“Para
julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu
interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para
fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa (...)
Evangelho
Segundo o Espiritismo Cap X – Item 10.
A
subjetividade é um capítulo admirável da ética espírita quando
enfocado sob o ângulo da formação de juízos morais.
As
razões humanas para explicar as próprias atitudes são algo
inerente à individualidade da cada ser. Mesmo os perversos encontram
“motivos justos” para as suas ações, nas justificativas
pertinentes a seus raciocínios egoístas.
Juízos
éticos sempre serão subjetivos e, por isso mesmo, não constituem
bons argumentos para fundamentação de defesas a medida e projetos
que visem colaborar na restauração da reorganização de nossa
Seara. Assinalar condutas morais de pessoas ou instituições, com
base para propor mudanças, é fragilizar nossas disposição de
cooperar, porque penetramos um campo essencialmente individual e
inacessível. E mais a mais, julgar é concluir veredictos sobre o
comportamento alheio, no qual, quase sempre, falhamos.
Juízes
eminentes declaram sentenças injustas, conquanto se preparem para
não fazê-las, e a maioria de nós, na rotina das relações,
costumamos emitir sentenças e pareceres pelo hábito de criticar e
analisar defeitos dos outros, sem qualquer sintonia com a verdade
sobre tais pessoas, ou apenas analisando-as superficial e
parcialmente.
O
fato de cada individualidade ter suas razões é motivo com sobras
para que respeitemos cada qual em seu patamar, o que não significa
tenhamos que concordar e adotar passividade ante suas movimentações.
Aqui penetramos em um dos mais delicados tópicos do relacionamento
interpessoal, em nossos ambientes de reeducação espiritual: a
convivência pacifica e construtivas frente à diversidade de
opiniões, entendimentos e posturas, por parte daqueles que integram
a comunidade nas lides doutrinárias.
A
tendência marcante da nossa personalidade é estabelecer idéias
pré-concebidas, expectativas mal dimensionadas e estereótipos sobre
as ações alheias, e, mesmo quando nosso julgamento é pertinente,
preferimos a referência mordaz e o destaque para a parte menos
construtivas a ter que conjeturar, em clima de indulgência e
misericórdia, sobre as motivações que ensejaram os comportamentos
alheios.
Somos,
comumente, escravos do nosso orgulho que procura defeitos nos outros
para tentar fazer-nos melhor. Entretanto, o próximo é o espelho dos
nossos valores e imperfeições, e, quando lhe destacamos uma
deficiência, precisamos voltar-nos para a intimidade e descobrir
nosso elo de atração com a questão em pauta; isso será um
verdadeiro exercício de autodescobrimento. 13
A
dificuldade consiste em redirecionar nosso milenar costume de ver
o cisco no olho do outro e não perceber a trave no nosso (1).
Um
bom princípio para a reeducação de nós mesmos será sempre o
cultivo do sentimento de piedade e compreensão para com todos.
Metalizarmo-nos, todos, em um só barco com a presença do Mestre
conduzindo-nos pelas tempestades de nossas extensas carências
espirituais, e jamais deixar de recordar que estamos em patamares
variados de crescimento para Deus.
Isso
exigir-nos-á o vinculo com a atitude de alteridade, ou seja, o
reconhecimento da diferença, da distinção da qual o outro é
portador, a fim de nutrirmos constante indução mental na formação
do hábito de respeitar as diferenças no modo de ser de cada qual.
As
defesas apaixonadas no campo dos julgamentos morais têm feito muito
mal aos nossos ambientes de amor, nas leiras doutrinárias. Conquanto
muitas vezes sejam verdadeiros, devemos aprender com Jesus, nosso
guia e modelo, como externá-los para não ferir e conturbar. Saber
apresentar discordâncias e falhas é uma arte da qual temos muito a
aprender.
Lembremos
o episódio inesquecível da mulher adúltera para termos uma noção
lúcida sobre como se portar frente à verdade dos que nos cercam.
Naquela oportunidade, Jesus não faltou com o corretivo e nem
julgou-a; utilizando-se de um extraordinário recurso pedagógico,
devolveu a subjetividade dos juízos à consciência de cada um
através do pronunciamento atirem
a primeira pedra os que se encontrem isentos do pecado,
(2) e todos sabemos qual foi o efeito desse recurso na vida pessoal
dos que ali se encontravam.
Nossa
necessidade de guardar idéias, em forma de juízos definitivos e
inflexíveis sobre as criaturas, é o fruto do nosso orgulho. Nossos
julgamentos manetas pecam pela ausência de bons sentimentos, pela
parcialidade e, acima de tudo, pelas projeções que fazemos de nós
mesmos.
A
dificuldade de aceitação das pessoas com elas são, enquadrando-as
em concepções e padrões definidos pela nossa ótica de vida,
precisa ser corrigida para ensejar um melhor nível de entendimento
em nossa seara bendita. A inaceitação chega a ser tão ostensiva
que nos magoamos com facilidade com as ações que não correspondem
as nossas expectativas, ainda que tais ações não nos prejudiquem.
Devido a essas expectativas que depositamos em pessoas e
instituições, ocorrem muitas cobranças injustas e ofensas
dilacerantes que só inspiram o revanchismo e a invigilância.
Esse
não deveria ser o nosso clima. E como ficam os princípios imortais
que deveriam esculpir o nosso caráter?
A
maior decepção é aqui na “imortalidade”, quando somos todos
convocados a novas concepções sobre fatos, pessoas, instituições
e conceitos esposados ao longo de toda a nossa reencarnação. A
imortalidade quase sempre traz-nos muitas surpresas nesse sentido. 14
A
maioria delas de incômodos íntimos desagradáveis para quantos
optaram por juízos éticos rigorosos, excludentes e intolerantes.
Não
existe a presença da perversidade na seara, e, ainda que houvesse,
deveria ser tratada como imaturidade emocional e moral. Em verdade, o
que temos entre nós são necessidades extensas nos terrenos da
melhoria espiritual, sendo necessário aos seguidores de Jesus e
Kardec compreender que ninguém faz o que faz para magoar ou no
intuito de denegrir. São hábitos arraigados contra os quais estamos
em permanente batalha.
Virá
o instante do entendimento, da complacência e da tolerância como
veredas de esperança para um tempo melhor. A isso chamamos união e
fraternidade. Nessa hora, quando assentamos à mesa dispostos a
contemplar a diversidade do outro e dialogamos como irmãos de ideal,
descobriremos, estupefatos, quão distantes da realidade se encontram
nossos julgamentos, porque compreenderemos melhor quais eram as
razões de cada um. 15
Conselho
Espírita de São Bernardo do Campo
“Encontros
de Atitudes de Amor”
Grupo
Fraternidade Espírita João Ramalho
Reunião
do dia 6 de julho de 2008
Tema
Central:
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