Depois de julgado apto para a nova
tarefa, passei a figurar numa turma de vinte e oito alunos, todos recém
chegados da Terra.
Iniciando-me nas lições, tive oportunidade de conhecer
vários desses colegas. A maioria permanente na mesma posição de luta mental em
que me encontro.
As saudades do lar distante
absorvem-nos a quase todos.
Recordando os ensinamentos de
equilíbrio que recebi de vovó Adélia e tia Eunice, compreendi logo que não
deveria chorar, mas nem todos os companheiros procedem assim.
No dia imediato à nossa primeira aula,
quando o professor determinou que descansássemos ao recreio, o Abelardo, aluno
mais novo de nossa classe, longe de aceitar-nos o convite para um passeio,
postou-se na porta de saída, a chorar copiosamente.
Miguelino, o mais experiente de mós, aproximou-se dele e
perguntou:
- Então, Abelardo, que é isso?
O interpelado não respondeu,
continuando a chorar, angustiadamente.
- Já sei – tornou Miguelino, de bom humor -, é saudade de
casa, anseio de retornar, não é mesmo?
Sentindo-se compreendido, o
companheirinho voltou-se e desabafou:
- Sim, estou com saudades de mamãe,
muitas saudades de mamãe!...
Aquelas palavras, pronunciadas com
tanta mágoa, cortaram-me o coração. Eu estava sofrendo a mesma dor, e,
lembrando-me de casa, custei a dominar as lágrimas que tentavam cair.
Miguelino percebeu que todos nós assistíamos à cena, aflitos
e saudosos, por nossa vez. Por isso mesmo, dando a entender que se dirigia a
todos nós que nos emocionávamos tanto, explicou, paciente:
- Todos sentimos falta dos entes queridos que permanecem no
mundo. A dor da distância nos atinge em comum. Entretanto, como poderíamos
auxiliar os que ficaram, permanecendo inconformados? Resolveríamos tão grande
problema, chorando sem consolo? Afinal de contas, não somos os únicos em
semelhante prova. Existem aqui alguns milhares de jovens nas mesmas condições.
Sofreram, como eu, a separação de criaturas que lhes eram profundamente amadas.
Experimentaram a saudade, a aflição de voltar. Mas compreenderam, enfim, que
nenhuma batalha pode ser ganha sem bastante valor moral, e lutaram consigo
mesmos pela posse de mais valiosa compreensão. Além disso, não devemos esquecer
que os nossos também virão. Precisamos preparar-nos convenientemente,
desenvolvendo a nossa capacidade de auxílio, para sermos úteis a eles, no
momento oportuno, Peçamos, pois, ao Supremo Pai coragem e forças.
Aquela exortação amiga penetrou-nos
fortemente o espírito.
Abelardo enxugou os olhos, sorriu com esforço e, em breves
instantes, nos reuníamos sob a copa de grandes árvores, consolados e entregues
a interessantes e úteis conversas.
(Livro: Mensagens do Pequeno Morto -
Psicografia de Francisco C. Xavier -
Espírito Neio Lúcio)
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