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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

As Razões de Cada Um


Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa (...)

Evangelho Segundo o Espiritismo Cap X – Item 10.

A subjetividade é um capítulo admirável da ética espírita quando enfocado sob o ângulo da formação de juízos morais.

As razões humanas para explicar as próprias atitudes são algo inerente à individualidade da cada ser. Mesmo os perversos encontram “motivos justos” para as suas ações, nas justificativas pertinentes a seus raciocínios egoístas.

Juízos éticos sempre serão subjetivos e, por isso mesmo, não constituem bons argumentos para fundamentação de defesas a medida e projetos que visem colaborar na restauração da reorganização de nossa Seara. Assinalar condutas morais de pessoas ou instituições, com base para propor mudanças, é fragilizar nossas disposição de cooperar, porque penetramos um campo essencialmente individual e inacessível. E mais a mais, julgar é concluir veredictos sobre o comportamento alheio, no qual, quase sempre, falhamos.


Juízes eminentes declaram sentenças injustas, conquanto se preparem para não fazê-las, e a maioria de nós, na rotina das relações, costumamos emitir sentenças e pareceres pelo hábito de criticar e analisar defeitos dos outros, sem qualquer sintonia com a verdade sobre tais pessoas, ou apenas analisando-as superficial e parcialmente.

O fato de cada individualidade ter suas razões é motivo com sobras para que respeitemos cada qual em seu patamar, o que não significa tenhamos que concordar e adotar passividade ante suas movimentações. Aqui penetramos em um dos mais delicados tópicos do relacionamento interpessoal, em nossos ambientes de reeducação espiritual: a convivência pacifica e construtivas frente à diversidade de opiniões, entendimentos e posturas, por parte daqueles que integram a comunidade nas lides doutrinárias.

A tendência marcante da nossa personalidade é estabelecer idéias pré-concebidas, expectativas mal dimensionadas e estereótipos sobre as ações alheias, e, mesmo quando nosso julgamento é pertinente, preferimos a referência mordaz e o destaque para a parte menos construtivas a ter que conjeturar, em clima de indulgência e misericórdia, sobre as motivações que ensejaram os comportamentos alheios.

Somos, comumente, escravos do nosso orgulho que procura defeitos nos outros para tentar fazer-nos melhor. Entretanto, o próximo é o espelho dos nossos valores e imperfeições, e, quando lhe destacamos uma deficiência, precisamos voltar-nos para a intimidade e descobrir nosso elo de atração com a questão em pauta; isso será um verdadeiro exercício de autodescobrimento. 13

A dificuldade consiste em redirecionar nosso milenar costume de ver o cisco no olho do outro e não perceber a trave no nosso (1).

Um bom princípio para a reeducação de nós mesmos será sempre o cultivo do sentimento de piedade e compreensão para com todos. Metalizarmo-nos, todos, em um só barco com a presença do Mestre conduzindo-nos pelas tempestades de nossas extensas carências espirituais, e jamais deixar de recordar que estamos em patamares variados de crescimento para Deus.

Isso exigir-nos-á o vinculo com a atitude de alteridade, ou seja, o reconhecimento da diferença, da distinção da qual o outro é portador, a fim de nutrirmos constante indução mental na formação do hábito de respeitar as diferenças no modo de ser de cada qual.

As defesas apaixonadas no campo dos julgamentos morais têm feito muito mal aos nossos ambientes de amor, nas leiras doutrinárias. Conquanto muitas vezes sejam verdadeiros, devemos aprender com Jesus, nosso guia e modelo, como externá-los para não ferir e conturbar. Saber apresentar discordâncias e falhas é uma arte da qual temos muito a aprender.

Lembremos o episódio inesquecível da mulher adúltera para termos uma noção lúcida sobre como se portar frente à verdade dos que nos cercam. Naquela oportunidade, Jesus não faltou com o corretivo e nem julgou-a; utilizando-se de um extraordinário recurso pedagógico, devolveu a subjetividade dos juízos à consciência de cada um através do pronunciamento atirem a primeira pedra os que se encontrem isentos do pecado, (2) e todos sabemos qual foi o efeito desse recurso na vida pessoal dos que ali se encontravam.

Nossa necessidade de guardar idéias, em forma de juízos definitivos e inflexíveis sobre as criaturas, é o fruto do nosso orgulho. Nossos julgamentos manetas pecam pela ausência de bons sentimentos, pela parcialidade e, acima de tudo, pelas projeções que fazemos de nós mesmos.

