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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

APRENDENDO COM UM ESPÍRITO OBSESSOR


por: * Vislei Bossan

Alguém achou que eu estava preparado para sessões de desobsessão. Poderia iniciar a função de “doutrinador” e surgiu uma vaga. Uma das primeiras experiências foi exemplar. Havia uma família sob a influência de alguns adversários espirituais e começamos o trabalho que visava ajudar encarnados e desencarnados envolvidos na trama.
Pouco a pouco, os obsessores foram esclarecidos. O grupo estava satisfeito e a família deu claros sinais de melhoras. Achávamos que a missão havia sido concluída com êxito, até que certa noite fomos surpreendidos. No final dos trabalhos, uma das médiuns disse que estava alí um Espírito muito irritado. Permitimos a sua comunicação, cheia de revolta. A infeliz entidade nos disse que seus chefiados haviam desistido da maldade que estavam praticando, e que ele, o “chefe”, estava muito bravo e iria acabar com o nosso grupo de desobsessão.
- Vai não, eu disse à entidade atormentada. A mim, você não pega, pois estou amparado por Jesus Cristo. Podem ir embora, para vocês obsessores desta família, tudo acabou.
A minha arrogância deve ter impressionado o obsessor, pois foi embora sem falar mais nada. Encerrados os trabalhos, fomos embora com a serenidade que convinha e esquecidos dos acontecimentos daquela hora de atividade.
Em casa, já deitado para dormir, senti algo gelado por sobre a minha coluna vertebral, como se fosse uma brisa polar e ouvi o grito de minha filha no quarto no final do corredor. Fui até lá, acalmei-a e ela me disse: “nossa pai, tive um pesadelo, mas já passou”.
Voltei para a cama e entrei na fase R.E.M.¹ do meu sono. Foi terrível: sentí-me arrastado para um lugar escuro, fétido, solo cheio de lama ou lodo, pegajoso. Debati-me o quanto foi possível, até ser acordado pela minha esposa, segurando meus dois braços.
- Nossa, que coisa horrível! Obrigado por ter me tirado daquele lugar - disse à minha esposa Vera Lúcia. Retomei o sonho, dormi relativamente bem e acordei normalmente, já esquecendo o pesadelo da noite.
Uma semana depois, estávamos eu e os companheiros na sala de desobsessão para novas atividades. Quando começaríamos os trabalhos, após a prece de abertura, a médium avisou: “tem uma entidade aqui querendo passar um recado e não me parece violenta”, disse. A entidade se apresentou, e dirigindo-se à mim, disse:
- Gostou, bichão?
Percebi que era o obsessor que havia prometido me pegar. Mantive com ele o seguinte diálogo:
- Então, foi você? Perguntei.
- Sim, te peguei e levei até aonde estou.
Neste momento, senti um enorme desejo de refazer o caminho e, de todo o coração mesmo, pedi desculpas.
- Perdão, companheiro. Não deveria ter te desafiado. Perdoe a minha arrogância.
Em seguida, fiz-lhe uma proposta. Disse-lhe que ele havia demonstrado muita força e gostaria que ele direcionasse sua capacidade para a prática do bem, abandonando o caminho da vingança, da perseguição.
Ele disse que “experimentaria“, pois seus companheiros já o haviam abandonado e estavam muito bem. Alguns meses depois, esta entidade, antes revoltada, retornou para nos dizer que estava querendo trabalhar em favor de obsediados, atuando no mundo espiritual junto a obsessores, dando exemplos de si mesmo.
Os diretores espirituais da casa concordaram, e aquele Espírito, que me deu uma grande lição, deve estar conosco no CE Cairbar Schutel, até hoje.
¹ R.E.M., ou Rapid Eye Movement (“movimento rápido dos olhos”), é a fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vívidos.

* Vislei Bossan é trabalhador do C. E. Cairbar Schutel/Rio Preto.


