12.2 – A VISITA DOS PASTORES A JESUS[22]


Foram apressadamente e acharam Maria e José, e a criança deitada na manjedoura. E, vendo, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos pastores. Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração. Voltaram então os pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado.

12.3– A ESTRELA DE DAVI[23]


Seja qual for a hipótese respeitável sobre a estrela de Belém, a união dos Espíritos de Luz que mantinham o intercâmbio entre as duas Esferas formou um facho poderoso que indicava o lugar da tradição, em que Ele deveria começar o ministério entre os homens. Pastores e reis magos, todos videntes, convidados pelas Entidades Celestes, seguiram-na, cada um a seu turno, enquanto os cantores sublimes, proclamavam: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens de boa vontade!”

12.4 - A ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS – Mt 2.1-12


Mapa da Palestina

1 Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. 2 E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para adorá-lo. 3 Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes e, como ele, toda Jerusalém. 4 Então convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. 5 Em Belém da Judéia, respondiam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta: 6  “E tu Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel.” 7 Com isto, Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera. 8 E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide informar-vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando tiverdes encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-lo”. 9 Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino. 10 E vendo eles a estrela, alegraram-se com intenso júbilo. 11 Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra. 12 Sendo por divina advertência prevenidos em sonho para que não voltassem a presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra.

"O Messias havia de nascer em Belém" - (Profeta Miquéias[24] 5.2): "E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Esta profecia se cumpriu em Mateus 2.1-6; " E tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E Perguntavam: onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para adorá-lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes e, com ele, toda Jerusalém; então convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. "Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do Profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel" –

O fato que induz Mateus a chamar estes personagens estrangeiros de Magos (isto é, simples adivinhos) sem insinuar de modo algum que fossem reis, é um argumento para acreditar que o evangelista tencionava referir um fato histórico e não simplesmente uma espécie de parábola. Na verdade, percebe-se claramente como nas entrelinhas há uma contínua alusão aos fatos do Antigo Testamento, onde reis estrangeiros levavam seus presentes ao rei messiânico ( 1Rs 10: a rainha de Sabá; Sl 72[71], 10,15: os reis da Arábia e de Sabá; cf. Também Is 60,6). O paralelo teria sido mais completo se Mt. pudesse dizer que os magos eram reis. Mas não podia afirmar isso, precisamente porque não estava querendo criar uma parábola, mas referir um fato. O lugar de proveniência dos Magos ficou indeterminado: do Oriente. O nome magos  faz logo pensar na casta sacerdotal persa, que professava a doutrina de Zoroastro[25]. Todavia, na época helenista, esse nome tomou um sentido mais genérico para indicar os astrólogos e os adivinhos, numerosos na Babilônia e em outras regiões do Oriente. A natureza dos presentes leva a pensar na Arábia, mas a região dos Magos teria sido apontada como situada no sul ( Mt. 12.42: a rainha do Sul); nem podemos pensar nos nabateus, pois seu país estava muito próximo para justificar as expressões usadas pela narração evangélica e o detalhe dos “dois anos” calculados por Herodes, mesmo admitindo que quisesse ter uma ampla margem de certeza, a fim de estabelecer a idade do recém-nascido. Se tivessem vindo da Pérsia ou mesmo da Babilônia, seu itinerário devia passar pela Mesopotâmia do norte, haja vista a imensa extensão do deserto siro-arábico, alcançando a Judéia pelo norte.

12.5– A CIRCUNCISÃO DE JESUS  Lc 2. 21- ver item 3.7


21 Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram-lhe o nome de Jesus, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido.

12.6 - A APRESENTAÇÃO DE JESUS AO TEMPLO–Lc 2. 22-24


Mapa da Palestina

22 Passados os dias da purificação deles segundo a lei de Moisés, levaram-no à Jerusalém para o apresentarem ao Senhor. 23 Conforme o que está escrito na lei do Senhor: todo primogênito ao Senhor será consagrado; 24 e para oferecer um sacrifício, segundo o que está escrito na referida lei: um par de rolas ou dois pombinhos.

Passados 40 dias desde o nascimento de Jesus, a Sagrada Família foi para Jerusalém, a fim de cumprirem dois deveres distintos no Templo: o resgate do primogênito ( com 5 ciclos de prata Ex 13,2) Nm 18, 15-16) e a purificação da mãe mediante os sacrifícios ( de holocausto e expiação) de dois pombinhos ou um par de rolas ( Lv 12,2-8). Nesta circunstância aconteceram os fatos narrados por Lc. 2,22-38). Depois disso a Sagrada Família retornou a Belém, onde pensava permanecer pelo menos até quando o menino tivesse crescido um pouco mais.

12.6.1 - SIMEÃO E O MENINO Lc 2. 25-35[26]


25 Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. 26 Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor. 27 Movido pelo Espírito foi ao templo; e, quando os pais trouxeram o menino Jesus para fazerem com ele o que a lei ordenava, 28 Simeão o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: 29 agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; 30 porque os meus olhos já viram a tua salvação, 31 a qual preparaste diante de todos os povos: 32 luz para revelação aos gentios, e para a glória do teu povo de Israel. 33 E estavam o pai e a mãe do menino admirados do que dele se dizia. 34 Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este menino está destinado tanto para a ruína como para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição 35 (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações,

Dizem que Simeão, homem justo e temente a Deus, mencionado no Evangelho  de Lucas, após saudar Jesus criança, no templo de Jerusalém, conservou o nos braços acolhedores de velho, a distância de José e Maria, dirigiu-lhe a palavra, com discreta emoção:

Celeste menino- perguntou o patriarca -, por que preferiste a palha humilde da Manjedoura? Já que vens representar os interesses do Eterno Senhor da terra, como não vestiste a púrpura imperial? Como não nasceste ao lado de Augusto, o divino, para defender o flagelado povo de Israel? Longe dos senhores romanos, como advogarás a causa dos humildes e dos justos? Por que não vieste ao pé daqueles que vestem a toga dos magistrados? Então, poderias ombrear com os patrícios ilustres, movimentar-te-ias entre legionários e tribunos, gladiadores e pretorianos, atendendo-nos à libertação... Por que não chegaste, como Moisés, valendo-se do prestígio da casa do faraó? Quem te preparará, Embaixador Eterno, para o ministério santo? Que será de ti, sem lugar no Sinédrio? Samuel mobilizou a força contra os filisteus, preservando-nos a superioridade; Saul guerreou até à morte, por manter-nos a dominação; David estimava o fausto do poder; Salomão, prestigiado por casamento de significação política, viveu para administrar os bens enormes que lhe cabiam no mundo... Mas tu? Não te ligaste aos príncipes, nem aos juízes, nem aos sacerdotes... Não encontrarias outro lugar além do estábulo singelo?!...

Jesus menino escutou-o, mostrou-lhe sublime sorriso, mas o ancião, tomado de angústia, contemplou-o, mais detidamente, e continuou:

- Onde representarás os interesses do Supremo Senhor? Sentar-te-ás entre os poderosos?

