(...)
O mecanismo da incorporação mediúnica é fácil de compreender. Ela pode principiar pela aproximação da entidade que deseja comunicar-se. Esta poderá eventualmente influenciar o médium, facilitando-lhe o transe. O médium passa então a sofrer um desdobramento astral (OBE) e sua cúpula juntamente com o corpo astral deslocam-se parcial ou totalmente de maneira a permitir que a cúpula e o corpo astral do Espírito comunicante ocupe parcial ou totalmente o campo livre deixado pelo corpo astral do médium. A incorporação é tanto mais perfeita quanto maior espaço é cedido pelo astral do médium ao afastar-se do seu corpo físico, deixando lugar para a cúpula com o corpo astral do comunicador. Este o Espírito comunicante deverá também sofrer um processo semelhante ao desdobramento astral, para permitir que sua cúpula e corpo astral possam justapor-se ao espaço livre deixado pelo médium. (...)
Na figura 16 mostramos esquematicamente o mecanismo de uma incorporação mediúnica completa. Há casos em que a parte astral do médium se desloca só parcialmente, permitindo que apenas uma fração do astral do Espírito comunicador entre em contato com a zona anímico-perispirítica daquele. Mesmo nestas condições pode haver comunicação, a qual poderá ser em parte direta e em parte telepática. Em semelhante circunstância há sempre possibilidade de controle das comunicações, por parte do médium. Este poderá interferir no processo, ainda mesmo que totalmente afastado, pois a ligação com a sua zona anímico-perispirítica não cessa. Há sempre a presença do cordão prateado garantindo o domínio do próprio equipamento somático.
A fim de tornar mais clara a presente exposição, lançaremos mão das descrições dadas por André Luiz, acerca do processo da incorporação mediúnica. Na obra Nos Domínios da Mediunidade*, Capítulo VI, o autor espiritual trata da psicofonia consciente:
"Nesse ínterim, os condutores, obedecendo às determinações de Clementino, localizaram o sofredor ao lado de Dona Eugênia.
O mentor da casa aproximou-se dela e aplicou-lhe forças magnéticas sobre o córtex cerebral, depois de arrojar vários feixes de raios luminosos sobre extensa região da glote.
Notamos que Eugênia-alma afastou-se do corpo, mantendo-se junto dele, a distância de alguns centímetros, enquanto que, amparado pelos amigos que o assistiam, o visitante sentava-se rente, inclinando-se sobre o equipamento mediúnico ao qual se justapunha, à maneira de alguém a debruçar-se numa janela." (XAVIER, F. C. - Nos Domínios da Mediunidade, Rio: FEB, 1955, p. 49)
O autor espiritual do trecho citado faz uma série de observações muito importantes e oportunas. Assim, por exemplo, ele comenta que, ao presenciar o referido processo de incorporação, ele se recordou das "operações de enxertia no mundo vegetal". Ali ele observava algo que poderia comparar-se a "sutil processo de enxertia neuropsíquica". De fato, a superposição do corpo astral do Espírito ao restante do equipamento mediúnico implica na justaposição, do cérebro astral da entidade comunicandora, ao cérebro fisiológico do médium. Embora grande parte da consciência do médium tenha se deslocado juntamente com a sua contraparte astral, ele ainda mantém o controle da situação, graças à sua ligação com o corpo físico através do "cordão prateado". Por isso o médium nunca está inteiramente inconsciente durante o processo de incorporação deste tipo. As ideias que lhe afluem ao cérebro por indução do cérebro da entidade podem, no momento, parecer-lhe ideias próprias. Mas, passado o transe, quase sempre ele se esquece exatamente do que lhe acudiu à mente na ocasião. Pode falar e escrever quase automaticamente, sem esforço, às vezes sobre assuntos ignorados por ele em estado normal. Entretanto o médium bem treinado consegue exercer rigoroso policiamento das expressões induzidas durante a incorporação. Do mesmo modo, ele pode reassumir imediatamente o total controle do seu organismo, expulsando o comunicador. Basta-lhe o querer.