JORNAL VERDADE  E  VIDA
ADDE - ASSOCIAÇÃO DE DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA E SPIRITA 
ANO 01 NÚMERO 03 FEVEREIRO/ MARÇO 2012
Este jornal é uma publicação da ADDE - Associação de Divulgação da Doutrina Espírita
(CNPJ 08.195.888/0001-77) - para a região de São José do Rio Preto/SP.
Os textos assinados são de responsabilidade de seus autores.
Coord. Editorial: Rafael Bernardo - contato@rafabernardo.com.br
Diagramação: Junior Pinheiro - jrpinheironanet@yahoo.com.br
Jornalista Resp: Renata S. Girodo de Souza - renatagirodo@ig.com.br - MTB 67369/SP
Receba o jornal em sua Casa Espírita cadastrando-se no site ou por meio do e-mail: verdadeevida@adde.com.br
Tiragem: 5.000 exemplares
Distribuição Gratuita  
              

terça-feira, 6 de março de 2012

O LIVRO DOS MÉDIUNS - Estudo 44


O LIVRO DOS MÉDIUNS
 
(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)
Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.
SEGUNDA PARTE

DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS

BICORPOREIDADE E TRANSFIGURAÇÃO

Estudo 44 - Item 125 - Agênere
           O que é um agênere? É uma aparição em que o desencarnado se reveste de forma mais precisa, das aparências de um corpo sólido, a ponto de causar completa ilusão ao observador, que supõe ter diante de si um ser corpóreo.

           Esse fato ocorre devido à natureza e propriedades do perispírito que possibilitam ao Espírito, por intermédio de seu pensamento e vontade, provocar modificações nesse corpo espiritual a ponto de torná-lo visível. Há uma condensação (os Espíritos usam essa palavra a título de comparação apenas) tal, que o perispírito, por meio das moléculas que o constituem, adquire as características de um corpo sólido, capaz de produzir impressão ao tato, deixar vestígios de sua presença, tornar-se tangível, conservando as possibilidades de retomar instantaneamente seu estado etéreo e invisível.

           Para que um Espírito condense seu perispírito, tornando-se um agênere, são necessárias, além da sua vontade, uma combinação de fluidos afins peculiares aos encarnados, permissão, além de outras condições cuja mecânica se desconhece. Nesses casos a tangibilidade pode chegar a tal ponto que é possível ao observador tocar, palpar, sentir a resistência da matéria, o que não impede que o agênere desapareça com a rapidez de um relâmpago, através da desagregação das moléculas fluídicas.

           Os seres que se apresentam nessas condições não nascem e nem morrem como os homens; daí o nome: agênere - do grego: a privativo, e géine, géinomai, gerado: não gerado, ou seja, que não foi gerado.

           Podendo ser vistos, não se sabe de onde vieram, nem para onde vão. Não podem ser presos, agredidos, visto que não possuem um corpo carnal. Desapareceriam, tão logo percebessem a intenção diferente ou que os quisessem tocar, caso não o queiram permitir.

           Os agêneres, embora possam ser confundidos com os encarnados, possuem algo de insólito, diferente. O olhar não possui a nitidez do olhar humano e, mesmo que possam conversar, a linguagem é breve, sentenciosa, sem a flexibilidade da linguagem humana. Não permanecem por muito tempo entre os encarnados, não podendo se tornar comensais de uma casa, nem figurar como membros de uma família.

           Transcrevemos a seguir um exemplo extraído da Revista Espírita de 1859 - Fevereiro (EDICEL):

           "Uma pobre mulher estava na igreja de Saint-Roque em Paris, e pedia a Deus vir em ajuda de sua aflição. Em sua saída da igreja, na rua Saint-Honoré, ela encontrou um senhor que a abordou dizendo-lhe: "Minha brava mulher, estaríeis contente por encontrar trabalho? - Ah! Meu bom senhor, disse ela, pedia a Deus que me fosse achá-lo, porque sou bem infeliz. - Pois bem! Ide em tal rua, em tal número; chamareis a senhora T...; ela vo-lo dará." Ali continuou seu caminho. A pobre mulher se encontrou, sem tardar, no endereço indicado - Tenho, com efeito, trabalho a fazer, disse a dama em questão, mas como ainda não chamei ninguém, como ocorre que vindes me procurar? A pobre mulher, percebendo um retrato pendurado na parede, disse: - Senhora, foi esse senhor ali, que me enviou. - Esse senhor! Repetiu a dama espantada, mas isso não é possível; é o retrato de meu filho, que morreu há três anos. - Não sei como isso ocorre, mas vos asseguro que foi esse senhor, que acabo de encontrar saindo da igreja onde fui pedir a Deus para me assistir; ele me abordou, e foi muito bem ele quem me enviou aqui.