Escreverás novos livros de sabedoria? Improvisarás discursos que obscureçam os grandes oradores de Atenas e Roma? Amontoarás dinheiro suficiente para redimir os que sofrem? Erguerás novo templo de pedra, onde o rico e o pobre aprendam a ser filhos de Deus? Ordenarás a execução da lei, decretando medidas que obriguem a transformação imediata de Israel?

Depois de longo intervalo, indagou em lágrimas:

- Dize- me, ó Divina criança, onde representarás os interesses do nosso Supremo pai?

O menino tenro ergueu, então, a pequenina destra e bateu, muitas vezes, naquele peito envelhecido que se inclinava já para o sepulcro...

Nesse instante, aproximou-se Maria e o recolheu nos braços maternos. Somente após a morte do corpo, Simeão veio a saber que o Menino Celeste não o deixara sem resposta.

O infante Sublime, no gesto silencioso, quisera dizer que não vinha representar os interesses do Céu nas organizações respeitáveis, mas efêmeras da terra. Vinha da casa do pai justamente para representá-lo no coração dos homens 28.

12.6.2– A PROFETISA  ANA - Lc 2. 36-38


36 Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara, 37 e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. 38 E, chegando naquela hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

12.6.2.1 - CÂNTICO DE ANA - 1 Samuel 2. 1-10.


Meu coração se exultou no Senhor, a minha força foi exaltada no meu Deus; a minha boca dilatou-se para responder aos meus inimigos, porque me alegrei na salvação que recebi de ti. Não há quem seja santo como o Senhor, nosso Deus. Não queirais multiplicar palavras altivas, vangloriando-vos; afaste-se da vossa boca a antiga linguagem, porque o Senhor é o Deus das ciências e os seus desígnios são retos. O arco dos fortes quebrou-se, e os fracos foram revestidos de força. Os que antes estavam cheios de bens assalariaram-se para terem pão; e os famintos foram saciados; até a estéril teve muitos filhos; e a que tinha muitos perdeu a força. O Senhor  é que tira a vida e a dá, leva à habitação dos mortos e a tira dela. O Senhor é quem empobrece e enriquece, quem humilha e exalta. Levanta o pobre do pó e do esterco eleva o indigente, para que se sente com os príncipes, e ocupa um trono de glória. Porque do senhor são os pólos da terra e sobre eles pôs o mundo. Ele guardará os pés dos seus santos e os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não será forte na sua robustez. Tremerão diante do Senhor os seus inimigos, e ele trovejará sobre eles dos céus; o Senhor julgará as extremidades da terra, dará o império ao seu rei e exaltará a glória do seu ungido.


13– A FUGA PARA O EGITO[27]


Mapa da Palestina

Tendo eles partido, eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho, e diz: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. Dispondo-se ele, tomou de noite[28] o menino e sua mãe, e partiu para o Egito; e lá ficou[29] até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: “Do Egito chamei o meu filho.”[30]


14 – A MATANÇA DOS INOCENTES[31]


Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente, e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos. Então, se cumpriu o que fora dito, por intermédio do profeta Jeremias: “Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem.” [32]


15 – O RETORNO DO EGITO[33]


Mapa da Palestina

Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho, a José no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe, e regressou para a terra de Israel. Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá: e, por divina advertência, prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galiléia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: “Ele será chamado Nazareno.”[34]

Estes versículos levam-nos a algumas reflexões. A primeira é com relação às advertências Divinas feitas a José.

José, inicialmente, recebeu a advertência do Anjo para que tomasse o menino e sua mãe e rumasse para as terras do Egito. Assim, o fez. Após a morte de Herodes, novas advertências Divinas foram feitas a José: a primeira, informando-lhe da morte de Herodes e que eles podiam retornar às terras de Israel. A segunda, em decorrência dos últimos acontecimentos em Jerusalém e a possível preocupação de José, em proteger Jesus de novos incidentes, foi que tomasse o Menino e Maria e fosse para Galiléia.
O que gostaríamos de salientar é a importância destes fatos na vida de Jesus e de sua família terrena, Maria e José.
Claro está para nós que aqueles fatos podem ter influenciado José em sua tomada de decisão, mas a advertência Divina teve papel fundamental na decisão dele; por obediência, conhecimento e merecimento do casal. Tudo isto demonstra a constante influência da espiritualidade superior em nossas vidas e concita-nos a termos bons propósitos, semelhantes aos de Maria e José, para mantermos uma estreita sintonia com os mentores espirituais do Mundo Maior, no intuito de melhor avaliar nossas atitudes perante as advertências que recebemos em nosso dia-a-dia e o procedimento que deveremos tomar a partir delas, pois quando Jesus nos disse que não nos deixaria órfãos, é sinal de que Ele está conosco em todos os instantes de nossas vidas da menor às maiores decisões que deveremos tomar.

A segunda reflexão é sobre a permanência de Jesus no Egito. Baseando-se na hipótese de Jesus ter nascido entre os meses de setembro e outubro (Item 12.4), podemos fazer algumas inferências sobre o período em que Ele permaneceu no Egito.

Se aceitamos a hipótese de Jesus ter nascido no ano 749 da fundação de Roma e que oss prováveis meses são setembro ou outubro e que Herodes, o grande, morreu em 750 do mês de Nisan, março/abril, porque Arquelau, seu filho e sucessor, após a sua morte e antes de ser outorgado rei por césar, ordenou a matança no Templo durante a Páscoa judaica e como nos relata o evangelista Mateus que José foi avisado no Egito que Herodes tinha morrido e que podia tomar o menino e sua mãe e retornar, indagamos: se o aviso ocorreu imediatamente após a morte de Herodes, o retorno pode ter acontecido no próprio mês de Nisan e Jesus teria entre 6 a 8 meses que é o que julgamos mais provável, pois o evangelista nos lembra que José ficou sabendo que Arquelau reinava em lugar de seu pai Herodes, e temendo o retorno à Judéia, dirigiu-se a Nazaré.

A partir dessas informações presumimos que é bem provável que no retorno de Jesus, Maria e José, eles tenham encontrado com viajantes que voltavam da festa em Jerusalém e foram informados que Arquelau tinha herdado, por testamento, o reinado de seu pai e que ele, depois que celebrou, “(...) segundo o costume do país, o luto de seu pai, deu um banquete ao povo e subiu ao templo. Clamava viva o rei, por toda parte por onde ele passava e depois que ele se sentou sobre o trono de ouro, os clamores aumentaram, com votos pela prosperidade do seu reinado. E a todos recebeu com muita bondade e testemunhou-lhes sua gratidão, por nada ter diminuído de seu afeto por ele, com a recordação da severidade com que seu pai os havia tratado; afirmou-lhes que lhes daria provas do seu reconhecimento, disse-lhes que não tomaria ainda o nome de rei, até que Augusto tivesse confirmado o testamento de seu pai e que ele tinha recusado, por essa mesma razão, receber o diadema de todo o exército lhe havia oferecido em Jericó. Mas logo que o tivesse recebido de Augusto, que somente tinha o poder de dar-lho, ele mostraria por suas ações, que tinham razão de amá-lo e esforçar-se-ia por torná-los mais felizes do que haviam sido durante o reinado de seu pai”. Mas que em seguida ordenou, contrariando tudo que havia prometido dias antes, uma grande matança de judeus durante as festividades da Páscoa. Este fato, com certeza, trouxe às cabeças de José e Maria a amarga lembrança de um outro semelhante, ocorrido meses antes - a matança dos inocentes ordenada por Herodes, seu pai - obrigando-os a irem às escondidas refugiar-se no Egito.

