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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Como a Verdade prevalecerá?

Como a Verdade prevalecerá?

Autor: José Queid Tufaile Huaixan


Li recentemente num jornal espírita paulista, a carta de um leitor de nome Vicente de Paula Latorraca, da cidade de Franca, SP, onde ele manifesta seu repúdio a vários assuntos tratados numa das edições anteriores daquele periódico. Uma de suas queixas me chamou a atenção, pois trata-se de reflexo da ultrapassada política unificacionista existente no movimento, utilizada para manter as pessoas caladas frente às coisas erradas.
Ao tentar defender a médica espírita Marlene Severino Nobre de críticas recebidas, Vicente propõe o silêncio como conduta na ação jornalística: Marlene não tem obrigação de pensar como nós, deixemo-la com seus valores, pois a verdade sempre prevalecerá, disse. Da política do silêncio, misturada à unificação e sob as asas da humildade, fez-se o espírito do movimento. A ausência de discussões das questões doutrinárias e das práticas nasceu dessa mentalidade irracional que não encontra parâmetro em nenhuma filosofia no planeta.
Atualmente, crescem as pressões pela democratização do movimento como um todo e isso só está sendo possível graças ao trabalho da imprensa espírita que, de uns tempos para cá, resolveu denunciar com veemência os descalabros vistos nas nossas instituições e na vida dos homens públicos. Dra. Marlene é uma das lideranças do movimento. Arregimenta, em torno das Associações Médico-Espíritas - AMEs, um importante segmento que é o dos médicos espíritas. Sabe-se que as AMEs abominam e sempre abominaram os trabalhos dos médiuns curadores. É claro que se uma liderança dessas vem a público tratar desse assunto, e acaba falando coisas que ao ver dos jornalistas prejudicam os interesses da Doutrina, estes têm o dever de examinar suas idéias publicamente, apontando possíveis incoerências.
Numa democracia, cada indivíduo tem uma função específica. Os líderes, espíritas ou não, normalmente influenciam as massas com suas idéias. Se passam informações errôneas ou distorcidas nos meios de comunicação ou em palestras, eles prejudicam a formação da opinião. O jornalista ou articulista espírita é um agente formador de opinião e deve estar alerta para valorizar o bem que as lideranças disseminam, mas não deixar também de criticar o que de inadequado disserem.
O líder espírita que não quiser receber críticas, deve colocar os chinelos e ficar em casa. Quem tem vida pública está sujeito a ter suas palavras analisadas. Pode ser até que alguém faça uma crítica injusta ou que gere polêmicas inúteis, mas isso faz parte do processo de comunicação nesse mundo de heterogeneidade. O leitor é quem vai julgar se uma crítica ou polêmica é útil ou não. Nós, jornalistas, gostamos das observações dos leitores e, quando achamos necessário, podemos criticá-las no jornal. Mas é preciso que as pessoas deixem a idéia de querer ensinar como fazer jornalismo, pois este é um campo que as pessoas leigas no assunto, evidentemente pouco entendem.
Tempos atrás, vimos um artigo no Jornal Espírita, onde um dirigente de Rio Claro, SP, fazia um apelo aos editores de jornais doutrinários para utilizarem suas páginas com artigos esclarecedores, sem polêmicas inúteis. Ora, jornais não existem para adoçar a realidade, nem só para divulgar Espiritismo, como pensam alguns. Um jornal tem a função principal de dar notícias e discutir problemas da comunidade. Podem editar sessões onde ensinamentos sejam ministrados, mas não devem abster-se da crítica.

Fazer jornalismo para agradar os figurões do movimento é algo simples e constitui-se naquilo que a maioria faz. Por pior que seja um elogio, o elogiado sempre gosta. Com a crítica as coisas são bem diferentes. A menor observação desperta rancores e melindres. Quanto a essa história de que a verdade prevalecerá, trata-se de uma afirmação apenas parcialmente correta. Ela só prevalecerá se houver homens que lutem por sua permanência e combatam as inverdades que venham a ser inseridas na sua interpretação. Se a verdade prevalecesse sem lutas, o Cristianismo não sofreria as distorções que se observaram ao longo da história. Se mantivermos a postura do trabalhar em silêncio como propuseram alguns unificacionistas, o Espiritismo também será distorcido, se é que já não o foi em sua interpretação. Portanto, abaixo o silêncio e viva as críticas, os debates, as polêmicas, as análises e observações! 

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