           O Espírito São Luiz consultado a respeito, forneceu instruções muito interessantes:
  • Reafirma: - não basta a vontade do Espírito; é também necessário permissão para ocorrer o fenômeno.
  •  Existem, muitas vezes na Terra, Espíritos revestidos dessa aparência.
  • Podem pertencer à categoria de Espíritos elevados ou inferiores.
  • Têm as paixões dos Espíritos, conforme sua inferioridade; se inferiores buscam prazeres inferiores; se superiores visam fins elevados.
  • Não podem procriar.
  • Não temos meios de identificá-los, a não ser pelo seu desaparecimento inesperado.
  • Não têm necessidade de alimentação e não poderiam fazê-la; seu corpo não é real.
           Encerrando nosso estudo sobre os agêneres, relembramos que, por mais extraordinário que possam parecer, esses fatos se produzem dentro das leis da Natureza, sendo apenas efeito e aplicação dessas mesmas leis. Recomendamos aos leitores continuem a pesquisa sobre o tema nas Obras Básicas e na Revista Espírita, Fevereiro de 1859, 1860 e 1863.

BIBLIOGRAFIA:

KARDEC, Allan -
 O Livro dos Médiuns: 2. ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap VII - 2ª Parte.

KARDEC, Allan -
 Revista Espírita - 1859 - Fevereiro: 1. ed. São Paulo: EDICEL, 1985.

Tereza Cristina D'Alessandro 
Março / 2005

Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Rua Rodrigues Alves,588
Vila Tibério - Cep 14050-390
Ribeirão Preto (SP)
CNPJ: 45.249.083/0001-95 
Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal nº. 3247/76.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O LIVRO DOS MÉDIUNS - Estudo 43


SEGUNDA PARTE
DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS
CAPITULO VII
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS

BICORPOREIDADE E TRANSFIGURAÇÃO

Estudo 43 - Itens 120 ao 124 - Transfiguração

           A Transfiguração consiste na modificação do aspecto de um corpo vivo, excluindo-se a simples contração molecular que dá a fisionomia expressão diferente, a ponto de tornar a pessoa quase irreconhecível. O fenômeno que estudamos apóia-se no fato de que pode o Espírito operar transformações na contextura do seu envoltório perispirítico e irradiando-se esse envoltório em torno do corpo qual atmosfera fluídica, pode produzir na superfície mesma do corpo, por um fenômeno análogo ao das aparições, modificações tais como, apagar-se a imagem real mais ou menos completamente, sob a camada fluídica, e assumir outra aparência; ou, então, vistos através da camada fluídica modificada, os traços primitivos podem tomar outras expressões. 

           Assim se operam as transfigurações, que refletem sempre qualidade e sentimentos predominantes do Espírito. O fenômeno resulta, portanto, de uma transformação fluídica; é uma espécie de aparição perispíritica, que se produz sobre o corpo do encarnado e, algumas vezes, no momento da morte, em lugar de se produzir ao longe, como nas aparições propriamente ditas. É nas propriedades do fluido perispíritico que se encontra a explicação desse fenômeno. 

           Admite-se, em princípio, que o Espírito pode dar ao seu perispírito todas as aparências; que, por uma modificações das disposições moleculares, pode lhe dar a visibilidade, a tangibilidade e em conseqüência a opacidade. Que o perispírito de uma pessoa encarnada, fora do corpo pode passar pelas mesmas transformações e que essa mudança de estado se realiza por meio da combinação dos fluidos. 

