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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A VIOLÊNCIA URBANA

Celso Martins

Podemos dizer, sem medo de errar, ter sempre existido no mundo a violência. Se formos dar crédito ao texto bíblico, ela teria começo quando Caim matou o irmão Abel. Aliás, a Bíblia é um farto e doloroso exemplário de atos violentos ao longo dos séculos. Culminou com a flagelação e a crucificação de Jesus. A História da Humanidade nos exibe a eterna luta da fome de muitos contra a indiferença de uns poucos, que não vacilam em sugar o sangue, o suor, a lágrima do semelhante, deste estado de coisas resultando, não raro, ondas de violência, de revolta, de inconformação, de rebelião, de guerra. Tudo isso não passa de uma forma cruel de violência, sob diversas modalidades, massacrando o direito do próximo, apesar — é bom que se ressalte isto também! — de sempre ter aparecido gente que lutasse muito em prol de uma ordem social mais justa, disciplinando as relações sociais, inclusive através de órgãos supranacionais, como a atual ONU e a UNESCO, no sentido de instalar, na Terra, sem mais tardança, um ambiente de compreensão e de entendimento, neste supremo anseio de tantos sábios, mártires, santos e heróis de todos os tempos. A propósito, ver em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, nº 932 como tal questão é enfocada.
Pensando bem, a própria poluição ambiental com a destruição do ecúmeno, comprometendo seriamente os ecossistemas, e, de resto, a qualidade de vida à face da Terra, não passa de uma insidiosa forma de violência. É a violência contra a Natureza, na qual estamos inseridos.
1) Violência Urbana
Nos últimos anos, no entanto, uma modalidade de violência, bem caracterizada, tem-se intensificado muito, mas muito mesmo, nos centros urbanos, configurada tragicamente em termos de assaltos à mão armada a bancos e estabelecimentos comerciais, seqüestros de aviões em pleno vôo, invasões de embaixadas com reféns aprisionados. Dispenso-me de maiores detalhes. O leitor os conhece de cor e salteado através do noticiário dos jornais, das revistas, das emissoras de rádio, das estações de tevê. Um tredo saldo de mortos e feridos; de um lado a polícia, o pacato chefe de família, gente humilde sempre levando a pior, e doutra parte os agitadores, os terroristas, semeando a dor, o luto, a orfandade, a viuvez.
Quer dizer, uma forma menor (embora em escalada crescente!) dentro de um contexto maior, na longa História da Humanidade...
Claro que nem tudo são desesperanças. A vida não seria (como já filosofava o pensador francês Jean Paul Sartre) uma paixão inútil! Tão inútil que nem valeria a pena de ser vivida!
Não é bem assim, não! Graças a Deus há exceções gratificantes. E ai de nós se elas não existissem... Enquanto a prepotência de uns esmaga as esperanças dos pequeninos, há, sim, criaturas admiráveis que se desdobram em prol do bem comum na esplendente atividade do serviço anônimo em favor do semelhante. Enquanto alguns tentam destruir, muitos outros lutam afanosamente na construção de um mundo de maior entendimento e maior compreensão mútua.
Ignorar esta realidade é dar prova de miopia ou ser injusto para com os seareiros da paz!
Pena seja, no entanto, que tais esforços ainda não sejam bem coordenados, estão um tanto dispersos, a fim de que possam fazer-se mais concretos e atuantes em seus efeitos benéficos para toda a Humanidade. Não padece dúvida que este esforço para o Bem é a intervenção indireta da assistência do Alto, dos nossos companheiros do Grande Além, levando e elevando os homens que chafurdamos na lama de nossas imperfeições para patamares mais amplos da luz! Outro detalhe vem outra vez em O LIVRO DOS ESPÍRITOS nº 784. (Pedimos ao leitor o obséquio de tomar deste livro de Kardec e fazer a devida consulta, meditando sobre o que o Codificador nos legou nesta obra básica do Espiritismo).
2) Causas da Violência Urbana
Diversas são as causas que convergem e tornam o homem mais violento. De escantilhão veremos algumas apenas.
a) Causas Políticas
A inconformação com um dado regime político pode desencadear atos de violência num contexto social. O atentado contra o Arquiduque do Império Austro-Húngaro, em Sarajevo, em 28 de junho de 1914, foi o estopim para a explosão da Primeira Guerra Mundial. A ditadura da família Somoza deu origem aos distúrbios na Nicarágua. Foram os atos discricionários do antigo Xá da Pérsia Reza Parhlevi que fermentaram a revolução iraniana do Khomeini. Creio bastarem tais exemplos.

