SEGUNDA PARTE
DAS MANIFESTAÇÕES
ESPIRITAS
CAPITULO V
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS
Estudo 32 - Itens 96
a 98 - O Fenômeno de Transporte
No
capítulo em estudo, percebemos que as manifestações físicas têm por fim chamar
a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de um poder
superior ao do homem.
Ao estudarmos os Fenômenos de Transporte constatamos
que se diferenciam dos fenômenos de lançamento de objetos devido
à intenção benévola do Espírito que o produz, pela natureza dos objetos quase
sempre graciosos e pela maneira suave e quase sempre delicada, porque são
transportados. Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existem no
lugar da reunião. Trata-se geralmente de flores, algumas vezes de frutos, de
confeitos , de jóias, etc.
Fenômeno de
transporte
Analisando
estes fenômenos, Allan Kardec identificou neles a maior possibilidade de
imitação e necessidade de prevenção contra o embuste. Sabe-se até onde pode ir
a arte da prestidigitação, em se tratando de
experiências deste gênero. Porém, mesmo sem que tenhamos de enfrentar um verdadeiro
prestidigitador, poderemos ser facilmente enganados por uma manobra hábil e
interessada. A melhor de todas as garantias se encontra no caráter, na
honestidade notória, no absoluto desinteresse das pessoas que obtêm
tais efeitos. Vem depois, como meio de resguardo, o exame atento de todas as
circunstâncias em que os fatos se produzem. Por fim, no conhecimento
esclarecido do Espiritismo, único meio de se descobrir o que há de suspeito.
A
teoria do fenômeno dos transportes e das manifestações físicas em geral se acha
resumida, de maneira notável, na seguinte dissertação feita por um Espírito,
cujas comunicações todas trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica.
Com muitas delas deparará o leitor no curso desta obra. Ele se dá a conhecer
pelo nome de Erasto, discípulo de São Paulo, e como protetor do
médium que lhe serviu de instrumento:
"Quem deseja obter fenômeno desta ordem precisa dispor de
médiuns a que chamarei de sensitivos, isto é, dotados, no mais alto grau de
faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade. Porque o sistema
nervoso desses médiuns, facilmente excitável, por meio de certas vibrações,
projeta abundantemente, em torno de si, o fluido animalizado que lhes é
próprio.
As
naturezas impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram à menor impressão, à
mais insignificante sensação que a influência moral ou física, interna ou
externa, sensibiliza são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns, para os
efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Efetivamente, seu sistema
nervoso, quase inteiramente desprovido do invólucro refratário que isola esse
sistema na maioria dos encarnados, torna-as apropriadas para a produção desses
diversos fenômenos. Assim, com um indivíduo de tal natureza e cujas outras
faculdades não sejam hostis à mediunização, mais facilmente se obterão os
fenômenos de tangibilidade, as pancadas nas paredes e nos móveis, os movimentos
inteligentes e mesmo a suspensão, no espaço, da mais pesada matéria inerte. Com
maior razão, os mesmos resultados serão obtidos se, em vez de um médium, se
dispuser de numerosos e igualmente bem dotados.
Mas,
da produção de tais fenômenos à obtenção dos de transporte há todo um abismo,
porque, neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais
difícil, como, sobretudo, ele não pode operar, senão por meio de um único
aparelho mediúnico, isto é, muitos médiuns não podem concorrer simultaneamente
para a produção do mesmo fenômeno. Acontece mesmo, ao contrário, que a presença
de algumas pessoas antipáticas ao Espírito que opera, obstam radicalmente sua
ação. A esses motivos que, como se vê, são importantes, acrescentemos que os
transportes exigem sempre maior concentração e ao mesmo tempo maior difusão de
certos fluidos, que só podem ser obtidos com médiuns muito bem dotados,
médiuns, numa palavra, cujo aparelho eletro-medianímico seja bem condicionado.
Em
geral, os fatos de transporte são e continuarão a ser extremamente raros. Não
preciso demonstrar, porque são e serão menos freqüentes que os demais fenômenos
de tangibilidade; do que ficou dito, podeis deduzi-lo. Aliás, estes fenômenos
são de tal natureza que, além de nem todos os médiuns servirem para
produzi-los, nem todos os Espíritos podem também realiza-los. É necessário que
exista entre o Espírito e o médium uma certa afinidade, uma certa analogia,
numa palavra, uma determinada semelhança capaz de permitir que a parte
expansível do fluido perispirítico (1) do encarnado se misture, se una, se combine com o do Espírito que deseja
fazer o transporte. Essa fusão deve ser de tal maneira que a força dela
resultante se torne, por assim dizer, una: do mesmo modo que uma corrente
elétrica, atuando sobre o carvão, produz um só foco, uma só claridade. Por que
essa união, essa fusão, perguntareis? É que, para que estes fenômenos se
produzam, necessário se faz que as propriedades essenciais do Espírito agente
sejam aumentadas com algumas das propriedades do médium; é que o fluido vital,
indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, sendo apanágio
exclusivo do encarnado, deve obrigatoriamente impregnar o Espírito agente. Só
então ele pode, mediante certas propriedades, que desconheceis, do vosso meio
ambiente, isolar, tornar invisíveis e movimentar alguns objetos materiais e
mesmo os encarnados.
