Falar de Evangelho é abordar
os valores mais expressivos da cultura humana, inseridos num dos livros mais
importantes já compostos pelo homem: a Bíblia, dividida em Antigo e Novo
Testamento. O Velho Testamento conta a história do povo hebreu e de outros
povos que lhes foram contemporâneos. É uma narrativa que começa com fortes
conotações míticas e termina no profetismo judaico. Sua figura exponencial é
Moisés. E com ele surgiu uma ética peculiar, dirigida ao povo hebreu e ao
relacionamento de cada um de seus membros com os demais e com o seu Deus. O
Novo Testamento tem como figura nuclear Jesus e pode ser visto por cinco ângulos,
como enfatizou Kardec: "1) Os atos comuns da vida do Cristo; 2) Os
milagres; 3) As profecias; 4) As palavras que serviram para o estabelecimento
dos dogmas da Igreja; 5) O ensino moral" (ESE, Introdução, I). Como os
quatro primeiros geraram polêmicas intermináveis ao longo dos séculos, importa
relevar o aspecto ético, moral, da didática do Mestre, que se apresenta como um
"código divino", onde estão expostos os nossos deveres para com Deus,
Inteligência Suprema do Universo, que criou tudo o que existe; para com o
próximo, nosso irmão e companheiro de jornada; e para conosco mesmos, Espíritos
eternos em busca da perfeição. O ensino de Jesus não está destinado a um único
povo mas a toda a Humanidade: é universal, em última análise.
O que é a ética? A ética é considerada uma
disciplina prática, envolvendo a ação humana, e normativa, estabelecendo os
seus deveres perante a sociedade. Pela ética estabelece-se uma diferenciação
nítida entre o bem e o mal. Há diversas formas de ética, mas em todos os casos
ela visa responder à questão: "como agir da melhor forma possível".
No sentido etimológico, a palavra ética, de origem grega, pode ser entendida
como "a ciência moral"; trasladada para o latim, foi traduzida como
"a moral". Por isso, podemos falar de uma ética, ou de uma moral, do
Cristo, para significar o conjunto dos seus ensinamentos, voltado para um ideal
de comportamento humano. Como diz Joanna de Angelis, "Jesus é a personagem
histórica mais identificada com o homem e com a humanidade" (Jesus e
Atualidade, p. 24)
Começamos, então, por dizer que a ética de
Jesus está disseminada pelos quatro evangelhos e pelas vinte e uma epístolas
que os seguem. Ela começa já no nascimento do Mestre, em sua simplicidade e
discreção, projetando-se por toda a sua vida, no seu modo de agir e
exemplificar. Eis a sua prática. Nos seus sermões e nas suas parábolas vamos
encontrar a base teórica da sua ética, a qual não foi registrada por ele
próprio, mas por seus apóstolos e discípulos. Contudo, é no Sermão do Monte,
descrito nos capítulos 5, 6 e 7, do Evangelho de Mateus, que se acha a essência
da ética cristã, embasada no amor, que se desdobra em humildade, caridade e
fraternidade. Por isso, Jesus resumiu toda a sua doutrina nos dois grandes mandamentos:
amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Mt
22:36-40).
Isso tudo fica mais claro quando tomamos seus
principais ensinos como referência: "tudo o que vós quereis que os homens
vos façam, fazei-lho também vós"; "amai a vossos inimigos"; "concilia-te
depressa com o teu adversário enquanto estás no caminho com ele";
"seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não"; "quando tu
deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita";
"pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á";
"nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus"; "sede vós
pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus" etc.
Eis, em síntese, o que se encontra no
Sermão do Monte, um código de moral incomparável, voltado para o aperfeiçoamento
do ser eterno que somos nós. É um código que estabelece direitos (bem-aventuranças) e deveres
(ensinos).
Construindo a ponte entre o homem e Deus,
através do exemplo da oração dominical, contida no próprio Sermão, Jesus deu
consistência ao ensinamento e preparou o nosso caminho para os planos
superiores da vida universal. Ética, amor,
fraternidade: palavras que ecoarão em nosso íntimo pela eternidade a
fora.
Manuel Portásio Filho é
Advogado, residente em Londres. É membro do The Solidarity Spiritist Group - Londres -
UK.
Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N°
3 Março e Abril 2009
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