Ana Cecília
Rosa
No prefácio do livro O Homem
Integral, Joanna de Angelis aborda a definição do Homem em relação às diferentes
doutrinas. Segundo o Evolucionismo, o Homem
é dotado de razão, o que o diferencia dos outros animais e alça-o ao primeiro lugar
na escala zoológica. Descartes considerou o “ser pensante por natureza, com a razão
que compreende e explica a si mesmo” e tendo, no cérebro, a origem do
pensamento racional. A psicologia transpessoal,
porém, abre espaço novo para uma visão mais espiritualista do ser humano, esclarecendo
a respeito da sua “transcendência”. O Espiritismo, por sua vez, adiciona, a esses
conceitos, a certeza da vida eterna, proporcionando aprendizado ininterrupto, adquirido
pelas diversas encarnações e vivência espiritual, contribuindo de
forma definitiva na formação do indivíduo e revelando a importância de
entender o ser
pensante sob o seu aspecto biopsicossociológico e espiritual.
São faculdades humanas: consciência de si
mesmo, linguagem racional, emoções, sentimentos e exercício da vontade ou livre
arbítrio. Esse aprimoramento, que distingue os homens e os torna superiores aos
outros animais, é conquista evolutiva. A
natureza, através de diversas experimentações aperfeiçoou a forma humana, mas ela
ainda se encontra distante da perfeição intelectual e moral. É de conhecimento comum que inteligência não é
atributo apenas da espécie humana, já que os instintos são formas de inteligência
rudimentar. Atualmente, neurocientistas e
psicólogos empenham-se em descobrir os diferentes tipos de inteligências e a
sua aplicabilidade. Entretanto, “desligados das correntes espiritualistas”, segundo
Hermínio C. Miranda, eles não compreendem “as desassemelhanças intelectuais”
entre gêmeos idênticos, porque não sabem ainda que a inteligência é
atributo do Espírito.
E complementa: “a inteligência é a resultante do conhecimento acumulado ao
longo dos milênios e das inúmeras encarnações. Não somos inteligentes por causa
de uma combinação genética particularmente feliz, ou porque nos desenvolvemos em
ambiente adequado, mas porque, no passado, já nos habituamos a manipulação e
apropriação do conhecimento, através
do estudo e do aprendizado”.
A medida que
experimenta e desenvolve
essa inteligência rudimentar, o homem passa a ter uma maior consciência
de si mesmo, conquista a
razão, aprimora o
raciocínio, adquire lucidez e
passa a exercer
o livre arbítrio. A aquisição dessas virtudes permitirá ao ser pensante
iniciar sua valorosa luta para a conquista dos valores superiores da alma: a
responsabilidade, a sensibilidade, a sublimação das sensações em sentimentos, enfim,
todos os condicionamentos que, segundo André Luiz, “permitirão ao Espírito alçar-se
à comunidade dos seres angélicos”. O Homem passa a ser livre para escolher seu próprio
destino. No entanto, o direito ao livre-arbítrio
implica no ônus da responsabilidade.
Nesse particular, a vontade desempenha importante papel contribuindo a favor
de conquistas incessantes. A cada vitória
alcançada através da vontade, ele compreenderá melhor as leis divinas, presentes
em sua consciência, e fará delas a norma de suas ações. Assim, atingirá o “ponto moral”, definido por
Leon Denis, pelo qual dominará e governará a si mesmo, modificando-se emocionalmente
durante esse processo, de forma a assegurar, “com os próprios esforços, ensinamentos
e exemplos, a vitória da vontade e do bem”.
O sentimento é o que caracteriza a alma humana. Em princípio como instinto primário, elevou-se
através do desenvolvimento da afetividade e transformou-se em impulsos de amizade,
fraternidade e dever, promovendo conquistas no campo do conhecimento e das artes. Segundo Joanna de Angelis, sob o comando
da vontade dignificada, ele confere
ao indivíduo equilíbrio, “empatia para lutar e coragem
para vencer mesmo que
as dificuldades se apresentem
desafiadoras”. À medida que o homem
evolui, maior é sua capacidade de externar os sentimentos, estreitar os vínculos
afetivos e entender a vida. Entretanto, apesar de seu alto significado, o sentimento
deve ser conduzido pela razão, para que não se transforme em desarmonia, motivado
pelas paixões.
O Homem integral é, portanto, aquele que
desenvolveu ao máximo as suas faculdades
essenciais: pensar, querer
e sentir através
da sublimação do pensamento,
da vontade e do sentimento, tendo em vista o divino presente em todos.
Ana Cecília Rosa é médica pediátrica,
residente no Brasil. É membro do Instituto de Divulgação Espírita - Araras/SP.
Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 6 Setembro e Outubro 2009
The Spiritist Psychological Society
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