06 - A PRESENÇA DOS AVÓS
O milagre da vida orgânica através da fecundação favorece a
multiplicação dos seres vivos, facultando, no reino hominal, a existência da
constelação familiar.
A sucessão natural daqueles que chegam em relação aos que já
se encontram e aos que retomaram, forma a colméia humana de diferentes níveis
etários, permitindo que as experiências sejam transferidas de uma para outra
geração.
A educação, no entanto, não se restringe às informações que
são passadas pelos responsáveis familiares, ampliando-se da instrução à
formação de hábitos, à correção de condutas equivocadas, à construção de novos
costumes ético-morais que a convivência plasma nos aprendizes...
Todavia, para que a educação alcance a finalidade a que se
destina, faz-se necessário que os arquivos do inconsciente do educando possuam
os tesouros que devem ressumar os estímulos dos preceptores, incorporando-se ao
eu consciente que os vivenciará saudavelmente.
Nesse conjunto de experiências no lar, os avós desempenham
significativa importância, quando compreendem a função que lhes corresponde,
não as extrapolando sob pretexto algum. Quando isso sucede, perturbações e
destrambelhos nos relacionamentos ocorrem na estrutura doméstica.
É inadiável a compreensão dos deveres que a cada qual
competem, de forma que não se interfiram reciprocamente nas realizações que
lhes não dizem respeito. A convivência saudável deve estruturar-se na consideração
que deve ser mantida entre os membros do mesmo clã, ninguém desejando superar
os limites que lhe estão impostos, sob justificativas salvacionistas, sempre de
resultados prejudiciais...
Cabem aos pais as graves responsabilidades a respeito da
orientação dos filhos e da edificação da família que constituem.
Habitem ou não os avós no mesmo núcleo, a sua deve ser uma
conduta afável, sem interferências diretas no comportamento dos educadores. A
sua experiência é-lhes válida, no que diz respeito aos seus compromissos em
relação aos demais membros do clã, havendo cessado, ao concluir a educação dos filhos
e deixando-os agora assumir os próprios deveres.
As rixas descabidas e defluentes do egoísmo e demais
paixões, constituem péssimo exemplo de comportamento coletivo, por culminarem
em sentimentos inamistosos e ódios, muitas vezes desastrosos para todos que se
encontram envolvidos na mesma família.
De maneira idêntica, os apegos excessivos aos filhos,
masculinos ou femininos, geram conflitos com os seus parceiros, expressando as
íntimas insatisfações e frustrações anteriores, agora disfarçadas, que se exteriorizam
na condição de sogros falsamente protetores. Inseguros, esses genitores desejam
realizar o que não conseguiram quando lhes competia educar saudavelmente, e a
imaturidade, os preconceitos, os tormentos pessoais não lhes permitiram fazer.
Quando os filhos elegem os parceiros, aos quais se unem, não
necessitam da intervenção dos genitores, devendo arcar com as conseqüências da
sua escolha. Como tiveram a liberdade de identificar-se com outrem que lhe
parece ideal para a convivência, é justo que sejam responsabilizados pelo relacionamento,
especialmente no que diz respeito à convivência íntima, que ninguém tem o
direito de interferir, em face da sua complexidade e significados individuais.
Assim, cabe-lhes a assumpção dos deveres em relação à prole,
não a transferindo para os atuais avós, cuja contribuição não deve ir além da
condição de cooperadores quando solicitados, de apoio e de carinho, eximindo-se
a grave postura de acobertar erros dos netos, de agir equivocadamente em
relação a eles, acreditando que a orientação dos genitores está incorreta..,
Basta uma reflexão singela para dar-lhes sentido à conduta:
gostariam que, anteriormente, os seus pais interferissem na maneira como se
conduziram em relação aos filhos?!
Não fazer a outrem o que não gostariam que lhes fosse feito,
continua
sendo uma regra áurea de convivência em todo grupo social, especialmente no
familial.
