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terça-feira, 14 de julho de 2015

ESTUDANDO O CRISTIANISMO 9

9 0 PRECURSOR

9.1 ASPECTOS HISTÓRICO/RELIGIOSO DO POVO JUDEUS NA ÉPOCA DE JOÃO BATISTA E JESUS

Segundo o Livro de Urantia , documento 135, página 1500, para compreender a mensagem de João, dever-se-ia ter em conta o status do povo judeu na época em que Ele surgiu no cenário da ação. Por quase cem anos, toda Israel tinha estado diante de um impasse; e todos se perdiam na tentativa de explicar a contínua subjugação a soberanos gentios. E não tinha sido ensinado por Moisés que a retidão era sempre recompensada com a prosperidade e o poder? Não era o povo escolhido de Deus? Por que o trono de Davi estava vazio e abandonado? À luz das doutrinas mosaicas e dos preceitos dos profetas, os judeus achavam difícil explicar a longa e continuada desolação nacional.

Cerca de cem anos antes de Jesus e João, uma nova escola de educadores religiosos surgiu na Palestina, os apocalípticos. Esses novos educadores desenvolveram um sistema de crença, segundo a qual, os sofrimentos e humilhação dos judeus aconteciam por estarem eles arcando com as conseqüências dos pecados da nação. Eles recaíam nas razões bem conhecidas, escolhidas para explicar o cativeiro da Babilônia e de outras épocas ainda anteriores. Contudo, assim ensinavam os apocalípticos, Israel deveria retomar a sua coragem; os dias de aflição estavam quase no fim; a lição do povo escolhido de Deus estava para terminar; a paciência de Deus com os gentios estrangeiros estava quase exaurida. O fim do domínio romano era sinônimo de fim da idade e, em certo sentido, de fim do mundo. Esses novos pregadores apoiavam-se fortemente nas predições de Daniel, e consistentemente ensinavam que a criação estava para atingir o seu estágio final; os reinos deste mundo estavam a ponto de tornarem-se o Reino de Deus. Para a mente judaica daqueles dias, esse era o significado daquela frase o Reino do céu que está nos ensinamentos tanto de Jesus quanto de João. Para os judeus da Palestina, a frase Reino do céu não tinha senão um significado: um estado absolutamente reto, no qual Deus (o Messias) governaria as nações da terra na perfeição do poder, exatamente como Ele governava nos céus Seja feita a Sua vontade, na terra como no céu.

Nos dias de João, os judeus perguntavam-se com muita expectativa: quando, pois, virá o Reino? Havia um sentimento geral de que o fim do domínio das nações gentias estava próximo. Havia, presente no mundo judeu, uma esperança viva e uma intensa expectativa de que a consumação do desejo das idades ocorreria durante o período de vida daquela geração.

Ainda que os judeus divergissem muito nas suas afirmativas quanto à natureza do Reino que estava para vir, eles concordavam, na sua crença, de que o evento era iminente, palpável mesmo, já batendo à porta. 

Muitos que liam o Antigo Testamento literalmente aguardavam, com expectativa, por um novo rei na Palestina, por uma nação judaica regenerada, libertada de seus inimigos e presidida pelo sucessor do rei Davi, que iria logo ser reconhecido como o governante justo e reto de todo o mundo.

Outro grupo de judeus devotos, se bem que menor, sustentava uma visão muito diferente deste Reino de Deus. Ensinavam eles que o Reino que estava para vir não era deste mundo, que o mundo aproximava-se do seu fim certo, e que um novo céu e uma nova terra viriam para anunciar o estabelecimento do Reino de Deus; que este Reino era um domínio perene, que o pecado estava para acabar, e que os cidadãos do novo Reino iriam tornar-se imortais no seu gozo dessa bênção sem fim.

Todos concordavam que alguma purgação drástica ou alguma disciplina de purificação fosse necessária para preceder o estabelecimento do novo Reino na terra. Pelo que os Israelitas ensinavam aconteceria uma guerra mundial, a qual iria destruir a todos aqueles que não acreditavam, enquanto os fiéis seriam levados a uma vitória universal e eterna. Os espiritualistas ensinavam que o Reino seria inaugurado por aquele grande julgamento de Deus, que iria relegar os injustos à sua bem merecida punição de destruição final, ao mesmo tempo em que elevaria os santos crentes do povo escolhido aos assentos elevados de honra e autoridade, com o Filho do Homem, que governaria sobre as nações redimidas em nome de Deus. E esse grupo acreditava até mesmo que muitos gentios devotos poderiam ser admitidos na comunidade do novo Reino.

