A ARTE ESPÍRITA É DIVINA POR EXCELÊNCIA
A arte foi um dos primeiros meios decomunicação entre os homens. A arte é um
aglomerado de ciência, magia e técnica,
uma janela para o conhecimento sensível do
mundo. Em sua polissemia, revela a
diversidade da natureza, suas
singularidades, sendo avessa a resultados
orientados pela medida e pela utilidade. O
artista traduz o mundo sensível e imaterial
em formas, sabores, cores, texturas,
volumes e odores. A arte é capaz de extrair
formas outras daquilo que se mostra
aparente, de mergulhar no que é mais
desconhecido, de romper a mera percepção
e de considerar a imaginação como
capacidade humana para a criação. Porém,
ela só pode ser essencial, se puder
contribuir para a elevação do ser humano
como ser imortal.
Em toda a história da humanidade, é
marcante a evidente participação da arte no
contexto social. Na pré-história, ela fora
utilizada como instrumento mágico,
ajudando o homem a garantir a
sobrevivência da raça, por meio de
desenhos nas paredes das cavernas e grutas,
quando, mais tarde, por sons rítmicos e
movimentação corporal. O ser humano foi
desenvolvendo, gradualmente, sua
capacidade criativa e artística ao longo dos
tempos. Na Idade Média, a arte reflete as
potências latentes do ser espiritual e imortal
da época. Com a chegada da Idade
Moderna, novos caminhos a orientam e ela
resplandece em liberdade de temas e
técnicas. Surge a figura do artista, em sua
majestosa veste de núpcias, aproximando o
divino celeste à natureza humana. Os
séculos vindouros reinventam o fazer
artístico. Os movimentos, oriundos das
quebras conceituais, que surgem no início
do século XX, perfazem uma arte que
questiona a vida e a própria arte. Das
vanguardas, resultam os conceitos
referentes ao que denominamos, hoje, de
arte contemporânea, alvo de calorosas
discussões acerca de suas verdades.
Nesse contexto, temos uma grande
variedade de conceitos, porque são
diferenças resultantes da pluralidade
cultural e da liberdade de nossos
pensamentos. Alguns respiram poéticas
intuitivas e espirituais, outros, respiram
pensamentos menos transcendentes e
buscas sensoriais. Dentre os conceitos
filosóficos transcendentais e atuais, a Arte
Espírita se compromete a restaurar os
princípios iluminativos nas manifestações
artísticas. Ressalte-se o termo "Arte
Espírita", embora entenda que seja um
termo de difícil definição, evocamos a tese
do termo para que o movimento
doutrinário, no Brasil, possa,
definitivamente, consolidar a efetiva "arte
espírita". Até porque, o artista espírita não
veio negar o acervo atribuído ao longo dos
séculos, pois, também, utiliza-os em suas
variadas linguagens. Seus conceitos, estes
sim, estão definidos de acordo com a causa
que abraçam.
"A arte pura é a mais elevada contemplação
espiritual por parte das criaturas. Ela
significa a mais profunda exteriorização do
ideal, a divina manifestação do "mais
além", que polariza as esperanças das
almas. O artista verdadeiro é sempre o
"médium" das belezas eternas, e o seu
trabalho, em todos os tempos, foi tanger as
cordas vibráteis do sentimento humano,
alçando-o da Terra para o infinito e abrindo,
em todos os caminhos, a ânsia dos corações
para Deus, nas suas manifestações
supremas de beleza, sabedoria, paz e amor.
"(1)
A Arte Espírita não deve agir, apenas, no
contexto das casas espíritas, ou ter um
específico público para dialogar. Ela deve ir
além, a todo coração que se dispuser a
conhecer suas verdades, sejam
simpatizantes ou, simplesmente,
indiferentes à Doutrina Espírita. Sobre a
prática artística e sua atuação no
Espiritismo, é preciso romper com velhos
preconceitos, ainda existentes no
movimento doutrinário. Toda arte de
sentimentos nobres é grande vôo da criação,
capaz de nos atingir, profundamente, e,
nesse contexto, recordemos que o Brasil é o
país que abriga a maior quantidade de
artistas e de produções de artes espíritas.