A partir desses acontecimentos, acreditamos que José, temendo novas matanças, tenha preferido uma cidade mais tranqüila e rumou-se para Nazaré, na Galiléia, para que Jesus pudesse crescer em paz.

Uma outra hipótese que também pode ser levantada é que o retorno de Jesus, Maria e José tenha ocorrido após a volta de Arquelau, de Roma, o que deve ter acontecido bem depois da festa de Petencostes, pois segunda anotações de Flávio Josefo em suas "Antigüidades Judaicas" as revoltas que se sucederam na Judéia, tendo como protagonistas Sabino, intendente de Augusto na Síria, ocorrendo nas proximidades da festa dos Petencostes e durando um tempo relativamente longo, quando Arquelau estava ainda em Roma, com finalidade de validar o testamento de seu pai. Sendo assim, Jesus já estaria com 2 anos, aproximadamente. Esta hipótese não nos é muito provável, pois com a decisão de César em manter o testamento de Herodes, tendo como única mudança a nomeação de Arquelau como Etnarca e não como rei e Herodes Agripa como Tetrarca da Galéia, não fazia muita diferença em ficar na Judéia ou na Galiléia, a não ser que todos soubessem de antemão que Herodes tivesse uma administração menos violenta do que o irmão Arquelau.

Com relação ao versículo 23 do capítulo 2 de Mateus quando ele relata “E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio do profeta: Ele será chamado Nazareno”, pesquisas dão contas de não haver referências da existência de nenhuma cidade ou vilarejo na Palestina por nome de Nazaré registrada no Velho Testamento, Talmude, Crônicas ou em documentos históricos de Israel e que a referência de Nazaré como cidade só apareceu efetivamente no século IV, quando a religião do Cristo já se destacava dentre as demais. Diante disso, julgamos pertinente a análise feita pelo Rev. A. R. Bucklando, M. A ., Arcediago de Norfolk, no seu Dicionário Bíblico Universal quando afirma que a palavra hebraica, vertida para nazareno, é “netser”, que significa “renovo” e é idêntica à palavra usada em Is. 11.1 “do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo”.

Desta maneira, todas as vezes que chamaram a Jesus “o Nazareno”, estavam pronunciando, com conhecimento ou sem o saber, um dos nomes do anunciado Messias. Todos os habitantes da Galiléia, onde se achava situada a cidade de Nazaré, eram olhados com desprezo pelo povo da Judéia por causa da singularidade das suas maneiras e de suas falas, talvez, por isso, o termo nazareno, freqüentemente aplicado a Jesus, em certas ocasiões tenha sido pronunciado com desdém, mais que depois foi adotado e glorificado por seus discípulos. Portanto, o opróbrio de Nazaré, a que se refere um homem, que era Galileu (Jo. 1.46), pode ter-se originado na má reputação pela falta de religiosidade e pelo relaxamento de costumes e este epíteto de Nazareno tenha sido aplicado com desprezo aos seguidores de Jesus em At. 24.5. O nome nazareno ainda existe em árabe, como uma simples designação dos cristãos.

Antes de prosseguirmos, porém, julgamos importante chamar a atenção para que não se confunda nazireu com nazareno. Nazireu era aquela pessoa, de um ou outro sexo, que na lei de Moisés se obrigava por votos a abster-se de vinho e de todas as bebidas alcoólicas, a deixar crescer o cabelo, e não entrar em qualquer casa em que houvesse gente morta, e a não assistir funeral. Se, acidentalmente, alguém morresse na presença de um nazireu, recomeçava este a sua consagração de nazireado. Geralmente, o voto era por certo período de tempo, mas algumas vezes por toda a vida.

A consagração de um nazireu era uma disposição, que notavelmente se assemelhava à do sumo sacerdote (Lv 21.10 a 12). O voto nazireu era feito com o fim de cultivar a soberania da vontade e vencer as baixas inclinações da natureza humana, tendo isso a significação de um sacrifício a Deus.


16 - A TORA: A BASE DA INSTRUÇÃO JUDAICA


São também relevantes para nosso estudo, relatos sobre a instrução dos judeus na época de Jesus. Acreditamos que estas informações muito nos ajudarão na pesquisa que ora empreenderemos, na tentativa de conhecermos ou até inferirmos sobre este período que ficou desconhecido da vida de Jesus, de 1 a 30 anos, a não ser a sua apresentação ao Templo de Jerusalém (Lc. 2 41 a 52) quando Ele reaparece em cena, junto aos doutores da Lei. Para isso, tomamos com base o estudo do Professor de exegese antigotestamentária na Faculdade Teológica dos Carmelitas de Roma e Professor de língua hebraica no Pontifício Instituto bíblico de Roma Fabrizio Foresti. Vejamos o que ele diz.

A Tora, ou lei Divina escrita (correspondente aos primeiros cinco livros da Bíblia, chamados Pentateuco, e que são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), constitui o valor central do judaísmo, como este se reorganizou após o trauma do exílio na Babilônia (587-538 a.C.).

Segundo o relato bíblico e a tradição sucessiva, os cinco livros da Tora foram entregues por Deus a Moisés, no monte Sinai, ainda antes de o povo entrar na terra prometida. Mas logo Israel esqueceu-se ou descuidou-se das “instruções Divinas” (esta é a melhor tradução para a palavra hebraica Torah) e por fim, Deus acabou abandonando-o na mão dos inimigos. Depois do exílio, o escriba Esdras conseguiu reorganizar o povo, já de volta à antiga terra dos pais, sobre o fundamento teocrático da Lei dada a Moisés. A Tora tornou-se, assim, o eixo central da vida religiosa, civil e cultural do povo.

A instrução sistemática e gradual teve importantíssima tarefa de imprimir esse valor absoluto na alma de cada judeu. Todo o ciclo instrutivo, quando se organizou segundo um plano fixado, estava centrado nesse único tema: a Tora em sua literalidade antes de tudo, depois as tradições orais que interpretavam ou completavam a Tora escrita, e por fim alguns livros bíblicos, considerados mais como moldura decorativa da Tora do que como escritos de valor autônomo.

16.1 - A DIMENSÃO ESSENCIAL DO HOMEM JUDAICO


É principalmente no estudo da Lei que o homem judaico se realiza como pessoa. Tal estudo é, em primeiro lugar, a execução de uma ordem (conforme o trecho do Shemá, correspondente ao Deuteronômio 6,6-7). Enquanto prescrito por Deus, o estudo da Tora constitui um fim em si mesmo, e é já em si um ato de culto, que coloca o crente em comunicação com Deus. Além de culto, o estudo da Tora é cultura e trabalho. Enquanto culto, é a forma basilar da experiência judaica de Deus; enquanto cultura, fornece o objeto amplo – e, ao mesmo tempo, único – dos conhecimentos da pessoa; enquanto trabalho, é a principal atividade em que o israelita deve empregar seu esforço e consumir sua energia.