Alguns dos judeus apegavam-se à opinião de que Deus poderia possivelmente estabelecer esse novo Reino por intervenção direta e divina, mas a grande maioria acreditava que ele iria interpor algum representante intermediário, o Messias. Esse o único significado possível o que o termo Messias poderia ter nas mentes dos judeus da geração de João e Jesus. Messias não poderia possivelmente referir-se a alguém que meramente ensinasse a vontade Deus ou que proclamasse a necessidade do viver reto. A todas essas pessoas sagradas os judeus davam o título de profeta. 

O Messias devia ser mais do que um profeta; o Messias devia trazer o estabelecimento do novo reinado, o Reino de Deus. Ninguém que falhasse em fazer isso poderia ser o Messias, no sentido judaico tradicional.

Quem poderia ser esse Messias? E novamente os educadores judeus diferiam. Os mais velhos aferravam-se à doutrina do filho de Davi. Os mais jovens ensinavam que, já que o novo Reino era um Reino celeste, o novo governante poderia também ser uma personalidade divina, alguém que estivesse há muito à mão direita de Deus nos céus. E por estranho que possa parecer, aqueles que concebiam assim o governante do novo Reino, viam-no, não como um Messias humano, não como um mero homem, mas como o Filho do Homem um Filho de Deus um príncipe celeste, há muito esperado para assim assumir o governo feito novo, da Terra. Esse era o pano de fundo religioso, do mundo judaico, quando João entrou em cena proclamando: 

Arrependei-vos, pois o Reino do céu está ao alcance das mãos!

9.2 - PREDIÇÕES REFERENTES AO NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA

Partindo do pressuposto de que o povo hebreu sabia e esperava o advento do Messias e que Elias haveria de precedê-lo, e se o próprio Jesus esclareceu que João era Elias reencarnado, é fácil compreender que da reencarnação até a desencarnação de João Batista, a vida deste valoroso precursor foi marcada por acontecimentos de grande importância para nós cristãos. O primeiro a ser destacado é o anúncio do seu nascimento, feito por um Anjo do Senhor a Zacarias, durante o ato sagrado da queima do incenso, no santuário, quando este exercia diante de Deus, o sacerdócio na ordem de seu turno. Este costume era acompanhado por uma multidão de pessoas que permanecia do lado de fora, orando. Durante este procedimento, o Anjo apareceu-lhe, em pé, à direita do altar, e revelou-lhe que, em atendimento às suas preces, a sua esposa Isabel, daria à luz uma criança a quem chamariam João. Ele seria grande diante do Senhor; não beberia vinho nem bebida forte e seria cheio do Espírito Santo, desde o ventre materno. Este espírito seria para o casal motivo de prazer e alegria e de regozijo para muitos filhos de Israel, que se converteriam ao Senhor Deus.Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado. Diante da divina revelação, Zacarias pondera sobre o advento, uma vez que ele já estava avançado em idade e sua esposa estéril. O Anjo, então, mediante a incerteza de Zacarias, quanto às suas palavras, ordenou a sua mudez até o dia em que todas essas coisas se cumprissem.

Antes de prosseguirmos com outros acontecimentos, julgamos oportuno salientar alguns aspectos dessa passagem.

Inicialmente, o aspecto a ser contemplado é o acontecido no santuário. O evangelista Lucas relata em sua narrativa a presença do Anjo, em pé, à direita do altar. Nesta assertiva, chamou-nos à atenção, o porquê do em pé e à direita do altar. A referência ao em pé, o que não aconteceu quando do aviso do mesmo anjo à Maria, mãe de Jesus, acreditamos ser a representação da regidez de caráter, da solidez das atitudes frente aos desafios que iria enfrentar. Um Espírito que, embora ainda estando preso a terra, iria falar das coisas do céu dos nascidos de mulher nenhum é maior do que João Batista, porém é o menor no Reino dos Céus - aquele que vem preparar o caminho, tanto material , como espiritual para a chegada do Messias.

O outro detalhe à direita do altar. O altar, na concepção de muitos, é tido como um lugar sagrado, onde, normalmente, encontram-se objetos que lembrem purificação e pode ser lido que quem está dando a Boa Nova é um espírito que assiste à direita do Pai, com todo conhecimento, sabedoria e autoridade para dar a notícia, pois tem todos os atributos de um espírito puro.

Não beberia vinho nem bebida forte. Para esta assertiva, podemos levantar duas hipóteses: a primeira é que o Anjo não teria nenhum motivo para a proibição do uso do vinho, uma vez que o próprio Jesus transformou água em vinho, nas Bodas de Canã e em nenhuma passagem dos Evangelhos encontramos uma proibição explícita do Mestre para o uso, sem excesso, dessa bebida, mesmo porque na última ceia todos os discípulos tomaram vinho e comeram o pão repartido pelo próprio Salvador.