b) Causas Econômicas
A notória desigualdade das classes sociais, a má distribuição das rendas de um dado País também se erguem como motivo de distúrbios populares. O povo faminto, onerado por impostos escorchantes, fez estourar a famosa Revolução Francesa, com a Tomada da Bastilha, em julho de 1792. Tanto como, para solertemente aliviar as tensões sociais, os dirigentes do carcomido Império Romano, ao início do Cristianismo, diligenciavam em distribuir a chamada espórtula aos desocupados que infestavam a Capital dando-lhes pão e circo com os espetáculos dos gladiadores e mesmo dos cristãos lançados às feras.
c) Causas religiosas
Embora tendo como pano de fundo razões políticas e/ou econômicas, o fanatismo religioso em sua intransigência irracional também tem feito eclodir a violência. Exemplo notório está na famigerada Noite de São Bartolomeu quando, em Paris, a 24 de agosto de 1572, a mando da rainha Catarina de Médicis, foram trucidados milhares de huguenotes.
d) Causas educacionais
A infância desvalida, o jovem sem orientação profissional, o menor abandonado, tudo isso agravado pelo êxodo rural contribuirão para colocar mais pimenta no tempero já salgado das relações urbanas. Carente de pão e de afeto, a criança se sente rejeitada pela sociedade e, na falta de uma segura orientação moral, o jovem acaba se insurgindo contra os padrões vigentes em sua comunidade. De igual maneira, o homem, que vem do interior atraído pelos possíveis encantos da cidade grande, não tendo uma adequada iniciação profissionalizante, perdendo outras vezes o seu emprego nas crises da recessão, também se desajusta e se marginaliza podendo revoltar-se contra o meio em que vive. Mais ainda quando este meio, através dos órgãos de comunicação de massa, estimula o interesse, a vontade, o ardente desejo de cultivar os prazeres da carne, as vantagens que o dinheiro dá. E não o anseio de serem cultivados os ensinos de Jesus, os seus exemplos, as regras de sua Moral.
Já se vê que a violência urbana é complexa, delicada, profunda. Para resolver semelhante problema, muitas medidas devem ser postas em prática com desassombro e energia, e o mais breve possível, a fim de não se agravar-se mais e mais.
Muitos insinuam as medidas repressivas mais drásticas, citando até mesmo a necessidade de se adotar a pena de morte. Ouso discordar. Penso como pensava Coelho Neto ao declarar que o carrasco pode eliminar o delinquente  mas a miséria mantém as condições do crime. E por miséria não estou pensando apenas na carência do pão do corpo mas penso ainda e também na penúria do pão do espírito, em termos de esclarecimento cristão acerca das finalidades da vida, o porquê da existência, detalhes fundamentais que consolam o coração e sobretudo alargam os horizontes da Criatura, fazendo-a voltar para as Leis Morais que regem a vida.
Com base nisto, ouso apresentar algumas pálidas medidas de possível solução para a violência urbana. Ei-las:
I) No plano material
É preciso que o nosso comodismo, a nossa indiferença, o nosso orgulho, o nosso egoísmo sintam a necessidade de serem oferecidas a todas as criaturas indistintamente condições mínimas de uma vida digna deste nome, de modo que ninguém viva à míngua dos recursos elementares de garantia de sua sobrevivência física e psíquica.
Outra vez deixo ao leitor amigo o convite a consultar Kardec em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, nº 930.
II) no plano moral
É necessário que a infância e a juventude tenham um ensino profissionalizante adequado de modo a se tornarem os moços forças vivas, atuantes, produtivas, no desenvolvimento econômico do País.
Destacada seja então a ação conjunta da escola e da família ao lado do investimento de capital na instalação de indústria e comércio, explorando de modo racional os recursos naturais e os pondo ao alcance de todos.
III) No plano espiritual
Surge que, sem nenhuma intenção salvacionista ou de puritanismo extemporâneo, seja intensificado o cultivo dos valores superiores do Espírito com a formação de um profundo sentimento de paz e de respeito aos direitos alheios. Impõe-se a necessidade de que os homens se compenetrem de uma vez para sempre que hão-de viver à face da Terra como irmãos; e nunca quais lobos esfaimados. Irmãos, porque filhos de um mesmo Deus, apesar das possíveis diferenças que eles mesmos criaram para pelejas eternas, desnecessárias e odiosas. Numa palavra, faz-se mister sem demora, sem condições, sem rodeios, que a Humanidade esteja disposta a eleger O EVANGELHO do Cristo como roteiro de suas ações. Aquele Evangelho que enfatiza tanto a Caridade, a Justiça, o Amor, estas virtudes basilares que infelizmente andam tão ausentes, tão distantes de nossos corações!
Fora disto — a mim se me parece malhar em ferro frio. É adiar mais e mais o glorioso dia do advento do Reino de Deus no mundo para que a Humanidade seja efetivamente mais feliz!


“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX Nº351
janeiro de 2002.
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
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