O judeu praticamente realizava de vários modos essa forma essencial de sua existência: como criança, mediante um amplo ciclo de formação escolástica; como adulto, mediante o culto na sinagoga ou em encontros de grupo.

16.2 - A INSTITUIÇÃO DE ESCOLAS ELEMENTARES


O dever de instruir os meninos na Tora cabia, antes de mais nada, ao pai de família. Contudo, as comunidades judaicas logo perceberam a necessidade de dar aos garotos uma educação sistemática e em tempo integral, e não largada ao acaso das diversas situações familiares.

Segundo uma passagem do Talmud-Yerushalmi (Ketubot 32c), foi Simeão bem Seta, chefe do sinédrio nos anos 103-76 a. C., quem ordenou: “Que os meninos freqüentem a escola” (bêt hassefer, literalmente “casa do livro”, ou seja, da Bíblia). Já o Talmud Babli (Baba batra 21 a) conservou uma tradição mais particularizada e um pouco diferente: num primeiro momento, a escola para meninos foi instituída em Jerusalém; depois, estendeu-se aos centros das prefeituras, sendo reservada, porém, somente aos rapazes de dezesseis ou dezessete anos; por fim, Josué ben Gamla ordenou que em cada distrito e em todo o vilarejo houvesse professores para meninos e que estes últimos começassem a freqüentar a escola a partir dos seis anos de idade.

Que relação existe entre essas duas tradições? É difícil decidir, principalmente porque não é certa a identificação de Josué ben Gamla. Não obstante, tendo todas as informações em nosso poder, parece certo que a instituição das escolas elementares na área judaica remonta ao século 1 a. C.

16.3 - O CURRÍCULO DA INSTRUÇÃO DE BASE


A formação escolar básica articulava-se em dois ciclos: um qüinqüênio de estudo da Tora e dos outros livros bíblicos, e, depois, por um biênio, em que o menino passava ao estudo das tradições orais complementares da Lei Michna. O primeiro período escolar iniciava-se depois que o menino havia completado cinco ou seis anos, prolonga-se por cinco anos e era sucedido pelo biênio do segundo ciclo. Quando o garoto fazia doze ou treze anos, voltava definitivamente para o convívio da família, e seu pai era obrigado a iniciá-lo numa profissão.

Em geral, a escola era ligada à sinagoga. Ali os meninos reuniam-se bem cedo e ocupavam-se de suas lições até a ‘hora sexta’, isto é, até o meio dia, e depois voltavam para suas casas. Somente os alunos do biênio “médio-superior” retornavam à escola mais à tarde. Os estudantes, naturalmente, eram todos meninos, “porque” dizia-se “não há sabedoria para uma mulher a não ser o fuso” (Talmud Yerushalmi, sota 19 a).

O calendário não previa férias; apenas no período mais quente, em julho e agosto, as aulas encerravam-se às dez horas, ao invés de ao meio-dia; os sábados eram dedicados à repetição da matéria aprendida, e não a lições novas. Assim que era recebido na “casa do Livro”, o menino aprendia as letras do alfabeto hebraico no próprio rolo da Tora e começava sua primeira leitura nos oito capítulos iniciais do Levítico. Depois desta etapa, em que aprendia a ler, passava a classe dos garotos mais velhos e prosseguia com eles no estudo de livro bíblico.

O método didático empregado pelo professor era muito simples: consistia, inicialmente, em mostrar aos alunos um verso do rolo, que mantinha aberto diante deles. Como a escrita hebraica reproduz somente as consoantes, e não as vogais, era indispensável que o professor lesse primeiro o verso, escandindo claramente cada sílaba, de modo que os estudantes, após tê-lo ouvido, pudessem repeti-lo corretamente.

E assim, de verso em verso, lido primeiramente pelo professor e muitas vezes repetido a altas vozes pelos meninos, ao fim de cinco anos a Bíblia hebraica estava praticamente decorada.

O segundo ciclo de estudos era dedicado à “Lei oral”, a Michna; sempre trabalhando com a memória, ajudada pela repetição ritmada, o aluno aprendia aquele complexo de tradições explicadas pelos doutores da Lei, tendo por objetivo interpretar e integrar a Tora escrita. O método empregado era o mesmo do primeiro ciclo, e esse método de repetição – em hebraico mishna – deu nome a todas essas tradições orais que posteriormente seriam recolhidas (por volta de 200 d.C.) no livro da Michna.

16.4 - A FORMAÇÃO SUPERIOR


Ao terminar o período escolar, o menino não abandonava sua formação. Freqüentando a sinagoga todos os sábados, podia relembrar e ampliar seus conhecimentos religiosos.

Os jovens aspirantes a escribas – isto é, profissionais da interpretação da Tora, juízes e mestres e chefes de sinagoga – deviam prosseguir sistematicamente, em nível superior, seus estudos da Lei oral. Freqüentavam escolas especiais, chamadas bet midrash, ou “casa do estudo”, que geralmente eram chefiadas por um mestre renomado.

Escolas desse tipo estavam disseminadas pelos mais importantes centros do país. Particularmente célebre era a escola fundada pelos famosos mestres Hillel e Shammai no próprio recinto do templo de Jerusalém e em estreita legação com o Sinédrio. (verifique a revolta do povo, por ocasião da prisão do mestre por Herodes – o grande, objeto da matança procedida por Arquelau, durante a Páscoa, logo após a morte do Pai.)
Essas escolas tinham uma estrutura bastante rudimentar, uma vez que nasciam espontaneamente da decisão que uma pessoa tomava de participar do séqüito de um professor, conviver com ele para, sob sua orientação, dedicar-se ao estudo da Lei. Em geral, esses discípulos passavam vários anos em comunhão com o mestre, enquanto suas esposas, mais ou menos resignadas, permaneciam com os filhos nos vilarejos distantes. Em tais escolas não encontramos apenas jovens desejosos de fazerem carreira: estes eram, provavelmente, uma minoria; o grupo mais vivo era formado pelos discípulos que se dedicavam ao estudo da Tora sem nenhuma outra finalidade. Estes se pareciam mais com os discípulos de Jesus: como eles, haviam deixado tudo, porque estavam fascinados e atraídos pela palavra de Deus.


17 – A INFÂNCIA DE JESUS EM NAZARÉ


Antes de entrarmos no assunto, propriamente dito, falemos um pouco da cidade de Nazaré. Rodrigo Cavalcante, em artigo na edição 183, de dezembro de 2002, da revista Super Interessante, descreve Nazaré, segundo os arqueólogos, como um vilarejo de trabalhadores rurais, situada em uma encosta de serra, contando, na época de Jesus, com 400 habitantes, aproximadamente. Por ser tão pequena, esta vila quase não é citada nos documentos da época. O historiador John Dominic Crossan diz que “As escavações arqueológicas na cidade não encontraram nenhuma sinagoga, fortificação, basílica, banho público, ruas pavimentadas, enfim, nenhuma construção importante que datasse do tempo de Jesus”. Embora Lucas, no capítulo 4, versículo 14, do seu Evangelho descreve Jesus em uma sinagoga em Nazaré (ver item 4.2.1).