Portanto, para essa afirmativa, cabe uma outra leitura. Nós preferimos ler essa assertiva como sendo um processo de depuração da alma, de desapego às coisas terrenas e demonstrar a diferença evolutiva desse Espírito. Expliquemos: na época de Jesus o vinho, principalmente, era complemento da alimentação do povo, pois o cultivo da uva era comum naquela região basta analisarmos as referências às videiras feitas por Jesus em suas parábolas. Outro aspecto é que a água era o símbolo da pureza para os judeus, tanto é que João batizava com água e Jesus também faz referência a essa mesma água no diálogo com Nicodemos, na limpeza das mãos para o alimento e para a Mulher samaritana. A água é alimento natural, já vem pronto, enquanto que o vinho é fruto de transformação pelo trabalho. Da uva, natural, faz-se o vinho. Sendo, porém, o vinho algo transformado pelo trabalho, cabe, assim, lermos a assertiva de que somente os que não estão pronto são os que precisam do trabalho de transformação, sendo que João Batista já estava pronto, portanto, não haveria necessidade do processo de transformação, não precisava beber vinho, como foi solicitado aos apóstolos durante a santa ceia, bebendo o vinho da aliança, ou seja, daquele momento em diante, eles deveriam transforma-se de pescadores de peixes para pescadores de alma, estariam isento das coisas do mundo, estariam se preparando para as coisas do céu. A outra hipótese, a mais comum entre os estudiosos do Precursor, é colocá-lo como Nazireu, uma vez que seu pai Zacarias, sendo um sacerdote do templo tinha pleno conhecimento de que o povo judeu encarava um nazarita vitalício como uma personalidade santificada e sagrada e tinha por eles quase o mesmo respeito e a veneração que a dedicada ao sumo sacerdote, pois eram os únicos, além dos altos sacerdotes, a quem eram permitidos entrar no local santo de um templo. E para que João ganhasse a fama de profeta como ganhou, era necessário que tivesse essa identificação para o povo.

Para a expressão seria cheio do espírito santo, desde o ventre materno, devemos compreender que por espírito santo são designados os Espíritos superiores a quem o Livro dos Espíritos os caracterizam como aqueles que reúnem em si a ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam se exala sempre a benevolência; é uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem noções exatas sobre as coisas do mundo corpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se complacentemente com os que procuram de boa fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosidade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.

Portanto são aqueles que trazem as faculdades mediúnicas desenvolvidas e tem contato quase que contínuo com as esferas superiores, a fim de receber orientações e esclarecimentos na execução das atividades que deveriam desenvolver. Por isso, para um espírito que tinha como missão a difícil tarefa de abrir as veredas daqueles caminhos secos e tortuosos da Palestina e dos corações endurecidos pelo egoísmo e vaidade daquele povo, deveria estar sempre sintonizado com os espíritos puros, no intuito de manter-se equilibrado moral e intelectualmente para a tarefa, como é o caso de João Batista.

A profecia de que João seria regozijo para muitos filhos de Israel que se converteriam ao Senhor Deus. Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado, remete-nos ordinariamente à profecia de Malaquias 3.22-24 Lembrem-se da lei do meu servo Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total.

Obs.: em algumas traduções bíblicas essa passagem é citada como Ml 4.4-6;

Esta profecia ratifica o antes exposto de que o povo judeu tinha pleno conhecimento do advento do Messias e de que Elias o antecederia. Se compararmos as duas profecias, fatalmente concluiremos que as informações são as mesmas, o que muda, portanto, é a variante lingüística com que as duas foram elaboradas. Ambas falam do advento do precursor para abrir as veredas para o Messias. Malaquias, em sua profecia, explicita claramente que esse precursor, que abriria os caminhos para o Mestre, seria Elias. Na profecia do anjo Gabriel, ele diz que adiante dele irá no espírito e poder de Elias. Para esta variante cabem algumas considerações: a primeira é que João Batista não era Elias, embora o espírito fosse o mesmo, pois o espírito encarnado como Elias estava em um patamar evolutivo, já o espírito que anima João Batista, a centenas de anos depois, já havia evoluindo, pois um espírito dessa envergadura nunca ficaria estacionado. Isto é prova inequívoca da reencarnação A alma passa, então, por muitas existências corporais? Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse é o desejo deles. Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado o corpo, toma outro, ou então, que reencarna em um novo corpo. É assim que se deve entender? 

Evidentemente. Estes desdobramentos da pergunta 166 de O Livro dos Espíritos ratificam nosso ponto de vista.


Sigmar Gama

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