Na obra a que nos referimos Nos Domínios da Mediunidade há referência a um tipo semelhante deincorporação mediúnica, ocorrido com uma excelente médium, já bem desenvolvida e portadora de altas qualidades morais. Nesse episódio uma entidade violenta é trazida por mentores espirituais e compelida a incorporar-se na referida médium. Vejamos como o autor espiritual descreve o interessante episódio visto do lado do mundo dos desencarnados, cujo processo ele denomina "psicofonia sonambúlica":
"A médium desvencilhou-se do corpo físico, como alguém que se entregava a sono profundo, e conduziu consigo a aura brilhante de que se coroava.
Clementino não teve necessidade de socorrê-la. Parecia afeita àquele gênero de tarefa. Ainda assim, o condutor do grupo amparou-a, solícito.
A nobre senhora fitou o desesperado visitante com manifesta simpatia e abriu-lhe os braços, auxiliando-o a senhorear o veículo físico, então em sombra.
Qual se fora atraído por vigoroso ímã, o sofredor arrojou-se sobre a organização física da médium, colando-se a ela, instintivamente.
Auxiliado pelo guardião que o trazia, sentou-se com dificuldade, afigurando-se-me intensivamente ligado ao cérebro mediúnico." (Opus cit. pp. 66 e 67)
O interessante relato prossegue esclarecendo que a médium, conquanto funcionando como um instrumento passivo exteriormente, possuía qualidades morais positivas capazes de exercer um controle rigoroso sobre as expressões verbais do comunicador. Um dos observadores desencarnados que presenciava o fenômeno indagou, do Mentor espiritual que dirigia as operações, se D. Celina não iria lembrar-se das palavras que o comunicante pronunciava por seu intermédio. A resposta foi:
"Se quiser, poderá recordá-las com esforço, mas na situação em que se reconhece, não vê qualquer vantagem na retenção dos apontamentos que ouve."(Opus cit. p. 69)
E mais adiante, após uma série de considerações, acrescentou:
"(...) A psicofonia inconsciente, naqueles que não possuem méritos morais suficientes à própria defesa, pode levar à possessão, sempre nociva, e que, por isso, apenas se evidencia integral nos obsessos que se renderam às forças vampirizantes." (Opus cit. p. 69)
Os fenômenos da obsessão e possessão serão facilmente compreendidos, se considerarmos a possibilidade de um médium suficientemente sensível defrontar-se com uma ou várias entidades maléficas ligadas a ele por débitos passados mais ou menos graves. Às vezes, a simples aproximação do espírito "cobrador" basta para desarticular a cúpula do médium assaltado, provocando-lhe a saída fora do corpo e dando oportunidade ao obsessor de apossar-se do veículo mediúnico. Em outras oportunidades pode ocorrer uma aderência do obsessor ao astral do médium. Desse modo as influências do espírito passam a misturar-se com as sensações e ideias do sensitivo. Nesta situação a entidade pode transmitir ao médium, através da aura vital e por simples informação telepática, os seus sintomas mórbidos e seus pensamentos negativos, devido à fusão das auras. Muitos processos obsessivos deste tipo manifestam-se exteriormente no paciente sob a forma de doenças psicossomáticas, neuroses e psicoses.
Os tratamentos por meio de métodos psicoterápicos ou psicanalíticos podem melhorar o doente, quando o obsessor é benigno e está ligado ao médium por laços afetivos ou outras razões de natureza mórbida, mas não por ódio ou vingança. Entretanto, se os motivos se prendem a questões sérias devidas a fortes ressentimentos ou a pesados débitos kármicos, a cura torna-se problemática. O recurso dos choques insulínicos ou elétricos costuma libertar temporariamente o doente da influência do obsessor, porque este último também é atingido, por influência reflexa, pela violenta comoção causada no paciente. Nesses casos, a entidade é mecanicamente compelida a afastar-se do sensitivo. Mas logo que as condições se tornam favoráveis, e se não houver uma intervenção por parte do plano espiritual, o perturbador voltará à carga novamente. Algumas vezes o retorno é mais fácil e danoso, por encontrar-se a vítima lesada pela brutalidade do tratamento.
Livro: Espírito, Perispírito e Alma Ensaio Sobre o Modelo Organizador Biológico
Hernani Guimarães Andrade
Editora Pensamento
Nota de Fernando Peron (janeiro de 2015):
(*) Nos Domínios da Mediunidade. Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito André Luiz. FEB Federação Espírita Brasileira. 9ª obra da Série André Luiz, foi lançada em 1955.
Nenhum comentário:
Postar um comentário