CAPÍTULO IX: BEM-AVENTURADO OS MANSOS E OS PACÍFICOS
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS: ITEM 6
A AFABILIDADE E A DOÇURA
A mensagem é de Lázaro, irmão de Marta e Maria, que residiam em Betânia, no caminho de Jerusalém a Jericó. Amavam a Jesus, recebiam-no sempre em sua casa.
Lázaro é a forma grega da abreviação hebraica läzär, de Eleazar, que significa “Deus ajuda”.
Foi ele o “ressuscitado” por Jesus, de um estado de letargia, ignorado na época, tendo sido considerado morto, conforme narram Mateus, Marcos e João.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontram-se mensagens suas nos capítulos: IX, item 6 e 8, XI, item 8 e no capítulo XVII, item 7, dadas nos anos de 1861 a 1863, em Paris.
Nesta mensagem, o autor nos fala dessas duas virtudes, pouco citadas no cotidiano dos homens em geral, mas exaltadas por Jesus, que incentiva seus irmãos em desenvolvimento espiritual, a fazê-las crescer dentro de si, pois, com elas em ação, serão bem-aventurados.
Afabilidade é a qualidade de quem é cortês, delicado, amável, agradável, com quem se pode falar facilmente, acessível.
Doçura é a qualidade de quem é suave, meigo, brando.
Escreve ele, que a afabilidade e a doçura se originam da benevolência (boa vontade, bondade para com alguém), que por sua vez, é fruto do amor ao próximo.
Isso significa que não basta ter atitudes exteriores de boa educação, de gestos e atitudes suaves, ser afável no falar, se são resultados de treinamentos sociais, aparências de uma boa educação, de boa índole.
Quem deseja ser afável e suave nos relacionamentos com os outros, precisa cultivar o amor ao próximo, para com ele, ter boa vontade com seus erros, suas imperfeições, suas dificuldades.
São bem-aventurados os que, se esforçando por compreender e aceitar todas as pessoas como são, querendo para elas o que de melhor for possível, usando de benevolência para com suas faltas e omissões, tiver sempre atitudes de delicadeza e de afabilidade em todos os relacionamentos.
Assim, Lázaro censura os que usam de “uma máscara para uso externo, uma roupagem, cujo corte bem calculado, disfarça as deformidades ocultas”, mas que na menor contrariedade, mostram-se como são por dentro, nas reações violentas que manifestam.
Cita os que em casa são tiranos dos familiares, agressivos, incapazes de gestos de delicadeza..., mas fora no lar, apresentam-se de forma bem educada no falar, no ouvir, afáveis e suaves.
São pessoas dominadas pela hipocrisia, afastando-se, cada vez mais da autenticidade, que é a qualidade do autêntico, que, no dicionário Houais, é definido como: não imitativo verdadeiro; em que não há falsidade, espontâneo, real; indivíduo que se assume tal qual é, que não se apresenta aos outros de modo idealizado.
No “amar ao próximo como a si mesmo” está implícita a idéia de que o amor a si próprio existe em cada um de nós, e assim Deus nos fez. O que não está dentro da vontade divina é o egoísmo, esse amor exacerbado que só enxerga as suas necessidades, colocando-se no centro de tudo e de todos.
Para libertarmo-nos do egoísmo, precisamos nos conhecer, aceitar as pequenas coisas boas que temos, bem como a nossas imperfeições, considerando que somos Espíritos em evolução.
Todavia, não podemos, por amor a nós, conformarmo-nos com as poucas coisas boas e as muitas imperfeições que temos, pois, estamos reencarnando, tantas vezes quantas forem necessárias na Terra, para desenvolver nosso potencial divino e melhorarmo-nos, perseverantemente.
Assim, o aceite do como somos é apenas o primeiro passo para, no uso do livre-arbítrio, continuarmos, nesta existência, nosso processo evolutivo.
Para que isso aconteça, precisamos ser honestos e sinceros para conosco, nos enxergando o mais real possível, a fim de reformar nosso caráter, reprimindo nossas más tendências, melhorando o que já temos de bom, permanecendo no caminho do progresso, difícil, lento, mas sempre progresso.
A honestidade e a sinceridade conosco, nos leva a ser autênticos, a nos apresentarmos a todos como somos, imperfeitos sim, mas esforçando-nos para melhorarmo-nos.
Esse esforço aparece quando sentindo um impulso, uma vontade de agredir, de revidar, controlamo-nos. Aí, não é hipocrisia, independente dos outros perceberem ou não, nosso esforço de bem proceder. É uma agressão a alguém, que foi sentida, pensada, mas não realizada.
Foi uma vitória que, por certo, estimulará outras, até que não haja mais a necessidade do raciocínio para reprimi-la, pois estará eliminada de nosso interior.
Penso que o dia em que maior números de pessoas agir de forma autêntica consigo mesmo e com os demais, inspirando confiança uns nos outros, originando o respeito mútuo aos deveres e direitos de cada um, a Terra estará bem mais próxima de se tornar um mundo regenerado.
Assim termina Lázaro sua mensagem: “Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas, jamais se desmente. É o mesmo para o mundo ou na intimidade, e sabe que se pode enganar os homens pelas aparências, não pode enganar a Deus.”
Só pode dar amor quem o tem. Partindo, pois, do amor que sentimos por nós mesmos, podemos amar ao próximo.
Bibliografia:
KARDEC, Allan - “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
Leda de Almeida Rezende Ebner
Dezembro / 2007 |
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