Depois das lições, que são sempre agradáveis e edificantes, somos
conduzidos a uma oficina de grandes proporções, onde trabalhamos na composição
de material de ensino para os jovens de cursos superiores, serviço esse que é
sempre orientado por sábios instrutores de nossa nova esfera de ação.
Atendemos, por essa forma à obrigações com imenso proveito, porque
cumprimos o dever que nos cabe, preparando-nos, ao mesmo tempo, para tarefas
maiores.
Tanta atenção e cuidado deveremos, porém, dispensar ao serviço, que
Zacarias, um de nossos colegas mais resolutos, resolveu interpelar,
respeitosamente, um dos orientadores, indagando:
- Todos trabalham, como nós, depois da morte do corpo?
- Como não? – respondeu ele sorridente.
- É que – tornou companheiro, acanhado – nos ensinaram na Terra que,
depois da morte, somente encontraríamos o repouso eterno, quando bons, e a
eterna punição, quando maus.
- É uma ilusão dos homens – esclareceu generosamente o instrutor -,
quase sempre interessados em criar artifícios para o engano de si mesmos. A
maioria das criaturas encarnadas, nos círculos terrenos, não escondem o desejo
vicioso de gozar sem esforço, receber benefícios sem proporcioná-los a outrem e
repousar sem servir.
Nesse ponto dos esclarecimentos, sorriu bem-humorado e continuou:
A propósito de semelhante verdade, a maior parte dos meninos que chegam,
até aqui, são sempre portadores de enraizados defeitos. Foram muitíssimo mal
habituados em casa. Escravizaram-se ao carinho excessivo, ausentaram-se das
pequenas responsabilidades e deveres que lhes competiam na organização familiar
e, ao serem surpreendidos pela morte, sofrem angustiosamente com a readaptação,
porque a vida continua, pura e simples, exigindo do serviço, esforço e
boa-vontade de cada um de nós.
Aquelas palavras queimavam-me a consciência. Recordei minha situação
antiga. Vi-me, de novo, em casa, reclamando a atenção de todos, sem qualquer
resolução de ser útil aos outros. Não sei se acontecia o mesmo a outros
companheiros de turma, que, atentos, mas desapontados, escutavam as
explicações. Sei apenas que experimentei íntima sensação de vergonha.
Em seguida ao intervalo havido nas observações, o orientador continuou
esclarecendo-nos que só os maus e os indiferentes buscam meios de fugir ao
trabalho, que o serviço nos é concedido como verdadeira benção de luz e paz.
Por fim, exortou-nos a recordar que Jesus, em criança, trabalhava na
carpintaria, preparando peças de madeira dando-nos o exemplo de correto
aproveitamento do tempo infantil, acrescentando, ainda, que se houvéssemos sido
educados, quando nos lares terrestres, no espírito de serviço, não teríamos
tanta dificuldade de readaptação à vida espiritual.
Confesso que estou plenamente de acordo com semelhante ponto de vista.
(Livro: Mensagens
do Pequeno Morto - Psicografia
de Francisco C. Xavier - Espírito Neio Lúcio)
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