A criatividade artística é sempre um
processo inacabado, um eterno vir-a-ser,
uma idéia em expansão. O artista deforma a
realidade, transmutando-a em artifícios que
desestruturam a fixidez das sociedades,
desintegram o pensamento ortodoxo, e que
se quer único. É preciso não esquecer que a
arte é um eterno diálogo entre artista e
público. As relações que os unem têm
duplo sentido: o artista inspirando seu
público e o público, por sua vez, reagindo
sobre o artista, impondo-lhe seus gostos e
seus desejos.
"A estética religiosa criou obras primas em
todos os domínios; teve parte ativa na
revelação de Arte e de beleza que prossegue
pelos séculos além. A Arte grega criara
maravilhas; a Arte cristã atingiu o sublime
nas catedrais góticas, que se erguem, bíblias
de pedra, sob o céu, com as suas altaneiras
torres esculpidas, as suas naves imponentes,
cheias de vibrações dos órgãos e dos cantos
sagrados, as suas altas ogivas, de onde a luz
desce em ondas e se derrama pelos afrescos
e pelas estátuas." (2) Cremos que a estética
espírita deve limitar-se a enunciar
julgamentos da realidade, a estudar as
correlações entre as formas artísticas e as
formas espirituais e sociais, sem tanger o
sectarismo e os dogmas normativos, que,
obviamente, dizem respeito à teologia e à
filosofia.
O Espiritismo, moralizando os homens,
exerceu, exerce e exercerá uma grande
influência sobre a arte em si e,
particularmente, a música. Produzirá mais
compositores virtuosos, que comunicarão as
suas virtudes, fazendo ouvir as suas
composições. André Luiz descreve, em sua
obra Nosso Lar, (3) o Campo da Música,
em cujas cercanias há Luzes de indescritível
beleza, banhando extenso parque, onde se
ostentam encantamentos de verdadeiro
conto de fadas. Fontes luminosas traçam
quadros surpreendentes de um espetáculo
paradisíaco.
André comenta, em suas narrativas sobre a
Colônia Espiritual, que, em gracioso coreto,
um corpo orquestral de reduzidas figuras
executa música ligeira. Nas extremidades
do Campo da Música, há certas
manifestações que atendem ao gosto
pessoal de cada grupo dos que, ainda, não
podem entender a arte sublime; mas, no
centro, ouve-se a música universal e divina,
a arte santificada, por excelência. Platão já
ensinava que "a música é uma lei moral. Dá
alma ao universo, asas ao pensamento,
saída à imaginação, encanto à tristeza,
alegria e vida a todas as coisas. Ela é a
essência da ordem e eleva em direção a
tudo o que é bom, justo e belo, e do qual ela
é a forma invisível mas, no entanto,
deslumbrante, apaixonada... eterna."
"Assim como a arte cristã sucedeu a arte
pagã, transformando-a, a arte espírita será o
complemento e a transformação da arte
cristã". (4) Posto que a arte espírita é, por
definição e por princípio, a arte universal, a
rigor, onde reflita a beleza da harmonia
Divina, podemos identificar a arte espírita
na essência. Sobretudo, quando ela atinge o
objetivo de levar à humanidade o consolo, o
desejo de auto-reforma, o bem, a caridade,
o amor. Pintores, escultores, compositores,
poetas, rogarão as suas inspirações ao
Espiritismo, e ele as fornecerá, porque é
rico, é inesgotável. Muito mais importante
do que o auxilio que a arte pode oferecer ao
Espiritismo, é a transformação que a
Doutrina Espírita causará, e já está
causando, na arte. (5)
As primeiras expressões artísticas
identificadas com a doutrina espírita
surgem em 1858, pouco após o lançamento
de O Livro dos Espíritos. Observa-se, nesse
primeiro período, uma forte identificação
entre arte e mediunidade. A edição de maio,
de 1859, da Revista Espírita, traz uma
matéria sobre o fragmento de uma sonata
atribuída ao espírito de Mozart, pelo
médium Bryon-Dorgeval. (6) Em 1860,
Kardec utiliza, pela primeira vez, a
expressão Arte Espírita, propondo-a como o
terceiro elemento de uma tríade formada,
também, pela arte pagã e pela arte cristã. O
Espiritismo não poderia negar ou dispensar
a atividade artística; ao contrário, os
conceitos e concepções que traz, ajudamnos
a ampliar nossa visão acerca da arte,
vista como elemento importante no
movimento de elevação das almas, rumo ao
porvir feliz e venturoso de equilíbrio
espiritual.