           Imaginemos o perispírito de uma pessoa encarnada irradiando ao redor do corpo de maneira a envolvê-lo como uma espécie de vapor; nesse estado ele pode sofrer as mesmas modificações que o perispírito de um desencarnado. Se deixar de se transparente, o corpo pode desaparecer, tornar-se invisível, como se estivesse mergulhado num nevoeiro. Poderá mudar de aspecto, tornar-se mais opaco ou brilhante, conforme a vontade ou o poder do Espírito, e outro Espírito, combinando seu fluido com esse, pode substituir a aparência dessa pessoa, de maneira que o corpo real desapareça coberto por um envoltório físico exterior cuja aparência poderá variar como o Espírito quiser. Assim pode-se explicar o estranho fenômeno - e raro, afirma Allan Kardec, - da transfiguração.

           Exemplo desse fenômeno podemos encontrar no item 122 do capítulo que estamos estudando. No item 125 desse mesmo capítulo, o Codificador cita o estranho fenômeno dos agêneres, explicando que por mais extraordinário que pareça à primeira vista, não é mais sobrenatural do que outros e, remete os estudiosos à Revista Espírita, edição de fevereiro de 1859, para aprofundamento do tema. 


Em nosso próximo estudo também abordaremos os agêneres.



BIBLIOGRAFIA

KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap VII - 2ª Parte

JORGE, Jorge - Antologia do Perispírito: 4. ed. Rio de Janeiro: CELD, 1991 - Referências 430 a 451.

ZIMMERMANN, Zalmino - Perispírito: 1. ed. Campinas: CEAK. 2000 - Cap II - Propriedades do Perispírito.


Tereza Cristina D'Alessandro 
Fevereiro / 2005


Centro Espírita Batuira
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Ribeirão Preto (SP)
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sábado, 21 de janeiro de 2012