Continuando, o historiador relata que “em compensação foram encontradas pequenas prensas de azeitonas para a fabricação de azeite, cisternas de água, porões para armazenar grãos e outros indícios de uma vida agrária de subsistência.”

A casa em que Jesus cresceu, segundo as informações, devia ser como a de todo camponês pobre da época: chão de terra batida, teto de estrados de madeiras cobertos com palhas e muros de pedras empilhadas com barro, lama ou até uma mistura de esterco e palha para fazer o isolamento.

Os produtos da alimentação básica dos moradores de Nazaré, na época de Jesus, eram: pão, azeitona, azeite e vinho e um pouco de lentilhas refogadas com alguns outros vegetais sazonais, servido no pão (pão árabe) e às vezes nozes, frutas, queijos e iogurte, além de peixe salgado. Segundo os arqueólogos, a carne era rara, reservada apenas para celebrações especiais. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas e sinais de artrite grave. “A mortalidade infantil era alta e a expectativa de vida girava em torno de 30 anos. Só raros privilegiados alcançavam 50 ou 60 anos de idade”. Diz Crossan.

Depois dessa Nazaré histórica, falemos da Nazaré que acolheu nosso Senhor e Mestre desde sua infância até os 30 anos.

A nossa certeza de que Jesus tenha vivido o período compreendido pelo retorno do Egito até o início de sua grande missão, 30 anos, junto de sua família, em Nazaré, aprendendo com o Pai, José, o ofício de carpinteiro[35], se consolida em de duas fontes que para nós, espíritas, é inquestionável: a primeira vem da página recebida pelas mãos abençoadas do médium Francisco Cândido Xavier, ditada pelo Espírito Irmão X, livro Boa Nova, quando Maria em suas lembranças revê as cenas do nosso Mestre Jesus em sua infância: “Que fizera Jesus por merecer tão amargas penas? Não o vira crescer de sentimentos imaculados, sob o calor de seu coração? Desde os mais tenros anos, quando o conduzia à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Freqüentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!... Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. Muitas vezes, comentara a excelência daquela virtude santificada, receando pelo futuro de seu adorável filhinho. Ou (...)”A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia de suas recordações” e a segunda vem do Evangelho de Lucas 4: 16 “Foi a Nazaré, onde tinha crescido”. Mc 6: 3 “Saindo dali, Jesus foi para sua terra. Seus discípulos o acompanhavam. .Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E suas irmãs não vivem entre nós?”

Continuemos com as páginas de Boa Nova, de Irmão X.

“Após a famosa apresentação de Jesus aos doutores do Templo de Jerusalém, Maria recebeu a visita de Isabel e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazaré.

Depois das saudações habituais, do desdobramento dos assuntos familiares, as duas primas entraram a falar de ambas as crianças, cujo nascimento fora antecipado por acontecimentos singulares e cercado de estranhas circunstâncias. Enquanto o patriarca José atendia às últimas necessidades diárias de sua oficina humilde, entretinham-se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente as mais ternas confidências maternas.

- O que me espanta – dizia Isabel com carinhoso sorriso – é o temperamento de João, dado às mais fundas meditações, apesar da sua pouca idade. Não raro, procuro-o inutilmente em casa, para encontrá-lo quase sempre, entre as figueiras bravas, ou caminhando ao longo das estradas adustas, como se a pequena fronte estivesse dominada por graves pensamentos.

- Essas crianças, a meu ver – respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de seus olhos -, trazem para a humanidade a luz de um caminho novo. Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-lo a sós, junto das águas, e, de outras em conversação profunda com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes, nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores... Fala de sua comunhão com Deus com uma eloqüência que nunca encontrei nas observações dos nossos doutores e, constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.

- Apesar de todos os valores da crença – murmurou Isabel, convicta -, nós, as mães, temos sempre o espírito abalado por injustificáveis receios.

Como se se deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:

- Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras, e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e perplexos. Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar chamou a José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido para a perdição de muitos poderosos em Israel.

Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos úmidos, após ligeira pausa:

- Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suas valiosas relações com as autoridades do templo. Pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores. Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!... Entretanto, no dia que se seguiu às nossas íntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim, pela manhã, e me interpelou: - Mãe, que queres tu de mim? Acaso não tenho testemunhando a minha comunhão com o Pai que está no Céu?! Altamente surpreendida com a sua pequena pergunta, respondi-lhe, hesitante: - Tenho cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a vida... Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meu íntimo, ponderou ele: - Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja boa, e eu, escolherei, desse modo, a escola melhor. No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu, com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinar que a melhor escola para Deus é a do lar, e a do esforço próprio – concluiu a palavra materna com singeleza -, ele aperfeiçoa as madeiras da oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com sua doce alegria.”

“(...) Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galiléia, é talvez o mais formoso recanto da Palestina. Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima das montanhas, ao norte do Esdrelon. Seus horizontes são estreitos e sem interesses; contudo, os que subam um pouco além, até onde se localizam as casinholas mais elevadas, encontrarão para o olhar assombrado as mais formosas perspectivas. O céu parece alongar-se, cobrindo o conjunto maravilhoso, numa dilatação infinita.”

Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a lado, sobre uma eminência banhada pelos derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de Jesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicador mostrava a João as paisagens que se multiplicavam a distância, como um grande general que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado de confiança. Ante seus olhos surgiram as montanhas de Samaria, o cume de Megedo, as eminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria inesquecível o instante da Transfigiuração, o vale do rio sagrado do Cristianismo, os cumes de Safed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu, num soberbo conjunto de montes e vales, ao lado das águas cristalinas.

Quem poderia saber qual a conversação solitária que se travava entre ambos? Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeira combinação entre o amor e a verdade, para conquista do mundo. Sabemos, porém, que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua mãe, perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse: - Não queres vir conosco? – ao que o pequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente, com inflexão de profunda bondade: - “João partirá primeiro.”


18 – A ORIGEM DOS CONHECIMENTOS DE JESUS


Se concordamos que Jesus tenha passado sua adolescência junto dos pais em Nazaré e se Nazaré era um pequeno povoado de pessoas humildes, conforme relatado no artigo de Rodrigo Cavalcante, e se não foi encontrado pelos arqueólogos nenhuma fortificação e nem fundações de templos, como em Jerusalém, julgamos pertinente concluirmos que naquele pequeno lugarejo não podia existir nenhum mestre no ensino da lei, conquanto, Jesus não podia ter aprendido tudo quanto disse aos doutores, no templo de Jerusalém, quando de sua apresentação, pois até aqueles a quem o povo julgava conhecedores se espantaram com tamanha sabedoria. Como, então, explicar isso? Alguns justificam estes conhecimentos, alegando que Jesus tenha vivido entre os Essênios durante este período, motivo pelo qual não há registro sobre esta etapa de sua vida.