A dificuldade de aceitação das pessoas com elas são, enquadrando-as em concepções e padrões definidos pela nossa ótica de vida, precisa ser corrigida para ensejar um melhor nível de entendimento em nossa seara bendita. A inaceitação chega a ser tão ostensiva que nos magoamos com facilidade com as ações que não correspondem as nossas expectativas, ainda que tais ações não nos prejudiquem. Devido a essas expectativas que depositamos em pessoas e instituições, ocorrem muitas cobranças injustas e ofensas dilacerantes que só inspiram o revanchismo e a invigilância.

Esse não deveria ser o nosso clima. E como ficam os princípios imortais que deveriam esculpir o nosso caráter?

A maior decepção é aqui na “imortalidade”, quando somos todos convocados a novas concepções sobre fatos, pessoas, instituições e conceitos esposados ao longo de toda a nossa reencarnação. A imortalidade quase sempre traz-nos muitas surpresas nesse sentido. 14

A maioria delas de incômodos íntimos desagradáveis para quantos optaram por juízos éticos rigorosos, excludentes e intolerantes.

Não existe a presença da perversidade na seara, e, ainda que houvesse, deveria ser tratada como imaturidade emocional e moral. Em verdade, o que temos entre nós são necessidades extensas nos terrenos da melhoria espiritual, sendo necessário aos seguidores de Jesus e Kardec compreender que ninguém faz o que faz para magoar ou no intuito de denegrir. São hábitos arraigados contra os quais estamos em permanente batalha.

Virá o instante do entendimento, da complacência e da tolerância como veredas de esperança para um tempo melhor. A isso chamamos união e fraternidade. Nessa hora, quando assentamos à mesa dispostos a contemplar a diversidade do outro e dialogamos como irmãos de ideal, descobriremos, estupefatos, quão distantes da realidade se encontram nossos julgamentos, porque compreenderemos melhor quais eram as razões de cada um. 15



Conselho Espírita de São Bernardo do Campo
Encontros de Atitudes de Amor”
Grupo Fraternidade Espírita João Ramalho
Reunião do dia 6 de julho de 2008
Tema Central:
Alteridade 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Ser Pensante