O LIVRO DOS MÉDIUNS - Estudo 41


SEGUNDA PARTE

DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS

CAPITULO V

MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS

Estudo 41 - Itens 111, 112 e 113 - Teoria da Alucinação.
         A seguir, apresentamos definições da ciência sobre a alucinação e, concluindo os estudos das Manifestações Visuais, apresentamos a análise científica de Allan Kardec contida na Teoria da Alucinação.
         Alucinação: percepção sem estímulo externo a qual pode ocorrer em qualquer campo sensorial: auditivo, visual, olfativo, gustativo e tátil.
         É uma sensação, implicitamente vivida pelo indivíduo em/ou de um objeto no mundo externo, mas que na realidade gera-se nele próprio.
         Observadas as mais das vezes, em psicoses, as alucinações também podem ocorrer por efeito de certas drogas e substâncias tóxicas e por irritação mecânica de certas áreas do cérebro como parte de síndromes orgânicas cerebrais.
         Em pessoas saudáveis, podem ocorrer alucinações na hipnose e em estados parciais de sono. Em geral, são projeções de desejos e conflitos profundos. (ver BlaRiston - Dicionário Médico, 2ª ed).
Teoria da alucinação na visão espírita.
         Analisando criteriosamente o assunto, Allan Kardec explica que os que não admitem o mundo incorpóreo e invisível julgam tudo explicar pela palavra alucinação. Esta palavra exprime o engano, a ilusão de quem pensa ter percepções que realmente não tem. Origina-se do latim allucinari, errar, que vem de ad lucem. Mas os sábios ainda não apresentaram, que o saibamos, a razão fisiológica desse fato. 
         As explicações dadas pela Ótica e pela Fisiologia, ainda não esclarecem a natureza e a origem das imagens que se mostram ao Espírito em dadas circunstâncias. Tudo querem explicar pelas leis da matéria; forneçam então, com o auxílio dessas leis, uma teoria, boa ou má, da alucinação. Sempre será uma explicação.
         A causa dos sonhos, a ciência atribui a um efeito da imaginação; mas, não nos diz o que é a imaginação, nem como esta produz as imagens tão claras e tão nítidas que às vezes nos aparecem. Consiste isso em explicar uma coisa, que não é conhecida, por outra que ainda o é menos. A questão permanece. 
         Dizem ser uma recordação das preocupações no estado de vigília. Porém, mesmo que se admita esta solução, que nada resolve, ainda restaria saber qual é esse espelho mágico que conserva assim a impressão das coisas. Como se explicar, sobretudo, essas visões de coisas reais jamais vistas no estado de vigília e nas quais jamais se pensou? Só o Espiritismo nos pode dar a chave desse estranho fenômeno que passa despercebido por ser muito comum, como todas as maravilhas da Natureza que menosprezamos.
         Os sábios não quiseram ocupar-se com a alucinação, mas quer seja real ou não, constitui um fenômeno que a Fisiologia deve poder explicar, sob pena de confessar a sua incompetência. Se, um dia, algum sábio resolver dar não uma definição, mas uma explicação fisiológica veremos se a teoria resolve todos os casos, se não omite os fatos tão comuns de aparições de pessoas no momento da morte, se esclarece a razão da coincidência da aparição com a morte da pessoa. Se fosse um fato isolado, se poderia atribuí-lo ao acaso, mas como é bastante freqüente, o acaso não o explica. Se aquele que viu a aparição houvesse tido a idéia de que a pessoa estava para morrer... Mas a aparição é, na maioria das vezes, da pessoa de quem menos se pensa: a imaginação, portanto, nada tem com isso. 
         Os partidários da alucinação dirão que a alma (se é que admitem uma alma) tem momentos de superexcitação em que suas faculdades são exaltadas. Estamos de acordo, mas quando o que ela vê é real, não há ilusão. Se na sua exaltação a alma vê à distância, é que ela se transporta; e, se ela pode se transportar, por que a da outra pessoa não se transportaria para nos ver? Que na teoria da alucinação levem em conta esses fatos, não se esquecendo de que uma teoria a que se podem opor fatos que a contrariem é necessariamente falsa ou incompleta.
         Aguardando a explicação que venham a oferecer, Allan Kardec afirma: provam os fatos que há aparições verdadeiras, que a teoria espírita explica perfeitamente e que só podem ser negadas pelos que nada admitem fora do organismo. Mas ao lado dessas visões reais existem alucinações, no sentido que se dá a essa palavra? Não se pode duvidar. Qual a sua origem? Os Espíritos é que vão esclarecer-nos sobre isso, porquanto a explicação, parece-nos, está toda nas respostas dadas às seguintes perguntas:
         a) As visões são sempre reais ou são algumas vezes efeito da imaginação? Não serão, algumas vezes, efeito da alucinação? Quando vemos em sonho, ou de outra maneira, o diabo, ou outras coisas fantásticas, que não existem, não será isso um produto da imaginação? 
         — Sim, algumas vezes, quando dá muita atenção a certas leituras, ou a histórias de feitiçarias, que impressionam, a pessoa, lembrando-se mais tarde dessas coisas, julga ver o que não existe. Mas, também, já temos dito que o Espírito, sob o seu envoltório semimaterial, pode tomar todas as formas para se manifestar. Pode, pois, um Espírito brincalhão aparecer com chifres e garras, se o quiser, para divertir-se à custa da credulidade daquele que o vê, do mesmo modo que um Espírito bom pode mostrar-se com asas e com uma figura radiosa.
         b) Podem-se considerar como aparições os rostos e outras imagens que, muitas vezes, se mostram, quando cochilamos ou simplesmente quando fechamos os olhos? 
         — Desde que os sentidos entram em torpor, o Espírito se desprende e pode ver longe, ou perto, aquilo que lhe não seria possível ver com os olhos. Muito freqüentemente, tais imagens são visões, mas também podem ser efeito das impressões que a vista de certos objetos deixou no cérebro, que lhes conserva os vestígios, como conserva os dos sons. Desprendido, o Espírito vê nos seu próprio cérebro as impressões que aí se fixaram como numa chapa fotográfica. A variedade e a mistura dessas impressões formam os conjuntos estranhos e fugidios, que se apagam quase imediatamente, ainda que se façam os maiores esforços para retê-los. A uma causa idêntica se devem atribuir certas aparições fantásticas que nada têm de reais e que muitas vezes se produzem durante uma enfermidade.
         Admite-se que a memória seja o resultado das impressões conservadas pelo cérebro, mas, por qual fenômeno essas impressões tão variadas e múltiplas não se confundem? Mistério impenetrável, porém, não mais estranho que o das ondas sonoras, que se cruzam no ar e que se conservam distintas. Num cérebro são e bem organizado, essas impressões se revelam nítidas e precisas; num estado menos favorável, elas se apagam e confundem; daí a perda da memória, ou a confusão das idéias. Ainda menos extraordinário parecerá isto, ao se admitir, como se admite, em frenologia, uma destinação especial a cada parte e, até, a cada fibra do cérebro.
         As imagens transmitidas ao cérebro pelos olhos deixam ali sua impressão, que permite lembrar-se de um quadro como se ele estivesse presente, embora se trate de uma questão de memória, pois nada se vê. Ora, em certos estados de emancipação, a alma vê o que está no cérebro, onde torna a encontrar aquelas imagens, sobretudo as que mais o chocaram, segundo a natureza das preocupações, ou as disposições íntimas. E assim que reencontra a impressão de cenas religiosas, diabólicas, dramáticas, mundanas, figuras de animais esquisitos, que ela viu outrora em pinturas ou ouviu em narrações, porque também as narrativas deixam impressões. Assim, a alma vê realmente, mas, apenas uma imagem fotográfica no cérebro. 
         No estado normal, essas imagens são fugidias, efêmeras, porque todas as secções cerebrais funcionam livremente, ao passo que, a doença, o cérebro enfraquece, o equilíbrio entre todos os órgãos deixa de existir, conservando somente alguns a sua atividade, enquanto que outros se acham de certa forma paralisados. Daí a permanência de determinadas imagens, que as preocupações da vida exterior não mais conseguem apagar, como se dá no estado normal. Essa a verdadeira alucinação e causa primária das idéias fixas. 
         Como se vê, explicamos esta anomalia por uma lei fisiológica muito conhecida, a das impressões cerebrais. Porém, foi sempre necessário fazer intervir a alma. Ora, se os materialistas ainda não puderam apresentar uma explicação satisfatória desse fenômeno, é porque não querem admitir a alma. Por isso mesmo, dirão que a nossa explicação é má, pois nos apoiamos num princípio que é contestado. Mas contestado por quem? Por eles, mas admitido pela maioria dos homens, desde que há homens na Terra. A negação de alguns não pode constituir lei.
 
