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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016


 (Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)
Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.

SEGUNDA PARTE

DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS

CAPITULO III  
                     
MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES

Estudo 24: itens 65 a 71

Referindo-se estudo do capítulo anterior (estudo 23), afirma Allan Kardec que nada certamente revela a intervenção de uma potência oculta e os efeitos analisados poderiam ser perfeitamente explicados pela ação de uma corrente magnética, ou elétrica, ou, ainda, pela ação de um fluido qualquer. Tal foi, precisamente, a primeira solução dada a tais fenômenos e que, com razão, podia passar por muito lógica. Teria, não há dúvida, prevalecido, se outros fatos não viessem demonstrar a sua insuficiência. Estes fatos são as provas de inteligência que eles deram. Ora, como todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, tornou-se evidente que, mesmo admitindo-se a ação da eletricidade ou de qualquer outro fluido, havia a presença de outra causa. Qual seria? Qual era essa inteligência? Foi o que o prosseguimento das observações revelou.

Para que uma manifestação seja inteligente, não precisa ser convincente, espiritual ou sábia. Basta ser um ato livre e voluntário, exprimindo uma intenção ou correspondendo a um pensamento. Quando se vê um papagaio de papel agitar-se, sabemos que obedece ao impulso do vento; mas se reconhecemos nos seus movimentos sinais intencionais, se gira para a direita ou para a esquerda, rápida ou lentamente, obedecendo ordens, tem-se de admitir, não que o papagaio tenha inteligência, mas que obedece a uma inteligência. Foi o que aconteceu com a mesa.

Viu-se, então, a mesa mover-se, levantar-se, dar pancadas, sob a influência de um ou de muitos médiuns. O primeiro efeito inteligente que se observou foi precisamente o de obediência às ordens dadas. Assim é que, sem mudar de lugar, a mesa se erguia sobre os pés que lhes eram indicados. Depois, ao abaixar-se, dava um determinado número de pancadas respondendo a uma pergunta. De outras vezes, sem o contato de ninguém, passeava sozinha pelo aposento, avançando para a direita ou esquerda, para frente ou para trás, executando movimentos diversos que os assistentes ordenavam. É claro que foram afastadas as suspeitas de fraude, aceitando-se a perfeita lealdade dos assistentes. 

Por meio de pancadas e, sobretudo, por meio dos estalidos, os quais foram tratados no estudo anterior (número 23), obteve-se efeitos ainda mais inteligentes. Era, como bem se compreende, um vasto campo a ser explorado. Raciocinou-se que, se naquilo havia uma inteligência oculta, forçosamente lhe seria possível responder a perguntas e ela de fato respondeu, por um sim, por um não, dando o número de pancadas convencionado. Por serem muito insignificantes essas respostas, surgiu a idéia de fazer-se que a mesa indicasse as letras do alfabeto e compusesse assim palavras e frases.

Estes fatos, repetidos à vontade por milhares de pessoas e em todos os países, não podiam deixar dúvida sobre a natureza inteligente das manifestações. Foi então que apareceu um novo sistema, segundo o qual essa inteligência seria a do médium, do interrogante, ou mesmo dos assistentes. A dificuldade estava em explicar como semelhante inteligência podia refletir-se na mesa e se expressar por pancadas. Averiguado que estas não eram dadas pelo médium, deduziu-se que, então, o eram pelo pensamento. Mas, o pensamento a dar pancadas constituía fenômeno ainda mais prodigioso do que todos os que haviam sido observados. 

A experiência não tardou a demonstrar que essa opinião era inadmissível. Com efeito, as respostas se mostravam muito freqüentemente em completa oposição ao pensamento dos assistentes, fora do alcance intelectual do médium e até mesmo em idiomas ignorados por ele ou relatando fatos desconhecidos de todos. São tão numerosos os exemplos, que é quase impossível alguém haver se ocupado de comunicações espíritas, sem os ter muitas vezes testemunhado. 

Allan Kardec apresentou o seguinte caso relatado por uma testemunha: Num navio da marinha imperial francesa, nos mares da China, toda a equipagem, desde os marinheiros até o comando, ocupava-se das mesas falantes. Resolveram evocar o Espírito de um tenente do mesmo navio, que morrera havia dois anos. Ele atendeu, e depois de várias comunicações que espantaram a todos, disse o seguinte, por meio de pancadas: "Peço-vos insistentemente que paguem ao capitão a soma de (indicou a quantia), que lhe devo e que lamento não ter podido pagar-lhe antes de morrer." Ninguém sabia do fato. O próprio capitão esquecera essa dívida, aliás, mínima. Mas, procurando nas suas contas, encontrou um registro da dívida do tenente, na importância indicada. Perguntou-se: do pensamento de quem essa indicação podia ter sido refletida?

Ao traduzir O Livro dos Médiuns, Herculano Pires recorda que o problema do inconsciente deu margem no passado e continua a dá-la ainda hoje, a numerosas hipóteses fantásticas sobre a possibilidade de serem telepáticas essas transmissões. Mas, os fatos são mais complicados do que o citado acima e essas hipóteses não abrangem a todos. As pesquisas parapsicológicas, longe de beneficiarem essas hipóteses fantásticas, vêm confirmando progressivamente a explicação espírita.

Apesar do aperfeiçoamento da arte de comunicação pelo sistema alfabético de pancadas, o meio continuava muito moroso. Algumas, entretanto, trouxeram interessantes revelações sobre o Mundo dos Espíritos. Desse meio surgiram outros e assim se chegou ao de comunicações escritas. 

As primeiras comunicações desse gênero foram obtidas adaptando-se um lápis ao pé de uma mesa leve, colocada sobre uma folha de papel. Movimentada pela influência de um médium, a mesa começou traçando alguns caracteres, depois escreveu palavras e frases. Simplificou-se gradualmente o processo, pelo emprego de mesinhas do tamanho de uma mão, construídas expressamente para isso; em seguida, pelo emprego de cestinha, de caixas de papelão e por fim de simples pranchetas. 

A escrita era tão fluente, rápida e fácil como a manual, mas reconheceu-se mais tarde que todos esses objetos serviam apenas de apêndices da mão, verdadeiros porta-lápis que podiam ser dispensados. De fato, a própria mão do médium, impulsionada de maneira involuntária, escrevia sob a influência do espírito sem o concurso da vontade ou do pensamento daquele. Desde então, as comunicações entre os dois planos não têm mais dificuldades do que a correspondência habitual entre os encarnados.

Concluindo, compreendemos que esse desenvolvimento gradual do processo da psicografia representa um dos episódios mais significativos da Ciência Espírita, mostrando a naturalidade do fenômeno. A prancheta, como se vê, não é mais do que uma miniatura da mesa girante, conservando-se assim, a forma do instrumento primitivo através da evolução para a escrita manual. O aparecimento da cesta e da caixa de papelão assinala o momento de transição dos meios materiais para o meio psíquico.

BIBLIOGRAFIA

KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap. II - 2ª Parte

KARDEC, Allan - Obras Póstumas: 2.ed. São Paulo: LAKE, 1997 - Pág. 217 a 222

WANTUIL, Zeus - As Mesas Girantes e o Espiritismo: Rio: FEB, 1959

Tereza Cristina D'Alessandro

Julho / 2003

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