Filhos, especialmente femininos, aturdidos e irresponsáveis,
desejando viver em desregramento sexual, quando se tornam mães, sem estrutura,
ao invés de haverem tomado providências para evitar a fecundação e não o
fizeram, entregam às mães os filhos do desamor e da leviandade, como se fossem crias
abandonadas, partindo para novas e desvairadas condutas.
Infelizmente, algumas genitoras que se fazem superprotetoras
dessas filhas insensatas, tomando-lhes os rebentos, estimulam-nas ao
prosseguimento da inconseqüência que, às vezes, raia pela desventura, assim
ajudando-as em mais comprometimentos morais e espirituais.
Insistissem para que assumissem o dever em relação à prole e
seriam, pelo menos, em parte, coarctadas na falsa liberdade, ante o dever de
experienciar a vivência ao lado desses seres que reiniciam a jornada terrestre
em situação afligente.
A ignorância de muitas dessas almas maternas, avós por
imposição do descompasso moral dos filhos, também desconhecedores dos códigos
de honra, responde pelas extravagâncias desses órfãos de pais vivos...
Como, normalmente, nas classes social e economicamente menos
favorecidas, os pais seguem adiante ignorando os filhos que geram, sendo quase
sempre as mulheres as vítimas da situação tormentosa.
Em sentido oposto, entre pais mais esclarecidos e
melhormente aquinhoados economicamente, quando as filhas optam pela conduta
inconseqüente e engravidam, logo assumem a postura salvacionista de cuidarem do
filhinho que nasce, a fim de que receba todo o conforto e assistência,
olvidam-se que o mais eficiente e natural amor é o da própria mãe, que não deve
ser substituída pela avó exageradamente assistencialista.
É certo que existem situações que constituem exceções e
devem ser consideradas com seriedade, sem pieguismos, sem exageros, com a
ternura e o sentimento que a situação propicia.
A reencarnação, no entanto, coloca no proscênio terrestre as
mesmas personagens, que trocam de papel, para reajustamento, aprendem no
turbilhão dos conflitos o respeito e a disciplina que são necessários para a
libertação do egoísmo e da rebeldia que os caracterizam.
Aos avós, pois, está facultada a tarefa de amar os netos,
mas cuidadosamente, a fim de não os tornar soberbos, especiais, em relação às
outras crianças, aprendendo a alargar a família consangüínea com aqueles que
sofrem carência, desenvolvendo o germe do amor universal num conjunto ampliado.
O conceito repetido de que os avós são
pais por segunda vez, não os credencia a que exonerem os genitores biológicos a
respeito dos cuidados para com os seus descendentes, cada familiar, portanto, desincumbindo-se
do dever que lhe diz respeito.
A figura antes venerada dos avós, atualmente substituída
pela proteção de pessoas mais jovens na progenitura, permanecerá para sempre
como digna de respeito dos filhos, especialmente quando a idade provecta e
enfermidades tomarem suas energias, credores de amor e de cuidados, conforme o
fizeram quando se desincumbindo dos compromissos de família no passado próximo.
Multiplicam-se, nos dias atuais, sob pretextos e
justificações descabidos, o abandono aos pais idosos, afastados dos netos,
atirados em prisões douradas - lares para terceira idade - onde não são
visitados ou o são uma vez por ano, ou mesmo abandonados nos tugúrios da
miséria onde residem, longe dos netinhos que lhes constituiriam, com a
inocência e garrulice peculiares à infância, motivos de alegria e de felicidade...
Na construção familiar, também ocorre, em não poucas
ocasiões, serem empurrados para os porões, os quartos dos fundos dos lares
confortáveis, e proibidos de aparecerem para não causarem constrangimentos aos
filhos, saudáveis e ingratos, desfilando nas reuniões domésticas da ilusão com
os seus amigos...
Todos, porém, envelhecem, enfermam e morrem - é lei da vida.
Os avós, na família, são bênçãos de amor que nunca se devem
transformar em focos de dissensão ou de malquerença.
Constelação
Familiar. Divaldo Franco / Joanna de Ângelis
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