         Nossa explicação é boa? Damo-la pelo que possa valer na falta de outra, e, se quiserem, a título de simples hipótese, enquanto outra melhor não aparece; ela pode explicar todos os casos de visões? Certamente que não. Contudo, desafiamos os fisiologistas a apresentarem uma que explique todos os casos. Porque nada apresentam quando pronunciam as palavras - superexcitação e exaltação. Assim sendo, desde que todas as teorias da alucinação se mostram incapazes de explicar os fatos, é que alguma outra coisa há, que não a alucinação propriamente dita. Seria falsa a nossa teoria, se a aplicássemos a todos os casos de visão, pois que alguns poderiam contradizê-la. Pode ser legítima, se aplicada a alguns efeitos. 
         E concluímos o estudo do capítulo VI, transcrevendo as observações de Herculano Pires, tradutor de O Livro dos Médiuns, ao término desse capítulo:
         "As teorias atuais da alucinação referem-se em geral a alterações do sistema nervoso, com excitações dos neurônios sensoriais, especialmente os da visão e da audição. Insiste-se na explicação fisiológica de todos os caso. Mas a recente aceitação científica dos fenômenos paranormais abriu novas perspectivas nesse campo. Os casos referidos por Kardec são aceitos como de natureza extrafísica por toda a escola de Rhine e mesmo as escolas fisiológicas admitem a veracidade das percepções à distância, da transmissão do pensamento, das previsões e da retrocognição ou visão do passado. A alma, como afirma, Allan Kardec, mostra-se novamente indispensável à formulação de uma teoria satisfatória da alucinação".
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2. Ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap VI - 2ª Parte.
KARDEC, Allan - Revista Espírita, julho de 1861: EDICEL - Ensaio sobre a Teoria da Alucinação e Variedades: As visões do Sr. O.

Tereza Cristina D'Alessandro
Dezembro / 2004
 Centro Espírita Batuira
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