É perfeitamente possível e verdadeiro o
propósito de sensibilizar corações com a
mensagem espírita, através da arte. Para
isso, entretanto, é preciso se assumir o
compromisso de FIDELIDADE com o
Espiritismo. O espírita precisa burilar,
incansavelmente, as obras artísticas de
qualquer gênero e colaborar na
Cristianização da Arte, sempre que se lhe
apresentar ocasião, lembrando que a Arte
deve ser o Belo, criando o Bem. "O artista
espírita deve preferir as composições
artísticas de feitura espírita integral,
preservando-se a PUREZA
DOUTRINÁRIA. A arte enobrecida
estende o poder do amor." (7) (destaque
meu)
A arte é excelente ferramenta para trabalhar
a intuição e a sensibilidade, além de
promover a inter-relação alegre e
harmoniosa entre as pessoas. É, sem
dúvida, expressão de harmonia, de
aprimoramento e de beleza. Quem a
transmite consegue estabelecer contato com
a natureza e com o seu Criador. Nós vamos
entender que Deus, ao criar a vida, não se
afastou da beleza, da harmonia e da
perfeição.
Que o Espiritismo seja a base das
apresentações artísticas para quem trabalha
com arte voltada para a divulgação e
engrandecimento, posto que, é através da
arte que o ser interage com o ambiente em
que vive; e, principalmente, como forma de
expressão, de materialização de idéias,
sentimentos e percepções, em consonância
com o patamar evolutivo em que se
encontra.
Diante do exposto, convidamos os artistas
espíritas a estudarem, mais profundamente,
a maravilha de doutrina que temos ao nosso
alcance, para dar a qualidade devida à Arte
Espírita. Aos literatos e poetas, que refinem
a poesia; aos pintores, que burilem a
pintura; aos músicos, aos atores e aos
dançarinos, que aperfeiçoem seus talentos,
incansavelmente. Dessa forma, a Arte,
aliada ao Espiritismo, assentará seus pilares
e consolidará seu lugar, para fortalecer,
ainda mais, o movimento espírita brasileiro,
espalhando mais talentos por todos os
cantos do mundo, sem jactâncias, sem
pieguismos, sectarismos, fanatismos e
tantos "esquisitismos" estranhos que
teimam invadir nossas hostes através dos
misticismos inócuos.
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Xavier, Francisco Cândido. O
Consolador, ditado pelo Espírito
Emmanuel, Rio de Jeneiro: Ed FEB , 2001,
pag. 100, perg. 161
(2) Denis, Léon. O Problema do Ser, do
Destino e Da Dor, Rio de Janeiro: Ed FEB ,
1999
(3) Xavier , Francisco Cândido. Nosso Lar,
ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de
Janeiro: Ed FEB 2001, Cap. 45
(4) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de
Janeiro, Ed FEB, 1992
(5) Artigo de Flávio Fonseca editado na
Revista Cristã de Espiritismo nº 1
(6) Kardec, Allan. Revista Espírita, edição
de maio de 1859, Brasília: Edicel, 2001,
(7) Vieira ,Waldo. Conduta Espírita, ditado
pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro:
Ed FEB, 1992
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