Ana Cecília Rosa  

No prefácio do livro O Homem Integral, Joanna de Angelis aborda a definição do Homem em relação às diferentes doutrinas.  Segundo o Evolucionismo, o Homem é dotado de razão, o que o diferencia dos outros animais e alça-o ao primeiro lugar na escala zoológica. Descartes considerou o “ser pensante por natureza, com a razão que compreende e explica a si mesmo” e tendo, no cérebro, a origem do pensamento racional.  A psicologia transpessoal, porém, abre espaço novo para uma visão mais espiritualista do ser humano, esclarecendo a respeito da sua “transcendência”. O Espiritismo, por sua vez, adiciona, a esses conceitos, a certeza da vida eterna, proporcionando aprendizado ininterrupto,  adquirido  pelas  diversas  encarnações e vivência espiritual, contribuindo  de  forma  definitiva  na formação do indivíduo e revelando a importância  de  entender  o  ser  pensante sob o seu aspecto biopsicossociológico e espiritual.
   São faculdades humanas: consciência de si mesmo, linguagem racional, emoções, sentimentos e exercício da vontade ou livre arbítrio. Esse aprimoramento, que distingue os homens e os torna superiores aos outros animais, é conquista evolutiva.  A natureza, através de diversas experimentações aperfeiçoou a forma humana, mas ela ainda se encontra distante da perfeição intelectual e moral.  É de conhecimento comum que inteligência não é atributo apenas da espécie humana, já que os instintos são formas de inteligência rudimentar.  Atualmente, neurocientistas e psicólogos empenham-se em descobrir os diferentes tipos de inteligências e a sua aplicabilidade. Entretanto, “desligados das correntes espiritualistas”, segundo Hermínio C. Miranda, eles não compreendem “as desassemelhanças intelectuais” entre gêmeos idênticos, porque não sabem ainda que a inteligência  é  atributo  do  Espírito.  E complementa: “a inteligência é a resultante do conhecimento acumulado ao longo dos milênios e das inúmeras encarnações. Não somos inteligentes por causa de uma combinação genética particularmente feliz, ou porque nos desenvolvemos em ambiente adequado, mas porque, no passado, já nos habituamos a manipulação  e  apropriação  do conhecimento,  através  do  estudo  e do aprendizado”.
   A medida que  experimenta  e  desenvolve  essa  inteligência  rudimentar, o homem passa a ter uma maior consciência de si mesmo,  conquista  a  razão,  aprimora  o  raciocínio,  adquire lucidez  e  passa  a  exercer  o livre  arbítrio.  A aquisição dessas virtudes permitirá ao ser pensante iniciar sua valorosa luta para a conquista dos valores superiores da alma: a responsabilidade, a sensibilidade, a sublimação das sensações em sentimentos, enfim, todos os condicionamentos que, segundo André Luiz, “permitirão ao Espírito alçar-se à comunidade dos seres angélicos”. O Homem passa a ser livre para escolher seu próprio destino.  No entanto, o direito ao livre-arbítrio implica no ônus da responsabilidade.  Nesse particular, a vontade desempenha importante papel contribuindo a favor de conquistas incessantes.  A cada vitória alcançada através da vontade, ele compreenderá melhor as leis divinas, presentes em sua consciência, e fará delas a norma de suas ações.  Assim, atingirá o “ponto moral”, definido por Leon Denis, pelo qual dominará e governará a si mesmo, modificando-se emocionalmente durante esse processo, de forma a assegurar, “com os próprios esforços, ensinamentos e exemplos, a vitória da vontade e do bem”. 
   O sentimento é o que caracteriza a alma humana.  Em princípio como instinto primário, elevou-se através do desenvolvimento da afetividade e transformou-se em impulsos de amizade, fraternidade e dever, promovendo conquistas no campo do conhecimento e das artes.  Segundo Joanna de Angelis,  sob  o comando da vontade dignificada, ele confere  ao  indivíduo  equilíbrio, “empatia para lutar e coragem para vencer  mesmo  que  as  dificuldades se  apresentem  desafiadoras”.  À medida que o homem evolui, maior é sua capacidade de externar os sentimentos, estreitar os vínculos afetivos e entender a vida. Entretanto, apesar de seu alto significado, o sentimento deve ser conduzido pela razão, para que não se transforme em desarmonia, motivado pelas paixões. 
   O Homem integral é, portanto, aquele que desenvolveu ao máximo as  suas  faculdades  essenciais:  pensar,  querer  e  sentir  através  da sublimação  do  pensamento,  da vontade e do sentimento, tendo em vista o divino presente em todos.

 
Ana Cecília Rosa é médica pediátrica, residente no Brasil. É membro do Instituto de Divulgação Espírita - Araras/SP.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 6  Setembro e Outubro 2009  
The Spiritist Psychological Society 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Indivíduo e a Sociedade


Rodrigo Machado Tavares 

Joanna de Ângelis, em seu livro O Homem Integral (um dos livros da série psicológica, psicografado pelo querido irmão, o Professor Divaldo P. Franco) afirma que "o homem é um mamífero biossocial, construído para experiências e iniciativas constantes, renovadoras".  Portanto, pode-se afirmar que os indivíduos estão vivos para poderem interagir uns com os outros de forma positiva, isto é, de acordo com os ensinamentos de Jesus.
Apesar disso, o homem, indivíduo social que é, geralmente toma decisões as quais não estão baseadas na moral Divina (L. E., moral absoluta e imutável, a qual, muitas vezes, a moral dos homens na Terra não consegue vislumbrar). Em outras palavras, o homem, ao invés de agir em concordância com a Lei de Amor, passa, consciente, ou inconscientemente, a ser mais vulnerável, no qual as influências dos fatores externos (impostos pela sociedade) dominam o seu comportamento.
E, dessa forma, as experiências, que deveriam ser renovadoras, passam a gerar transtornos em todos os níveis de sua vida: pessoal, familiar e profissional.
    Concluindo, somente quando o indivíduo passar a buscar ser o Homem no Mundo e deixar de ser o homem do mundo (vide item 10 do Capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo), ter-se-á uma sociedade melhor, porque cada indivíduo será melhor.  E independentemente dos valores da sociedade na qual se vive, vale lembrar: "todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém" (I Coríntios 6:12).

Rodrigo Machado Tavares é Engenheiro e pesquisador, residente em Londres.  Colabora com a Revista Reformador.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 5 Julho e Agosto 2009
The Spiritist Psychological Society