Essa crítica é
feita principalmente por evangélicos, católicos e ateus. Como a esmagadora
maioria das críticas deferidas ao Espiritismo, essa demonstra o desconhecimento
do autor da mesma com relação à doutrina; e ainda, nesse caso, simplesmente um
raciocínio de observação sobre a sua própria religião tiraria todo o mérito da
crítica. Temos a Bíblia como a referência para todos os católicos e
evangélicos; mas perguntemos: como existe hoje essa Bíblia que está ao alcance
de nossas mãos? Ela veio pronta dos céus ou foi formada depois de um estudo
seletivo de vários textos que existiam em vários lugares e que haviam sido
escritos por vários diferentes homens? Percebe-se que a segunda alternativa é a
verdadeira. Logo, como criticar a existência de posições diferentes nas
comunicações dos espíritos se a própria Bíblia também fora resultado de estudos
que decidiram quais livros eram corretos e quais deveriam ser considerados como
apócrifos? O próprio Apocalipse de João primeiramente não fez parte da Bíblia,
sendo aceito e inserido na mesma somente após certo tempo. Temos hoje
diferentes Igrejas utilizando diferentes Bíblias em seus corpos doutrinários.
Tornar o Espiritismo inválido pela discordância entre os espíritos seria, por
simples raciocínio análogo ou coerência, tornar também inválida a Bíblia.
Qualquer estudo
minimamente sério da doutrina espírita já revelará a advertência de que tudo
deve ser cuidadosamente analisado. A própria idéia da reencarnação passou por
isso, como atesta um trecho da Revista Espírita de fevereiro de 1862: “quando
nos foi revelado, ficamos surpresos, e o acolhemos com hesitação, com
desconfiança: nós o combatemos durante algum tempo, até que a evidência nos foi
demonstrada. Assim, esse dogma, nós o aceitamos e não inventamos, o que é muito
diferente”.
Os espíritos
existem nos mais diferentes graus de desenvolvimento intelectual e moral (pois
não são eles nada mais nada menos que seres humanos que viveram encarnados
entre nós?), daí nascerem discrepâncias entre as comunicações realizadas. Há os
sábios e os ignorantes, cabendo a nós, na natureza de cada comunicação,
discernir uns dos outros. No do livro Obras Póstumas, Kardec esclarece de forma
objetiva a metodologia utilizada por ele na codificação da doutrina: “apliquei
a essa nova ciência, como o fizera até então, o método da experimentação;
jamais ocasionei teorias pré-concebidas; observava atentamente, comparava,
deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas, pela
dedução e o encadeamento lógico dos fatos, não admitindo uma explicação como
válida senão quando podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim
que sempre procedi em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16 anos.
Um dos
primeiros resultados de minhas observações foi que os espíritos, não sendo
outros senão as almas dos homens, não tinham a soberana sabedoria, nem a
soberana ciência; que o seu saber estava limitado ao grau de seu adiantamento,
e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Essa
verdade, reconhecida desde o princípio, me preservou do grande escolho de crer
em sua infalibilidade, e me impediu de formular teorias prematuras sobre o
dizer de um só ou de alguns. (...)
Tais foram
as disposições com as quais empreendi, e sempre persegui os meus estudos
espíritas; observar, comparar e julgar, tal foi a regra constante que segui.”
Disso resulta
que todo princípio que não recebeu a consagração do controle da generalidade,
não pode ser considerado parte integrante da doutrina espírita, mas uma simples opinião isolada, da qual o Espiritismo não
pode assumir a responsabilidade. É a coletividade concordante da opinião dos
espíritos, passada, por outro lado, pelo critério da lógica, que faz a força da
doutrina espírita, e lhe assegura a perpetuidade.
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– Conhecendo o Espiritismo sem
preconceitos
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