*ALLAN KARDEC: O EDUCADOR E O CODIFICADOR*
As biografias constituem um gênero literário antigo e ainda muito apreciado, bastando, para constatarmos isto, ir a uma livraria.
Personalidades que se destacaram na arte ou na política, na economia ou na ciência, no esporte, na filosofia e, infelizmente, até no mal causado aos semelhantes, têm suas vidas descritas e analisadas pelos mais variados biógrafos, cujos trabalhos, breves ou extensos, despertam interesse, instruem ou advertem o leitor ou o estudioso.
A vida de Allan Kardec por sua importância como um dos vultos mais notáveis do século XIX foi já narrada em diversas obras, nenhuma, porém, tão completa quanto a de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, editada pela Federação Espírita Brasileira em 1979 e 1980, em três volumes, com o título Allan Kardec. Com o objetivo de torná-la menor com vistas à sua tradução para outros idiomas é lançada agora pela FEB uma compilação de textos da versão original, realizada por Zêus Wantuil, em dois volumes, com o título que encima este comentário. As partes suprimidas dizem respeito ao Espiritismo no Brasil, havendo, também, alguns pequenos acréscimos.
Ao responder em O Consolador a uma pergunta sobre a história humana vista da espiritualidade (questão 81), esclareceu o orientador Emmanuel que a sequência cronológica dos fatos é aproximadamente a mesma, divergindo, contudo, quase que de forma absoluta, a apreciação dos acontecimentos: heróis terrenos são, muitas vezes, grandes necessitados na esfera espiritual ao passo que entidades elevadíssimas não figuram nas galerias do destaque social. É esse o caso de Allan Kardec, muito pouco conhecido ainda entre os homens, mas, sem dúvida, um benfeitor da humanidade a cuja memória o futuro fará justiça.
Na presente edição, a sequência do título o educador e o codificador é muito apropriada por representar as fases ou etapas da vida do biografado, refletindo-se igualmente na sucessão dos capítulos. Com efeito, o primeiro volume compõe-se de duas partes, sendo, na primeira, focalizada a formação intelectual e moral do jovem Hippolyte Léon Denizard Rivail bem como seu trabalho de educador que, iniciado ainda na mocidade, desenvolveu-se ao longo de muitos anos no exercício do magistério, na direção de instituições de ensino e na publicação de obras pedagógicas. Vejam-se os títulos de alguns dos capítulos: Formação escolar de Rivail. A reputação mundial do Instituto de Yverdon, O pensamento religioso de Pestalozzi na formação de Rivail, Seu primeiro livro, Rivail e o magnetismo, Madame Rivail, Rivail como tradutor. Conhecimentos gramaticais e linguísticos, O educador por excelência e Vasta erudição polimática.
Aos 50 anos de idade, dotado de invejável cultura e vasta experiência, como poliglota, tradutor, professor, diretor de escola e autor pedagógico, além de contabilista e estudioso do magnetismo, Hippolyte Léon Denizard Rivial está pronto para se tornar Allan Kardec, transformação esta apresentada na segunda parte do primeiro volume, constituída apenas por dois extensos capítulos: A fagulha da renovação e Limiar do mundo invisível.
O segundo volume compõe-se igualmente de duas partes, que descrevem a ação de Kardec como codificador, editando cinco livros magistrais, que constituem a base do Espiritismo, e estruturando e orientando o movimento espírita que então nascia.
As obras publicadas por Kardec, pela simplicidade, clareza e coerência que apresentam, produzem, por vezes, a impressão de que redigi-las foi tarefa relativamente fácil. Nada, contudo, mais falso, sendo, todas elas, fruto de meticuloso esforço de análise, comparação, seleção e síntese realizado, não raro, em meio a ataques e incompreensões.
O trabalho de Francisco Thiesen e Zêus Wantuil nos permite, assim, compreender porque coube a Allan Kardec o papel de missionário chefe da Terceira Revelação.
Certamente, a mais importante biografia até hoje escrita na Terra é a de um carpinteiro, ainda jovem, crucificado na Palestina há cerca de 20 séculos, cujos ensinos e exemplos constituem o roteiro definitivo da felicidade para toda a humanidade. Mas não há dúvida de que conhecer as vidas daqueles que lhe foram discípulos fiéis é gratificante e inspirador.
E é este o caso de Allan Kardec: o educador e o codificador.
Conselho Espírita Internacional
Boletim SEI: E-mail: boletimsei@gmail.com
Sábado, 16/10/2004 - no 1907
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