INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA
Entre tantas acusações e controvérsias, habituais e normais nesse início, a objeção - ortografia isto é - a escrita correta das palavras - não se constitui com tantos fundamentos ou gravidade.
Estabelecido que:
· Os Espíritos são as almas daqueles que um dia estiveram encarnados
· Constituem população imensa, incalculável, em meios físicos e hiper-físico que se interpenetram
· cada qual conserva sua individualidade e se exteriora segundo a bagagem que lhe é própria, há que se entender, ser impossível, que todos se expressem através da escrita, da palavra ou qualquer outro meio, com a correção e perfeição desejadas.
Necessariamente, nem todos possuem a elegância da frase, o purismo no encadear das palavras para que se expresse a idéia. A grande maioria, não só dos Espíritos, como médiuns também não têm noção ou freqüentaram cursos de gramática que lhes ensinou escrever corretamente ou expressar o pensamento de forma mais clara, simples e correta.
Sob esses raciocínios percebe-se, que os adversários, detêm-se a detalhes primários, insignificâncias não convincentes, onde a grande causa do engano está em crer que o Espiritismo emana de uma só fonte ou da opinião de um só homem. Não percebe que está ele por toda parte, uma vez que não há lugar onde os Espíritos não possam se manifestar.
A causa, portanto, está na própria natureza do Espiritismo, cuja força não provindo de uma só fonte, permite a cada qual receber diretamente comunicações dos Espíritos e certificar-se através delas, na comprovação dos fatos, a veracidade ou não da proposta.
Essa universalidade das manifestações confere os princípios da Doutrina... "segundo o ensinamento dos Espíritos Superiores, através de diversos médiuns”...
É uma força que não podem explicar aqueles que desconhecem o mundo invisível, assim como os que desconhecem as leis da eletricidade não compreendem a rapidez com que se transmite por exemplo um telegrama, um e-mail.
Entende-se portanto, ser normal nem sempre se receber uma mensagem com grafia e estilo impecáveis.
Funciona aqui, o mesmo critério da linguagem, onde o que se deve buscar é o conteúdo, a proposta moral contida na instrução, no trecho, na mensagem, no livro etc. Se procedem de Espíritos elevados, a idéia será a mesma em qualquer tempo e lugar, independendo-se da forma, da grafia certa ou errada, da construção da frase, da caligrafia fluente, fina ou grosseira e tosca.
Não julgar portanto, a qualidade do Espírito pela forma material na incorreção do estilo. Sondar-lhe o íntimo, analisar, pesar friamente sem prevenção.
Qualquer divergência, distanciamento, inovação, ofensa à lógica, à razão, à ponderação ao bom senso, não deixarão dúvida quanto à procedência, sejam quais forem as palavras bonitas ditadas, a grafia perfeita ou o nome sob o qual se apresente o Espírito.
O teor de uma mensagem inferior aborda e discorre sobre tudo com desassombro, uma vez que não há preocupação com a verdade. Predizem o futuro, explicam o passado, fixam acontecimentos em datas e circunstâncias. Ao escrever e falar, são pomposos, ostensivos, bombásticos, justamente meio que, empolgando, oculta o vazio das suas idéias. Essa linguagem pretensiosa, ridícula ou obscura tem o objetivo de querer parecer profunda, filosófica, séria. Mescla-se em meio a palavras bonitas onde a imposição é velada nas ordens que dão e que querem ser obedecidas. Elogiam, estimulam o orgulho, a vaidade, exaltam a importância pessoal, fazem promessas e tratos, pactos e acordos em meio às suas pregações de humildade, desapego, fraternidade...
Os bons, os comprometidos com a Verdade nas propostas de renovação moral, ao contrário, só dizem o que sabe; calam-se ou confessam ignorância sobre o que desconhecem. Não determinam datas em previsões. Não direcionam a mensagem, especificando que é para este ou aquele. Abordam o assunto de tal forma generalizando-o, que cada ouvinte ou leitor, sente-se como destinatário único.
Exprimem-se com simplicidade, em estilo sucinto, resumido, breve, exato, sem exigir muito esforço para sua compreensão. Dizem muito em poucas palavras, porque exatamente cada uma delas é empregada com exatidão e com o sentido que têm e não a que o homem queira dar-lhe. Não ordenam, não impõem, mostram utilidade, objetivos, ideal a ser alcançado, benefícios que de modo geral atraem esta ou aquela atitude, deixam o ser em liberdade. Se não são aceitos, entendidos, escutados, retiram-se. Não lisonjeiam, aprovam o bem feito, com reservas, sem estardalhaço, sem elogios. Objetivam sempre fim sério e eminentemente útil - em todas as circunstâncias - só prescrevem o Bem e tudo o que passarem estará estritamente conforme com a pura caridade evangélica.
Esse conhecimento é essencial para se aferir, para se ter presente quando do recebimento de uma mensagem, da leitura de um livro que se qualifica como espírita, como de mensagens psicofônicas, tanto em relação à sua procedência, como em relação à pureza da Doutrina.
Bibliografia
Kardec, Allan - "O Livro dos Espíritos" - Introdução XIV
Kardec, Allan - "O que é o Espiritismo" - 1o dialogo
Kardec, Allan - "O Livro dos Médiuns" - cap. XXIV
Leda Marques Bighetti
Outubro / 2003