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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

106 – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO


CAPÍTULO XII: AMAI OS VOSSOS INIMIGOS

ITENS 3 E 4: PAGAR O MAL COM O BEM
Iniciando seus comentários sobre os textos evangélicos, nesse capítulo, Kardec escreve; “Se o amor do próximo é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação sublime, porque essa virtude constitui uma das maiores vitórias conquistada sobre o egoísmo e o orgulho.”
             Assim sendo, pode-se compreender o porquê da dificuldade dos homens, Espíritos em evolução, em entender, aceitar e praticar esse preceito da lei divina.
             Kardec escreve baseado na realidade da situação espiritual do homem na Terra, que preciso é analisar esse amor aos inimigos, de forma mais condizente com as possibilidades atuais dos homens.
             Diz que Jesus, o mais perfeito Espírito reencarnado na Terra, sabendo do tamanho da imperfeição humana, não pretendia que se amasse aos inimigos com a mesma ternura que se tem por uma pessoa querida, visto que a ternura pressupõe confiança total, que propicia um abrir-se, integralmente, ao outro, sem medo de ser censurado, sem receio de expor-se como se é, porque confia no amor do outro em relação a si próprio.
             Sobre essa base de confiança é que a simpatia, a amizade, a ternura estabelecem os laços, crescendo nos relacionamentos diversos.
             Como, então, sentir alegria em encontrar um inimigo, como se fora um amigo?
             Lembra Kardec da lei física de assimilação e repulsão dos fluidos. Vivemos em um mundo de ondas e vibrações, irradiando-as e absorvendo-as ou repelindo-as.
             Assim, as irradiações semelhantes se atraem e as diferentes se repelem.
             “O pensamento malévolo emite uma corrente fluídica que causa penosa impressão; o pensamento benévolo envolve-nos num eflúvio agradável. Daí a diferença de sensações que se experimenta quando da aproximação de um inimigo ou de um amigo. Amar aos inimigos não pode, pois, significar que não se deve fazer nenhuma diferença entre eles e seus amigos.”
             Diz Kardec que “amar aos inimigos é não ter ódio, nem rancor, ou desejo de vingança. É perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente, pelo mal que nos fizeram. É não opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em vez do mal. É alegrar-nos em lugar de aborrecer-nos com o bem que os atinge. É estender-lhes a mão prestativa em caso de necessidade. É abster-se, por atos e palavras, de tudo o que possa prejudicá-los. É, enfim, pagar-lhes em tudo o mal com o bem, sem a intenção de humilhá-los. Todo aquele que assim fizer, cumpre as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos.”
             Nessas explicações, vemos que para amar os inimigos não precisamos sentir vontade de abraçá-los, como sentimos aos a quem amamos. Mas, penso que, se tentarmos pôr em prática os sentimentos e atitudes do texto acima, vamos em um futuro – mais ou menos mesmo distante - sentir por eles a mesma ternura, que hoje sentimos pelos que mais amamos.
Kardec comenta também ser mais difícil entender essa máxima para quem somente aceita uma vida, do nascimento à morte. Para eles, seu inimigo é um mau caráter, que perturba seu viver, merecendo tudo de ruim que possa acontecer. “Para que perdoar-lhe? Quero mais que morra.” E assim por diante, considerando a morte o fim de tudo, inclusive do seu inimigo.
             Para o espiritualista, e mais ainda para o espírita, tudo é diferente, uma vez que a visão espiritual lhe mostra que há um longo passado, responsável pelo presente, que por sua vez irá definir o futuro.
             Compreendendo ser a Terra um mundo para Espíritos imperfeitos e rebeldes, ele busca entender as ações dos outros, tanto quanto deseja que os outros entendam as suas, procurando dominar seus maus sentimentos em relação a eles.
             Entendendo que todos estamos em um processo evolutivo, cada qual cumprindo-o à sua maneira, de acordo com as necessidades e uso do livre-arbítrio de cada um, aproveitemos a existência atual e os momentos presentes para exercitar o perdão, a compreensão, a benevolência, para com todos, inclusive, para com as pessoas que sentem aversão por nós, não aceitando esse sentimento, mas procurando transformá-lo em amizade, retribuindo o mal com o bem.
             Analisando tudo, sempre sob o ponto de vista da eternidade do Espírito imortal, aceitando as dificuldades como obstáculos a serem enfrentados e vencidos, não nos queixemos de quem nos faz o mal, visto que ele está, nesse momento, servindo, sem o saber e querer, de instrumento para nosso aprendizado e progresso, ao mesmo tempo em que está se prejudicando a si próprio, e irá receber através da lei de causa e efeito, as conseqüências da sua maldade.
             Imaginando-nos no lugar do adversário, podemos perceber que, como ofendidos, estamos, talvez, recebendo o que já fizemos, enquanto o outro está provocando novos sofrimentos para si próprio. Por que queixarmo-nos, ou reagirmos da mesma forma, mantendo um sentimento de animosidade?
             Se em lugar de lamentar as provas, agradecer a Deus por experimentá-las, “deve também agradecer a mão que lhe oferece a ocasião de mostrar a sua paciência e a sua resignação. Esse pensamento o dispõe, naturalmente, ao perdão. Ele sente, aliás, que quanto mais generoso for, mais se engrandece aos próprios olhos e mais longe se encontra do alcance dos dardos do seu inimigo.”
             Adquirindo o hábito de tudo analisar sob o ponto de vista da eternidade do Espírito, o homem se coloca acima da humanidade material, no plano moral, tendo uma visão muito maior e mais profunda da finalidade do viver na Terra, sabendo, com mais facilidade, se dispor ao bem, ao amor, não mais considerando ninguém como seu inimigo.


Bibliografia:
KARDEC, Allan - “O Evangelho Segundo o Espiritismo”

Leda de Almeida Rezende Ebner
Abril / 2010

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