Capítulo II
CRIANÇAS, NÃO CRESÇAM DEPRESSA
Assim que chegamos ao plano
físico, Enrico comunicou-nos - Luiz, vamos primeiro visitar uma Casa Espírita.
- Claro, companheiro, precisamos
contar com a ajuda de outros irmãos. Lá fomos nós ao encontro de Rafaela, a
encarregada da disciplina que, sorrindo, recebeu-nos, colocando a sua Casa ao
nosso dispor.
Enrico, que a conhecia, também
sorriu. Ele é possuidor do mais terno olhar que já vi. Rafaela dissertou sobre
os últimos acontecimentos, sobre como estavam desencarnando irmãos por
imprudência: através da droga, do álcool e da velocidade.
- Mas esses três fatos estão entrelaçados. Geralmente,
a droga e o álcool provocam o desequilíbrio do motorista - falei.
Ficamos muito tristes quando ela
nos levou até a enfermaria da Casa Espírita, onde alguns suicidas estavam sendo
socorridos. Muitos eram jovens, ou melhor, crianças. Olhando uma garota de seus
onze anos, indaguei: - Por que se suicidou?
- Julgava-se grávida.
- Mas com essa idade já havia
iniciado vida sexual?
- Sim, mesmo ainda não havendo
penetração ela brincava com o sexo. Os seus parceiros, também crianças, sem
responsabilidade, julgavam-se os tais e quando o remorso lhe colheu a alma ela
criou uma gravidez imaginária, apavorou-se e o único meio que encontrou foi o
suicídio.
- Ela não estava grávida?
- Não, nem havia menstruado
ainda.
- Coitadinha, como pôde acontecer
isso? Indaguei. - Falta de orientação familiar, de disciplina de vida. Hoje os
pais demonstram pressa em ver os filhos ficarem adultos e não percebem que as
crianças e os jovens só têm a mente direcionada para o sexo e para os ditos
prazeres da vida.
Enrico, pensativo, ouvia Rafaela,
que também nos disse da sua luta para trazer ao Centro os filhos dos espíritas
que dele se distanciam cada vez mais.
E por quê? Simplesmente porque o
mundo lá fora corre a mil por hora e nessa correria eles também vão caindo e se
levantando. Nas Casas Espíritas têm de buscar o seu interior, porque a Doutrina
ensina a razão da vida.
- Eu sempre me pergunto, irmã: o
que podemos fazer para trazer a criança e o jovem à Casa Espírita, ou melhor,
ao Evangelho?
- Estamos tentando criar um
estudo mais dinâmico. Não podemos nos esquecer de que hoje a vida moderna dá à
criança e ao jovem muitas informações que ontem nós nem ousávamos pedir.
Estamos na era da informática. O computador está ficando tão popular, que
poucas casas não o possuirão. As crianças e os jovens são as maiores vítimas do
consumismo. Estão vivendo numa época onde vários chamados lhes chegam, por isso
o chamado espírita tem de ser mais forte e atual.
- Atual Rafaela? Então temos de
negligenciar a origem da Doutrina?
- Nunca. Para embelezar uma casa
não podemos desprezar o alicerce. As obras básicas são o alicerce da nossa
Doutrina. Elas são o farol, o céu, a verdade, enfim, sem elas jamais teríamos
condição de trazer os jovens para a nossa Casa. O que precisamos, nós, os
orientadores, é corresponder às necessidades atuais da juventude. Os dirigentes
devem fugir da ingenuidade, atualizando-se com pesquisas de alto nível. Só
assim o jovem e a criança não irão debandar da Casa Espírita. Hoje convivem com
uma sociedade materialista; do lado de fora vivem cercados de convites que os
levam a julgar que isso é aproveitar a vida. Para que o jovem e a criança tomem
gosto pelos estudos espirituais, os espíritas necessitam atualizar-se para
responder-lhes com precisão. Enrico argumentou:
- Também penso que as Mocidades
precisam ser dirigidas por jovens espíritas capacitados e não por jovens
inexperientes. Hoje uma criança de tenra idade convive com jogos eletrônicos e
até estuda computação. Negligenciar o jovem e a criança é grande erro. Eles
precisam muito da Doutrina e por que não toda a diretoria de uma Casa Espírita
se proclamar em prol de sua Mocidade, abordando temas atuais e fazendo-os
adentrar os estudos espirituais das obras básicas, enfim, toda a literatura
respeitável da Doutrina? Ficando apenas nas palestras para jovens e crianças,
perderemos para os vídeos, os jogos eletrônicos e os computadores. Insistimos:
se toda a diretoria se unir em prol da juventude, a Casa sentirá a diferença,
porque estará, toda ela, enfeitada de flores, que são as crianças e os jovens.
- Irmã Rafaela, a coisa está
feia, as crianças de doze anos estão voltando para casa de madrugada, e o pior
é que os pais julgam isso certo.
- Tem razão, irmão. O Centro
Espírita dá a evangelização, mas a família tem de apresentar Jesus nas suas
atitudes. Enrico, sempre sorrindo, aduziu:
- Conversar sobre a infância e a
juventude é como contemplar um jardim. Porém, para embelezá-lo, o jardineiro
tem por dever usar o adubo, a terra e as ferramentas. Só a boa vontade não
basta para que o jardim floresça. O jardineiro tem de livrá-lo das ervas
daninhas e procurar o melhor método de fazê-lo florir. Mas agora devemos
iniciar o trabalho. Espera-nos um irmão que desencarnou com overdose, ainda
muito jovem, dezessete anos.
- Que Deus os acompanhe,
estaremos aqui orando por todos. Cumprimentamos Rafaela e dali saímos.
Luiz Sergio - Irene P Machado -
Na Hora Do Adeus
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