04 - OS FILHOS
Na
constelação familiar, a prole é de relevante significação, sem a qual
frustra-se a união dos parceiros, diminuindo a intensidade do afeto e da
alegria da comunhão constante.
O
lar. é, essencialmente, o grupo consangüíneo que estrutura a continuidade do
clã por determinação divina, organizando a sociedade humana em bases de amor e
de progresso ético-moral-intelectual, graças ao qual o espírito alcança a
plenitude.
Constituindo
verdadeira provação a ausência de filhos biológicos, quase sempre termina pelo surgimento
de mágoas e de inquietações que culminam na dissolução dos vínculos afetivos em
forma de separação do casal.
Faz
parte da natureza animal e particularmente humana o fenômeno procriativo, por
cujo meio as heranças genéticas proporcionam a continuidade da família e a
alegria dos pais, realizados emocional e espiritualmente com o sucesso do
empreendimento afetivo, conjugando esforços para a harmonia doméstica.
Exceto
quando o egoísmo calculista opta pela ausência dos filhos na união dos
indivíduos, que procuram somente desfrutar do prazer da convivência e do
relacionamento sem a responsabilidade da reprodução, toda união sexual deve
pautar-se na expectativa de gerar descendentes.
Naturalmente
que, uma programação familiar objetivando o equilíbrio e a educação dos filhos,
constitui um compromisso saudável e dignificante, considerando-se que toda
convivência que não se renova na estrutura emocional em que se apóia, culmina
pelo tédio, pela perda dos estímulos e pela ausência de motivações para
manter-se em clima de harmonia.
Quando
assim não sucede, o vazio existencial que advém da convivência com o mesmo
parceiro, por imaturidade psicológica e pela falta de educação dos hábitos
comportamentais, favorece a promiscuidade sexual mediante outras experiências
fora do lar, com lamentáveis resultados emocionais, em face da insatisfação que
sempre decorre da conduta irresponsável.
A
prole, desse modo, proporciona a bênção da alegria defluente do prazer
procriativo, através do qual o ser adquire auto confiança e responsabilidade. É
certo que as exceções são muitas, o que não retira a qualidade divina da
construção da sociedade melhor do futuro.
Quando
os parceiros não compartem dos júbilos afetivos com os filhos ou não repartem
com esses rebentos carnais a verdadeira doação de amor, terminam desviando os
relevantes projetos da família para a auto-realização, cada um dos quais
preocupando-se mais com as ambições e projeções do ego, buscando
o
outro somente para a satisfação dos sentimentos sem a amplitude emocional de o
promover e felicitá-lo como deveria ser.
Desse
modo, o filho constitui o fruto sazonado com que a vida contempla a parceria
afetiva.
Mesmo
quando nasce assinalado por limites orgânicos ou mentais, aturdido por
transtornos emocionais, torna-se um anjo crucificado nos madeiros do
sofrimento, necessitado de carinho, de assistência e de educação.
Ao
mesmo tempo representa concessão divina para os pais que, dessa forma, se
reabilitam com o amor encarcerado na cela sem paredes do resgate espiritual,
erguendo-se na direção da plenitude, ao tempo em que o ajudam na ascensão a que
tem direito.
Noutras
vezes, quando impositivos poderosos assinalam-no com obsessão cruel, em
processo de recuperação inadiável, o amor dos pais é-lhe a luz no final do túnel
da aflição apontando-lhe a saída libertadora.
Se
abençoado pela saúde e pela harmonia física, emocional e mental, mais amplos
cuidados devem ser-lhe direcionados, afim de que a provação da beleza e do
equilíbrio não se lhe transforme em desatino ou compromisso perturbador para o
futuro.
A
família é sempre o sublime laboratório de caldeamento de espíritos, ensejando
as experiências iluminativas mais variadas no educandário terrestre.
Desafetos
graves mergulham nas vestes carnais, a fim de recomeçar a experiência
evolutiva, nos braços e na ternura dos seus antigos algozes ou de suas vítimas
desditosas, experienciando vivências de reparação, mediante a compaixão e a
ternura, que propiciam encantamento, renovação e paz.
Vezes
outras, relacionamentos tumultuados que resvalam para a agressividade e a
loucura, ressurgem dos vínculos biológicos em outras expressões, facultando
emoções diferentes e aprendizados afetivos especiais que se consubstanciam em
sentimentos de amor pleno.
A
amante desprezada ontem, retoma como filha rebelde, atormentada, ensejando ao
genitor piedade e misericórdia, a fim de diluir-se-lhe o ressentimento, tanto
quanto o filho ingrato e grosseiro é o pai de experiência anterior espoliado
nas suas aspirações, tendo nova oportunidade de desculpar, caso não disponha de
valor moral para perdoar...
Não
fosse a família, e crimes hediondos que são cometidos amiúde, ocultos da
consciência social, mas não da individual,ficariam difíceis de ser retificados,
porque no grupamento mais complexo, os ódios ressumariam com mais facilidade,
gerando terríveis episódios de vingança e de insensatez que mais complicariam
os processos reparadores.
