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terça-feira, 25 de maio de 2010

10 - *O CÉU E O INFERNO

A cada um segundo suas obras

7 . – O progresso nos Espíritos é fruto do próprio trabalho; mas como são livres, trabalham no seu adiantamento com maior ou menor atividade, com mais ou menos negligência, segundo sua vontade, acelerando ou retardando o progresso e, por conseguinte, a própria felicidade“.

(O Céu e O Inferno, Cap. III - O CÉU. Grifos nossos)

Destacamos anteriormente três idéias (atividade, qualidade e felicidade) e levantamos a questão acerca da força da nossa motivação. Assim, recordando o que havíamos colocado usando o pensamento de Weber: as idéias nada mais são que trilhos nos quais o interesse corre.

É principalmente no campo da educação que essa questão (o interesse, a motivação) fica mais perceptível. Muitos estudiosos já dedicaram considerável tempo à questão do aprendizado. Rousseau, Pestalozzi, Comenius, Piaget, Vygotsky, Wallon, etc. As teorias são as mais diversas. Basta passar os olhos na seção de Pedagogia / Psicologia de qualquer grande livraria para termos uma idéia disso. É claro que todas são úteis dentro da perspectiva em que surgiram – Mas como é importante contextualizar! Uma questão permanece em tudo isso, entretanto. Muitas delas partem de um pressuposto muito óbvio: o sujeito quer aprender. E não conhecemos nenhuma que trate da questão da motivação de forma mais direta, apenas como questão “satélite”, importante, mas nunca como foco de estudo. Há recomendações para que se estimule, mas sempre dentro de uma linha pré-definida de conteúdos / necessidades que se supõe básicas. O Construtivismo chega a abordar a questão, mas também aqui a práxis (a prática) se revela, freqüentemente, distante da teoria. Isso porque uma boa explicação (uma teoria) sobre algo que já aconteceu não é o mesmo que a prática necessária (o método) para permitir que aconteça novamente. Mas. por que isso parece tão difícil? Arrisquemos uma reflexão...

Inicialmente há, o leitor, de concordar conosco (e se não concordar basta escrever!): Não estamos muito à vontade para trabalhar (lidar com) a espontaneidade - que sempre surge ao tratarmos com o outro. Mas é aí que a coisa começa a ficar interessante. Procure o leitor se lembrar da sua reação frente à espontaneidade daqueles com quem convive. Como se sentiu? Estava “preparado”? Quantas surpresas, sustos, não? Na teoria costuma-se dizer que é muito importante, básica, etc. Mas, na prática... infelizmente isso ainda é tratado como algo que incomoda. Afinal, pensamentos como “dava tudo tão certo antes, por que não daria agora?” costumam nos ocorrer. Então chegamos até a arranjar alguns nomes para definir a situação constritora, como, por exemplo, falta de vontade, indisciplina, distúrbio de aprendizagem, síndrome-de-disfunção-de-algo–que-não-se-sabe-o-que-é (e, chega a ser cômico o quanto muitas vezes brigamos por causa de nomes!). Bem, dar nomes é importante, pois possibilita a comunicação das idéias. Mas também pode trazer a falsa impressão de está tudo no seu devido lugar. Tudo certo no horizonte...

Por que será tão difícil lidar com a espontaneidade? Não caracteriza ela a própria condição de ser livre o Espírito? Veja bem, leitor, que não estamos aqui advogando um ambiente sem ordem, que, aliás, está presente em tudo na Natureza. Mas há algo que hoje nos está escapando no processo de educação: como lidar com a espontaneidade? E, qual a relação dela com as questões básicas com as quais temos tratado aqui?

Pelas reflexões que fizemos na página anterior podemos chegar a dizer que progredir não é apenas uma necessidade, mas antes um direito! Um direito fundamental de todo Espírito. Pois é a base do próprio direito pela busca da própria felicidade. Além disso, se o corpo exige o trabalho para a sua sobrevivência, a atividade é da própria essência do Espírito. Satisfeitas as necessidades básicas, como segurança e sobrevivência, aparece como uma urgência pela qual ele (o Espírito) vai lutar com todas as armas de que dispõe para conseguir o seu fim: progredir. Se tirarmos do seu alcance os meios, veremos a luta se estabelecer prontamente. E parece até muito natural querer ajudá-lo nessa empreitada, não? Os pais não querem o melhor para os seus filhos? Bem, então começa o primeiro embaraço. Senão vejamos.

Queremos o melhor para o nosso irmão, só que esquecemos, veja que coisa, de perguntar-lhe o que ele considera como melhor! Expliquemos. Não nos ocorre que pode não ser tão simples assim. Porque talvez seja preciso que nos aproximemos dele, que sintamos os seus anseios, aguardemos a sua manifestação, cultivemos o convívio, sem pressa, sem ansiedades. Assim, sem muita lógica, e pressionados por nossas próprias tensões, o que fazemos? Vamos decidindo por ele, esperando que ele até nos agradeça pela nossa boa-vontade... Seria cômico, se não fosse trágico. Trágico porque ele quer progredir, é uma necessidade e um direito. Então, se ele não sentir que estamos ajudando, sentirá que a nossa ação é um obstáculo, levando a uma reação. E, nisso tudo, via de regra, não acreditamos que Deus possua um plano divino para todos nós (já diziam os Espíritos Superiores a Kardec que é na consciência que está escrita a Lei de Deus!). Então, talvez a nossa contribuição seja mais eficaz se agirmos no sentido de facilitar o acesso desse irmão à própria consciência, para que possa se recordar desse plano que lhe diz respeito. Assim, não se trata de dar algo, de transferir conhecimentos, de fazer “repetir” conceitos aprendidos de boca alheia, sem real familiaridade com eles. Não fizemos isso no passado, ao abusarmos das palavras do Cristo para atingirmos fins pessoais e escusos? É muito difícil mudar hábitos consolidados...

Mas, então a questão muda um pouco de figura. Poderíamos, assim, perguntar: como se chega até o coração do outro? E por que seria isso importante para nós? O escritor italiano Umberto Eco, em seu livro “Cinco ESCRITOS morais[1] trata essa questão de maneira muito interessante. Diz ele que “é o outro, é seu olhar, que nos define e nos forma. Nós (assim como não conseguimos viver sem comer ou sem dormir) não conseguimos compreender quem somos sem o olhar e a resposta do outro”.

Assim, mesmo quem mata, rouba, espanca, somente o faz em momentos excepcionais, mas, pelo resto da vida vai em busca de respeito, carinho, amor, aprovação de seus semelhantes. Certamente morreríamos ou enlouqueceríamos se vivêssemos em uma comunidade na qual as pessoas se comportassem como se não existíssemos, ignorando-nos. Mas, por que então há massacres, guerras, crimes, explorações diversas, num flagrante desrespeito ao outro? Um contra-senso, não? Nem tanto. Pela questão (também cultural) de quem é “os outros” para nós. Restringimos esse conceito a uma comunidade específica em detrimento do resto, considerando, então, o resto como seres desumanos, bárbaros, que não merecem o nosso amor. Assim, que grave questão nos aparece aos olhos aqui. O que estamos fazendo para modificar essa idéia em nós? Qual o tamanho da nossa comunidade? E veja, leitor amigo, não importa o nome que se dê. Inclusive que se chame de Espíritos aos integrantes da nossa comunidade. Então, tudo isso quer dizer apenas que estamos aprendendo a amar. Isso é um fato. Daí não ser tão fácil assim chegar ao coração do outro para sentir-lhe os anseios da alma.

Vanderlei Luiz Daneluz Miranda

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