Para nós, Espíritas, este argumento não tem sustentação por alguns motivos que tentaremos explicar em seguida: primeiro - não podemos concordar que Jesus, que sempre procurou igualar os homens, exemplificado seus ensinamentos de humildade, amor e caridade pudesse participar de uma Doutrina de exclusão, isto é, somente para iniciados, uma vez que sempre pregou e ensinou em praça pública, onde todos, sem exceção, podiam ouvi-lo e aprender com ele, que nunca negou esclarecimentos a quem quer que se interessasse, de coração, pela sua Doutrina de amar o próximo com a si mesmo. Antes, porém, que alguém diga que Jesus também utilizou este método de exclusão, ou de iniciação, quando escolheu um pequeno grupo, os apóstolos, para com eles dividir conhecimentos, privilegiando informações que a outros não eram dado conhecer, sinceramente não enxergamos dessa maneira.

Se Jesus tivesse agido assim teria contrariado todos os seus ensinamentos de comunhão com o próximo, além do mais Ele, Jesus, nunca pediu que seus discípulos não divulgassem o que haviam aprendido com Ele em reuniões particulares, como acontecia com os Essênios, segundo Flávio Josefo, ”(...) nada ocultarão aos seus confrades dos mistérios mais secretos de sua religião e nada revelarão aos outros, quando mesmo fossem ameaçados de morte, para obrigá-los a isso”. Muito pelo contrário, sempre os concitou a pregar e a exercitar tudo que com Ele haviam aprendido, tanto era assim que ficaram os evangelhos, enquanto que das outras doutrinas iniciáticas nada ficou de concreto, a não ser, especulações.

Outro ponto que podemos citar é que todas as doutrinas de iniciação exigem vários rituais, regras rígidas de comportamento, voto de silêncio, cerimônias em locais não acedidos a não membros da comunidade, hierarquia estabelecida, enquanto o Cristianismo só pede um comportamento definido na máxima de “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Jesus nunca proibiu alguém de participar de seus ensinamentos e por várias vezes repreendeu seus apóstolos sobre este assunto.

Ainda outro ponto que gostaríamos de abordar é com relação ao processo de iniciação, também relatado por Flávio Josefo, ”(...) na seita dos Essênios, os candidatos procuravam alguém iniciado e a partir desse contato havia a apresentação dos neófitos que não eram recebidos ... imediatamente em sua comunidade, mas fazem-nos esperar por um ano onde eles têm cada qual uma ração, um cântaro de água, uma veste e um hábito branco” (...) não os deixam comer no refeitório até que tenham, durante dois anos, experimentado os seus costumes”.

O que nos consta, porém, é que com Jesus este ingresso tenha sido feito de modo contrário, pois excetuando Judas Iscariotes, todos os outros apóstolos foram escolhidos e chamados diretamente por Ele, mesmo quando João Batista pede a Thiago e André para seguir Jesus. Não conhecemos nenhuma obra, aceita ou apócrifa que conste que havia rituais de iniciação para seguir Jesus e que havia promessas. Jesus procurou todos os seus apóstolos no meio simples e humilde, pessoas de pouca instrução, mas com o coração e mente abertos para assimilar os conhecimentos complexos do retorno à Casa Paterna.

Por isso, não podemos concordar quando querem justificar a permanência de Jesus junto aos Essênios, simplesmente por falta de informação de sua vida até os 30 anos, ou por achar semelhança da sua Doutrina e a professada pelos Essênios, principalmente no que diz respeito à escolha de um pequeno grupo para receberem informações privilegiadas.

Acreditamos que a escolha dos 11 apóstolos por Jesus, foi a urgência que ele tinha em deixar seu Evangelho para o mundo e a razão nos diz impossível fazermos de todos os membros de uma nação senhores com os mesmos níveis de informações, vivências e poder de assimilação e divulgação de algo novo. Portanto, julgamos mais do que natural que Jesus tenha escolhido estes 11 apóstolos para continuar o seu trabalho e com eles travasse preleções e explicações minuciosa, visando sempre à boa divulgação de sua doutrina.

O que mais nos causa estranheza é que, se Jesus tivesse efetivamente participado da seita Essênica, como alguns teimam em dizer, certamente ele teria concordado que aqueles que cometessem falta grave aos preceitos da iniciação, seriam afastados do seita, e a maior parte deles morreria miseravelmente, porque, não lhe sendo permitido comer com estrangeiros, seriam obrigados a comer ervas como os animais e chegariam, fatalmente, a morrer de fome. E outro ponto ainda mais grave, e que Jesus estaria de pleno acordo, que quando algum iniciado falasse com desprezo de algum legislador seria castigado com a pena de morte, pois era considerado grande dever obedecer aos antepassados e aos que por eles ordenam. Imaginemos se Jesus condenasse a pena de morte a todos quantos contrariassem a sua máxima de “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Além de contrariar o seu próprio ensinamento, como certeza poucos ou nenhum escapariam do sacrifício.

Ao concluirmos que os ensinamentos de Jesus não tenham advindo, nem da formação judaica, pois se assim tivesse sido, não faria o menor sentido a afirmativa do Apóstolo João, registrada no capítulo 7, versículos 15 e 16 do seu Evangelho: “Os judeus exclamavam admirados: como é que ele sabe de letras sem ter estudado”? Jesus respondeu: “Minha doutrina não vem de mim, mas de quem me enviou” E nem Essênica, por motivos contraditórios aos ensinamentos do Cristo, conforme tratando anteriormente e as explanações de Emmanuel, registradas no livro “A caminho da luz”, capítulo XII – O Cristo e os Essênios” – psicografia de Francisco Cândido Xavier

“Muitos séculos depois da sua exemplificação incompreendida, há quem o veja entre os essênios, aprendendo as suas doutrinas, antes do seu messianismo de amor e redenção. As próprias esferas mais próximas da terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.”

“O Mestre, porém, não obstante a elevada cultura das escolas essênias, não necessitou da sua contribuição. Desde os seus primeiros dias na Terra, mostrou-se tal qual era, com a superioridade que o planeta lhe conheceu desde os tempos longínquos do princípio.”

E Allan Kardec - “O Evangelho segundo o Espiritismo” – Introdução – III – notícias Históricas:

“Pelo gênero de vida que os Essênios levavam, assemelhavam-se muito aos primeiros cristãos, e os princípios da moral que professavam induziram muitas pessoas a supor que Jesus, antes de dar começo à sua missão, lhes pertencera à comunidade. É certo que Ele há de tê-la conhecido, mas nada prova que se lhe houvesse filiado, sendo, pois, hipotético tudo quanto a esse respeito se escreveu.” –

Todos esses apontamentos levam-nos a seguinte pergunta: de onde veio, então, todo conhecimento de Jesus?

A Doutrina Espírita nos esclarece sobre a imortalidade da alma, a evolução do espírito e o esquecimento do passado. Ensina-nos a Doutrina que o Espírito não retrograda, o que vale dizer que todos os conhecimentos adquiridos em várias reencarnações estão arquivados em nossa memória e que são esquecidos, temporariamente, durante nossas reencarnações, porque (...) “freqüentemente o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito.” ( KARDEC, L.E.) Se lembrássemos que essas pessoas poderiam ter sido nossos desafetos do pretérito, possivelmente teríamos dificuldades na convivência, podendo, muitas vezes, complicarmos novamente. Por isso foi-nos dado, por misericórdia, esquecermos, temporariamente, do passado, para que pudéssemos caminhar e evoluir; objetivo precípuo da reencarnação.