No
seio da família, em razão da convivência desde o berço, dos vínculos
biológicos, mais fácil torna-se a recuperação de uns e de outros, por
impositivo da dependência dos que chegam diante daqueles que já se encontram na
experiência humana, requerendo oportunidade e amparo. Nem sempre, porém, os resultados
se fazem positivos, em face da gravidade do crime e dos sentimentos profundos
de mágoa e rancor, exigindo novos cometimentos no futuro. No entanto, abrem-se
perspectivas melhores de entendimento e de auxílio recíproco.
É
impositivo da legislação divina que o amor se expresse de variada maneira na
sua essência sublime e não apenas em formulação específica e unitária, o que
ocorre desde a fraternidade, na qual a amizade patenteia-se generosa, até a
afetividade profunda como genitor ou parceiro sexual.
Nada
ocorre em função do acaso. Mesmo quando os encontros se dão de maneira
imprevista, há impulsos condutores que transcendem à capacidade de percepção do
ser humano, trabalhando em favor dos processos de crescimento moral e
espiritual.
O
acaso, pode, então, ser considerado como uma lei sábia que se expressa
mediante fenômenos desconhecidos, mas programados antecipadamente. Sempre
funciona a afinidade vibratória que identifica os indivíduos que se encontram
na mesma faixa de pensamento e de evolução, unindo-os e reunindo-os conforme as
necessidades da evolução.
As
diversas experiências, mediante os vínculos consangüíneos, inicialmente até
espraiar-se na identificação afetiva, na condição de pessoas não vinculadas
biologicamente que se unem para a organização doméstica, irão organizar a
célula básica da vida social, que é sempre a família, cada vez mais feliz,
conforme os resultados das contínuas ligações afetivas.
Assim
considerando, os filhos devem aos pais, mesmo quando estes não conseguem
desincumbir-se de maneira feliz do compromisso abraçado, gratidão e respeito
pela oportunidade abençoada do renascimento no corpo físico, no lar de que
necessitam para evoluir.
Trabalhando
o próprio caráter e aprimorando-o, cumpre-lhes manter obediência e atenção, de
modo a desenvolver os valores elevados do sentimento e da razão.
Ao
mesmo tempo, compreender as circunstâncias em que a família se apresenta, de
modo a credenciar-se ao amadurecimento psicológico próprio para a conquista da
harmonia pessoal.
Quando
o lar é tranqüilo e bem estruturado, torna-se 11 ma universidade de complexas
disciplinas evolutivas, facultando o engrandecimento do espírito em relação à
sociedade na qual se encontra.
A
convivência entre filhos e pais é recurso psicoterapêutico valioso, trabalhando
o inconsciente de ambos, de maneira a serem superadas as reminiscências
negativas que possam ressumar, programando a reconciliação e o bem-estar
através do amor incessante, delineador da felicidade tio grupo.
Compreende-se
que, nem sempre, os resultados são ótimos, no entanto, em qualquer
circunstância fazem-se experiências iluminativas que são logradas pela
repetição e pelo sofrimento que decorre da rebeldia ou da indiferença pela
afetividade.
Somente
no relacionamento doméstico é possível a preparação para a fraternidade
generalizada, desde que, no grupamento familiar, de menor dimensão, onde todos
se conhecem e se podem desculpar com mais facilidade, são trabalhados os
sentimentos e superadas as exigências do ego, dando lugar aos interesses gerais
que farão bem igualmente a cada indivíduo.
As
leis de afinidade, portanto, propiciam os encontros, os reencontros e os
desencontros, no santuário da família, conforme os estágios evolutivos e os
níveis de consciência dos membros do clã.
Ser
filho é uma oportunidade de aprendizagem para tornar-se genitor.
Não
sabendo conduzir-se na condição de submissão e obediência, dificilmente saberá
orientar e fazer-se compreender.
Enquanto
os pais têm graves responsabilidades para com a prole, que não podem ser desconsideradas,
aos filhos cumpre exercitar os deveres do afeto e do trabalho para o próprio desenvolvimento,
assim como a preparação para o futuro, quando deverão proteger os pais idosos
ou enfermos, quer deles necessitem ou não.
Os
filhos de agora serão os genitores de amanhã, cabendo à reencarnação
propiciar-lhes o futuro de acordo com a sementeira do presente.
Graças,
portanto, ao mecanismo sábio das reencarnações, alteram-se as paisagens
afetivas nos relacionamentos no lar, desenvolvendo a real fraternidade que
deverá viger em todos os segmentos da sociedade.
Amar,
desse modo, respeitando os pais, mesmo quando aparentemente não o mereçam, é
impositivo da lei divina no processo da evolução do espírito, que os filhos não
podem desconsiderar, porquanto a oportunidade do renascimento constitui
verdadeira bênção da vida em favor da felicidade.
Devem
os filhos ter em mente, quando descendentes de genitores negligentes ou
inescrupulosos, perversos ou cruéis, que eles são mais enfermos do que maus,
compreendendo que, nesse lar, é que se encontraram os mecanismos necessários à
regularização do passado infeliz, agradecendo, assim mesmo, àqueles que lhes
concederem a roupagem orgânica, quando poderiam tê-la negado e não o fizeram.
CONSTELAÇÃO FAMILIAR
Salvador,
noite de Natal de 2007
Joanna
de Ângelis
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