Não me
é permitido, por enquanto, desvendar-vos as leis particulares que regem os
gases e os fluidos que vos envolvem. Mas, antes que alguns anos tenham
decorrido, antes que uma existência de homem seja concluída, a explicação
dessas leis e desses fenômenos vos será revelada e vereis surgir e
desenvolver-se uma variedade nova de médiuns, que agirão num estado cataléptico
particular ao serem mediunizados.
Vedes,
assim, quantas dificuldades cercam a produção do fenômeno dos transportes.
Podeis, logicamente, concluir que os fenômenos desta natureza são extremamente
raros, como já disse, e com mais razão que os Espíritos se prestam muito pouco
a produzi-los, porque isso exige de sua parte um trabalho quase material, que
lhes causa aborrecimento e fadiga. Por outro lado, ocorre também que
freqüentemente, não obstante sua energia e vontade, o estado do próprio médium
lhes opõe intransponível barreira.
É
portanto evidente, e não tenho dúvida de que o aceitais, que os fenômenos
sensíveis de golpes, movimentos e levitação são de natureza simples,
realizando-se pela concentração e a dilatação de certos fluidos, e podem ser
provocados e obtidos pela vontade e o trabalho de médiuns aptos, quando
secundados por Espíritos amigos e benevolentes, enquanto os fenômenos de
transporte são múltiplos, complexos, exigem a existência de condições
especiais.
Esses fenômenos só podem ser realizados
por um só Espírito e um único médium e necessitam, além dos recursos para a
produção de tangibilidade, uma combinação muito especial para isolar e tornar
invisível o objeto ou os objetos a serem transportados. Todos vós, espíritas,
compreendeis as minhas explicações e percebeis perfeitamente o que seja essa
concentração de fluidos especiais para produzir a mobilidade e a tactilidade da
matéria inerte. Acreditais nisso, como acreditais nos fenômenos da eletricidade
e do magnetismo, tão análogos aos mediúnicos, que são, por assim dizer, a
confirmação e o desenvolvimento daqueles. Quanto aos incrédulos e aos sábios,
piores estes do que aqueles, não me compete convencê-los e nem me interessam.
Serão convencidos um dia pela evidência dos fatos, porque terão que se curvar
ante o testemunho dos fenômenos espíritas, como já tiveram que fazer em relação
a outros fenômenos que a princípio rejeitaram.
Resumindo:
os fenômenos de tangibilidade são freqüentes, mas os de transporte são muito
raros, porque as condições em que se produzem bastante difíceis. Em
consequência, nenhum médium pode dizer: Em tal hora ou em tal momento, obterei
um transporte, porque muitas vezes o próprio Espírito se encontra impedido de
fazê-lo. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis em
público, porque quase sempre, entre este, se encontram elementos energicamente
refratários, que paralisam os esforços do Espírito e, com mais forte razão, a
ação do médium.
Sabeis
que, ao contrário, esses fenômenos quase sempre se produzem espontaneamente na
s reuniões particulares, no mais das vezes à revelia dos médiuns e sem que se
espere, dando-se muito raramente, quando aqueles estão prevenidos. Deveis
deduzir daí que há motivo legítimo de suspeita todas as vezes que um médium se
vangloria de obtê-los à vontade, ou de dar ordens aos Espíritos como se fossem
seus empregados, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda por regra que os
fenômenos espíritas não servem para espetáculos e para divertir os curiosos. Se
alguns Espíritos se prestarem a isso, só pode ser para a produção de fenômenos
simples e não dos que, como o transporte, exigem condições excepcionais.
Lembrai-vos,
espíritas, que é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de além
túmulo, também não é prudente aceitá-los a todos de olhos fechados. Quando um
fenômeno de tangibilidade, de aparição, ou de transporte se verifica
espontaneamente e de improviso, aceita-o. Porém, nunca será demasiado repetir:
não aceiteis nada cegamente. Seja cada fato submetido a um exame minucioso,
aprofundado e severo, porquanto, crede, o Espiritismo, tão rico de fenômenos
sublimes e grandiosos, nada tem a ganhar com essas insignificantes
manifestações que prestidigitadores hábeis podem imitar.
Bem
sei o que me ireis dizer: que esses fenômenos são úteis para convencer os
incrédulos. Mas sabei que, se não tivésseis outros meios de convicção, não
teríeis hoje a centésima parte dos espíritas que existem. Falai aos corações: é
esse o caminho da maioria das conversões sérias. Se achais conveniente para certas
pessoas utilizar-vos dos fenômenos materiais, ao menos apresentai-os de tal
maneira que não possam dar motivo a falsas interpretações. E, sobretudo,
observai as condições normais desses fenômenos, porque, apresentados de maneira
imprópria eles servem de argumentos para os incrédulos, em vez de convencê-los.
ERASTO."
(1) Vemos
que, quando se trata de exprimir uma idéia nova, para a qual faltam termos na
língua, os Espíritos sabem perfeitamente criar neologismos. Estas palavras:
eletro-mediúnico, perispirítico, não são de invenção nossa. Os que nos tem
criticado por havermos criado os termos espírita, espiritismo, perispírito, que
não tinham termos análogos, poderão fazer também a mesma crítica aos Espíritos.
(Nota de Kardec)
No próximo estudo
daremos continuidade à análise desses fenômenos
BIBLIOGRAFIA
KARDEC, Allan - O
Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap. V - 2ª Parte
Tereza Cristina
D'Alessandro
Março / 2004
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