Às vezes, por necessidade nossa, nos é permitido, durante o sono físico, ter acesso à parte desses conhecimentos, conhecimentos que são recobrados, após nosso desencarne, com maior ou menor rapidez, dependendo da evolução de cada Espírito.

Portanto, se a nós, Espíritos imperfeitos, reencarnados na terra, com a finalidade de reparação de débitos, são nos facultadas determinadas lembranças, imaginemos Jesus, o Espírito mais puro, já encarnado em nosso orbe e como a Questão 113 – Livro dos Espíritos nos esclarece que Espíritos puros são aqueles que (...) percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não tendo que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeito à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus. “Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material.” E como a resposta da pergunta 244 nos esclarece que só os espíritos superiores (puros) vêem e compreendem a Deus e por isso “(...) são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhe designam as suas missões. Assistir aos homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gravíssima”. Sendo assim, como é possível que Jesus tenha algo para aprender com os homens da terra, espíritos inferiores reencarnados com o objetivo de provar e expiar? Como ser aprendiz e mestre ao mesmo tempo? Isso soa aos nossos ouvidos como algo inaceitável e porque não dizer absurdo aos olhos da razão. Pois se foi sob sua orientação misericordiosa que Ele nos recebeu, seres sofredores e infelizes à luz do seu reino de amor e justiça, oportunizando-nos condições propícias para nosso crescimento intelectual e moral. E como esquecer quando Emmanuel diz que “o Filho de Deus em todas as circunstâncias seria o Verbo de Luz e de Amor do Princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis que rolam no infinito”.

No encontro com o Senador romano Públio Lentulus, narrado no livro “Há dois mil anos”, ditado pelo Espírito Emannuel a Francisco Cândido Xavier, páginas 84 e 85, 27ª edição, temos mostra desse conhecimento:

“... Dando curso às idéias que lhe fluíam da mente incendiada e abatida, Públio Lentulus considerou dificílima a hipótese do seu encontro com o mestre de Nazaré”.

- Como se entenderiam?

“Não lhe interessara o conhecimento minucioso dos dialetos do povo e, certamente, Jesus lhe falaria no aramaico comumente usado na bacia do Tiberíades.” “(...) Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração...”.
Em resumo, podemos afirmar que Jesus, quando encarnado na terra - usamos a palavra encarnado e não reencarnado para justificar que Jesus em nenhuma ocasião habitou, em corpo físico, nosso orbe, não passou pelo esquecimento do passado, portanto todos os conhecimentos adquiridos em sua trajetória evolutiva estavam presentes em sua mente e deles fez uso para esclarecer-nos sobre o Reino de Deus. Podemos comprovar a presença desses conhecimentos em várias passagens do Seu Evangelho e não vimos nisso nada de espetacular, em se tratando de um espírito da envergadura de Jesus. Estas comprovações encontramos quando da conversa com os doutores da Lei no templo de Jerusalém, quando tinha apenas 12 anos( Lc. 2: 41 a 52), na explicitação de João sobre o verbo divino(Jo 1.1-16), a comparação feita à Abrão (Jo 8.56 a 59), e a confirmação dos apóstolos sobre sua natureza divina (Jo 16.30).




[1] Atualmente Colinas de Golan – Síria
[2] Este nome significa assembléia. Era um Senado aristocrático, com sessões em Jerusalém, composto por 71 membros representantes de três classes de pessoas: o sumo sacerdote, os escribas, e os anciões. O sumo sacerdote era sempre o presidente. A sua competência se estendia a tudo o que se relacionava com a lei  religiosa e a lei civil e sua jurisdição era exercida sobre todo o povo judaico.
[3] Haggada – do hebraico Haga’da – aquilo que se diz ou se recita, narrativa. Narrativa da libertação e saída dos judeus do antigo Egito, entremeada de ensinamentos rabínicos, salmos de louvor, canções e trechos bíblicos, conforme compilada da tradição oral, e que é recitada na primeira noite da Páscoa judaica
[4] O tempo da colheita das uvas
[5] capítulo 1, do livro Boa Nova - Francisco Cândido Xavier – FEB.

[6] Públio Virgílio nasceu a 15 de outubro de 70 a.C, em mântua, Gália Cisalpina, Itália, e morreu a 21 de setembro em Brundisium, atual Brindisi, Itália. É considerado o maior de todos os poetas latinos. Sua obra mais famosa é Eneida, onde conta a luta de Augusto para revificar os velhos costumes, as tradições e a religião.

[7] Quintus Horatius Flaccus nasceu em Venusia, na Apúlia, em dezembro de 65 ou 64 a.C. e morreu a 27 de novembro de 8 a.C. em Roma, Itália. Poeta lírico romano, foi amigo de Virgílio. Sua escola ganhou maior evidência no período inicial do Renascimento ( Séc. XIV), prolongando-se até os primórdios do Séc. XVIII. Dedicou-se integralmente a literatura. Explorou variados gêneros, destacando o satírico e o crítico, marcados sobretudo pelo lirismo. Obra: Sátira ou Sermones – composto de 2 livros, ridicularizando, através deles, os costumes e excessos de sua época. Epodos, constituído por 17 poemas. Odes – 4 livros. Carmina ou Carmen Saeculare formados por dois livros de Epístolas homenageando Apolo e Diana. No fim de sua vida produziu Arte Poética ou Epístola aos Pisões, obra que exerceu enorme influência na arte dramática ao longo de muitos séculos.

[8] Ovídio nasceu em 43 a.C. em Sulmona e morreu em 17 d.C. em Tomi, atual Constanta, Romênia. Poeta latino preferido pela sociedade mundana de Roma. Sua obra: Amores e as Heróides, uma espécie de correspondência imaginária entre heróis mitológicos. A Arte de Amar e Os Remédios do Amor, obras onde procurou aprofundar os temas ligados ao amor. E sua obra de maior fôlego Metamorphoses, narrando as lendas da mitologia greco-latina composta de 15 volumes. No ano 8 d.C. foi exilado de Roma por motivos políticos, seguindo para Tomi onde escreveu Tristia, Epistolae Ex Ponto e Ibis.

[9] Salustio – Caio Salústio Crispo nasceu cerca de 86 a.C. em Amitorne, Sabínia, Itália e moreu em 35 a.C. em Roma. Historiador Romano. Questor e Tribuno da plebe. Governador na África, Protegido de César, foi um de seus maiores aliados.

[10] Tito Lívio nasceu em 59 (ou 64) a.C. em Pádua e morreu em 17 a.C. em Roma. Historiador romano, íntimo da corte de Augusto, teve uma vida de erudição e trabalho.
[11] Caio Mecenas ( 69 a. C. a 8 d.C. ) Ministro romano, amigo e homem de confiança do Imperador Augusto. Auxiliou o Imperador a conquistar o poder e lhe inspirou os tratados de Brindis e Tarento. Homem rico e de apurado bom gosto. Seu nome é muito lembrado como grande fautor de letras, por Ter dado proteção a Horácio, Virgílio e outros.

[12] Alexandre, o Grande, nasceu na Macedônia, 22 de julho de 356 a.C. e morreu na Babilônia – Iraque, no ano de 323 a.C.. O maior conquistador do mundo antigo, estendeu o império grego do mar Egeu ao Índico, do Cáspio às Cataratas do Nilo. Discípulo de Aristóteles nos anos da mocidade. Tornou-se rei aos 20 anos de idade.

[13] Aníbal nasceu no ano de 247 a.C. em lugar ignorado e morreu em Librissa, Bitínia, hoje Turquia, no ano 182 a.C. É considerado o maior líder militar de toda antigüidade. Antes, porém, de relatarmos o nascimento do Messias, cabe algumas observações sobre o nascimento do Precursor, que veio abrir as veredas para o Mestre.
[14] O Livro de Urântia é uma obra literária, composta por 197 documentos escritos em Inglês arcaico, traduzido recentemente para mais idiomas e que serve como base ideológica de alguns movimentos religiosos e filosóficos. Alguns leitores acreditam que ele contém uma síntese do trabalho de mais de 1000 autores que escreveram nos campos da ciência, religião, história, sociologia e teologia desde o final do século XIX até a metade do século XX. O livro diz-se compilado por um corpo de seres supra-humanos como assistentes editoriais, o texto fornece uma surpreendente perspectiva das origens, história e destino humanos, constituindo um grupo de revelações para a humanidade. A identidade dos narradores do livro é desconhecida e nunca foi reclamada, existindo por este motivo muitas teorias a respeito da sua edição e autenticidade. Embora seja uma fonte de inspiração e conhecimento para muitos líderes religiosos e instituições estabelecidas, religiosas ou não, não surgiu até hoje religião formal de seus ensinamentos. Grupos de estudo, fundações, sociedades, continuam surgindo, pois o livro é uma inspiração a debates para todos aqueles que tomam conhecimento de seu conteúdo.
[15] Lc.1 26 a 38 (VN)

[16] O Sexto mês a que se refere o Evangelista no versículo 1 é o sexto mês de gravidez de Isabel, prima de Maria.

[17] Ver no “O Livro dos Espíritos”, pergunta nº 113 relato sobre os anjos.

[18] O Profeta Isaías no capítulo 7, versículo 14 do livro, faz a seguinte profecia: "O Messias havia de nascer de uma Virgem, Portanto o Senhor mesmo vos dará sinal: "Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel estes ensinamentos tão elevados?
[19] Antologia Mediúnica do Natal – Espíritos diversos – Francisco Cândido Xavier – FEB 3ª edição  Copyriht - 1967
[20] Lc 2. 7

[21] Lc 2. 8-15

[22] Lc 2. 16-20
[23] Luz Do Mundo – Pág. 19 - Divaldo Pereira Franco
[24] Miquéias de Moreset. Um dos doze profetas menores. Profetizou no último quartel do século VIII, sob Joatam, Acaz e Ezequías. Jeremias (26,16-19) cita textualmente o oráculo de Miquéias 3,12. Talvez tenha este mesmo profeta vaticinado sob Manassés, pois parece ter visto o assédio de Jerusalém em 701 por Senaquerib. É natural de Moreschet-Gath, perto do território dos Filisteus. É uma personalidade vigorosa que lembra Amós.
[25] Zaratustra nasceu por volta de 628 aC, provavelmente em Rages, atual Rayy, Irã e morreu por volta de 551 aC, em local ignorado. Pregador religioso. Em sua vida há boa parte que pode ser considerada lendária. Em suas aparições pregava uma doutrina que se opunha à do clero do seu tempo. Com apoio de Vishtápa, príncipe Bactriano, pôde pregar por toda a Persa. Seus ensinamentos foram conservados pelos chamados Gâthâs do Avesta, que retomam o velho dualismo iraniano do bem e do mal, encorajando o homem a se desviar das potências do mal, para manter a pureza e ser digno da eterna luz. A nomenclatura de sua doutrina chama de Ahrinram o príncipe das trevas no inferno e de Ahura-Mazdâ e Mithra as potências da luz. Sua pregação fez com que sua doutrina penetrasse fundamente a religião da Persa Arquemênia. Seu dualismo também influenciou, segundos muitos estudiosos, a religião judaica à época da diáspora, produzindo posteriormente as inúmeras formas  maniqueístas. As traduções de Anquetil ou Perron tornaram Zaratustra célebre também no ocidente. A filosofia de Nietzsche coloca Zaratustra como personagem em sua famosa obra: “Assim falou Zaratustra”. Dicionário biográfico universal três – Edição Três Livros e fascículos – 1ª edição – 1983 – SP
[26] Irmão X, cap. 53- Pg. 148 à 150 - Antologia Mediúnica do Natal- Francisco Cândido Xavier.
[27] Mt. 2-13 a 15

[28] A circunstância da fuga“ de noite” (Mt. 2,13), devido a urgência de colocar em segurança o menino Jesus, insinua que a Sagrada Família tenha tomado, pelo menos no começo, estradas secundárias, chegando a Bersabéia quase sorrateiramente. Em seguida, provavelmente pegou o caminho que beira o deserto, ou em direção de Gaza, onde passava a estrada que rumava mais diretamente para o Egito, seguindo a costa mediterrânea .

[29] Uma vez lá, é possível que José encontrasse trabalho entre concidadãos da colônia hebraica em Leontópolis ( hoje Tell el Yehudiye), 32 km ao norte de Cairo. Uma antiga tradição assinala a estadia da Sagrada Família mais ao sul, no lugar onde surge a igreja copta de Abu Sarga, no Cairo Velho. O lugar está muito próximo a uma antiga sinagoga. Uma outra tradição não atestada antes do séc. XIII, assinala em Matariye, 8 km ao norte do Cairo, pouco longe do obelisco de Heliópolis, uma amoreira decrépita que teria oferecido alívio à Sagrada Família. A permanência no Egito pode ter durado alguns meses ( Herodes ainda não estava doente em Jericó quando chegaram os Magos) ou mesmo mais de uma ano, até a primavera de 4 a.C.

[30] Oséias 11,1 – cerca de 750 a.C. – Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho.
[31] Mt. 2 16 a 18

[32] Jeremias 31,15 – cerca de 600 anos a.C.
[33] Mt. 2 19 a 23 1

[34] Isaías 11,1 – cerca de 700 anos a.C.
[35] Ofício – Era uma norma invariável entre os judeus que todos, sem excetuar os futuros doutores, aprendessem algum ofício, não necessariamente o ofício do pai. Jesus, portanto, não fez senão conformar-se a essa regra, exercendo o ofício de carpinteiro como seu pai, José.

A profissão de carpinteiro na época de Jesus, não tinha as mesmas características que tem hoje, quando a vemos como construtor de casa de outras estruturas. Na época de Jesus, por ser Palestina uma terra de agricultura e pastoreio, muitos dos instrumentos e utensílios para realizar tais atividades eram de madeira, feitos pelo carpinteiro da aldeia. Não havendo os depósitos de madeiras, o trabalho do carpinteiro começa na floresta derrubando árvores, ou pelo menos aparando seus troncos, seus galhos para transformá-los em pranchas e tábuas destinadas à feitura de muitos instrumentos necessários.

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